Texto Amigos de Luis Fernando Verissimo
CRIMINAL
Se maduro ou imaturo
Se te faz santificar ou pecar,
Ainda assim eleva-te e te sinta seguro.
Em nenhuma circunstância se permita errar.
Se o amor um dia nos matar,
Ele é que vai ficar mal.
Poucos irão tolerar.
Ele é que será criminal.
Suspenda o que te faz impuro.
Abrace, beije se entregue.
Não adianta socar o muro.
Só com o ódio pegue leve.
A mente que te movimenta
Controla-te sem cessar
Não leve tudo tão a sério, não esquenta,
Só não deixe, de aos outros, amar.
Cabernet.
Li no sorriso que pulsava em você.
A alegria de sentir-me chegar.
O brilhante olho denunciava teu querer.
Exalava de você o sinônimo de amar.
Atravessei teu olhar mapeei tua alma
Com calma fui despindo teus desejos,
No mesmo instante que me cobria de você
Laçamos nossos instintos anoitecidos
E o brinde feito para podermos nos entender.
Que vibrante é sonhar colorido,
Sem pensar se um dia vai amanhecer.
Brindamos as horas que de tão nossas
Acabamos delas esquecendo.
Nossas vidas misturadas
Em meio a elas nos perdemos.
Do vinho vertia o cheiro do amor,
Dos corpos a vontade de ser
Embriagante sensação no corredor
Dois copos em um único prazer.
Tão doce momento vivemos
Eu você e um delicioso tinto Cabernet.
Gota de Mundo.
O calor do sol aos poucos desmancha
A gota de mundo pingada em meus cabelos.
E provoca no couro uma nova mancha
Onde não cresce novos pelos.
Que motivos temos para viver,
Se a frieza mata a esperança.
Se os sonhos cultivados tentam se esconder
E de tolice destruímos as marcas da presença.
Dentro de mim cultivo tudo com o mesmo ardor
Mas isso quem vai querer saber?
Morro, mas não mato o amor,
Um dia quem sabe o mundo possa entender.
Aos que dizem que de amor não se morre,
Quero um desafio proclamar,
Certamente suplantam o amor que nas veias corre,
Não sabem a intensa maneira que tenho de amar.
Brilho
Onde tem brilho
nasce uma vida
cresce a poesia
de versos e sabor.
Onde tem brilho
as mãos se entrelaçam
os olhares se cruzam
os sorrisos florescem.
Onde tem brilho
os passos são ritmados
a direção é conjugada
as pessoas são amadas.
Onde tem brilho
nasce uma flor.
o sol se controla
pra que vença o amor.
Suave e leve como o pouso da borboleta
a brisa cobriu a vida,
embaçando o vidro cristalino.
Pela fresta da janela
o vento vira a página do livro aberto.
Cheiro de flor penetra minhas narinas.
Alguma deve existir por perto
além do ipê florido que desapareceu.
Ao longe um latido
acompanha a imaginação
romper o véu e sumir.
Ancorado sou escondido
pela minha respiração
esbaforida na vidraça.
Dia agourento
pesado e cinzento
passando...
Se tivesse trilha sonora
seria melancólica e triste...
Triste como tango.
Palco
Seja palco por um momento...
Faça você à cena,
Solte a imaginação
aproxime-se da plateia
deixe só a metáfora te distanciar.
Agradeça ao público
mande beijos para as críticas,
aperfeiçoe só o possível
não endureça, seja sensível.
Quem não sente não chora,
Mas também não vive.
Centro
Haveria de dormir sorridente
No centro do olho brilhante,
Mas tem o medo,
Pois todo brilho do olho
Traz consigo algum segredo.
Amantes fecham os olhos pra beijar.
Se abertos nada viriam,
Não se vê o que se sente
Amor não esta no olho...
Está na mente.
Mas tem o brilho,
E com ele os segredos
Olhar no centro e de frente
É coisa pra quem não tem medo.
Cena
A noite colou folhas na árvore
Um riozinho límpido também fez,
A lua cheia não ficou fora da paisagem,
Tudo perfeito e com grande nitidez.
Rabiscou um poema de amor
Decolou pensamentos sem limites
Sentiu-se livre para voar
Feito ave sem pressa de pousar.
Subitamente voltou para onde estava
Assim mesmo não desanimou.
Ainda que não fosse a vida que sonhava
Mantinha esperança já que nada desmoronou
O POETA DE PASSO FUNDO
O poeta de Passo Fundo
Faz versos para todo mundo
É o orgulho do Brasil
De Carazinho*, num segundo
Lançou um olhar bem profundo.
Para o céu azul anil.
Traz os versos na alma
Sua poesia acalma,
Amigo bom e gentil.
Traz a pena na palma,
É simples, fisionomia calma.
Esperança primaveril.
São versos de esperança,
Numa alma de criança,
Brincando com letras mil.
Para o futuro avança,
Em sua eterna andança,
Com o seu lápis servil.
(Regina Madeira)
Poema recebido da amiga poetisa Regina Madeira.
Suco de maçã
Aquela noite não quis sair. Preferiu ficar no aconchego da casa.
Na rua só fatos rotineiros, nuvens pesadas escondiam a lua, pela qual tinha grande atração.
Nos bares em frente a sua casa, os amigos riam e bebiam em mesas colocadas sobre as calçadas. Cenas absolutamente rotineiras. Na sua solidão fitava a rua pela janela de vidro e mantinha-se atento ao telefone celular. Como não surgia a tão desejada ligação resolveu fazer um suco. De maçã. Se sua amada estivesse ali diria que era da fruta proibida. Sempre era assim. Esta insignificante lembrança deu-lhe certo alívio e conforto.
Gargalhou da própria sorte. Fechou os olhos e deixou rodar na memória os mais belos momentos que junto passaram.
A rememoração do perfume dela enchia a casa de certo cheiro de saudade. Mas o telefone permanecia mudo e aquilo o angustiava. E aquela voz que o faria feliz não era ouvida.
Só uma ligação e bastava.
Contudo o dia amanheceu. O telefone não tocou. Ficou aquela lacuna sem ser preenchida.
Na noite seguinte quando ela chegou e perguntou se havia esperado muito pela ligação, orgulhoso, mentiu que tinha dormido cedo.
Assim teve uma noite perfeita.
Dessas que valem por uma vida.
Estradas
As estradas me encantam em qualquer lugar que eu ande.
Tem suas próprias características. Seu ruído. Nada se compara ao barulho das rodovias.
Carros que vão, vão... Carros que vem , vem...
Quantos sonhos passam nas suas faixas. Gente levando sonhos e trazendo lembranças. Trazendo sonhos e levando lembranças. Mudando e levando mudanças. Construindo a sua história e seus álbuns. Quantos amores, por elas, vão e vem. Casais amando em suas extensões. Pais buscando nelas, o sustento da família. Valores que transitam em proporções gigantescas. A alegria e a euforia da chegada, o abraço da acolhida, o adeus da partida.
Sempre alguém diz: vá com Deus.
E as paisagens. Quantas ficam registradas em nossa mente e lá permanecem para sempre.
As serras serpenteando morros e montanhas. Beleza indizível. A passagem sobre pontes, viadutos e ferrovias me dá uma sensação de romper barreiras quase intransponíveis da vida. A gastronomia, com seus cafés coloniais deliciosos. Os artesanatos e fruteiras. A água que desce entre matos refrescando o ar. O cheiro da natureza, nestes pontos, é tão próprio. Os longos trechos em subidas e descidas. E tem as buzinadas de advertências e de agradecimentos pela gentileza na ultrapassagem.
À noite, as luzes, dão aquele efeito de cidades móveis. Quer maior lindeza? Os trevos que, como à vida, nos deixam em dúvida sobre o caminho a seguir.
Os locais não conhecidos sempre desafiando nossa imaginação. A música rodando e a cabeça, em outras viagens. A frenagem dos caminhões que assustam e emocionam.
Eu sei que tem buracos, acidentes, assaltos, pardais e pedágios, mas, sinceramente, não vivo sem viagens.
Nem falo das curvas, pois estas me encantam como me encantam as mais belas mulheres que por elas transitam.
Lados
Sou um pouco mais do que fórmulas prontas,
Divido-me muito mais,
Minhas metades visíveis
São menores que às escondidas.
Sou mais talhado que minha fisionomia,
Meu interior é mais belo.
Minha introspecção não tem limites.
Mais do que isso, muito além de ser sincero.
Sou bem mais belo do que este desenho,
Que de mim fizeram quando nasci.
Sou descendente de um espírito empolgado
Que Deus reservou pra mim.
Sou bem maior do que meu tamanho,
Muito além do que você crê.
Aurora boreal da minha alma
É para quem consegue ver.
Sou bem mais ousado
Do que aquilo que dou a ver,
Meu pensamento decola fácil
E a noite, sonho encontrar você.
Sou bem mais frágil que as demonstrações
E do que deixo transparecer,
Minha emoção transborda o universo,
E em versos não sei dizer.
PORTAS DE RUA
Adoro portas espelhadas
Do centro da cidade,
Nas ruas mortas dos fins de semana,
E, passo na rua, sua,
Onde o trem dorme sossegado
E o pipoqueiro nem existe.
Adoro estas portas espelhadas
Onde acomodo os cabelos
E a camisa
Nas
Calças.
E vaio o vento
Que balança a chaminé.
Desperto o meu medo,
De faro aguçado.
Acordo um telefone
Mudo,
Surdo,
Numa sala trancada.
Esperança,
Num desses espelhos,
Estarás amada,
Retocando o batom,
Pela janela oposta.
O sol e a lua
Com o escuro da noite
A paisagem enegrece,
Mas seus raios cristalinos
Aos poucos aparecem.
O manto negro se desmancha
O astro rei vem à tona,
Enche o dia de relíquia
Seus raios de ouro ele aplica.
A lua, rainha da noite,
Pelo rei sol se apaixonou,
Deste amor brilhante
Muita estrela resultou.
Neste casal liberal
Os dois têm seus direitos.
E para dividirem o trabalho
Não tinha outro jeito.
Combinaram de acordo
Que o sol iluminaria o dia.
E a noite, sem compromisso,
A lua apareceria.
Hemisférios
Meus hemisférios diferem entre si com muita clareza.
O norte é durão.
Odeia as convenções sociais, os bons modos e gentilezas.
Adora destruir o inimigo.
Golpeia com força para danificar o mais que pode.
O sul é doçura, é ingenuidade é amável em qualquer situação.
Tem bons modos é gentil. É prestativo, está sempre disponível.
É de uma ternura invejável.
O sul ama as pessoas.
O norte é possessivo, grosseiro.
É egocêntrico ao extremo.
É cheio de paranoias.
Estressado, violento e nublado.
O sul é humilde,
Relax, límpido e ensolarado.
Ah... O sul.
O sul é um amado.
Pedinte
Não. Não quero ver o dia amanhecer.
O amanhã será como hoje.
Talvez mude o clima,
A chuva,
O sol,
Mas amanhã e outros amanhãs
Serei o mesmo.
Incontestavelmente o mesmo.
Acho que é assim,
Nem bom,
Nem ruim,
Risco do meio.
Amanhã será escuro.
O pão,
Será seco,
A mesa - o beco,
A porta - a pedida.
Meu amanhã será teu hoje,
Pois vivo do que você sobra.
Ruído
Ao ouvir o ruído lacrimoso
Da desalegre chuva que chora
Senti-me beijado por todo o lodo
Da angústia que me invade agora.
Não sei como explico,
Só pra mim isso importa,
Neste momento solitário fico
E a chuva traz-me a vida morta.
Cada pingo é uma lágrima,
Cada lágrima uma lembrança,
Há, pudera outra vez criança.
Observante
Espio pela janela,
Coberta pela cortina telada
E vejo ao longe, pés enormes de figo.
Por entre eles desce uma
Pequena estrada em forma de meia lua.
À direita segue uma tira de mato
Como um satélite que se alonga.
Ah, antes que eu esqueça.
Acima. Muito acima.
Está o céu, parcialmente nublado.
Desocupados
Ocupam-se das noites,
Vagando vaga-lumes.
Tocando campainhas.
Quebrando lâmpadas.
Chutando papel.
Ocupam-se das noites,
Pichando muros.
Murando morais.
Ocupam-se das noites,
Nas praças periféricas e
Centrais.
Traficando, consumindo.
Rindo sem sorrir.
Ocupam-se das noites,
Na sarjeta fétida
Cheirando caviar.
Ocupam-se das noites
No presídio deserto
Que os torna mais incertos,
Que os torna mais desonestos.
Um minuto de loucura
Perdi a conta
De quantos sou.
Sem ter verdades
Os olhos cegam.
Carrego este tormento
Este esquecimento
Psique avançada.
Não sei das horas
Não sei das datas
Nem das tristezas
E das alegrias.
Perdi-me tudo.
Fiquei sem lar.
Caí no mar.
Naufraguei
Flutuando encontrei
O que nem sei
O que não sou.
Aviões dourados
Trens zunidores
Mosca atrevida
O sapo na lata
Pirâmide branca
Não vou tomar este comprimido.
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