Tiago de Melo Poesia
Esses meus sentimentos confusos, nascidos de batalhas esquecidas e águas escuras, não clama por atenção, apenas permanecem. Vai de geração em geração, cruzando limites, sustentados pela força discreta daquilo que é verdadeiro demais para morrer.
Num canto repousa um violão silenciado, ansiando por mãos que o façam lembrar do que é ser música. Eu, a poucos metros dele, também espero: que alguém me toque com a mesma delicadeza que se dedica a um som prestes a nascer.
A tempestade que se forma no fundo de um copo de uísque, após algumas doses, não é efeito da embriaguez, é o desbloqueio silencioso de lembranças mal enterradas, de amores antigos e mal resolvidos. Não necessariamente são meus, mas ainda assim doem como se fossem.
Diante de uma esfera que reflete o mundo ao redor, não me reconheço no reflexo. Ainda vejo o menino assustado, encolhido na própria pele. Vejo o covarde que, apesar dos anos, não encontrou força para enterrar seus próprios demônios e talvez nem tenha decidido se quer viver sem eles.
Cruzamos pontes invisíveis todos os dias, guiados por decisões que brotam do inconsciente, enquanto o corpo opera em silêncio, obediente a um roteiro que raramente questionamos. Atravessamos, sem saber que escolhemos.
Como uma criança, anseio por sentir com verdade, falar com leveza e desconhecer a mentira, pois nela, nada há de natural. A criança não finge, apenas existe, inteira e sincera no que sente.
O tempo é um mestre tardio, só entrega respostas quando já não há perguntas, cura quando a dor já foi assimilada e oferece lições quando já não há mais como aplicá-las. Sua sabedoria chega sempre depois da necessidade.
O amor, em sua natureza mais crua, é um paradoxo temporal e emocional, sua verdadeira dimensão só se revela na experiência da perda. Enquanto presente, é banalizado pela rotina, negligenciado pela falsa segurança da permanência. Somente na ausência é que suas camadas mais profundas se tornam perceptíveis, como uma arquitetura invisível que só se desenha no vazio.
A ciência busca o saber do mundo, mas é a consciência que nos revela o saber de nós mesmos. Reduzir o ser humano à matéria ou ao espírito é limitar sua complexidade. O dualismo é um eco de nossa ignorância, pois a mente e o corpo, o mundo e o eu, não são entidades separadas, mas expressões distintas de uma mesma realidade integrada.
Assim como disse Heráclito, "nenhum homem entra duas vezes no mesmo rio" pois, na segunda vez, nem o rio guarda as mesmas águas, nem o homem conserva o mesmo ser. Tudo é fluxo, impermanência, transformação. A água que escorre já não é a de antes, e aquele que retorna traz no corpo e na alma as marcas do tempo, as cicatrizes do caminho, os ecos do que aprendeu e do que perdeu. A vida é esse eterno vir-a-ser, uma travessia por instantes únicos, que se esvaem como a correnteza, deixando apenas a memória breve do toque, do passo, do olhar. Somos feitos de passagens e nunca mais seremos os mesmos de um momento atrás.
Que os dias ruins se transformem em cicatrizes, para que sempre quando olhar para as marcas me venha na memoria o porque do que estou fazendo, onde estou e onde quero chegar, porque dos dois um, ou eu ganho ou eu aprendo, não existe derrota, existe sim sacrificio e persistencia em vencer.
O sucesso é a constância de um trabalho bem feito. Portanto, não é a causa do trabalho, mas, antes, o seu efeito.
O nível de dependência que a letra revela não é uma fragilidade, mas a mais alta forma de inteligência espiritual, o reconhecimento de que a autossuficiência é um mito perigoso que nos condena à solidão, você estava triste e carente porque a sua alma, em sua sabedoria inata, rejeitava os substitutos baratos que o mundo oferecia para o vazio do coração, e o Amor que entrou não veio para te completar, mas para te mostrar que o teu ser já era inteiro, apenas precisava ser reajustado ao Eixo central que é a Fonte de toda a plenitude.
O tempo não apaga a memória, mas ensina a conviver com a ausência sem perder a urgência do presente.
A pressa de atingir o topo é a grande inimiga da solidez, a excelência é forjada na paciência do artesão, que não teme o tempo gasto para lapidar cada detalhe, para garantir que a base seja inabalável, e o crescimento verdadeiro é aquele que se dá para dentro, antes de se manifestar para fora. Não busque o reconhecimento imediato, almeje a assinatura que o tempo não pode apagar, aquela marca de integridade e profundidade que transforma o que você faz em algo atemporal, e saiba que a jornada, com suas pausas e seus desvios, é o verdadeiro tesouro, não o destino final.
O mapa da existência nunca é traçado na claridade fácil das manhãs de bonança, mas nas linhas escarpadas e densas que a escuridão da noite insiste em nos impor, e é na vertigem do vazio, após o desmoronamento de tudo o que era concreto, que reside o pilar inabalável da nossa essência, o ponto de apoio que desafia a gravidade do desespero. O ato de reiniciar a jornada é um juramento silencioso que se faz sem testemunhas, revelando a indestrutível arquitetura da alma, onde a esperança se recusa a ser extinta, e a vitória se manifesta no simples ato de seguir.
A exaustão existencial é a prova de que lutamos batalhas que ninguém consegue ver, combates travados na calada da mente contra o peso esmagador das expectativas não cumpridas, e o esforço de levantar a cada manhã, quando a gravidade da alma parece maior, é um ato de heroísmo silencioso que ultrapassa qualquer feito público ou medalha de honra. É na quietude desse cansaço que a gente decide, mais uma vez, que a dignidade de existir vale mais do que a facilidade de desistir.
O medo de arriscar é a âncora mais pesada que pode prender um destino promissor ao porto da mesmice, é a voz traiçoeira que sussurra "segurança" enquanto a vida passa na janela dos sonhos não vividos, e a covardia de não tentar é o único fracasso que a alma jamais consegue perdoar ou esquecer. Troque a prisão dourada da sua zona de conforto pela vastidão incerta do seu potencial inexplorado, pois o caminho mais seguro é aquele que você pavimenta com a sola dos seus próprios pés, mesmo que a cada passo a incerteza seja a sua única e honesta companheira de jornada.
As dificuldades são apenas cinzeladores divinos que retiram o excesso inútil de quem pensávamos ser, moldando a escultura da nossa essência através do atrito e da dor inevitável da transformação, e a cada lágrima derramada não é um sinal de fraqueza, mas um rio que irriga o solo da resistência. Quem não passou pela forja da prova, não conhece o verdadeiro teor do seu metal, por isso, abrace a cicatriz, pois ela não é apenas o registro de uma queda, mas o mapa detalhado de um percurso onde a alma aprendeu a voar mais alto.
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