Textos sobre Vida Bob Marley
SONETO EM MOVIMENTO
De tudo um pouco fiz, e não te esqueço
O pensamento é movimento relutante
Na sofrença eu vivo então agonizante
Tal forma, que o poetar está do avesso
À espera é de um, vã gemido, sonante
Que já saiu dos ventos do meu senso
São fragmentos de dor que não venço
De amarga profunda frustração, dante
E neste vazio de um vadio descenso
Dispenso o amanhã num novo avante
De rude ação, de esquecer, e tão tenso
Não estou propenso a nostalgia gigante
Sei que o depois é outro dia, pretenso
Pois, na solidão, no render sou levante...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, 18 de janeiro
Cerrado goiano
SONETO PELO CAMINHO
O meu fado pôs a me versejar
Pelas trilhas do destino nefando
Me fez chorar, rir, foi interrogando
Acerca do amor pôs a ignorar
Subi e desci, e a vida foi forjando
Desafinei certamente ao disciplinar
E pude segredar na noite de luar
Assim, estórias foram desfiando
Por vielas, ruas e, becos a andejar
Andei, e ele comigo foi andando
Pelos caminhos o diverso a poetar
Agora, o canto maduro, no comando
Lembranças, tudo tem tempo e lugar
Na estrada, continuo caminhando...
(até Deus chamar!)
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
20/01/2017, 14'00"
Cerrado goiano
SONETO TRISTE
Hoje acordei com meu verso triste
Escorrendo pelo papel só inclinação
Cabisbaixa a inspiração e, pelo chão
Querendo lira na sorte que não existe
Pois, cada cisma, na cisma consiste
E o prazenteiro é em vão, e assim são:
Desferrolha fagulhas infeliz do coração
Petrechando a consternação em riste
As minhas angústias querem expansão
Minha dor, está ali sozinha, é imensidão
Tão calada, não entenderão o que sente
Aí quem me dera, não a ter! Pois então?
A tenho!... E pouco cabe na solidão...
Quando caberia aqui: - verso contente!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro, 2017, 05'55"
Cerrado goiano
SONETO AGONIADO
Agonio de ti, ó silêncio, do cerrado
Diz coisas que a sorte não vai entender
Da tua brisa saudades tu pões a trazer
Nas brumas, com suspiro empoeirado
Do teu torto cenário bruto, fustigado
Ascende lembranças no entardecer
Tão pálidas na tua secura, vão haver
Solidão, que o meu sonho fica calado
E nos teus murmúrios do alvorecer
O meu ao teu então fica encarnado
Largando lágrimas na face a perecer
Talvez um dia eu entenda o teu agrado
Por agora, o que faz é meu entristecer
Porém, todavia, és âmbito do meu fado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano
Carrilhão
Na casa calma o carrilhão toca
O carrilhão na casa então canta
Teu sussurro que no ar carpanta
Alto, em altas horas dorminhoca
O carrilhão toca. Na casa espanta
O silêncio, assim, faz uma troca
Em reza tal a uma velha coroca
Prum ritmo numa batida santa
Toca, santa, canta, uma maçaroca
Chora afiado o carrilhão, encanta.
E na casa calma e vazia e ampla
O carrilhão chora e ali agiganta
Carrilhão, a que horas você levanta?
O coração triste e vazio aqui potoca
Em cada batida pulsa tal badalhoca
O que espera mais... Carrilhão canta!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano
À SOLIDÃO (soneto)
Oh! jornada de inação. O silêncio em arruaça
Arde as mãos, o coração, aperreado arrepia
O olhar, tremulo e ansioso, tão calado espia
O tempo, no tempo, lento, que ali não passa
No cerrado ressequido, emurchecido é o dia
E vê fugir, a noite ribanceira abaixo, devassa
E só, abafadiço, o isolamento estardalhaça
No peito aflito de uma emoção áspera e fria
Pobre! Se põe a sofrer, nesta tua má sorte
No indizível horror de um sentimento vão
Quando silenciosa e solitária é a morte...
Bem à tua paz! Bem ao teu “às” sossego!
Melhor na quietude, ao espírito elevação.
Se na solidão, viva! E saia deste apego!...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, 11 de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Mastigação
Deixando os sonhos de lado
Com que a pouco sonhava
Por causa dum desagrado
Com o meu eu, eu brigava
Dizia então: és um danado
- eu? E assim retrucava
Amanhava tal a um arado
O coração dor transportava
Quem mais penava (coitado!)
Era o devaneio. Gritava!
Todo amarrotado
Angustiado estava!
O tanto, porém, largado
Porém pouco se levava
O ganho que for tirado
Perde. E a alma não será escrava!
E, ao fim, deste fatigado
Dilema, eu me encontrava
Com a plenitude no fado
E o resto, a poesia mastigava...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, outubro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
OCASIÃO (soneto)
A coerência lá se foi tão espantada
por um tropel de vândalos da rudeza
E mesmo o depois de tanta clareza
quedam robóticos, sem mais nada...
No escarcéu disperso, contos de fada
O veras, sem exatidão, e sem defesa
expõe toda a burrice e a estranheza
do revelado na dada outra jornada...
Sobra “Inania verba”, nenhum intento
ao mourejar hercúleo do lhano cidadão.
Indiferentes, só importa o seu contento!
Mas não é meu. Se afasta da tal meta
de parceiro, de irmão, fazer a ocasião
Cria-se curvas, e não a essencial reta...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
PER VIVERE DI NUOVO (soneto)
Se aos iguais pesares me convidas
Com as mesmas dores dilacerantes
Para mim saudosar pelas horas idas
Na lembrança de tempos vibrantes
Não me digas nada! Já são perdidas
As recordações. Ilusões dissonantes
Desvanecidas pelas outroras vidas
E à emoção, outras razões de antes
“Per vivere di nuovo”, - o que importa!
Desatrele do passado… - vida nova!
Pois a nossa estória já trancou a porta
Amei-te! Mais que os amores tantos
E se apartado, resta está única trova
Não mais por ti evocarei meus prantos...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
OS SESSENTA (soneto)
Os sessenta anos duma alma inquieta
Cabelos brancos, a face vivida, poente
Os olhos no qual se trova inteiramente
Bagatelas, onde mora a emoção poeta
Um sonhador de sentimento profeta
De palavras que falam, inda inocente
Versos que do peito saem de repente
Docemente, em uma parição secreta
Uma determinação tão só, tão largada
Que o silêncio urge, no invento venta
A sorrir, e ou a chorar, lhe é camarada
E se na parada se senta, pouco tenta
Aquieta, numa má sorte da derrocada.
São os encantos de se ter os sessenta...
Num instante
Os anos passam, e se vai o encanto
Tal a rapidez nos muros o cipreste
O olhar de cada velho nos diz tanto
Que a velhice de ilusões se veste...
Espanto!
Mas as almas permanecem com odores
Não envelhecem, são cheias de quimeras
Se nas poesias as desventuras e dores
Também tem as perfumadas primaveras...
e os amores!
Assim, neste fugaz passado e presente
Os sonhos são de todas as realidades
Orvalhada com seu sabor ardente
De saudade! Lembranças... e saudades!
Vorazmente!
Uivam os relógios, o tempo brada
Agitam-se as horas no horizonte
Da vida... torna-se uma escalada
Em um implacável desmonte...
rumo a eterna morada!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
17/07/2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
REMORSO II (soneto)
Às vezes, um poetar me espera
E os amores e temores infando
Me padecem, doem, até quando?
E assim, em branco vai a quimera
Inspiração, emoção, vou sufocando
N'alma, sem a doce ventura sincera
Oh! Como este gozo no poetar quisera
Mais suspirar, viver e amar trovando!
Ah! Quão dura é a vera realidade
Desespera, ao encarar a vetustez
Te traz remorso e tira a suavidade
Das paixões que deixei por talvez
Da timidez do olhar na oportunidade
E dos versos quererem só a lucidez!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
28/08/2019, 06'55"
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
No Tempo
O tempo já não muito importa
as horas, segundos, quantos?
O que foi já não abre porta
e os sonhos, estes tantos...
O que vale é o que vem
se ainda tem, os recantos
onde a alma se sinta bem
e no ir além, terá encantos
Porém, lembre-te de amar
pois nestes acalantos
tua passagem irá marcar
cada teu minuto
teu dia, um olhar
um sorriso, teu atributo
As rugas, ah! deixe-as ter
é o fruto
de que pôde viver!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, outubro
Cerrado goiano
Minha vida
O breve é quem dita a minha vida
A vida da minha vida tem vida peculiar
Elege chegada, permanência e partida
Pulsa na minha vida sem se importar
Vive a sorte, independente, sua linha
Sem que eu quisesse ou não quisesse, vive
A minha vida, sem vida, eu não teria vida minha
Não teria arte, dor, suspiros, cor, amor inclusive
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril de 2016 – Cerrado goiano
Declaração
Tal como no cerrado
O pôr do sol é belo
Tal como ser ousado
O bom é ser singelo
Querido e arrebatado
Tal como noite de luar
Afeto tem de ser enleado
Assim também é aceitar
Sem tê-lo nada se tem
Pra ser tem que incidir
Não se é nada além
Sem alguém no existir
Para se amar, também!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
2016 – Cerrado goiano
CORAÇÃO EM PASSAS (soneto)
Ah! quem há de poetar, saudade penosa e tirana
O que na emoção cala, e o versar não escreve?
- Range, doí, pregada na lembrança, e, em greve
Sente, em amargos no peito, o que era soberana
O coração em passas, e é um redemoinho fulana
Em explosão, fria e grossa, e ao enamorado deve
E ao olhar desalentado asfixia o pensamento leve
Que, paz e harmonia, saem em ignota caravana...
Quem o verso alcançara pra a rima desta solidão?
Ai! quem há de amenizar, assim torna-la tão breve...
Se infinito é o silencio; E o vazio então agiganta?
E os lábios secam. E o olhar chora. Tudo em vão?
E a sensação se refugia num sepulcro de neve?
E então as trovas de amor esvaem na garganta?
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
12 de março de 2019
Cerrado goiano
Um dia depois.
Olavobilaquiando
SER QUEM SOU (soneto)
Ora (direis) ser quem sou! Exato.
Me perdi no caminho, me achei, no entanto
A cada passo, erro e acerto, vários o relato
Vou andando, o atrás se desfez por encanto
E o tempo vai passando, veloz, enquanto
O pensamento recusa ser apenas um ato
Cintila. E, saudoso, o trovar é um pranto
Na solidão de ser, em um poetar abstrato
Direis agora: Incoerente e louca quimera!
Que não quero ser quem sou? Que sentido
Pois ser quem sou, deixei de ser o que era...
E eu vos direi: Amando o amor sou valeria
Pois se amei, o meu afeto não terá partido
Assim, pude ouvir e entender minha poesia
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
agosto de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Poesia parida
Pare dor e aflição os meus versos
Da inspiração do poeta por vir
São teus açoites em reverso
Com rimas que vão se despir
Gota a gota, gelha a gelha
Coando a quimera que põe a fingir
Tal veras, que ao banal se assemelha
Doando ao poeta sensação no existir
A poesia vida, odor, e a intuição centelha
Sussurrando suspiros do poema a parir
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/02/2016 – Cerrado goiano
na moral
não é da rua
ou de quem governa
a tua alma nua
vem da sua baderna
crua
interna
o caos e o fortuito
da fraca terra que cerna
sua moral, seu intuito
o óbvio ético
é gratuito
nunca cético
é generoso
correto, linear
está no olhar lustroso
no ceio familiar...
coração
cravado em sua casa, cidadão, glorioso
com decoro, fecundo
pro mundo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
29/03/2016, 10'10" – Cerrado goiano
Resumindo
Poesias, inspiradas, quantas
Quantas da alma pra cantar
Grandes as paixões, tantas...
Nossas vidas, grande alçar
Várias estórias, as santas
Ou não - vale é o poetar.
Fados, pequenos contos
Todos tão pouco pra contar
O tempo, reticências e pontos
Ah, estes são para superar
Quando se olha bem no fundo
Segundo, e tem brilho no olhar
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13 de dezembro de 2019, 11’05”
Cerrrado goiano