Texto de Opiniao de Lia Luft
BEM QUERER
Corpos intensamente alucinantes,febris,apaixonados;
na fusão das almas se refazem,
e se completam.
E em profusão não ilusionista,vê-se,no silêncio do segredo,sensações eufóricas de felicidade extasiante;
estampada no sincronismo dinâmico de um eterno bem-querer.
23.08.15
CAMPOS BELOS
Quem bebeu de sua fonte,
e conheceu a hospitalidade,
a singeleza de sua gente,
a beleza e o vigor da sua mocidade;
Quem conheceu a simplicidade de suas ruas,
das casas, das coisas,
das pessoas;
a imponência de seus montes...
O deseja o tempo todo
quando se encontra distante.
Suas montanhas são como gigantes
interrompendo bravios fluxos de ventos
de superfícies predominantes,
no frenesi das tempestades...
Para que nada seja atingido com gravidade
nos domínios de seus Termos,
por esse fenômeno natural.
Esses relevos são guardiões fiéis
erguidos rumo ao céu;
muralhas intransponíveis
à proteger a cidade.
Lá, todos os dias o sol ressurge
por detrás da linda cerra,
e a incidência de luz
anima a vida na terra;
Quando as atividades diárias cessam...
Chega o merecido descanso,
E logo reaparece o clarão da esperança,
querendo pressa,
à todos despertam.
Iluminando sua gente de fé e crença!
Na estrutura analítica do meu projeto
o meu retorno a Campos Belos é mencionado
como a etapa mais importante.
Não a nego, como o meu eterno desejo
e referencial.
Por onde passei tenho dito,
querendo que o mundo ouça, que,
tenho lutado, mas, tenho sofrido:
hora melancólico hora deprimido...
E, sempre pelos mesmos motivos;
o de viver assim tão ausente:
dos amigos,
dos parentes,
e dessa terra querida,
que me viu crescer.
(04/2014)
EM BUSCA DA FELICIDADE
Ainda que a subjetividade advinda das miragens e da razão,oculte o mover do meu destino;
e a estigma autêntica da "felicidade",me for negada em dado instante,não desistirei da busca e do desejo de me envolver em sua energia inebriante;
e em momentos de pura emoção,perpetuar o meu futuro em sua grandeza.
25.08.15
ALGUNS DOS PROBLEMAS DE MARIA DAS DORES
CRÔNICA
“Maria” é um nome bom, por causa da mãe de Jesus (homem) que assim se chamava. Por isso é o mais "querido" até hoje pelas famílias.
A agregação da palavra “das Dores” ao nome de Maria, não vejo graça nisso!
Num passado não muito distante era mais comum esse nome “Maria das dores”.
Mas isso vem mudando ao longo do tempo; os pais mais "modernos" estão mais caltelosos quanto ao registro de suas filhas com esse complemento “das Dores”.
Todos nós temos problemas na vida,independente do nome que temos; mas, dá pra se pensar que as pessoas com esse nome “Maria das Dores”, tendem a ter muito mais complicações e dores, ao longo de suas existências, do que outras, com nomes diferentes.
Minha amiga a Maria das Dores daqui da região do Céu Azul é um exemplo disso; sempre vivia com problemas de toda ordem: quando não era um problema de saúde, era outro qualquer.
Certa ocasião foi buscar socorro espiritual numa congregação evangélica onde congregava: na época, vivia num relacionamento conjugal muito conturbado.
- Pastor Geny, não tô mais agüentando o home lá de casa! ... Ele tá impossível!... Bebendo, jogando, dançando,... ainda me agride constantemente.
Quero que o senhor ore, para que Jesus dê um jeito nesse problema; tenho urgência, estou em tempo de fazer uma “loucura!”...
- "Bem, quanto as agressões... A princípio, a senhora deveria registrar uma queixa contra ele numa delegacia de polícia, mas...
"Vamos orar sim, minha irmã. E mais: se você quiser podemos fazer uma campanha de oração nesse sentido."
- Sim pastor! Se o senhor puder fazer isso por mim serei eternamente grata!
O Reverendo convocou os fiéis naquela mesma noite, nesse propósito.
Dias depois a Maria das Dores voltou com um problema ainda mais grave:
- Pastor o senhor não devia ter feito aquilo!...
-“Aquilo” o “quê” minha irmã?!
- Depois que o senhor começou a fazer a campanha de oração, não demorou nada o home “bateu as botas!” Foi atropelado e não resistiu os ferimentos e morreu!
Se tava ruim com ele, agora, ficou pior. Com toda ruindade do mundo, era ele que levava o pão de cada dia para nossa mesa, e agora?! ... Somente Amarildo trabalhava lá em casa. Agora estou sem marido e sem emprego... Sem nada no mundo! A minha vida virou de "ponta cabeça".
O pastor fez uma cara de quem não gostou:
- Quero deixar bem claro minha irmã, que não oramos pro seu marido morrer. Oramos pra Jesus resolver o seu “problema” como a irmã pediu. Sabe de uma coisa, desde que lhe conheço por gente que a senhora sempre está clamando de uma coisa ou outra; isso é devido o complemento do seu nome: sugiro que tire o “das Dores” dele.
Mas era difícil demais... pois antes dela nascer já carregava consigo essa "cruz"- das Dores.
Dona Rufina sua mãe, não se cansava de bater na "tecla". "Se for uma menina se chamará Maria das Dores."
Aquilo era uma homenagem que sua mãe gostaria de fazer ainda em vida, à sua comadre Maria das Dores.
E todos da sua região só a tratavam de das Dores.
Além disso, o custo financeiro e burocrático do processo para a modificação do registro de nascimento de uma pessoa o inviabilizava a tomar tal decisão.
O pastor levou mesmo a coisa a sério:
encerrou definitivamente aquele tipo de campanha de oração que fizera em prol daquela irmã:
jurou no Santo altar com a mão sobre a bíblia que nem orava, e nem faria mais aquele tipo de intercessão coletiva em favor “desse ou daquele casal de cristão.
Ele lembrava de um trecho sagrado: “De que se queixa o homem vivente? Se queixa de seus próprios pecados.” E ainda: "Na hora de arrumar o 'homem' não orou nem pediu ajuda a ninguém,agora..."
Então, a viúva Maria das Dores com seu três filhos pequenos Carlos, Marcos e Cleide seguiam a sua via sacra sobrevivendo da ajuda dos irmãos de fé e de algumas outras almas bondosas do lugar. Pois, o marido não contribuía com a Previdência Social quando em vida.
Portanto, não pode deixar uma pensão para família.
Por volta de julho ou agosto do ano desse acontecimento, ela foi ter comigo querendo que lhe arrumasse um golinho de álcool-líquido; eu ainda tinha mais de meio litro desse produto, no seu frasco original, lá em casa; então prontamente tirei do recipiente uma porção do mesmo e lhe dei.
Todo dia ela estava lá na minha porta querendo mais um pouco.
Como naquele período somente o álcool gel estava disponível à venda no mercado (o álcool líquido estava proibido por força de uma Legislação estadual vigente) e, como eu fazia pouco uso daquilo, fui lhe cedendo sem maiores problemas toda vez que ela vinha a mim; mais para o final, disponibilizei todo o restante do álcool a ela.
Um belo dia, bem cedo, adivinha caro leitor quem queria mais álcool?! A própria: Maria das Dores!
- Não tenho mais, minha irmã. Mas, tenho uma cachaça muito boa de Serra dos Aimorés, que ganhei de um baiano que viera de lá recentemente.
- Eu aceito com todo prazer; nem precisava ser tão boa assim, não é pra eu beber mesmo... Sou evangélica: só bebo água e o vinho da Santa Ceia.
- Uai!... E quem está fazendo uso de bebidas alcoólicas em sua casa?
-Eu mesmo,mas,porém pra pôr na carinha de um “bicho de pé” (inseto, semelhante à pulga), que tá atazanando a minha vida há muito tempo.
Preocupado e desejoso de ajudá-la na resolução daquele problema, pedi para dar uma olhada em seu pé; vendo aquelas bolinhas escuras e seu pé bastante inchado, percebi que era muitos “bichinhos” que já estavam instalados naquele local há muito tempo e, naturalmente, ovulando bastante, então, concluí que havia a necessidade de uma intervenção cirúrgica mais criteriosa e o orientei que fosse ao posto de saúde mais próximo.
Dias depois, voltando do Hospital Evangélico onde estagiava, e chegando ao local aonde morávamos, a nossa rua estava tomada de curiosos e uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), parada na porta da casa de Maria das Dores.
Pronto!...
“Pelo jeito morreu alguém nessa casa!” Pensei. Só se pensa o pior nessas horas.
Mas, graças a Deus não era nada do que eu pensava!
Não havia morrido ninguém!
Maria das Dores estava sendo assistida por uma equipe de trabalhadores da saúde, e sendo conduzida ao Pronto Socorro João XXIII.
Para a retirada dos pobres “bichinhos de pé” “tontos” que nem “gambás” que pareciam ter adorado a ideia da sua hospedeira, de regá-los dioturnamemente com álcool e cachaça;
e com certeza insistiam o quanto podiam, para não sair daquele ambiente “etílico” que estavam envolvidos.
Se pudessem cantar, cantariam: “Daqui não saio / daqui ninguém nos tira /...”
Coitada da Irmã Maria das Dores!...Tem vivido, mas, tem sofrido!
“Se seus pais tivessem o cuidado de não pôr “ Dores” compondo o nome da filha, ou se Maria das Dores, tivesse seguido a orientação de seu pastor: removendo o 'das Dores' do seu nome, com certeza sua vida seria menos “dolorida”.
Há palavras que devem ser omitidas se for possível.
Tenho uma sugestão para os futuros pais:
na frente do nome "Maria" coloquem "Dolores", e a "dor" da sua filha,ao logo da sua caminha, ficará mais amena;
além de ser uma palavra mais romântica.
Fica a dica!
21.08.16
POETA SEM AMOR
Por Nemilson Vieira (*)
Poeta sem amor
É o pólen da flor.
Sem o agente polinizador;
Um pai de família:
Ocioso, sem o labor.
…Éluta perdida.
Uma Olimpíada:
Sem atleta, troféu, vencedor.
Poeta sem amor
É jogo sem torcida
Sem juiz, sem jogador.
Náufrago à deriva
A desejar um salvador.
…Umapresa fugidia;
À frente do predador.
Doença a insistir;
A prolongar a dor.
…Opecado a atrair
O pecador.
Poeta sem amor
Vive a esperar docéu.
A prenda querida;
Das mãos do Criador.
Não deseja viver só
Almeja viver
A dois.
*NemilsonVieira
Acadêmico Literário
Fli e Lang
(18:07:15)
MENTIRAS TÊM PERNAS CURTAS
Por Nemilson Vieira (*)
Final de semana chegado Antônio (o chamarei assim) saiu com os amigos para curtirem uma balada…
Conheceu uma linda garota e logo diz-lhe ser CONTADOR. — Passava a ideia de ser graduado em Ciências Contábeis.
Cheio de planos encheu a moça de promessas; firmaram um namoro sério…
A felicidade dos dois nos encontros festivos que se seguiram impressionava, dava inveja aos solteiros e os casados mal resolvidos. — Imagino.
O relacionamento ia bem demais da conta para ser verdade, até a casa desabar…
Indo ao centro de Belo Horizonte, a sua namorada resolveu passar na Padaria Diplomata e deu de frente com Antônio, de guarda-pó branco, com um balaio cheio de pães a carregar um veículo estacionado à porta do estabelecimento comercial. Estática não estava a entender o que via! Sem nada perguntar ao namorado soltou logo os cachorros no pobre: — Você não precisava enganar-me dessa maneira! Falasse-me à verdade e eu iria gostar de você do mesmo jeito…
Antônio calado estava e ficou. Saiu rápido da sua presença, de cabeça baixa com o enorme balaio já vazio na cabeça, para mais transportes dos produtos da panificação. Já quase a desaparecer do seu campo de visão ouve da namorada — transtornada com a situação:
— CONTADOR NÃO É?
Antônio morria de vergonha; ainda assim a olhou pela última vez por cima do ombro e respondeu:
— Sim! CONTADOR de PÃO.
* Nemilson Vieira
Acadêmico Literário
(19:03:20)
Fli e Lang
Post no Blog
O MEU PAI SALVOU UM HOMEM, O MEU TIO OUTRO
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Por ocasião das eleições municipais na minha cidade…
O clima político em Campos Belos, nessas disputas se elevava.
Era comum as discussões a cerca de um ou outro postulante a uma cadeira administrativa.
Nem sempre esses embates ficavam somente no campo das ideias: em dados momentos, os ânimos se acirravam, e as agressões deixavam de ser verbais e, iam às vias de fato.
O povo compareciam aos comícios, para apoiar e ouvir os discursos inflamados dos distintos candidatos.
Geralmente esses encontros eram realizados em carrocerias de caminhões posicionados em locais estratégicos, pelas ruas da cidade, distritos e fazendas.
Eu mesmo andei a discursar numa dessas ocasiões, na campanha do deputado José Freire, e outras lideranças políticas estaduais e locais.
Alguns candidatos passavam dos limites nas promessas que faziam. Não cumpriam o prometido. “Desde aquele tempo a ‘mentira’ no mundo da política comandava o espetáculo.”
Havia perseguições políticas por parte de alguns mandatários, principalmente quando o eleitor declarava publicamente outra opção do seu voto.
O ir e vir das pessoas nas ruas nos dias da votação eram intensos.
Alguns pais precavidos orientavam os seus filhos a não participarem daquela agitação toda, e muito menos das questões políticas. Opor-se ao governo (nos três níveis) não era recomendável. No dia da votação a minha mãe ficava a orar a Deus, para que tudo ocorresse em paz, naquela disputa; pedia a nós que não saíssemos de casa: era “perigoso!” Não dava para saber o que poderia acontecer.
Os candidatos a vereança e a prefeitos compareciam aos seus redutos eleitorais; a tirar fotos com o povo e ouvir as reclamações dos moradores. — Visitar escolas, comunidades, hospitais; inaugurar comitês, reuniões com apoiadores, fazer as suas últimas promessas…
Um dos candidatos a prefeito esbanjava carisma: o Adelino, filho da terra, já havia administrado a nossa cidade. O outro candidato não me lembro bem quem era, mas, a campanha ia num bom nível. Qualquer um dos ganhadores estávamos bem representados.
Ao aproximar-se o momento da prova dos nove. Em que as urnas iriam falar. Um dia à tarde próximo à votação o João (preferi assim o chamar) eleitor de um dos candidatos tomava uns aperitivos a mais e jogava conversa fora, no bar do Elias. O Lázaro eleitor dum outro andava armado sem uma autorização, e sem ser incomodado pelas autoridades competentes adentrou-se ao ambiente e logo começou a discussão política. Decisão que quase causaria uma tragédia maior: saltou para fora da venda, num respeito ao proprietário e convidou o João para resolver a questão na rua. — Na bala. O convidado não pensou duas vezes e mais que depressa atendeu o chamado. Como uma serpente a dar o bote na presa. O Lázaro negou o corpo e sacou da cinta um revólver de todo tamanho à vista dos nossos olhares atônitos, já pronto a cuspir fogo no ralar da espoleta.
O João ao ver a arma apontada na sua direção saltou no seu algoz como um atacante na hora de fazer o gol: perdeu o pulo e caiu.
Debruçado na terra fria e pedregosa, aos pés do inimigo só a misericórdia de Deus, e ela fez-se presente…
O Lázaro só teve o trabalho de mirar a arma na cabeça de João e apertar o gatilho. — Bam! — Ai!
O projétil do disparo cravou-se numa das suas mãos que, mesmo atingido levantou-se e atracou-se com o seu rival. O sangue esvaia-se…
João por cima de Lázaro quase toma uma facada de graça de terceiro…
Um sujeito miúdo, amarelo feita a goiaba madura, ao lado a observar tudo e com vontade de entrar na confusão tomou as dores de Lázaro: aproximou-se mais e puxou da cinta uma enorme peixeira, que parecia um punhal procurava o melhor lugar para sangrar o João. — Descia do alto da cabeça a sua mortífera lâmina fria na direção do vão da clavícula do pobre.
De repente o forte grito do meu pai ecoou pela Rua do Comércio afora: “Não faça uma coisa dessa com o rapaz!"
O homem voltou com a faca para a bainha imediatamente.
O João a lutar e relutar sozinho para tomar a arma do inimigo nem percebeu o tamanho do risco que correu. — Morreria sem saber do quê.
De tanto esforçar-se, com um joelho flexionado sobre Lázaro no chão, o João já o dominava.
A arma do seu inimigo político já estava na sua mão, quando o tio Elias entrou em ação e a tomou.
Salvou o Lázaro da morte e o João da prisão. — Por certo.
*Nemilson Vieira de Morais
Acadêmico Literário.
OS INFORTÚNIOS DE AFONSO
Por Nemilson Vieira (*)
Eu o meu irmão mais velho e alguns amigos da primeira infância visitávamos o bananal do seu Afonso nas caçadas de passarinhos. Havia bananas maduras nos cachos, com furos por cima; já visitadas pelas aves. Pipira (sanhaço), currupião (sofreu), sabiá… Homem bom, de poucas posses, mas trabalhador e honrado… Numa certa altura da vida, Afonso desandou-se; deu um atrapalho na família: a mulher foi-se embora com outro e levou consigo os filhos. Com o tempo a sua casa do nada, pegou fogo com a plantação de bananas. Tudo que possuía tornou-se em cinzas; quase morreu de desgosto… Um amigo o convidou a uma caçada conhecida no nordeste por fachear; consiste em se fazer uma picada por baixo da mata e ficar a andar na mesma, num sentido e noutro, com uma lanterna e uma espingarda, o tempo que se fizer necessário; no intuito de abater a caça que tentar atravessar o caminho. Naquele dia deu errado… Terminaram o trabalho ainda cedo da tarde; o amigo de Afonso disse-o que o aguardasse um pouco, que iria dar algumas voltas por perto. A caçar algum bicho miúdo: um preá, um inhambu… Ao retornar, alguns metros de distância, algo fez um barulho por baixo de umas ramagens a sua frente; com a espingarda engatilhada na direção do bicho olhou mais um pouco e apertou o gatilho, Bam! Ai! — Gritou o Afonso em dores profundas. O amigo correu desesperado para ver e, confirmou ser o seu companheiro de caçada. Com bastantes perfurações de chumbo fino por todo o seu corpo; respiração ofegante, dificultada. No momento que fora alvejado Afonso firmava o cabo da sua faca que havia afrouxado. O amigo visualizou apenas o seu cotovelo em movimento e confundiu-se: achou ser uma cotia. Próximo à escuridão da noite começou o martírio do amigo do Afonso com ele nas costas a procurar uma ajuda. Um galo cantou ao longe de onde estavam… Era o sinal que precisava; marcou o rumo e foi-se. — Orientado pelo canto da ave chegou a um morador. Afonso perdera um pouco de sangue pelo caminho, com a agitação do corpo, aos balanços nos ombros do amigo. — Ainda vivia. O amigo contou com riqueza de detalhes tudo o que acontecera com os dois, ao morador. O homem depois de ouvi-lo… Indicou um remédio caseiro à vítima: um frango pisado no pilão com pena, tripas e tudo mais; do jeito que fosse pego no poleiro. Não carecia de sal; um pouco de água sim. Somente para chegar aos recursos médicos na cidade, lá entrariam com os cuidados e uma medicação coadjuvante ao tratamento. Com uma observação: não devia vomitá-lo caso contrário morreria. Afonso ainda consciente, por certo ouvia tudo em profundos gemidos. Consultado se topava beber o tal remédio naquelas circunstâncias, o aceitou. Depois do frango pisado o homem despejou aquela mistura numa caneca grande, mexeu e deu ao baleado a tomar. Afonso bebeu o frango pisado no maior sacrifício do mundo; com uma cara daquelas… A cada gole que dava fazia menção de jogar tudo para fora. Lembrava da orientação do homem e não o fazia. Missão cumprida, providenciaram uma rede para o traslado do paciente. Alguém para ajudar na condução do mesmo. Afonso não provocou vômitos e resistiu bem a viagem. O seu tratamento foi trabalhoso gastou-se um bom tempo para remover todos àqueles chumbos do seu corpo e a saúde voltar. Depois do caso passado até serviu de graça, se é que o Afonso contava que o pior de tudo não foi o tiro da cartucheira: foi o frango que bebeu. Com as recomendações de segura-lo no estômago para não morrer.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário.
(27:02:18).
Fli e Lang
CALOTES, O PAVOR DO COMERCIANTE
Por Nemilson Vieira (*)
As vendas a prazos eram registradas em cadernetas, cadernos, papel de pão…
Nenhuma garantia formal da dívida havia; somente a ‘palavra’ do freguês.
O meu pai, antigo comerciante na minha cidade, queimou alguns cadernos cheios dessas anotações, fora as discussões que aconteciam. Não tinha bons modos para cobrar e entrava em atritos com alguns fregueses inadimplentes na hora da cobrança.
Com o aparecimento do cartão de crédito e débito (o chamado dinheiro de plástico) os prejuízos com essa antiga modalidade de vendas reduziram bastante.
Alguns fregueses não pagam nem a luz para dormir; não honram os seus compromissos. Por aqui o Miguel Pedreiro não deixou um bom exemplo nesse sentido.
Por precaução o seu Dega, comerciante do Céu Azul, carregava a fama de não vender fiado. Talvez não fosse bem assim, algumas coisas saíam sem o devido pagamento à vista. Ninguém faz tanto malabarismo assim. Disse-me antes de se aposentar que nos seus trinta e sete anos de trabalho no ofício, no dinheiro de hoje, julga ter perdido, com os fiados, uns mil reais. — Não é sabido de alguém ter conseguido tamanho feito. Desse montante, talvez a maior parte do prejuízo fora dado por Miguel Pedreiro.
Ele já sabia da inflexibilidade do seu Dega, em não vender fiado. Por isso esperou a hora certa de dar o bote.
O comerciante iria à Ipatinga, dar uma demão ao irmão, numa disputa de um cargo eletivo naquela jurisdição.
Já dentro do veículo que o levaria a essa cidade, estacionado à porta do seu comércio, fora abordado por Miguel.
Queria uma unidade de cigarro e uma dose de cachaça, no dia seguinte pagaria-lhe, como sem falta.
A pressa é inimiga da perfeição. O Dega não desceu do carro; pediu a esposa Corina que o atendesse naquilo que lhe pediu. Ligaram a condução e partiram.
— O que o senhor deseja, seu Miguel?
— Bem… Vou pegar umas coisas com a senhora e conforme combinamos acertarei no regresso do seu Dega. Todos os dias Miguel estava lá a buscar mercadorias e dona Corina anotava tudo num caderno. O comerciante demorou vinte e três dias para voltar de Ipatinga. Aí o estrago já estava feito. Ao saber que havia sido passado para trás imagino que o velho empresário só não morreu porque não era chega a hora. Com bastante ódio procurou uma pedra de amolar para afiar uma faca que tinha; estava decidido a ensinar o Miguel a dar calotes nos outros. Possuía uma arma de fogo, mas aquele serviço iria fazer com a sua lâmina afiada; sabia muito bem trabalhar com ela, ia “furar os rins do infeliz.” — Disse. “Procurei a peste do homem por toda a redondeza durante quatro dias.” Não logrou êxito; só pensava coisas ruins.
Apareceu uma pessoa que mudou o rumo da história dos dois.
Nas suas andanças à procura do Miguel o seu Dega encontrou-se com um amigo num bar na Rua Elga Taveira.
Num suposto diálogo começa a conversa…
— Tô lhe vendo meio diferente ultimamente, Dega! — Estranho mesmo!
— Estou a procura de uma peste há quatro dias, para matar, mas não o achei.
Contou-lhe os motivos que o tirou do sério, e perguntou se o amigo viu o tal.
— Eu vi sim, mais cedo num caminhão de mudança por certo estava a se mudar.
Com aquela informação o amigo desviava o foco, o furor do seu Dega…
Miguel Pedreiro continuava a dar os seus calotes do mesmo jeito pela região.
Tempos depois, Dega encontrou-se com o dito cujo, o Miguel pelas ruas do bairro.
Aí a sua vontade de fazer o mal a ele já havia virado a esquina. — Ganhado devagar o mar do esquecimento.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário
(22:09:18)
Fli e Lang
LARGA ESSE HOMEM
Por Nemilson Vieira (*)
O Galdino Caixa carregava a fama de ser preguiçoso, por não querer levantar uma palha. Estava difícil sobreviver na cidade daquela maneira…
Serviço havia, mas o homem não corria atrás do lucro.
Os filhos é a alegria da casa: primeiro veio Rita, Maria, José Caixinha como era conhecido.
Pelo jeito ia longe nessa procriação, mas havia de pisar no freio. Ainda moravam de favor numa casa velha arruinada, cedida por um conhecido, em Estrela do Indaiá.
A esposa Leonôra com dificuldades, segurava as despesas da casa como podia… Os meninos só ajudavam em alguns poucos serviços domésticos.
Até que Zé Sérgio, fazendeiro caridoso da Serra Boa, soube da vulnerabilidade social da família e se prontificou em ajudar. Convidou o Galdino a ser um caseiro seu, na fazenda.
Por lá poderiam criar os seus animais, plantar as suas lavouras… Tudo o que fizessem seriam da família.
Para Galdino o serviço de roça não lhe não dava ânimo…
Leonôra achou ser uma ótima proposta. De fome propriamente, não morreriam; disposição para o trabalho, não lhes faltava…
O Galdino para agradar à mulher e os filhos, não os ver em apertos, faria qualquer negócio… Aceitou a proposta.
Estabelecidos na propriedade, Leonôra logo deu de criar galinhas, porcos — coisa que não o fazia desde que fora morar na cidade.
Organizou um canteiro desativado que havia no quintal e começou a cultivar a sua hortinha caseira.
Logo já estava a morrer de saudade de Zé Caixinha, o seu único filho homem, que ficara a estudar em Estrela com a madrinha. Tempos depois, fora para a capital mineira; não havia mais estudos para ele no interior. A madrinha custeava os estudos e as despesas do garoto. — O tinha como um filho.
Galdino vivia num repouso quase
absoluto: a embalar-se numa cômoda rede armada na varanda da casa, o dia inteiro.
Leonôra não parava um só instante dos trabalhos domésticos. Cuidava das filhas, lavava as roupas, fazia o ‘mastigo’ do dia, num fogão velho de lenha. Ainda labutava na roça nas horas vagas.
Tudo dando certo conselheiros não faltavam à Leonora:
— Larga esse homem! Procure uma pessoa mais esforçada que lhe dê valor… Ainda tem homem bom no mundo…
Leonora só dizia:
— Sou feliz assim. Foi Deus que me deu ele; já temos três filhos maravilhosos. Às vezes ele arma umas arapucas, uns laços, e pega umas aves, umas caças, e nós comemos com os filhos e nos alegramos em volta da mesa. Serve para olhar a casa; vigiar a roça… Ainda me faz um carinho por vezes,…
Com as voltas que o mundo dá…
Galdino deu para fazer chapéus de cambaúba, uma taquara muito comum em mata de transição, abundante nos terrenos de Zé Sérgio. Aprendeu o ofício nem se sabe como!
Preguiçoso podia ser, mas, muito inteligente!
Fez o primeiro chapéu e o pendurou num prego na sala; aquilo era um sinal de respeito: havia um homem na casa.
Fez o segundo para o seu uso pessoal. Só o retirava da cabeça para dormir.
Outro para o dono da fazenda que o amou. Idealizou também versões femininas de chapéus, e as presenteou a esposa, as filhas, a patroa.
Gastava quatro dias para fazer um chapéu; que era vendido por dez cruzeiros na época.
Não parou mais com a sua fábrica de chapéus. A boa notícia espalhou-se por entorno da fazenda, distritos e cidades, estados. Além de uma beleza encantadora a durabilidade dos seus chapéus também eram algo extraordinário. Dizem que Galdino dava uma garantia de 40 anos ao freguês que lhe comprasse um chapéu. — Coisa nunca vista no mundo comercial.
Zé Sérgio dava-lhe toda a liberdade para que colhesse a matéria-prima necessária para a produção dos seus chapéus, nos seus terrenos. Os fregueses vinham de todos os lados para comprar e levar aquelas preciosidades.
Abriu pontos de vendas em algumas cidades e a demanda por seus produtos iam bem. Até dos outros Estados da Federação haviam encomendas.
O negócio crescia numa velocidade astronômica… O volume das vendas garantia-lhe uma boa receita.
A Rita filha mais velha do casal, não teve boa sorte: casou-se e foi-se para uma terra distante. Grávida do primeiro filho uma das paredes internas da sua residência, desabou sobre ela. — Numa briga do esposo com o sogro. Não resistiu os ferimentos e veio a falecer, com o seu bebê na barriga.
Maria aprendera a profissão com pai, e o ajudava na fabricação e vendas dos chapéus; no atacarejo na cidade.
José Caixinha graduou-se e passou a administrar os negócios da família.
Ao acompanhar o marido nos eventos que realizava Leonôra falava da garra, da determinação e da paciência que se deve ter com o esposo…
Se tivesse dado ouvidos aos conselhos de alguns, teria perdido um marido de ouro. — Dado com os burros, n’água.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário
(15:06:17)
Fli e Lang
Texto baseado em fatos reais, com adendos do autor.
DESAFIOS DE UM REI
Por Nemilson Vieira (*)
Um certo rei numa província distante, lançou um desafio aos seus provincianos.
Consistia em três perguntas básicas, feitas pela própria Majestade Real aos participantes:
A) — Qual o peso do mundo?
B) — Quanto valia a sua vida? — A do rei;
C) – O que pensaria ao fazer a segunda pergunta.
Os desqualificados seguiriam para a guilhotina. Somente o que respondesse com exatidão ganharia à metade do reino e se casaria com a sua filha caçula.
Pelo risco da competição… O vultoso número dos inscritos surpreendeu.
Pedro (assim o chamo) fazia parte desse grande contingente de participantes.
Quem não arrisca não petisca então não custaria tentar.
Dia chegado bateu um certo desespero não era para menos a sua preocupação.
Nem sei se dormiu direito na noite anterior. Por medo de não dar conta de responder os desafios e perder a sua vida de graça.
Mesmo em súbita melancolia lembrou-se de pedir ajuda ao irmão gêmeo, Paulo e se pôs a procurá-lo, por todos os lugares.
As horas corriam…
Até que o encontrou;
Pediu-lhe uma ajuda em desespero extremo…
Paulo prontamente procurou ajudá-lo; propondo-lhe uma possibilidade viável — segundo ele — para a resolução do problema que afligia o irmão.
Os dois eram bastante parecidos fisicamente e poderiam tirar vantagens disso. Unidos como a carne e a unha; por ele e para ele faria o possível e o impossível…
“Troquemos as nossas vestimentas e eu irei como sendo você, submeter-me e, a responder às perguntas da Vossa Alteza”. — Propôs o Paulo.
O Pedro ficou mais aliviado. O Paulo foi se preparar para o grande momento.
Dia chegado, a lâmina afiada já estava preparada para o serviço de cortar pescoços. — Não dar a resposta certa a cada pergunta morreriam
Fortes soldados da Companhia da Guarda Real, assistia. Nada atemorizava o resignado irmão de Pedro, o Paulo.
Momento chegado lá estava ele — como se fosse o seu irmão.
O rei pergunta:
— Qual o peso do mundo?
— Não me furtarei ao honroso dever de informar-lhe com exatidão, o peso do mundo; desde que me garanta remover dele, paus e pedras. — Faça-me tão-somente o que lhe sugiro e direi-lhe.
O rei nao podia fazer aquilo. Sem palavras passou para a pergunta seguinte:
— Quanto vale a minha vida?
— A sua vida, nobreza, é igual à vida dos seus pais, esposa e filhos. Não tem preço. Mesmo alguém com toda a riqueza do mundo não poderia comprar, caso estivesse à venda.
Essa dádiva que recebemos não tem preço. O Rei Carlos bateu na mesa com a pedra do anel e houve um silêncio profundo. — Pediu um intervalo à comissão julgadora e, licença ao desafiado. Levantou-se, se dirigiu à residência Real.
No interior da mesma encontrou a rainha em prantos, abraçada à filha. Temerosa de perder a formosa princesa e a metade do reino para aquele súdito; que respondia com maestria e autenticidade as perguntas que lhes eram feitas.
O rei pesaroso por ter ocasionado aquela situação conflituosa. Promovendo tal desafio. A consolou, ao dizer que lhe fizesse um pedido.
Então…
— Amor bem sabe que a amo.
Ainda falta uma pergunta; pelo jeito irá vencer. Faça o seguinte: desapareça com esse sujeito. A nossa vida, família e fortuna está em jogo…
O rei voltou do intervalo e fez-lhe o terceiro e último desafio:
— O que pensei quando fiz a segunda pergunta a você?
— A Vossa Alteza no momento em que, fez-me a segunda pergunta, pensou de ser eu Pedro. Estava, e ainda está, redondamente enganado; na verdade, eu sou o Paulo o seu Irmão.
O Paulo acertou precisamente a pergunta da majestade. Fora aquilo mesmo que o rei havia pensado. Ao saber da trapaça ordena à sua guarda que a prenda. Era tarde demais, Paulo o único vencedor daquele desafio já havia vazado no mundo. — Fugido para as montanhas além, ao desenvencilhar da guarda e da multidão. Ganhou, mas não levou.
Não casou com a filha do rei, nem tomou posse da metade dos bens da Coroa Real, mas salvou da morte a si e ao irmão que tanto amava.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário
(18:09:18)
Fli e Lang
AS PERIPÉCIAS DO FIRMINO
Por Nemilson Vieira (*)
O meu saudoso conterrâneo, o velho Firmino deixou o seu estado de origem, o Maranhão e saiu pelo mundo… Se pôs como pedra a rolar, rolar… Pelos caminhos da vida. Como a pedra que muito rola não cria lodo… Não quis o destino que fosse além de Campos Belos às suas peripécias. A sua trajetória de caminhante solitário encerrou-se por lá, num descanso eterno. Com a cidade viveu num estado de graça e amor permanente; à morte os separaram.
Bom camarada; extrovertido, sociável daqueles que sentimos bem estar ao seu lado. Um dos melhores contadores de causos que conheci. O seu jeito alegre de ser, a história que contava prendia à atenção das pessoas para ouvirem as suas narrativas orais.
Como bom maranhense amava de paixão as pescarias e os ensopados de peixes; numa ocasião nos contou sobre uma que participou com os amigos do lugar. Sobre brancas areias de um rio armariam as suas barracas, nas suas águas jogariam os seus anzóis, lançariam as suas redes. Cada integrante do grupo se ocuparia do que fosse necessário fazer naquele espaço.
Bebidas umas cachaças para animar o Firmino criou coragem para mergulhar no poço frio e profundo, à sua frente.
Gastou um tempo para voltar à superfície das águas. Os companheiros sabiam que ele demorava muito nos seus mergulhos.
Cultivava o hábito da captura dos peixes com as mãos introduzidas nas locas e fendas das rochas. Depois da demora ressurgiu, e voltou à praia sem nenhum peixe daquela vez. Prometeu à turma retornar às águas para buscar o prato do dia. Uma sucuri para quem animasse a comer. Pulou novamente no poço, desceu às suas profundezas.
Dessa vez demorou um pouco mais em retornar à superfície; talvez uns minutos. — Um só, submerso, já é uma eternidade.
Firmino estava grudado com as duas mãos no rabo da cobra à puxar-la para fora; a mesma inflava o corpo e se firmava nas laterais da toca, num descuido avançava para o seu interior. Naquela luta ferrenha dos dois pela sobrevivência… Firmino a venceu.
Na terra firme, ao batê-la sobre o solo por algumas vezes, a pobre da cobra desfaleceu. Foi uma farra daquelas dos colegas.Salivações de sobra só de pensarem em degustar uma iguaria daquela.
Ao iniciarem os preparos para o guisado, constataram que não se tratava de cobra-sucuri coisa alguma e sim, de uma cobra-jaracuçu que não crescia mais.
Dormiram com fome.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário
F.L.
Uma Visita Ao Amigo João Knaip
Por Nemilson Vieira (*)
Revi o amigo JoãoKnaip—o barbeiro mais antigo da região do Céu Azul. Neste mês de setembro de (2017), completou os seus 90 anos bem vividos.
Há vinte e um anos a nossa amizade começou e não parou mais.
Fora o meu colega nas lides religiosas: atuava como superintendente; eu como professor da Escola Dominical, da classe dos jovens evice-presidenteda mocidade, da Assembleia de Deus, Luar daPampulha.
Já se submeteu a várias intervenções cirúrgicas sérias: próstata, cabeça, coração, óssea…Subiu na casa e pisou numa telha de amianto que não o aquentou e o chão foi o seu limite. Isso resultou-lhe uma fratura exposta num dos pés.
Depois da reabilitação apareceu onde moro com um braço na tipoia. Havia subido num pé de canela e o galho não resistiu.
Outro dia sumiu de casa e o procuraram por todos os lugares; até que um neto o encontrou a conversar comigo e o levou embora.
Ouve e enxerga pouco e tantas outras limitações da idade não lhes dão tréguas. Toca os seus dias como pode…
Gosta dos hinos antigos, da igreja, e as músicassertaneja-raiz, mas evita ouvi-las por mais tempo, para não chorar.
Agora,os seusfamiliares, não permitem mais que ele saia sozinho às ruas do bairro. Pela fragilidade física que apresenta; algo até então compreensível.
Sábado passado, numa reunião o amigoacadêmicoJoão Silvestre com mais de 80 anos, aconselhou a visitarmos mais os idosos, as pessoas que estão a viver em situação de privação de liberdade, um orfanato…
Como Maomé não foi à montanha, esta, foi a ele.
Parecia eu ser muito importante: oTonhinho, genro do amigo JoãoKnaipprocurou-me.
“O meu sogro fala em você constantemente;pediu-meque o fosse ver.”
Ao saber deste fato parei os afazeres, imediatamente; tomei um banho e fui vê-lo.
Levei a alegria ao meu amigo e fiquei muito feliz.
“Os idosos vivenciaram muitas experiências e têm muito a ensinar.”
Interiorizeiumafrase sua:
“Há momentos em que a vida nos cansa e temos vontade de partir”.
Após a minha visita, sem mais demora partiu para a eternidade!
*NemilsonVieira
Acadêmico Literário.
(18:09:17)
Post no Recanto das Letras
POETA SEM AMOR
PorNemilson Vieira (*)
Poeta sem amor:
É pólen sem polinizador;
Pai de família ocioso, sem digno labor.
É luta perdida, olimpíada sem atleta, troféu, vencedor.
Poeta sem amor:
É jogo sem torcida, sem jogador a driblar.
Náufrago à deriva, a desejar…
É presa fugidia ao correr do predador;
Doença a insistir, a prolongar o sofrer;
Pecado, a atrair o pecador.
Poeta sem amor:
Vive no aguardo do melhor…
Almeja viver a dois
Não deseja viver a só;
*NemilsonVieira
Acadêmico Literário.
(18:07:15).
Post no Recanto das Letras
SORRIR, ANTAR, ESPANTAR OS MALES
Por Nemilson Vieira de Morais (*)
Num céu pujante saltarei alegremente, a entoar canções de pássaro livre em campo aberto; — num dia de liberdade.
Com voz a expressar um novo cântico de alento. — Enquanto houver a concessão vital a mim.
Num sentido lógico,harmônicodas melodias, insistirei nessa repetição nostálgica. Com a esperança de espantar os males.
Por certo, em 'quadrados' sóis, não terei o ânimo necessário de expressar-me e ser ouvido…
Ainda assim seguirei como bicho solto envolto na energia inebriante do sol da esperança.
Serei ouvido por muitos e compreendido mais facilmente, por poucos, nas minhas demandas emotivas, emergentes.
Não me abaterei pelas circunstâncias adversas à minha vontade, em dado instante; caso me envolva em loucas questões que não levam a lugar algum.
Bem como em recorrentes pensamentos negativos, daninhos à minha saúde e aobem estar.
Contudo, seguirei resoluto o caminho que me foi proposto, confiante de não ser abatido pelos constantes desafios que a vida oferece.
Nasci a chorar e, em muitas ocasiões, entristecido, ainda choro se precisar;
Não é vergonhosa uma atitude assim. Vejo como balela' a história de que 'homem não chora.'
Pode ser algo estranho, a minha sensibilidade quase infantil, num dado instante, mas nós, adultos, ainda carregamos alguma coisa de criança sim.
Prefiro mesmo os muitos momentos alegres e os sorrisos fartos que a vida proporciona.
Não podendo mais exercer as minhas fluidas emoções, alguém, em algum momento, o fará por mim numa ocasião qualquer; num encontro ou num adeus definitivo.
Curtirei esse instante solícito a mim, paraexternara minha gratidão à vida.
Assim como a alegria, a tristeza, o choro sempre irá povoar o cenário da emoção de alguém.
Se a noite é triste, lembremos que dias alegres virão para refazer as nossas forças e continuarmos a caminhada que ainda temos de empreender.
Tenhamos então, pelo menos um pouco de paciência nas lutas diárias e voltarmos a sorrir num instante oportuno.
A tristeza e o choro sempre irão perdurar e povoar o cenário emotivo, latentes em nós.
As lágrimas sentidas, as dores, a melancolia faz parte do processo vital, que estamos envolvidos. — Assim tem sido e será.
Caso as noites sejam tristes e intermináveis, lembremos: dias alegres virão para que cantemos, num refazer das nossas forças…
Continuemos a caminhada que nos resta, se não com o mesmo, mas ainda com muito vigor.
Manter a confiança e o entusiasmo de sempre para caminhada; é o que mais importa.
Se fugiu de nós a alegria, voltemos a ser livre para sonhar, sorrir e cantar; espantar os males.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário.
(24:07:19) - RL
Saudade da Minha Terra
Saudade sua é mato que não raleia… lembranças que não saem, centelhas que incendeia. — Me ponho a lembrar de tudo… do entardecer, do cantar do galo no amanhecer; das batidas da cancela no mourão, do som do chocalho e do mugido do gado na pastagem ou deitado a remoer. Saudade do luar do sertão, que à terra toda prateia, de um passado distante que o pensamento campeia... Meus pés ganharam o caminho, ao frescor da memória a impactar o meu sentir… Ruas, estradas, trilhos, atalhos, encruzilhadas… dão-me a esperança de seguir. A poeira que, converteu a cor dos meus calçados, num pó esbranquiçado (pelos passos do passado) é a prova do quanto andei.
SOBRE A CRUZ...
Na cultura católica, a cruz vive presente no hábito da irmandade; é um instrumento de fé na vida cotidiana desses irmãos. É usada por alguns, para exorcizar pessoas possuídas por entidades do mal. — Por líderes espirituais e religiosos que acreditam que os espíritos imundos encarnados, nas suas abordagens, corram da cruz.
Quando eu era mais jovem,
não tinha experiência.
Errei. Chorei.
Isso, me ensinou.
Eu cai. Me machuquei. Levantei. Cicatrizou.
Hoje tenho, mais cuidado.
Na escola, eu repeti de ano.
Eu senti tristeza.
Precisei estudar. Busca informação.
Consegui resultado. Isso, deixa feliz.
Da simplicidade,
até a grande responsabilidade.
Um caminho. Um passo, de cada vez.
Precisa esperar.
Ter paciência.
No quebra cabeça,
começa pela primeira peça.
Oração pela Luz na Depressão
Senhor, quando a escuridão pesar sobre mim e minha alma se sentir cansada, ilumina meu coração com a Tua paz.
Dá-me forças para cada novo dia, esperança para cada pensamento, e fé para acreditar que não estou só.
Ampara-me no Teu amor e faz nascer em mim a alegria de viver.
Amém.
A L V O R E C E R
Em um amanhecer qualquer de mais um dia comum.
Na rota previamente traçada, meus pensamentos buscam o infinito.
Tal como lápis branco, aviões riscam o céu azul de brigadeiro.
No asfalto com linhas amarelas áureas, navego pelo mar verde de açúcar.
A velocidade faz com que o tempo ande depressa demais.
O grito de socorro da natureza chega a atravessar o para-brisa.
Animais cruzam meu caminho sem saber para onde fugir.
Lágrimas escorrem pelo rosto. Estas não são capazes de encher o rio.
O caminho com o formato de serpente é perigoso como tal.
A energia que vem do sol, meus olhos não podem ver.
Solução para um futuro incerto? Um dia a mais ou a menos?
Mistérios de nossa existência, lutemos por nossa sobrevivência.
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