Tiro no Escuro
Tive medo do escuro. Hoje ele é como um amigo que vem, quase sempre, acompanhado de um pouco de solidão e silêncio — me trazendo a calmaria que eu preciso pra seguir em frente.
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Eu tenho a necessidade de ter todo o meu futuro planejado na minha mente, para enfim, poder respirar aliviada. Não consigo apenas deixar acontecer, esperar pra ver, na verdade eu preciso mesmo é saber que ao menos na teoria, tudo vai dar certo no final, e eu conseguirei o que eu quero.
E lá estava ela, com seu cabelo brilhante, seu esmalte escuro e seu vestido discreto o suficiente para atrair apenas os olhares de quem importava. Seus olhos eram apreensivos e seu lábio já se encontrava inchado depois de tantas mordidas dadas por ela mesma para aplacar o nervosismo. Ela estava o procurando. Andava impacientemente por todo o salão, quase derrubando um garçom e sua bandeja de aperitivos, no meio do caminho. Decidiu se sentar, e foi o que fez. Uma bebida, duas, talvez até três, e ele não aparecia. Sua garganta começava a secar e seus olhos já estavam com um brilho trazido pelas lágrimas. Respirou fundo e pensou positivo - talvez algo havia acontecido, o fazendo se atrasar um pouco, mas logo ele chegaria. É, isso aí, ele estava a caminho nesse exato momento. Depois de se acalmar, fechou os olhos e prestou atenção da música. Always. Bon Jovi. Sorriu instantâneamente e sentiu que ele havia chegado. Abriu os olhos, e lá estava ele, com seus cabelos negros levemente bagunçados, sua camisa branca com dois botões abertos e seu sorriso ainda mais branco.Foi nessa hora que percebeu: ele sabia quem era ela. Se levantou, respirou fundo e foi até o meio do salão para vê-lo mais de perto, seus movimentos sincronizados ao dele. Eles finalmente haviam se encontrado. Foi ali - no meio daquele salão, ouvindo sua música favorita - que eles se uniram pra nunca mais se perderem.
Me encolhi no escuro do meu quarto e aqui dá impressão que consigo viver em meio de tantas coisas ao meu redor. Me encolhi e chorei. Mas não agüentei por muito tempo, encolhida. Me deitei no chão, joguei o tapete ao lado e fiquei um bom tempo encarando o teto. Outra lágrima querendo pular, outro sentimento esmagado por um caminhão de lixo, outra perda de chance. Eu não agüento mais sentir todos os sentimentos do mundo dentro de mim, não agüento mais ter um nó na garganta que não saí, não agüento mais ter frases e coisas pra se falar, mas que no fim das contas só diz algo sem importância e sem graça. Não agüento mais!
Sabia tambem que quando meus lábios tocam o seu
parece que tudo fica escuro por um segundo
e depois tudo se colore intensamente.
Eu Olho pela janela o dia esta tão escuro
O sol se foi com o seu lindo sorriso
Porque que eu vivo nesse absurdo?
Encontrei meu erro nesse meu egoísmo
Quando você está na luz todos irão segui-lo. Mas quando você insere escuro até mesmo sua própria sombra vai deixar você.
E aqui sozinha no escuro antes de dormir eu penso em você, penso no teu olhar, no seu sorriso, tento imaginar o teu cheiro, tento desvendar o mistério dos teus olhos, o enigma do teu compasso, tento entender a intensidade da força que você exerce sobre mim, perco o sono e talvez isso seja bom, bom para entender o que sinto por você, para ver se teus sinais me ajudam ou ignoram, para saber se a recíproca é verdadeira, para onde olho o teu rosto está, a sua luz ilumina todos a sua volta e todas as noites eu peço para Deus cuidar de você por mim.
Te amo hoje & sempre’
Quando estiver tudo escuro em sua volta não se desespere pois é neste momento que fica muito mais fácil brilhar. Assim é com todas as estrelas e assim será contigo também.
Abro uma champagne e, nessa noite de turbulência e festa, do mesmo escuro são noite e mar." (O último verão em Paris, crônicas, 2000)
O mesmo escuro engolindo o barquinho de papel, luminosidade de sonho resistindo ao tempo e à história, erramos todos nesses iguais mares gregos, mergulhados nas águas de todos os deuses, de todas as vertigens, de todas as profundezas, de todos os azuis e luminosidades, levando dentro de nós todas as vagas, todos os mares, todas as tempestades e todas as armadilhas, todos os cantos e desencantos, mas que posso fazer se não temos nem as amarras de Ulisses, menos ainda sua astúcia, se contraio nessa maresia de milênios todas as quedas e todos os limites do susto e do riso?" (O último verão em Paris, crônicas, 2000)
No escuro da noite, e a lua clareando a janela do meu quarto, eu só quero uma coisa, que você possa está aqui comigo.
As notas musicais saindo pelo quarto escuro revelavam a menina escondida no meio da bagunça total, era assim, quase nada, quase tudo. Vivia sempre a beira de sentimentos explosivos, não por condenação, mas por vontade própria, adorava aquele gosto da adrenalina correndo em suas veias, o corpo quente, suando frio, desgastando seu fôlego, a sensação nunca foi uma das melhores, mas isso a saciava por completo. Transgredindo o sorriso que quase por momentâneas vezes aparecia, as escolhas erradas teriam arrancado o sorriso fácil de sua face, o doce que existia se tornara em algo amargo indesejoso, não fazia bem ao estômago, muito menos ao coração. As partituras recém escritas cautelosamente sobre o piano, ainda exalava o cheiro de grafite desgastado, a maçã mordida deixada de lado no canto. Os cachos completava-lhe a face corada coberta pelo sol transcendendo no ocidente, as bochechas tornando apenas manchas rosas, os olhos exaltados marcados por traços retos e obedientes. Contorcia-lhe cada vez mais, a barriga lhe causava dores imcompreendiveis, as borboletas inquietas no esconderijo, voavam para todos as cantos, queriam sair, abandonar o lugar, antes seu lar. As respostas que precisava estavam extintas, as dificuldades havia lhe ensinado algo quase raro, com papel e caneta tudo poderia ser feito, dar vida a qualquer coisa, as palavras fluíam, saiam com facilidade, sem preconceitos, sem problemas, sem defeitos. O quarto mal iluminado trazia pra si um ar de serenidade e dúvida, os raios solares batiam no vidro embaçado da janela. As vozes fracas ecoavam em sua cabeça, uma súplica, pedido de socorro, era voz em uníssono do seu coração junto com a certeza, sonhos e seus medos, era real o que estava acontecendo, pensou que louco seria se fosse ali apenas uma crônica criada entre cafés e muffins, as palavras não ditas, sem entender, as dores compactadas e guardada no coração, o sorriso meigo voltando ao seu lugar de origem, os olhos perolados claros semicerrados focava em algo, em um ponto deserto perdido pelas ruas ensolaradas. Tudo ia ficando mais claro, os pássaros voltavam a cantar pelos girassóis, as árvores fortaleciam-se com vitalidade, as delícias matinais, o sono da tarde, tudo se encaixa, não era perfeito, estava longe disso, mas pra ela, era diferente, era mágico, transitava entre formidável e magnífico. No silêncio inapto do quarto, voltou-se para as partituras, desenhando embaixo, no final da folha, uma pequena gota de lágrima, caída e perfeita, sem tristezas, apenas felicidade, assim pode ser interpretado, criado e entendido, era isso, apenas isso, completa, complexa e destemida.
Pobre jardim cheio de flores
Tornou-se um lugar morto e escuro
Não me convença que há lugar como esse
Tão lindo como procuro
Pena que não haja mais luz nesse mundo
Aqui não nasce, só morre.
Seja pobre, rico, limpo ou imundo.
Pobre jardim cheio de flores
Não há mais riqueza em ti para admirar
Queria não pertencer aqui
Mas aqui é meu lugar
Tudo em volta é maldade
Pobre criança que sou
De viver essa realidade
Onde foram parar suas flores, jardim?
Algo que já brilhou pode morrer assim?
Cruelmente, secamente, silencionsamente..
E a esperança que não tinha fim?
Nós, somos como o céu. E nossos amigos são como estrelas. Estrelas porque quando o céu está escuro, são elas que o iluminam perante a escuridão.
Aqui,as vezes, ainda me sinto uma garotinha,mas não é o escuro do meu quarto que me assusta,já não me importo em apagar as luzes antes de ir dormir mas tenho medo de caminhar sozinha quando estiver escuro dentro de mim.