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Motorista Suicida
Caro suicida.
Peço gentilmente que morra calado
Pois os teus gritos são culpados
Pelas noites em que eu fico acordado.
De vez em quando no meu quarto eu ouço um barulho.
De derrapadas violentas que acontecem na Getúlio
E eu ouço, sim, eu ouço
Um suspiro de alivio seguido de um murmúrio.
“Graças a Deus, essa foi quase”.
Quase meu amigo? Acorda pra vida
Se matasse outro homem
Iria preso como homicida.
Isso se saísse vivo, da estupida batida.
Fume, beba, divirta-se a vontade.
Mas se for dirigir, por favor tenha certeza
Pois a ciência já provou que não se dirige
Depois de tomar muita cerveja.
E todos que tentaram falharam
Você não é diferente
Então não cometa loucuras
Provocando tais acidentes.
Agradecimentos prévios
Do apartamento 205.
Hoje vi que estava ontem e renasci do acidente
Cheguei cansado, desolado,
Sozinho e já afastado
E a fome pretendeu, fazer-me dormir
Para esquecer da noite
A pior que já vivi
As ondas não cessaram
A maré ousou subir
Encurtando a noite
Instigando-me a fugir:
Rema!
Remei!
remenda!
Acorda! Cadê o elixir?
Assopra brisa forte sobre o rosto
Mas nenhum perfume hei de sentir
Meia volta completa do estalo contínuo
Do mau cochilo, desperta o menino
Para a janela ver o maior brilho
Ela está e sempre esteve lá fora
Cansada, desolada
Sozinha e já afastada
O mesmo vento que lhe tira a traz de volta
O perfume do sopro da vista
E tudo a volta se renova
É dia, um outro... Acorda!
É dia, o cheiro das flores lá fora!
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Não é sempre a maior ou mais colorida flor que traz em si o melhor néctar.
Enquanto a mídia divulgar acidentes aéreos de forma exacerbada, minha confiança nesse transporte permanece inabalável!
Você chega pálido e fala para seu amigo: Cara! Acabei de presenciar um acidente horrível!!! E ele te diz:
- Ah! Você ta falando sério???
Não! Eu passei pó de arroz na cara para parecer real...
PELAMORDEDEUS!!!
Axioma cotidiano
O tiro disparado por um carro arma
a dor latente sentida por um corpo alvo-
mirado medido acertado.
Deitado na solidão do manto negro - asfáltico-
tomado de súbito assalto pelo cotidiano
chão âncora que o resgata da dor e o conforta.
Da chuva encarnada
que despenca do céu azul ensolarado
e se mistura à curva turva do trauma sofrido.
Em apenas um segundo
toda a vida como em um filme preto e branco
passando lentamente bem diante dos olhos.
Uma multidão incrédula
e em estado de choque
se aglomera ao redor.
Olhares perdidos confundem-se
com sentimentos sentidos (na hora).
Tudo parece nada, o mundo some!
De repente, para:
Um... Dois... Três... Afasta!
Afasta...
Afasta.
A vida se renova,
a multidão desaparece como fumaça
e tudo volta ao normal:
Corpos voltam a ser alvo perfeito
e carros armas letais.
Plano mal pensado não é passado pra gente.
Corrente que aguente transtorno baque do acidente,
Macaco aprende o que no homem está ausente.
Pare e pense, pense.
A cidade do era.
Era uma vez, uma barragem,
Era uma vez, uma cidade,
Era uma vez, um povo feliz,
Era uma vez, aquele criança,
Era uma vez, aquele senhor,
Era uma vez, aquele amor,
Era uma vez, o início da dor.
Era uma vez, o jantar em família,
Era uma vez, a bela igreja,
Era uma vez, aquele escola,
Era uma vez, a quadra de bola.
Era uma vez, o churrasco e a festa,
Era uma vez, a tradição e a reza,
Era uma vez, o casamento,
Era uma vez, a lua de mel,
Era uma vez, o turista,
Era uma vez, a água pura,
Era uma vez, a manga madura.
Era uma vez, a vizinha e o vizinho,
Era uma vez, a mão e seu filhio,
Era uma vez, o amor e o drama,
Era uma vez, Mariana.
Foi pelos ares
O time de Chapecó encantava
Estava numa final continental
Tinha o apoio de toda a pátria
Parecia além do bem e do mal
Até seu avião cair na Colômbia
Chocando ao redor do mundo
Com dezenas de vítimas fatais
Trazendo um sofrimento mudo
Ninguém espera uma tragédia
É muito difícil de lidar com ela
Mesmo que existam explicações
Nossa vida não é mais tão bela
Que tristeza, ó Chapecoense
Tu és querida aqui na nação
Se fizeste chorar de felicidade
Foi nada perto dessa comoção
O fim de novembro foi o final
Para aqueles índios guerreiros
Que serão recordados sempre
Entre os torcedores brasileiros.
Quando alguém corre atrás de seus sonhos e encontra a morte, foi um acidente de trabalho ou acidente de sonho?
Eu te odiei por ter partido e me deixado sem escolhas. E me odiei ainda mais por não ter aprendido a viver sem ti. Sentia raiva da vida, pois ela havia tirado de mim a melhor parte, e sabia que nunca mais teria de volta.
Com o tempo, o ódio foi virando saudade, a saudade se transformando em necessidade, a necessidade tocando a morte e, a mesma, foi me corroendo. Pouco a pouco. Meu coração bate, minha mente explode com um turbilhão de pensamentos, mas eu não me sinto vivendo, quando abro os olhos e não a vejo. Não tenho sentido algo, na verdade. Olhar para o espelho é como ver uma outra pessoa... E você não gostaria de quem me transformei em sua definitiva ausência.
As pessoas passam na rua e me perguntam se eu estou bem... “Droga!, que sensação ridícula.”, é complicado responder. Seus beijos me fazem tanta falta, e suas piadas, que nunca foram das melhores, são a única coisa que eu peço pra Deus toda noite. Aquele mesmo Deus que nunca acreditei e você sempre me perturbou por isso. Não, ainda acho que o homem veio da poeira das estrelas, mas é bom, de vez em quando, acreditar que, quem te tirou de mim, tinha planos melhores pra ti... Mesmo que só enquanto fecho os olhos pra pensar no quanto me fez feliz e nem sempre teve o que merecia. Pois nada dói mais do que pensar que podia ter me entregado mais, te abraçado e escutado mais. Eu devia ter me esforçado pra te entender melhor e nunca ter feito lágrimas correrem pelo seu rosto. No final das contas, estou derramando cada uma, dez vezes mais. Mas é que... Era cômodo estar em seus braços, sem ter dúvidas de que nunca me soltaria. Era confortável saber que, mesmo sendo um tanto arrogante e chato, você não iria á lugar algum.
Hoje percebo que os velhos sempre estão certos e aqueles ditados, irritantes, freqüentemente, fazem sentido. E vivo só porque ainda guardo esperanças de te encontrar por ai, nesse vazio. É o medo de partir e isso acabar de vez com a possibilidade de te sentir novamente.
Sei que não vai ler esta carta, mas eu queria tanto que soubesse o quanto ainda a amo. Estou perdendo o fôlego desde o acidente. É como ter ar o suficiente apenas pra sobreviver e, conseqüentemente, vagar carente de perspectiva, pois as minhas desapareceram quando você fechou os olhos e me deixou aqui, sem aviso ou preparo.
Com amor ( E dor),
Chris Parker
“Mesmo sabendo que um dia a vida acaba, nós nunca estamos preparados para perder alguém.”
- Nicholas Sparks
Brotos de cristal
Na serra sinuosa
Planando sobre o impacto
São pedaços do vidro
Ao longo do asfalto
Acidentado
Pedaços de vida
Atirados e removidos
Partes de um todo
Partem daqui
Boa viagem
"Moça"
Moça, bela moça
O que fazes sozinha
Nessa noite tão escura?
Moça, bela moça
Com essa pele tão pálida,
Fazes o papel da Lua.
Moça, bela moça
Cuidado com a rua escura,
Pois não passa carro, nem pessoas.
Moça, moça bela
Descalça no chão frio,
Com tua velha vestimenta amarela.
Moça, moça bela
Sinto falta da sua presença
E das decorações tão sinceras.
Moça, moça bela
Não vá tão depressa,
Pois, assim como o tempo,
Os carros não esperam.
Moça! Moça!
Mas que decisão louca!
Por que não olhaste para os dois lados da rua?
Moça! Moça!
Logo uma semana antes do nosso casamento,
Nosso "feliz" 3 de setembro...
Moça... Moça...
Hoje só resta tristeza,
Chorando em frente ao seu caixão,
Em plena sexta-feira.
Meu amor primeiro
partiu no fevereiro
para março chegar.
O tempo passou
meu amor não voltou...
Motivo: pane no ar.
Certa amiga ligou-me aos prantos, pois havia se envolvido em um acidente automobilístico e estava a se sentir imensamente culpada.
Eu lhe respondi apenas:
Em acidentes não há culpados, há apenas acidentados. E quando um acidente tem culpados, então é porque não foi um acidente, mas um atentado.
Acaso você atentou deliberadamente contra a vida ou o patrimônio de alguém?
Não. Ela respondeu.
Então procure aliviar seu coração, remediando o quanto puder as vítimas.
ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE...
Nove de Outubro de 2015, Sexta-feira, 7:45h da manhã.
Avistei ao longe um casal de velhinhos já octogenários. Ela na frente, os pés inchados por alguma patologia, arrastava com dificuldade um carrinho de feira vazio. Ele, logo atrás, magrinho-de-dar-dó, se equilibrava em uma bengala em passos trôpegos. Verdade que não havia faixa de pedestres ali; rua tranquila, sem outros carros passando. Parei o meu e fiz sinal para que pudessem atravessar calmamente, não me custando nada esperá-los. Um meio sorriso se esboçou na fronte da senhorinha e, passo a passo, foram tomando a rua rumo ao outro lado. O senhorzinho segurou o ombro de sua senhora com uma mão para dar impulso ao passo e ajudar a bengala em seu equilíbrio, vagarosamente.
Avistei pelo retrovisor uma motociclista que vinha logo atrás em uma velocidade baixa, mas suficiente para que eu pudesse colocar o meu braço para fora e balançá-lo, em sinal de “venha devagar… mais devagar”. A motociclista ignorou o meu gesto, ignorou a esquina… possivelmente embalada musicalmente pelos fones de ouvido logo abaixo do capacete. Ultrapassou o meu carro e freou bruscamente em cima do casal de velhinhos. O susto foi tamanho que os dois foram ao chão… corpos, bengala, carrinho de feira, respeito, civilidade. Tudo caído no asfalto.
A motociclista continuou “empinada” em sua moto e não fez nenhuma menção de ajudá-los, não moveu um músculo sequer… e eles estatelados no chão. Abri a porta do meu carro e saí e, antes que eu pudesse fazer algo, o velhinho, com toda a dificuldade e com certa rapidez olímpica para a sua idade, se levantou do chão, levantou a sua senhora com os joelhos ensanguentados e pegou a sua bengala. Em pé na porta do meu carro, pude ver uma cena similar às populares surras que ocorreram nas novelas globais “Senhora do Destino” e “Celebridade”. O velhinho, juntando as forças de seus braços magros, “empunhou” a sua bengala como se fosse uma espada e, como se tivesse tomado um elixir da juventude, desferiu golpes na motociclista posuda. Um, dois, três, quatro, no retrovisor da moto, no ombro dela, no tanque na moto, nas pernas dela. Aí sim, ela reagiu, se movimentou, pois AGORA sim, era com ela, antes não! Ela começou a gritar “velho louco! velho louco!” e ele, com a sua “bengala-sabre-de-luz”, tentava fazer alguma justiça com as próprias mãos, ainda muito trêmulas, pela idade e também pelo susto.
A motociclista arrancou a sua moto dali “gesticulando palavrões” deixando o velhinho ainda agitado e nervoso. Deixei o carro em direção aos dois para prestar alguma ajuda, pois os ferimentos físicos e emocionais eram visíveis. Peguei a minha garrafinha de água e ofereci a senhorinha sentada na calçada. Perguntei se poderiam entrar em meu carro para levá-los até o Pronto Atendimento, mas não aceitaram, alegando que estavam bem e precisavam fazer a “feira do mês”, em um supermercado próximo dali. Se levantaram, sacudiram a poeira; a senhorinha enxugou o suor e as lágrimas com um roto lenço, ajeitou seus cabelos e também o boné na cabeça de seu senhor, e, ambos, continuaram os seus vagarosos passos apoiados um no outro (creio agora que mais tristes e decepcionados do que quando se levantaram pela manhã).
Isso tudo não durou 5 minutos de relógio, e escrevo para que fique uma pequena eternidade em registro. Foi tudo muito rápido, mas não pude deixar de notar que, no veículo da descerebrada motociclista estava adesivado: “Livrai-me de todo mal, amém”.
No mínimo, irônico.
Eu nasci assim, do jeito que Deus me fez. Não sou um acidente!
Não vou me rebelar, vou aceitar o que vejo no espelho!