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BURACO NEGRO
quando minha razão é eclipsada, você aparece como a lua cheia no céu que iluminando meu caminho projeta minha sombra por veredas passadas.
sou um inseto que como por feitiço, voa em direção a essa luz inalcançável mas assaz irresistível para justificar o labor de tal busca interminável;
e por vezes sou uma mariposa que é necessariamente atraída para a fogueira e tragada pelo fogo: o calor e a luz que me encantam também trazem um fim a essa efêmera existência permeada com promessas de eternidades.
de um ponto ao outro, a ponte é sempre queimada após a passagem e o regresso encarna em fantasia;
sou o herói no labirinto, a tênue esperança suspensa no auspicioso fio do novelo cor de sangue;
se deixo as coisas como estão, já não estão como deixei; a lua se esconde, o fogo se extingue, o inseto contumaz é repelido pela lâmpada;
as flores se ocupam da sedução diurna; as cinzas são levadas, tal como o pólen, transportadas pelo sopro da curiosidade para o desconhecido;
conduzo minha atenção para o que me cerca e me torno mais uma vez testemunha contingente do perene acontecer, sempre em movimento;
quando imbuido de significado, o horizonte de eventos toma o peso do mundo, peso que o vácuo do centro se abstém de possuir, a substância é integrada e já não está em lugar algum;
quiçá os dois se entrelacem mutuamente, um é modificado, o outro permanece intocado e segue tocando a orquestra universal de forma cega e contagiosa.
"Se à noite numa estrada sem iluminação você tiver a ciência de um grande buraco no caminho, e uma pessoa que você ama muito estiver indo na direção daquele abismo, o que você faria? É por isso que anunciamos com amor Jesus Cristo ao próximo."
Anderson Silva
Cratera Marginal
Das profundezas da grande e exausta cidade, retalhada pelo descaso, pelos maus tratos e pelos desvios de caminhos, a vergonha re-rompe-se a cada instante. Essa vergonha co-rompe e figura como os baldios terrenos, ruas, avenidas e estradas viscinais ou arteriais de uma pulsante e safenada metrópole.
Enquanto isso, paradas, desvios e rodopios são executados diariamente para escapar das rasteiras e dos tropicões que todos estão sujeitos, seja no início, meio, do trajeto ou no seu final. Um final que nunca cessa a paranóia de estar prestes a cair em uma nova ou qualquer outra velha cratera marginal.
E no meio disto tudo está você! Você é um fractal de luz, em forma de um espírito, atrelado a um campo eletromagnético, constituído de um conglomerado de átomos, feito de pó estelar, vestindo um manto de carne, que vaga em cima de uma rocha desgovernada, a qual viaja pelo espaço sem destino — atraída e seguindo uma estrela anã de luz — a qual dá voltas e voltas por uma galáxia que um dia será engolida por um buraco negro. Vai ter medo de quê?
A saudade é um buraco no peito que quanto mais tentamos preenchê-lo com recordações, mais ele se aprofunda.
Buraco negro
Seu buraco é negro, vorazmente profundo.
Seu apego gravitacional curva o tempo
e todo o espaço a minha volta.
Mesmo distante milhões de anos-luz
meu corpo cósmico é atraído voluptuosamente
por sua singularidade densamente infinita.
No seu horizonte de eventos me perco,
é a partir de onde não regresso
e as leis da física não mais existem,
nada mais faz sentido algum
e nada escapa do seu centro-coração
denso, gélido e sombrio.
No seu vácuo turvo e absoluto
é onde você guarda os segredos de tudo,
é onde se esconde multiversos
que se revelam em múltiplos versos.
Ainda lembro dos curtumes,
de outros tantos costumes,
de inúmeros bailes onde
íamos com trajes típicos,
Hoje quase não existem mais,
Do Carneiro no buraco
e do Carneiro ao molho
de vinho do nosso Sul Brasileiro,
ainda lembro para nunca
deixar perder o espírito campeiro.
As vezes eu acredito ser uma espécie de tapa buracos da vida, um preenchedor de espaços vazios tentando consertar coisas que não quebrei.
Quando o coração não anda muito em sintonia com o cérebro, a pessoa até lembra dos caminhos, mas cai nos mesmos buracos.
