Texto sobre eu Amo meu Irmao

⁠O nosso maior remorso, e tristeza sempre será o de por medo e covardia, vivermos sempre um eu social polido. Que além de não produzir em nós nenhuma alegria e contentamente, ainda vai nos afastar continuamente da verdadeira vida que teríamos se sempre tivessemos uma compromisso com a verdade.

Nos acasos dos meus sonhos, muito eu já vi. Uma visão mais cética não chegaria a acreditar que eu previ. Não sei se posso chamar de premonição, mas por vezes acordei de um sonho e senti que não era fruto da imaginação. Inspirado, talvez, tenha feito tudo aquilo tornar-se real. Em momento algum, porém, esqueci-me do sonho. O princípio de tudo, quando uma ideia passou a ser um ideal.

⁠Durante um bom tempo da minha vida eu tive dificuldades pra entender o que era evoluir. Cheguei a pensar que à medida que crescíamos evoluíamos, mas não. Crescer é diferente de evoluir. Evoluímos quando percebemos que somos seres infinitos habitando um corpo passageiro. Evoluímos quando nos tornarmos melhores para as pessoas que nos rodeiam e principalmente, para nós mesmos. Evoluímos quando no dia a dia exercitamos o amor, a bondade e o perdão. Evoluímos quando aprendemos a dar adeus às coisas que a vida nos tira com aceitação, com mansidão e gratidão. E quando aprendemos isso, a vida se torna mais prazerosa e as perdas nos doem menos.

⁠Não culpo-te por não me entender, às vezes, nem eu entendo a mim mesma. Sou mutável, instável, ansiosa, coloco sempre a carroça na frente dos bois e ainda tento chegar antes dela. É estranho como consigo ser sempre eu mesma, com tantos eus que tenho que administrar aqui dentro de mim. Se, sou uma incógnita pra mim por quê não serei pra você?

⁠Dizem que nós só somos capazes de amar, uma única vez na vida, mas eu não acredito nisso. O amor é a nossa essência e como tal, acompanha as nossas mudanças, crescimento e desenvolvimento. Se há crescimento, desenvolvimento, é natural que as roupas que nos vestiam antes, não nos sirvam mais. Além do mais, nem todas as pessoas que entram em nossa vida, chegam com o propósito de ficar. Às vezes, a missão delas é apenas ensinar e quando cumprem o seu papel, por mais que as amemos, elasvão embora, abrindo espaço para que um outro amor chegue.

⁠Eu nunca gostei de religião porque acho que foi inventada para domesticar o Homem, nos reduzindo ao nível de animais. Mas por outro lado, às vezes, com certa tristeza penso que é necessária: se mesmo domesticado o Homem é assim tão selvagem, mal e cruel, qual seria o seu nível de selvageria sem ela?

⁠A cada novo desafio que a vida me impõe eu cresço, desenvolvo-me emocionalmente e espiritualmente e torno-me mais madura. Mas o meu coração não muda, ainda o sinto palpitar a cada nova experiência como se eu fosse aquela adolescente de trinta anos atrás, cheia de sonhos, borboletinhas no estômago e esperança no olhar.

⁠Eu bem que queria ser comedida, calminha, raciocinar com frieza, pesar os prós e os contras para só depois com a sabedoria que um samurai empunha a espada, dar o contragolpe perfeito. Mas antes, muito antes disso todas as minhas moléculas entram em estado de ebulição, meu sangue ferve e antes que eu tenha tempo de pensar, explodo e os estilhaços da minha raiva se espalham por todo canto.

⁠Sou a ex, que atual nenhuma precisa se preocupar. Eu sei de onde vim, sei tudo que passei onde estava, e sei perfeitamente para onde devo seguir, mas sei, sobretudo, para onde não devo voltar. Seria arrogância, orgulho ferido? Claro que não! Sou só eu mesma, consciente do valor que tenho e das decisões que tomei.

⁠Como não gostar de poesia se para todos os cantos que olho, eu deparo com ela? Como não gostar de poesia, com tanta coisa linda que eu vejo, sinto e ouço? Como não gostar de poesia com tanta coisa gostosa que eu como e bebo? Como não gostar de poesia com essa natureza linda que me rodeia? Como não gostar de poesia se tenho amigos, amo e sou amada? A vida é uma poesia! Se você não gosta de poesia, certamente, não gosta o suficiente de viver.

⁠Na verdade eu nunca tive a pretensão de ficar rica, morar em mansão de luxo, ter carro de milhões, roupas de grife e um baú de joias caras que eu nunca vou usar. O que eu realmente quero é ter o mínimo de conforto que todo ser humano deveria ter: um trabalho, casa, comida na mesa, assistência médica e dentária de qualidade, transporte eficiente, pagar os meus boletos em dia e conseguir viajar de vez em quando para alargar os horizontes.

⁠Eu acredito nos pares metafísicos e por acreditar neles acho impossível alguém ser só bom ou só ruim. Ninguém é só luz o tempo todo, como também ninguém é só trevas. Tá aí o sol e a lua nos provando isso todo dia. Por mais terra que alguém seja, há sempre uma força o puxando para o mar. Cada um de nós é um universo particular e dentro desse universo existem segredos, mistérios, forças nos atraindo e repelindo para os nossos dois polos contrários o tempo todo.

⁠Não importa quantas vezes eu leia Morte e Vida Severina, em todas elas eu me emociono. Morte e Vida Severina para mim é quase uma oração. João Cabral de Melo Neto foi brilhante quando reconstruiu os altos medievais retratando de forma tão clara e inteligente a vida dos nordestinos. Com metáforas pesadas e inquietantes o autor trouxe para o imaginário do leitor o antagonismo vida-morte e transformou em poesia a vida sofrida desse povo.

⁠Tem dias que eu tenho motivos pra sorrir, em outros nem tantos e há ainda aqueles que não tenho nenhum, mas eu rio assim mesmo. Tenho o hábito de contrariar a tristeza e confundir as pessoas. Expor fragilidades e permitir que certas pessoas saibam da minha vida mais do que devem é dar munição para o inimigo.

⁠Mesmo quando os obstáculos que eu encontro no caminho são grandes demais para que eu possa ultrapassá-los, eu não desisto e nego-me a voltar. Paro, respiro fundo e com a alma em posição de prece olho para o céu e peço um pouco mais de força e coragem a Deus e sigo confiante porque sei que Ele vai atender-me.

⁠E todos os dias eu exercito um pouco mais o esquecimento, o perdão, a resiliência e devagar vou aceitando as coisas que não posso mudar e mudando as que posso. Dia após dia vou apagando da lembrança pensamentos negativos, pessoas que me fizeram sofrer, desilusões, frustrações, acontecimentos traumáticos, ressignificando emoções. Quero que meu pensamento seja templo de luz e não de sombra. Quero que meu coração tenha paz, amor e positividade. Quero que minhas palavras carreguem a cura e não a morte. Quero energia do bem e do crescimento espiritual circulando a minha volta. Quero cultivar a leveza da alma para caminhar sem o peso da mágoa, do rancor, do ressentimento. Isso não me dá garantia alguma que como um passe de mágica eu me torne o ser mais espiritualizado e iluminado do planeta, pode ser que amanhã tudo volte, mas cada vez que o vento das lembranças abrirem minhas gavetas do esquecimento e eu as fecharei novamente e continuarei firme no meu propósito, exercitando o pesapego de tudo que não me acrescenta até o dia em que tudo que me causa dor fique totalmente sepultado sob a lápide da memória.

⁠Eu acredito que dias melhores estão por vir, não porque ontem tenha sido ruim, mas porque eu entendo que não há como regredir no processo de crescimento e desenvolvimento espiritual. Cada dia é um passo rumo ao melhor que há em nós. Que o dia que se inicia vibre na frequência de tudo que é luz, leve, doce, intenso e poético.

⁠Quando estou angustiada, infeliz ou com medo é para a poesia que eu peço abrigo, como criança assustada que corre para o colo da mãe pra chorar. É nela que busco a segurança que preciso para arrancar os sentimentos um a um, como se fossem espinho cravado no peito e transformar toda a minha dor em palavras, reconciliando-me com a paz, o equilíbrio e a leveza que a vida pede.

"Nunca me perguntaram o porquê, que eu não gosto de dormir. Afinal a resposta é simples, tenho medo de fechar os olhos e nunca mas sair do vácuo vazio de escuridão da inexistência. Porque quando você está sob efeito do sono, você não contempla a realidade, tudo é inconsciente, e por um breve momento você deixa de existir. O sono nada mais é, do que pequenos breves testes para aquilo que chamo de inexistência. Afinal isso é a morte da consciência pensante, e o fim de tudo aquilo que você é".

⁠Eu reduzo a velocidade na estrada bruscamente; eu me deparo com um violentíssimo capotamento, e com uma família inteira dilacerada, presa às ferragens do veículo; eu saio do meu carro e tento ajudá-los; outros automóveis também param diante da cena dantesca; eu percebo que, enquanto alguns de nós prestamos socorro às vítimas, diversos outros cidadãos se ocupam em saquear carteiras, bolsas, relógios, bagagens e ainda celulares dos feridos. Pergunto: há alguma esperança para o nosso povo depois disso tudo?