Uma Pessoa Tranquila
Eu o amo. Não porque ele é bonito ou porque é rico. Preferia que não fosse nem uma coisa nem outra. Assim o abismo entre nós seria um pouquinho menor… Porque ele ainda seria a pessoa mais adorável, altruísta, inteligente e decente que já conheci. É evidente que eu o amo. É tão difícil entender isso?
As pessoas fazem um grande estardalhaço sobre o amor pessoal. Não precisa se uma coisa tão grande. Igual a viver - as pessoas fazem um grande estardalhaço sobre isso também.
A repulsa é uma das formas de obsessão e que, se desejamos alguma coisa, é mais fácil pensar nela com horror do que deixar de pensar.
Uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim.
A moralidade moderna consiste em aceitar o modelo da própria época. Considero que uma forma da mais grosseira imoralidade é o facto de qualquer homem de cultura aceitar o modelo da sua época
Era uma aproximação de alma que rolava comigo, com você (...) pessoas sensíveis, que têm uma alma parecida.
- Você é uma menininha.
- Perto de você eu consigo ser e você não sabe o prazer que isso me dá.
- Se sentir menina?
- Estar com um homem, eu só andei com moleques nos últimos anos !
Resisti à tentação de dizer que não, subiria também, não podia passar mais uma noite longa dela. Tentação de abraçá-la, esquecer tudo que havia passado, subir também. Mas alguma coisa me dizia que o meu lugar era embaixo, que eu era apenas uma testemunha, um espectador, o lado passivo do seu mistério.
Duas idades
Sou nostálgica, mas reconheço que os tempos de agora trouxeram
uma novidade: eliminaram diferenças de geração. Podemos ser tudo
em qualquer idade
Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.
A frase acima é uma das tantas definições precisas de Mario Quintana,
que, devido à atualidade da sua obra e pensamento, está e não está
morto, possui as duas idades que ele reconhecia. Faria cem anos neste
domingo, e o que significa isso de fato? Nada. É apenas mais uma razão
para lembrá-lo, e a tudo o que ele deixou escrito e que permanece.
Este é um ano em que muitas pessoas que amo completaram idades
redondas: 10, 15, 45, 70. Cada uma experimentando uma etapa
diferente da vida, mas todas com algo mágico em comum: possuem a
mesma idade, estão vivas. Sou nostálgica, tenho a tendência a achar
que o antes era sempre melhor - não havia tanta violência, nem vaidade
extrema, e os sentimentos eram mais verdadeiros -, mas reconheço que
os tempos de agora trouxeram uma novidade bombástica: eliminaram as
diferenças de geração. Podemos ser tudo em qualquer idade. Jovens
responsáveis e maduros, adultos rebeldes e inconseqüentes, velhos
produtivos e fazendo planos pro futuro. Todos combinam entre si em
suas ambições e desejos. Estão todos na mesma festa, comemorando
a mesma idade: vivos.
O garoto de 12 que entra pro Guinness, a jornalista de 58 que namora
um Apolo de 33, o escritor que lança seu primeiro livro aos 60, a ex-vedete
que aos 99 ainda exibe boas pernas, o homem que aos 28 se tornou um dos deputados mais votados, a mulher que foi mãe aos 56. O que nos impede de
realizar nossos objetivos? Milhares de coisas, eu sei: a falta de dinheiro, de
incentivo, de força de vontade. Mas que ninguém venha reclamar que não tem
mais idade para alguma coisa, seja lá que coisa for esta.
Não foi só a medicina e a ciência que possibilitaram uma vida
útil muito mais extensa: nossa mentalidade vem mudando.
Claro que nem tudo é positivo: meninas engravidam quando
deveriam estar brincando e crianças trabalham quando deveriam
estar estudando. De um lado, falta orientação e informação; de
outra, sobra exploração e necessidade de sustento. Afora essas
tragédias sociais que já deveriam estar sendo combatidas, a parte
boa da história é que nosso tempo esticou, e os estigmas encolheram.
Falta bastante ainda: falta emprego para quem tem mais de 40, falta
aposentadoria decente, um sistema de saúde com mais eficiência, falta
a parte do governo, como é praxe. Mas o nível de desistência pessoal
caiu drasticamente - poucos hoje se acomodam. Nunca o ditado "quem
é vivo sempre aparece" foi tão realista. Estão todos bem à vista, loucos
para serem aproveitados.
Mario Quintana aproveitou-se. Não viveu apenas cronologicamente,
sabia ter todas as idades num único dia. Num poema, era um garoto
de 14 anos. Em outro, tinha 30. Em sua maioria, era eterno. A cada
página, um estado de espírito: ora meio infantil, ora um sábio, às vezes
um transtornado. Porque é assim mesmo que somos, de adolescentes a
caducos num estalar de dedos, a emoção é que determina nossa data de
nascimento.
Hoje ele teria 100, teria 13, teria 52, ele teria o quê, vivo estivesse?
Perguntemos a nós mesmos que idade magnífica temos neste instante.
Se você é bonito, pode ter um cérebro do tamanho de uma ervilha. Se você não é bonito, pode não ter um cérebro de ervilha, então depende da ervilha e da beleza. Do tamanho da beleza. E do da ervilha.
É por isso que na graça eu me mantive sentada, quieta, silenciosa. E como em uma anunciação. Não sendo porém precedida por anjos. Mas é como se o anjo da vida viesse me anunciar o mundo.
O que importa notar é que todas essas multidões de mortos – por uma causa justa ou injusta – são os figurantes anônimos da tragédia universal e humana.
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