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⁠Crianças de todos os sonhos. Alimento intergeracional. Terra mãe de peito generoso, acolhendo todas as criaturas em seu manto protetor. Lá vem a luz violeta, com suas frases encantadas, moldando o planeta, o desejo de todos os cometas. A história nos filetes dos troncos das árvores. Nossas impressões digitais. Reino das plantas. Reino dos animais. Terra sagrada, eu te reverencio, nos cantos urbanos, nos casebres do sertão. Cuidai de nós, dos olhos dos teus filhos, que te olham com Divino amor.

Inserida por monalisa_1

⁠Havia uma árvore no meio da janela. Não havia nenhuma comida na panela. Só a multidão se esfacela no ônibus lotado rumo à favela. Choveu muito e há lama na rua. Os pés se sujam como em uma gravura. As sombrinhas se dobram como em uma pintura. Mas os transeuntes não acham graça. Pagam caro a passagem de cada dia. A alta carestia da vida. Mas é preciso viver por que o sangue pulsa. E as crianças pedem pão. E pedem circo. E pedem amor. Os homens querem respeito, querem ser chamados de senhor. As formigam tem fama de que muito trabalham. Carregam folhas. E ignoram a extinção das abelhas. Nos conventos existem freiras que não se casam. Os franciscanos fazem voto de pobreza. Enquanto outros preferem a realeza. Há quem ame os felinos. Há quem mostre os caninos. O mar é um lugar misterioso. É cheio de água. O humano é um ser muito peculiar. Toda hora enche o peito de ar. E eu tento memorizar quantas vezes o beija flor bate as asas quando está parado no ar. Essa vida é um sopro. É uma galinha que nasceu antes do ovo.

Inserida por monalisa_1

⁠A dor me escapa e se esconde para além de mim mesma. Liberta da opressão, posso expressar com lirismo todos os sentidos ofuscados. Sou calma e a calma é o meu jeito de estar no mundo. Prezo passos mansos, mãos delicadas e palavras sussuradas. Nada que desperte a natureza, tão coerente em seu ritmo. Posso ser um pássaro, uma flor, um fruto. Posso ser um ser integral em comunhão com tudo que me cerca. Admiro a paciência das árvores, crescendo lentamente. Não quero ferir o silêncio. Por isso meus dedos são suaves e não fazem alarde. 

Inserida por monalisa_1

⁠Cansada do eu, dispo-me do ego e me entrego nas palavras subconscientes. Posso ser uma pedra preciosa, bela e inquebrável. Mas essa imagem bonita diz pouco quando escurece e a noite traz sons do universo. O dia foi longo como um trem rasgando a estrada. E se escrevo é porque transbordo do eu farto de mim. E me entrego a imagens. A flor é bela e delicada, mas além de seu aroma não sinto mais nada. Depositei em você sonhos de unificação, mas o amor resultou inútil. E me sinto uma pedra, que não simboliza nada. A pedra pode ser o instrumento de uma força descomunal que busco em mim. Uma rocha imutável, sujeita aos ventos, ao sol, E a chuva. O que fazer para aliviar esse desaninimo que me exaure? Talvez pintar um quadro, mas a pintura resultou inútil, se a olho e nada sinto. Esse é uma prosa poética que fala sobre energia, aliás, a falta dela dela. Então como palavras repetidas, imagens gastas e você que é ilusão. Se pelo menos o amor batesse a porta com suas mil promessas. Eu acreditaria, pois tenho fome de ideais. Mas na poltrona de minha sala só encontro vazios e um cansaço de existir. Se ao menos o tarot falasse a verdade, mas sou de touro, e isso não diz nada. Quero promessas, materializações. Eu farta de inventar motivos, significados. Eu não me basto. É como dizer para o universo 'por que tantas estrelas se não posso tocá-las e nem compreendê-las. Noite escura, vento que sopra. E nada me diz. 

Inserida por monalisa_1

⁠No silêncio profundo da noite escura, tudo é densidade e ausência. Cai a noite cortante, como uma faca a cortar amenidades. Eu no meu quarto sou apenas um instrumento da noite que pode ser música ou ruído. Quando olho sua imagem em um retrato, penso quão longe estamos um do outro. É inútil insistir. O tempo nos distanciou como a noite e o dia, que se encontram fuzgamente na aurora e no crepúsculo. Já não cabe questionar quem errou. Não há erros. A natureza cumpre seu ciclo. E o nosso destino é estar separados. Isso me dói, mas me impele a aceitar os fatos como os fatos são. Com tantas pessoas no mundo, porque o universo ia querer nossas mãos entrelaçadas? Recolho-me a minha condição humana. Eu posso querer o que quero, mas não posso ter o que quero. Isso me impele a uma aceitação dolorosa dos limites do eu. Fico com a lembrança terna do teu ser tão grave. Na sua gravidade encontro respostas para o meu silêncio. Agrada-me mais a sua seriedade do que o seu sorriso, porque em seu rosto sério encontro contrastes e inquietações. Mas você para mim é lembrança em palavras. E ainda assim me alimento do ser que um dia amei. Falar de amor é sempre um solo delicado, dividido entre a prosa e a poesia. A prosa fria, desmistificada. E a poesia buscando o cadenciar de palavras que exprimem verdade. Eu não ia falar de amor. Falaria sobre o universo e suas complexidades. Mas me vi mortalmente terrena, e o peito é a ausência do seu. A eterna incompletude. O amor idealizado encontra sempre as melhores palavras. Tem uma potência maior que o amor concretizado. Ao concretizar, somos humanos demais para manter a chama. Mas digo isso ao meu coração, e ele se nega a aceitar a verdade. Ele quer você aqui presente, seus pelos e sua pele. Seu jeito sério que me faz querer decifrar o que tanto te cala. É um poema de amor. E o amor flerta sempre com o ridículo. E é ridículo amar uma imagem que nunca mais verei. Mas o amor tem esse talento inato de desconhecer fronteiras. É noite e pesa em meu ser essa ausência. E te amo, sem nada esperar. 

Inserida por monalisa_1

Permita-me ser o chão que você pisa com desatenção. Deixe que eu me estilhace sob seus pés, em silêncio, só para ter a honra de sustentar seus passos, mesmo que eles se afastem de mim a cada vez.⁠

Inserida por angelicabenigno

⁠Graça
Ah, que suave graça seria, ter a leveza de uma alma poeta.
Mirar o mundo por uma janela secreta, e ver tudo em prosa e poesia.

A vida, enfim, se revelaria, em liberdade completa.

Inserida por RobinS25

⁠de vez em quando
não de vinte em vinte minutos
sinto uma dor nos ombros
como se fosse o peso do mundo

Inserida por shayroiz

⁠sei que tenho muito do que não tinha antes
mas ainda parece ser nada
eu juro que não sou ingrata
talvez ter vinte e poucos anos
não seja tão legal assim

Inserida por shayroiz

⁠Saudosa escrita


Através da janela aberta ventos saudosos chegaram,

 Escrita em linhas tortas, versos sujam o papel,

 Do celular, fotografias foram mergulhadas em sentimentos,

 Na mesa, o café frio, a peça intima perfumada, rabiscos lacrimejantes,


Ventos fecham as janelas, muralhas crescem além da conta, 

 Amargos, são os detalhes da história recente,

Doces, são as migalhas das lembranças sem prosa,

As linhas, levam a uma estrada deserta abaladas pela saudade.

Inserida por Ricardossouza

⁠Roda de Tereré.

Sob o sol abrasador da fronteira, onde o Brasil e o Paraguai se encontram como irmãos, o tereré é mais que um simples mate frio. Ele é o fio que tece a identidade de um povo miscigenado, de terras que trocam palavras em português e guarani sem que se perceba a mudança. Em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, cidades separadas apenas por uma rua, o tereré percorre mãos calejadas, histórias antigas e lendas que se misturam à realidade.

A erva-mate, nativa dessas terras, carrega consigo memórias de tempos que já foram. Conta-se que os antigos povos guaranis a consideravam um presente dos deuses, capaz de restaurar forças e aproximar amigos. E assim permaneceu, atravessando séculos e chegando às rodas de conversa onde os brasiguaios se reúnem para contar causos. Entre goles da bebida refrescante, misturada aos yuyos colhidos no mercado vizinho, passam-se os relatos de tempos difíceis, de conquistas, de saudades e de esperanças.

Aqui, a fronteira é apenas um detalhe geográfico. São países diferentes, mas os mesmos costumes, os mesmos rostos, as mesmas risadas ecoando entre as ruas. A vida pulsa com um ritmo próprio, onde cada encontro é celebrado com um tereré compartilhado. Porque na alma dessas terras, não há divisões que resistam a uma roda de conversa regada a erva-mate e memórias que constroem um povo.

Inserida por yhuldsbueno

⁠Os livros são janelas para outros mundos e espelhos para nossa alma. Eles nos trazem referências que iluminam nossos pensamentos, ampliam nossas perspectivas e conectam nosso presente ao saber eterno.

Inserida por FabianaFBarbosa

⁠Como posso te amar?  
Não posso.  
Mas amo?
Acho que não. Espero que não.  
Não é medo, é incerteza.  
Compatibilidade de almas, incompatibilidade de corpos.  
Não é uma miragem vivida,  
é apenas uma realidade estendida—  
como se o tempo fosse o mesmo para nós.  
Mas não é.  
Há uma vida de distância.  
Talvez mais do que uma.  
O que devo fazer em meio a essa realidade assustadora?  
Nunca cheguei nessa parte.  
Não sei ao certo pelo que me apaixonei,  
se é que me apaixonei.  
Seria seu riso doce, seu olhar de abrigo,  
seu tom de intimidade, sua escuta ativa?  
Talvez eu tenha me apaixonado pela forma  
como me vi pelos teus olhos—  
como se meu coração pudesse bater  
e, pela primeira vez,  
não houvesse nada de errado nisso.  
Mesmo que não seja platônico,  
preciso que seja!  
Preciso ser como a Branca de Neve,  
mas sem o príncipe.  
Que ele nunca me beije.  
Que eu nunca acorde.  
Que isso fique aqui, onde é seguro:  
dentro do meu próprio sonho.

Inserida por Riber

⁠Título: Dias de prosa.

Há dias que são de lua,
silenciosos, cheios de brilho e mistério,
onde a noite se desenha em prata
e o tempo se espalha em versos.

E há dias que são de prosa,
de passos firmes e riso solto,
onde as palavras correm soltas
como vento na esquina do morto.

Na lua, o silêncio canta.
Na prosa, a vida dança.
Entre um e outro, sigo fundo…
no poço!

escrevendo como estou
dos ciclos do céu e do tempo…
novo.

Inserida por Zeta

⁠Antônio Valverde
Era um senhor gordo escuro e sorridente que queria que as coisas fossem iguais todos os dias, numa nação próspera onde as pessoas viviam em paz e harmonia. O futuro parecia sempre brilhante mas tudo começou a mudar quando um novo Presidente Antônio Valverde assumiu o cargo.

Inserida por Bissueque

⁠Sentir o silêncio significa ouvir um pranto sentido, mas não derramado, de um escritor que foi morto pelas palavras falseadas.

O levar dos minutos arrasta a realidade e ao atravessar o silêncio de uma ponte de névoa eu me transformei em neblina.

O vazio diz para a esperança desistir porque nada tem sentido. A esperança afirma que ela é palavra e concreto, indestrutível e incorruptível.

Vida e morte se encontram no mesmo instante e o que é eterno morre e renasce no mesmo insight das palavras não ditas, mas sonhadas.

Existidor – mistura de existir e dor.
Exemplo: Ela existidou até o último instante.

A alma é para o tempo assim como o corpo está para morte. A alma se esvai com o tempo, assim como o corpo se esvai para a morte.

Um estado pusilânime se apossou dos convidados em coro lastimável entremeado de dor e silêncio.

No seu quarto silencioso a dor apareceu como um fantasma e ela em meio à sua solidão desértica derramou seu pranto fúnebre.

Daria voz à melancoalegria, mistura de melancolia e alegria. Seria uma alegria triste, como o sorriso da Mona Lisa.

Ser humano é dançar com as estrelas no espaço cósmico.

Inserida por monalisa_1

⁠Um espelho antigo se recusa a refletir em protesto ao tempo que passa avassalador, levando a beleza e a juventude das almas que não têm forma e não envelhecem.

O poema é uma travessia entre a palavra e o silêncio como uma música cadenciada. A palavra diz, o silêncio reflete, a palavra se debate e sem porquê encontra um ponto final.

As palavras não sabem que têm raiz, apenas crescem para o alto ignorando que a seiva que as mantém frondosas nasceu antes de seus troncos. É o divino agindo silenciosamente. As árvores querem o céu, mas as raízes as deixam presas à terra, onde é seu habitat, o planeta azul.

Ao fechar os olhos, um pássaro não conhece limites terrenos e é capaz de atravessar um vitral concreto.
Com os olhos fechados, um pássaro pode atravessar a atmosfera sem mover suas asas.
Às vezes a ignorância salva, o pássaro com olhos fechados é capaz de ultrapassar qualquer barreira, pois desconhece limites.

Por que eu ainda resisto?
Eu resisto porque sou mais que eu. Eu sou o exemplo da vida que persiste, dos passos incontinuos. Eu sou força impetuosa e livro de resiliência para aqueles que me leem em silêncio.

Vazio é a falta, onde nada encontra abrigo, é o nada, o niilismo cego. Ausência é algo que existe, mas está ocultado, uma pausa entre o não ser e o eterno retorno.

Quando a luz deixou de entender o sol, um enorme eclipse se apresentou à Terra. Foi belo, mas fugaz, pois a luz e o sol são uma mesma polaridade, inesculpavelmente como o ar que nos faz humanos.

Se a tristeza tivesse uma geografia, ela seria uma montanha, pois não há nada tão grandioso como uma dor sincera, buscando abrigo em outros corações.

A junção de tempo e memória se traduz em um elefante idoso que chora cada morte de cada um de sua manada. Ele jamais esquece um companheiro de jornada. Sua memória é leal como a vida em suas etapas irremediáveis.

A linguagem nasceu de uma rocha, calada há séculos. De seu silêncio nasceram sinais, que viraram letras e palavras. Dentro da rocha imutável dormia uma famosa invenção, que floresceria em todo o mundo.

Inserida por monalisa_1

⁠Quando a alma se recolhe em silêncio absoluto, o tempo fica suspenso no ar. Ele não se move, nem para frente, nem para trás. Fica inerte, pois é a alma que dá vida ao tempo. Bailam ensinando ritmo à vida.

Nos zoológicos animais aprisionados sobrevivem sem alegria. Cercados, mudados, são privados de sua vida natural. É um espetáculo lúgubre para pessoas sem consciência que admiram a tortura lenta e arrastada de seres que, com vida, já não vivem.

Ela se vestia de ausências para não ser tocada. Ela se exímia de significado para que mãos intrusas não a violassem. Ela era feita para ser apreciada, tocada apenas por olhos sensíveis.

Lembrar é trazer para o presente uma pintura renascentista. Ressuscitar é pintar a própria renascença, novamente com força original. Lembrar é uma forma vulgar de retomar imagens. Ressuscitar é recriar a realidade extinta com as cores da simbologia.

Esperançar é a mistura de esperança e esperar. Não é um neologismo estático, passivo, pois a esperança aponta para a urgência, para a solução. Esperançar é esperar no agora, no momento oportuno, em que cada palavra encontra a sua ressonância.

Uma ponte feita de palavras não ditas é o mesmo que uma ponte feita de sussurros. As palavras não ditas vibram e transportam o significado de uma parte a outra. Pontes são sempre ligação entre o afirmado respondendo o não dito.

Todo finito contém o infinito. O infinito grandioso, imponente, materializa-se no finito. A linguagem é infinita e se recria a cada instante, já a palavra é finita, mas carrega em sua essência o infinito. O universo é infinito, mas o ser humano é finito. Dentro do ser humano cabem todas as estrelas e o universo. Há uma dialética entre o infinito e o finito.

Há um relógio que marca as horas do coração. Quando ele para o coração sente algo como a indiferença, e tanto faz viver quanto morrer, no coração inerte nada pulsa. Apenas os sentimentos podem consertar esse relógio, seja a compaixão, o amor, a amizade. Os dois em sincronia marcam o pulsar da vida.

Há uma constelação que simboliza a mente de alguém que pensa demais. Chama-se Além Mundo. É uma constelação que sempre se alimenta de pensamentos e questionamentos. É para lá que vão as almas cansadas da vida terrena.

Há uma dança entre o que se sente e o que se pode dizer. Tudo pode ser dito, mas tudo convém. O que queremos dizer mora em pedaço do cérebro que morre de inanição das palavras não ditas. Quantas palavras de amor eu falaria se houvesse eco em ouvidos sensíveis, mas elas se encontram caladas, encarceradas em nossos sonhos não permitidos.

Inserida por monalisa_1

⁠O mundo é feito daquilo que vemos e daquilo que nossa visão não alcança. O reino do invisível paira no ar como uma entidade. Em momentos de sonho ou transcendência podemos vislumbrar um átomo de sua existência, mas não podemos manipular o invisível com as mãos. O invisível é o que é: invisível. E possuem raízes nas palavras impronunciaveis, na gramatica aleatória do infindável. Está lá no invisível tudo que você quis dizer e calou. O invisível é o silêncio do não dito, perdido para sempre na vontade calada. Mora no reino do invisível aquela dor impronunciavel, que afogou dentro de nós. Mora aquele amor inalcansavel, aquela saudade que rasga o peito, mas se apresenta contida, como se fosse muito bem educada. Moram no Reino do invisível nossas loucuras mais esdrúxulas, explosivas, mas que se apresentam como um manso cordeirinho. Nunca chegava ao fim essa lista, mas é nas raízes do invisível que transformamos toda nossa subversão em conformidade. No mundo real eu sou um gatinho. No Reino do invisível eu sou uma pantera. Tantas coisas falaria desse Reino e de mim. Mas por basta, no Reino do invisível eu grito e canto. Mas no Reino do agora eu sou apenas uma pacata cidadã.

Inserida por monalisa_1

⁠Quando um espelho começa a duvidar de sua própria imagem ocorre uma transmutação. Ele deixa de ser um objeto e se torna um ser onisciente. Então só reflete aquilo que lhe apetece.

O tempo são os quatro elementos primordiais: terra, água, fogo e ar. Ele se camufla conforme as estações. O tempo é como um livro, sujeito a várias interpretações conforme o tempo histórico e onírico.

Um rio sonha com a palavra autocompaixão, que é um modo de olhar para si com gentileza. Então o rio aprecia suas águas, suas margens e seu jeito de estar no mundo, belo e necessário como todo elemento da natureza.

Quando os olhos do mundo se fecham há uma morte simbólica da maneira de como o mundo se vê. As pedras aprendem a flutuar como quem pode ser qualquer outra coisa, talvez pedras que levitam, pedras de vento. Tudo assume um novo papel e o mundo é tomado por uma lógica nova. O planeta azul adquire novas cores.

Quem tudo quer, nada alcança. Em terra de extremos, o mínimo é pouco e o máximo extrapola.

A ausência tem a cor preta. Ela absorve todas as cores. A ausência é uma espera, entre o azul e a esfera, como o amarelo de cada fera. Todas as cores na estratosfera.

Um livro foi escrito por estrela cadente e contava como é viajar pelo universo e ao cair na terra narra o seu espanto ao conhecer nossa diversidade como quem conhece uma divindade. Uma viagem cósmica com destino ao planeta azul, seu oceano, suas árvores e montanhas. É uma estrela que se apresenta apaixonada pela Terra, povoada de homo sapiens. É tudo uma grande novidade inusitada.

Após um grande colapso interno surge a palavra oi, como cumprimento e como pergunta sobre o que aconteceu. Do oi derivam todas as palavras. Após o colapso surge a linguagem, lírica e palpável.

Acontece o efeito borboleta, quando qualquer ação pode desencadear um conjunto de reações inesperadas. O bater das asas de uma borboleta pode fazer um vulcão entrar em erupção. Tudo pode acontecer em um piscar de olhos.

Quando a palavra se desfaz ela vira uma estrela. As palavras nunca morrem, sempre se transformam e reverberam no universo.

Inserida por monalisa_1

⁠O tempo é uma roupa com saudade do algodão.

Entre eles havia o silêncio que antecedeu o big bang.

A porta estava aberta, mas ele não sabia mais sair.

Ele chorava a despedida, mas sua amada segurava sua mão.

Ele era uma bomba atômica com a aparência de um filhote de gato.

Ele era um feto em estado permanente de gravidez.

Ele construía uma escultura na areia como se fosse de bronze.

Ele tinha palácios, mas as camas eram feitas de espinho.

Ele tentava dizer, mas não tinha gesto nem cordas vocais. Estava paralisado como uma estátua.

O amor era tão profundo que a não reciprocidade anunciava a morte do sujeito que ama.

Inserida por monalisa_1

⁠O homem calmo, que expressava suas ideias com serenidade, tornou-se um cão raivoso, que mordia as barbas do vento. Isso aconteceu em um momento de implosão, em que lavou seu rosto no lago da iniquidade. Tudo era tarde demais para amanhecer.

Quando a linguagem falta, os homens se comunicam com o olhar denso demais para não ser reconhecido. E todos os gestos comunicavam brandura ou irritação. Há sempre uma forma de dizer o que escapa da alma, como repartir o pão na hora da fome.

O amor atinge um limiar em que já não é possível voltar atrás. Quando se excede, o amor se desmancha como uma avalanche que não pode mais conter a terra em seu estado de deslizar para além de si mesmo.

Tudo o que é demais se excede, como um galho turvo pelo peso dos frutos. Tudo o que é demais falta, como um tempo gélido que queima a ponta dos significados abstratos e abissais. O equilíbrio é o ponto dos extremos. É o zero absoluto.

Uma alma recém nascida se espanta com o pensamento, tão novo quanto original. Pensa o que é natural, se faz frio, se faz calor, se a vida é um lugar agradável de se viver. Enquanto isso recolhe-se no ninho da alma e apenas absorve o absurdo.

Uma casa feita de memórias certamente seria um palacete, com grandes quadros na parede remetendo a lembranças fortes como o sol do meio-dia. Em um trono real se sentaria e pensaria: “Eis que existo”.

O amor que não pode existir é como um abacate nascido de um pé de manga. Tudo é estranheza inadmissível. O amor como resistência do que não pode ser. Seus filhos nasceriam do caos e existiriam mesmo em meio à inexistência.

Ele fazia mil planos, construiria mil projetos. Edificaria um reino e faria plantar árvores novas, mas suas mãos gélidas provavam que o seu corpo já não vivia e o vazio se fazia como única existência possível. A morte em vida, ou a vida em morte, povoada de realizações sonhadas.

Ele pensava e para cada pensamento corria uma gota de sangue de sua cabeça, parecia calor, mas era sangue e o esvair da vida. No entanto, permaneceria vivo, haja vista que os pensamentos eram infinitos e o sangue simbolizava que eles estavam vivos.

Ele nasceu com a missão de carregar o silêncio do mundo, mas não imaginava que seria tão leve, já que as bocas frenéticas não paravam de dizer palavras e, como na torre de Babel, ninguém se entendia. O mundo estava habitado de ruídos, da linguagem que traduzia o incomunicável desespero das almas que não se entendem.

Inserida por monalisa_1

⁠Sua alma calada é uma fruta de plástico.

O agora eterno era um relógio sem bateria.

O amor sem liberdade é um homem preso ao corpo.

Uma flor que nasce do silêncio era um gesto que só o tempo entendia.

A lucidez em demasia é a distorção da realidade em estado de insanidade.

Quando ninguém a observava ela ria com os ouvidos.

A cor da ausência é transparente e quando preenchida é um prisma de arco de íris.

A lágrima interna molha a alma.

Páaa é o som do impossível absurdo.

Se a linguagem evaporasse ela nascia de novo na chuva das palavras.

Inserida por monalisa_1

⁠Um espelho se quebra no escuro, apenas os átomos presenciaram o colapso. Simbologicamente, todo o universo é formado por átomos, que se reorganizam a cada desintegração.

Palavras são facas que cortam o silêncio de maneira irremediável. Textos são mísseis direcionados ao interlocutor.

O som de uma memória que nunca aconteceu se assemelha a gotas pingando de uma torneira que não existe.

Às vezes a alma se cansa e se aconchega em nosso colo, cujo único afago possível é o silêncio das palavras que nunca brotaram, mas escreveram um livro de memórias caladas.
Um relógio quebrado paralisa o tempo como o silêncio joga xadrez com as constelações.

Extacolia é um neologismo que mistura êxtase com melancolia. Ela se encontrava em um estado de extacolia e não sabia definir o que sentia.

O invisível tem o peso de uma pluma deslizando suavemente dos céus à terra, sem pressa de chegar, até porque ninguém veria.

No meio de uma casa abandonada havia um ninho de passarinho. Em vez de ovos, havia uma semente resistente, com sede de vida, que cresceria rompendo o telhado e se formaria como um imponente pinheiro. Todos os dias era Natal.

O inconsciente humano é um profundo oceano desconhecido, como a noite escura que absurda os corações aflitos, que não podem comer estrelas.

Se a linguagem fosse um corpo ela seria as mãos, esculpindo um ser humano capaz de pronunciar o silêncio das pessoas angustiadas com o grito histérico dos desesperados.

Inserida por monalisa_1


A raiz da árvore sustenta o tronco. A raiz quadrada é incompreendida pelos próprios matemáticos poetas, que não enxergam números, mas metáforas. A raiz de uma palavra é sua essência que grita, dizendo que chegou primeiro.

A linguagem em determinado momento estagna. A poesia dá nova voz à linguagem, com suas criações originais. A linguagem é um cardume de pequenos peixinhos.

O tempo passa arrastado como minha dor que não encontra sentido em nossa sociedade. Minha dor é o líquido que sai da fruta, quando colhida antes do tempo.

Todos os pensamentos que penso são únicos. Alguns pensamentos que todo mundo pensa são únicos.

Espelho é para rosto assim como silêncio é para linguagem. O espelho espera o rosto para refletir. O silêncio espera a linguagem para se transmutar em palavra.

A árvore precisa de tempo para amadurecer. Seu crescimento encontra analogia com o relógio que mede o tempo. A árvore simbólica cresceu em trinta e três minutos, contados no relógio.

A luz era o eco brilhando. Seu brilho revelava uma ferida na alma que se esconde em pântanos escuros.

Solidão é sinônimo de ausência e vazio. Um retroalimenta o outro. Solidão é ser a única árvore do deserto.

Ontologicamente a verdade não pode ser a mentira. Onde mora a verdade, há ausência de mentira. Onde mora a mentira, há ausência de verdade, como o fruto que não cai longe do pé. Essa explicação racional é limitada como uma árvore que não produz frutos. Sua missão é ser flor.

Inserida por monalisa_1