Um Estranho Impar Poesia
Apanhador do cerrado
Uso o meu olhar para apanhar o cerrado
As palavras tortas compõem o mato crivado
De cascas grossas, cascalhos e céu estrelado
O chão na temporada de sequia, é maltratado
Os jatobás fatigados tão firmes como as perobas
Rodeiam os pequizeiros, tão "bãos" como as guarirobas
Cheiro forte sabor da terra, como as doces gabirobas
Entendo bem o sotaque é o povo deste chão
Sou daqui, tenho respeito a toda esta tradição
Povo das sucupiras, flores rasteiras e abelhas arapuá
Tudo aqui tem força, tem suor, é aqui, é acolá
Assim como a magia do canto da seriema e do sabia
Deste cerrado místico, torto, certo e errado, sempre a brotar
Que o tal desencanto encanta o poeta no poetar
Este quintal que é o maior do mundo, que faz sonhar
Me faz ser apanhador do cerrado, no meu versar.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
30/03/2016, 22'22" – Cerrado goiano
Sorriso
Sorriso pinta a tua dor
Da cor que se desejar
É ofertar com uma flor
O triste pra se alegrar
Sorriso abrevia o vazio
Se nada mais restar
Sorria um mirar macio
Aprazendo o alheio olhar
Sorriso traz à vida luz
E aos dias só encanto
Sorria para a sua cruz
Sorria pro seu pranto
E assim sorrindo, amar
Num teatro fulgente
A maioria irá pensar
Que és um ser contente
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril, 2016 – cerrado goiano
Outono no cerrado
Cerrado. Ao horizonte escancarado. Escancaro o olhar
Sob o céu acinzentado, admirado chão de cascalho calçado
O vento rodopiando, a poeira empoeirando a anuviar
O minguado frio sequioso outono dos planos do cerrado
As folhas bailam, rodam, caiem em seu leito ressequido
A chuva se esconde, onde o céu não pode chegar
Os sulcados arranham e ondulam o ar emurchecido
Do desconforto calado entre os cipós e galhos a uivar
Olho o céu purpúreo desenhar o frio chegando ao porto
Os arbustos rodeados de cascalhos num único flanco
Rangendo o outono no amarelado e árido cerrado torto
Num verdadeiro espetáculo de pluralidade saltimbanco
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
28/04/2016, 14'25" – cerrado goiano
Além
Para além do tempo, a quimera
Para além da era, o amor
Para além da dor, a lágrima
Para além das palavras, porfia
Para além da vida, a glória
No epílogo da alma em poesia...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Maio de 2017 – cerrado goiano
amor,dor, odio e rancor
todos querem brilhar
nas mais bonitas primaveras
muitos fogem do ódio
do inverno
todos querem ser felizes
poucos são os que aceitam suas dores
poucos não sente rancor
muitos fingem que não sentem
todos esses sentimentos
florescem nos jardins mais belos
todos eles morrem no inferno
ou no passar do inverno
quem diz que nunca os sentiu
assim como cristo disse
quem nuca sentiu
que atire a primeira pedra
Há pessoas que nos faz confirmar que tudo nesta vida nos acontece por uma razão.
Nós aproximamos mais daquilo que somos e do que queremos para sermos mais felizes.
Percebemos que somos os resultados das nossas escolhas e o resto se torna apenas resto.
E quando achamos que estamos mais longe de tudo é que a vida nos mostra que precisamos estar cada vez mais perto de nós. Simples assim.
era pra ser o que não foi.
e os sorrisos,
como meras maquiagens.
das quais estranhamente
mascaravam toda tristeza embutida.
"O mar me faz amar, amar o azul do mar
Azul que me faz lembrar, lembrar de teu olhar
É uma pena não te amar, mas continuo amando o mar."
tem dias que recuso a vida adulta,
mas tem dias que é inevitável não aceitá-la.
exagerado.
de dia em dia me refaço,
me reparto.
dor, mas glória.
QUADRAGÉSIMO QUINTO HEXÁSTICO
Toda imanência recrudesce
ao sentir a vida em potência
caos sagrado e profano nasce
no Sujeito-poema acontece
faz-se desejo de existência
no eterno retorno da mente
Não sei onde começo,
Nem onde acabo. E outra
Dúvida se acrescenta:
Quando eu morrer
Qual dos meus eus estará
Sendo enterrado comigo?
E os outros, os que não me
Seguirem, continuarão
Vagando por ai, continuando
A expor o meu tormento?
Se eu te disse que nasci
Um só e que morri
Vários, foi porque o dom
Da vida se dispersou
Em mim, fazendo de um
Só poeta possível, um
Deserto permeado. Só os
Veros poetas nascem vários
E morrem um só, Eupalinos!
O livro-arbítrio
Morreu. Batem à porta.
— É o destino. Seja,
Ou o nome que os fados
Tenham. É inadiável,
Intransferível.
Confesso que estou cansado.
Sobretudo, de mim mesmo.
Se o telefone tocar digam
Que não estou. Quero ficar
Sozinho. Nem quero saber
O que se passa no mundo.
Até a fé na vida perdi.
Não me suporto mais.
Este conflito já dura
Demais entre eu e
Mim mesmo. Vejo
Que vivi uma vida de sonho
Num mundo de cães.
E se me observo melhor,
Percebo que estou latindo.
Minha casa volante
De vazio e sonho.
O trapézio em que
Me equilibro desde
O dia em que nasci.
A jaula das feras
Com que convivo.
Os palhaços que
Nos reproduzem.
Os domadores que
A nem todos domam.
As amazonas que
Não sabem amar.
O público que não
Nos vê e não aplaude.
Circo: círculo
Concêntrico desta
Roda viva
De purgação
E espera.
Mas se o circo parte
Fico ainda mais só.
És bela, eu velho;
Tens amor, eu tédio.
Que adianta seres
Bela, se a beleza
É coisa externa que
Não está no coração?
E minha velhice
Não te interessa
Já que, na vida,
Seguimos destinos
Opostos.
Tens amor, bem sei
É próprio da idade,
Que amor é
Tão somente impulso
Da natureza cega,
Para perpetuar
A miséria amarga
De nosso próprio
Infortúnio.
És bela, fui moço,
Tens amor, eu... medo.
O tempo é para sempre,
nós é que não somos,
por isso,
aproveitemos bem
cada segundo
que nos for dado
para permanecermos
neste belo,
e insano mundo
Em liberdade sigo a vida e pensamentos,
não marco momentos de indecisões,
nada procuro, nem quero, nem fomento,
sou apenas passageira desse tempo de ilusões
Se tive ou tenho amores, que interessa?
apenas eu posso saber de meu caminho,
mas é certo, que é correto e sem pressa,
vou por ele cumprindo apenas o destino
Nas mãos levo um bouquet de flores
simples, do campo, perfumes a granel.
distribuo-as, enfeito a vida de mil cores,
quero que cada um tenha um pedacinho de céu
Transmuto de cor a cada hora
Transformo o tom a cada falada
Mudo de rota pela décima passada
Quem diria ser assim, nada para cima.
Mesmo mudando o pensar
Lembrando em falar
Das coisas que nunca me fez aliviar
Para que no fim pare o calejar.
La muerte
Não tenho medo de escuro
Nem de barulho
Nem de ladrão armado
Mas ultimamente até minha sombra me assusta
A vontade do fogo
Enquanto queima, e fica asceso é forte como uma tal energia única
Trás luz, trás dia é como se trazesse fé mesmo sem túnica
Ou vestimenta apropriada
Tão elegante e genial força, que dá natureza foi criada
E só de pensar que também existe dentro de cada coração
A vontade que queima por querer continuar caminhando nesse chão
Empoeirado desolado ultimamente sem muita emoção
Mas que ainda nos faz acreditar em um futuro mais cheio de expressão
Por conta disso deixo tudo aqui dentro queimar, por mais que te pareça uma contradição
De água doce e fria deixo me derramar, a vontade se esvai mas o sonho não
A vontade do fogo é fazer tudo o que quiser acontecer, então se permita sonhar
Encendeia o mundo até tudo transparecer, cinzas mostram a vdd então deixe-nos queimar...
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