Soneto 12
VELHA OPINIÃO (soneto)
Só o tempo é que faz poetar a vida
Harmoniza a esperança e dá ação
Põe o antídoto do amor na questão
E no fado faz estória de vinda e ida
O ser depende do grau da emoção
Em nada se pode ter dor resumida
Ou tão pouco ter ânsia embevecida
E ou descrença sem fé no coração
O eterno desejar uma sorte ungida
Faz da trilha um trilhar na contramão
Pois sempre se tem algo de partida
E no perde e ganha, a voz é da razão
Não se tem a felicidade assim parida
Vem com dose de ventura e aptidão
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
16/06/2016
Cerrado goiano
SONETO DE INVERNO
Frio, uma taça de vinho, face em rubor
No cerrado ivernado pouco se aquece
Um calor de momento, o vinho oferece
E a alma valesse neste desfrutar maior
Arrepio no corpo, do apego se apetece
Pra esquentar a noite, tornar-se ardor
Acalorando o alento do clima ofensor
Tal é perfeito, também, o afeto tece
E na estação de monocromática cor
De paixões, de misto sabor, aparece
Os mistérios, os desejos, os sentidos
Assim, embolados nas lareiras, o amor
Regado de vontades, no olhar floresce
Pra no solstício de novo serem acolhidos
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO DO IPÊ
O cerrado se prepara para a primavera
No chão cascalhado, a florada anuncia
Os ipês amarelos ornando de luz o dia
E o horizonte se vestindo de quimera
Sai o inverno, setembro, vem a ventania
E mal surgia, e caem sem assim quisera
Em implacável jornada, acatando a era
Atapetando o chão de matizada magia
E neste, veste e despe, a beleza gera
Espanto da sina acirrada em tirania
Do ipê ser algoz na sua pouco espera
No processo que penaliza a flor fugidia
Em ser uma desgarrada na atmosfera
Faz-se o prosseguir a vida em romaria
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
SUSPIROS (soneto)
Um pesar tão mais saudoso, assim não vejo!
Um vazio no silêncio, barulhento, sem pudor
De tão é a infelicidade, que terebrante é a dor
Que vagar algum pode ofuscar o tal lampejo
Dias rastejam, noites em romarias no andor
Da angústia, que enfileiradas num cortejo
Levam preciosos instantes, pra num despejo
Jogá-los ao luar, sem quer um pejo, amor
Ah! Que bom seria, eu ter qualquer traquejo
No dom da oração, e me ouvisse o Criador
Através do meu olhar, rogando por ensejo
Essa saudade tão mais triste, ainda é clamor!
Inda estão nos versos que no poetar eu adejo
Tentando recreio, para os suspiros transpor
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano
RENOVO (soneto imperfeito)
Quisera eu o dissabor fosse menor
que os dias tivessem só harmonia
acalmando meu coração tão aflito
e na convicção ter dito: obrigado!
Quisera ser no fado um reto caminho
de suavidade, além do fatal conflito
necessário pra evoluir na infinidade
do, porém, e portar afeto bem intenso
Quisera que o imenso dom do viver
na magia do é e ser, encantasse
pra eu mergulhar nas glórias da fé
E assim, como errante e reles mortal
no final, o ardor da esperança restar
e todo dia, fosse, renovo neste amor!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano
CHAMAMENTO (soneto)
Mãe Senhora, das boas obras benfeitora
Mãe Senhora, do manto de esperanças
De ti a ternura da graça as almas mansas
De ti o perdão nascido na manjedoura
Doce olhar, e no auxílio não descansas
Em toda a parte, és a virgem protetora
Em teu seio o meio à urgência vindoura
És frugal vereda das bem-aventuranças
A mim, pois, filho de escareado desatino
Que aflige o coração em ingrato engano
Olhai com sua piedade o meu vil destino
Assim, neste chamamento de filho insano
Advogue por este pecador, ao Pai Divino
Soberano, nas aperturas deste mundano
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano
RETORNO (soneto)
De volta à minha vida de outrora
Há inquietude com o meu futuro
Tal, embora, o atual seja escuro
A intuição me diz pra ir embora
É assim, no raiar, uma nova aurora
Vai e vem, prevalece o afeto puro
Só na fé com compaixão é seguro
E na esperança que se faz a hora
Porém, se perde, também se ganha
Nas dores, se bate, também apanha
O próprio tempo que doutrina a gente
Pois no dever cumprido, vem o sentido
Da correlação, e ser mais agradecido
Hoje vou melhor, com amor mais ingente
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
ESPERTINA (soneto)
O cerrado está frio, lenta é a hora
É tarde da noite, o vento na vidraça
Pendulando o tempo, tudo demora
E o relógio, em letargia não passa
A espertina virou no dormir escora
Tento escrever, mas a ideia está lassa
A vigília do olhar não quer ir embora
Viro, e reviro no liso lençol de cassa
Dormir? O sono no sono faz ronda
O frio na minha alma faz monda
E o adormecer em nada me abraça
Que insônia! O sino da igreja já badala
O galo da vizinha o canto já embala
E o sol pela janela a noite ameaça!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho, 2016
Cerrado goiano
SONETO RESOLUTO
Daí ter que ter decisão, se desejais
Não deixai o sonho vivo na solidão
De que vale de a felicidade ter fração
Se sentado estás na beira do cais
Do anseio e da fé não se abre mão
Qual rumo tiveres, quantos e quais
A sorte conquistada vale muito mais
O que tem importância é a questão
Se contra o vento estão os seus ais
Arremesse as ilusões do coração
Semeie as quimeras de onde estais
Então, só assim, o viver terá razão
Daí o que tu queres, dará os sinais
E numa proporção, terás realização
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
08/08/2016, 06'20"
Cerrado goiano
PAI (soneto)
Trago no coração sinais de abrigo
são sentimentos de protetor laço
num nó em lembranças e abraço
daquele que levo sempre comigo
É quem apoiou o passo no passo
no compasso fora do ter perigo
É o valente amigo até no castigo
que no cansaço expõe o regaço
Eis o lar, pai, que assim eu digo:
o provedor que nunca é escasso
num rude amor, sem ser oligo
O braço em um dilatado espaço
de colunas eretas que bendigo:
- numa saudade que não afaço.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
agosto de 2016
Cerrado goiano
BEM E MAL (soneto)
Tal qual gente que vive sem pressa
na correria do tempo, eu vou assim
e nessas de ter-me um, nesta peça
atuo um dia de cada vez, até o fim
Na alta complexidade que não cessa
a turves rompida pela luz do camarim
da vida, reluz o amor que ele expressa
tingindo o cetim do afeto na cor marfim
Sou feliz! É como minh'alma confessa!
Na tristura, a remessa de sorte pra mim
é paz, pois, tenho na verdade, etc e tal...
Então, na falsidade que nada a impeça
a pureza do amor sempre é um clarim
proclamando que o bem vence o mal...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto/ 2016
Cerrado goiano
MANACÁ DA SERRA NO CERRADO (soneto)
Plantei um manacá no cerrado
Para o chão ressecado florescer
Em flores bicolores, a irromper
Matizando o árido cascalhado
Já não me sinto só, o alvorecer
Tem um doce aroma de agrado
Com jeito de bafejo tão airado
Que abraçam todo o meu ser
O manacá da serra no cerrado
Trova com o vento um verter
Poético, se fazendo admirado
Árvore em flor, a transcender
O vazio num ato contemplado
Balsamizando os dias de prazer
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto, de 2016
Cerrado goiano
CHOROSO SONETO
Daqui deste rincão do cerrado
Quisera de a saudade apartar
Mas os ventos só põem a chiar
Quimeras percas no passado
Não sou um poeta de chorar
Mas choro um choro calado
Amiúde e assim comportado
Paliando soluços no poetar
Tão menos viver pontificado
No sofrer, brado, quero voar
Lanço meu olhar ao ilimitado
E pelo ar vai o desejo represado
Liberando as fontes do amar
Livres e do suspiro desgarrado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
POEMA EM SILÊNCIO (soneto)
Meu verso está amordaçado
As palavras dentro da vidraça
Represadas e tão sem graça
Estou calado, o poetar calado
Inspiração diluída na fumaça
O vazio estridente e arestado
Ácido em um limo agargalado
Inebriando tal qual cachaça
Meu pensamento está suado
Ofertado como fel numa taça
E na solidão, então, enjaulado
O poema em silêncio, bagaça
Oh! Túrgido sossego enfado
Diz nada, só tira a mordaça...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
VOCÊ CRÊ (soneto)
Quando nos vemos nos olhos que não vê
A incerteza nos traz o desespero, solidão
Temos um bem maior que é a consagração
Tudo pode naquele que fortalece, você crê?
Acredito no amor paternal, na Trindade:
O Pai, o Filho e o Espírito Santo, amém!
Pois Ele venceu a morte, e o mau também
Acredito no verbo eterno, a única verdade
Ele veio e anunciou trazendo a vida nova
Acredito! Pois o seu amor no amor renova
E em sua compaixão, nos ama com paixão
Que a fé nossa de cada dia seja a prova
Do perdão que se clama em hino e trova
Eu acredito na Cruz de Cristo, a salvação!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
NOVEMBRO, soneto no cerrado
A nuvem de chuva, está prenha
A lua na noite longa enche de luz
Novembro, aos ventos ordenha
Amareladas folhas que nos seduz
Meditação, finados aos pés da Cruz
O colorido pelo seco cerrado grenha
As floreadas pelos arbustos brenha
Trovoadas, relâmpagos no sertão truz
Águas agitadas, o mês da saudade
Num véu dançante... Vem novembro!
Linhas de poema e prosa, fertilidade
Décimo primeiro, antecede dezembro
Em ti é possível notar a instabilidade:
Fogo e água, da transição é membro
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
novembro de 2016
Cerrado goiano
SONETO NA LAMA (Mariana, MG)
Basta! A quem assistiu o insuportável
O funeral de teus sonhos, tua quimera
Enlamear-se na lama sem que quisera
E em suas vidas, unidas, inseparável
Como acostumar ao lodo que espera?
Moldar-se no barro de jarrete miserável
Deitar-se na insônia, sentir o inevitável
Da mendicância, impune, e de espera
É véspera do escarro. Vês! O inaceitável
Total necessidade também de ser fera
Nas mãos dos que afagam o insaciável
Rio Doce, azeda lama, e sem primavera
Indecência dum indecente confortável...
Sou Minas Gerais, somos, gente sincera!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
AMOR QUASE SIDO (soneto)
Amores vem, vividos, amores vão
Na poesia voam e, na alma fundido
No tempo, o que é, e foi permitido
Nas palavras, dissertando o coração
Ama eu, ama tu, ele, ela, repartido
Lágrima, sorrido, a dura decepção
E num sempre porque, indagação
Nuns ficamos, outros nos é partido
Mas sempre desejado, imaginação
Onde? Quando? E é sempre sabido
Que dele quer, dele se tem emoção
E nesta tal torcida o amor é provido
O amor é sentido, sentido é a paixão
Sem porque nem como, os quase sido!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro, 2016
Cerrado goiano
SONETO DO VELHO AMIGO
Então, depois de tanto andar trilhado
Pesar rasgado nas retaliações, malícia
Eis que a amizade súplica por carícia
De amparo, dos tantos erros, passado
Enfim, se calado, deixai de ter sevícia
E sentai tu, amigo, aqui do meu lado
É tão bom novamente em ter-te amado
Nunca abandonado, do afeto imperícia
E no abraço antigo, não fomos garrano
Perceba ao nosso arfante a se comover
Pois deixe na quimera o nosso engano
Amigo que é amigo nada e então explica
Estamos sempre reencontrando no viver
Necessidade e, no coração se multiplica...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
AMO-TE (soneto)
Amo-te no meu maior, largo e profundo
sentimento da alma, é amor, mais nada
Te uivo no peito em graça entressonhada
onde paz, calma, faz-se em cada segundo
Amo-te no ringir da noite por ti poetada
que verseja a paixão de que me inundo
deste afeto que é o maior do meu mundo
num regozijo duma felicidade estacada
E é tão puro e é tão feliz e é tão fecundo
que as lágrimas são preces transfigurada
de fé ingênua e fausta, neste amor rotundo
Amo-te na pequenez de minha morada
tão simples, mas cheia de zelo jucundo
Pois tu és rogo da vontade tão desejada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano