Sim nós dois

A solidão é uma doença, eis o que ela é; tornamo-nos sozinhos da mesma maneira que ficamos impotentes.

Entre nós é vergonhoso reconhecer a própria pobreza; mas pior do que isso é não esforçar-se para escapar dela.

Muitas vezes a fortuna saúda-nos sem obter resposta; muitas vezes, porém, saudamos a fortuna sem ela nos responder.

Os livros ruins também são necessários. São os mais excitantes: eles dão-nos ganas de recomeçá-los, convidam-nos a intervir.

Enganamo-nos ordinariamente sobre a intensidade dos bens que esperamos, como sobre a violência dos males que tememos.

Supor, como todos nós fazemos, que podemos ficar ricos sem nos comportar do modo como se comportam os ricos é como supor que podemos beber todos os dias e permanecer sóbrios.

Tornamo-nos realmente adultos no dia em que conseguimos rir de fato... de nós mesmos.

As crianças entretêm-nos, porque são fáceis de entreter.

Por mais que busquemos, apenas nos encontramos a nós próprios.

O amor nos outros é para nós quase sempre incompreensível.

Não é com prazer que vemos outros superarem-nos em inteligência.

É alcançar muito de um amigo se, tendo subido ao poder, ainda se recorda de nós.

Somos fiéis a nós próprios, nada mais.

Quando estamos de boa saúde, admiramo-nos de como seria possível estarmos doentes; quando isso acontece, medicamo-nos alegremente.

Os grandes fazem-nos o bem suficiente quando não nos fazem mal.

Um escritor é essencialmente um homem que não se resigna à solidão. Cada um de nós é um deserto.

O real serve-nos para fabricar melhor ou pior um pouco de ideal.

Há qualquer coisa em nós que está por cima e por trás de todas as idades e com todas as idades vai brincando.

Amigos há de grande valia, que todavia não podem fazer-nos outro bem, senão impedindo pelo seu respeito que nos façam mal.

Muitas vezes, todos nós... acreditamos mais nas opiniões alheias do que nas nossas.