Saudade Dói
COVARDE
Se, assim, bater de novo à minha porta
Ah saudade! deixai quieta a minha dor
Não mais me traga sensação que corta
Que açoita a emoção com aflitivo ardor
Do pouco o tudo na recordação importa
E nada comporta um gesto tão opressor
Pois bem, cada lágrima pesar transporta
Então, dar-me-ás suspiro pra lhe transpor
Mas, aí! no peito bate forte está aflição
Sussurra em voz alta, em árduo alarde
Avidando um aperto no sisudo coração
Tremo... Sôfrego... E doloroso... sufocado,
... me deixo bater a saudade como covarde
E me ponho a sofrer como um apaixonado!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04 dezembro, 2022, 11’42” – Araguari, MG
DELITO
Literato poema, vós, estais, sabedor
De uma dor cometida pela saudade
Sagaz, traidora, ao infortunado autor
Que cá dá vida a tristura que invade
O verso, ferido mortalmente de amor
Por uma paixão, afiada, sem piedade
Que inflama até hoje com largo ardor
Causando um poetificar pela metade
Ó tempo, que é o apurado mediador
Da quietude, e, portanto, o defensor
Neste processo dum sentir constrito
Em nome da miseração, pede, urgente
Mandeis a censura ao verso insistente
E, então, privar a poética de tal delito...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05 junho, 2023, 15’57” – Araguari, MG
SANGRAR EM DOR
Se o verso que escreve, a aflição contida
Na saudade, e fere na inspiração versada
Tudo por ele é pesar, toda alegria perdida
A emoção, tão vazia, se nota desprezada
Pudesse a poesia que na agonia é dividida
Sentir o suspiro duma penosa madrugada
E quanta lágrima, talvez, na poética ferida
Sentiria, em cada estrofe redigida, teatrada
Quanta gente ao ler, talvez, sem conceber
O quanto de desalento, de uma ilusão a ter
Numa prosa de um mal sem rumo de amor
Quanta gente sem estimar, e até imaginou
Somente sensação interina. Pouco passou!
Pois, quem, no seu versejar, sangra em dor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19 junho, 2023, 18'52" – Araguari, MG
Registro
Toda está saudade comovida
Meu relógio toca, hora a hora
É dura dor, badalada e doída
Toando solidão, ao ir embora
Como é vazia toda despedida
Incontida aflição, então, chora
Aperta a alma, se faz sentida
Soando numa privação sonora
O ponteiro marca cada sensação
E, seus minutos, tão singulares
Pulsam na cadência do coração
Ah! toada em toada, os olhares
De segundo a segundo, ilusão
Não mais há tempo de voltares!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20 agosto, 2023, 13’18” – Araguari, MG
SONETO AVOCANDO
Na mão da agonia, na dor desdita
Uma saudade, afinal, meu coração
Frustrado, no engano duma ilusão
Senti e amarga na tristura descrita
Como a dó, ferida, que do dano grita
Aumentando ainda mais a vastidão
Do verso sem decisão, sem a paixão
E, o sentimento desbotado e eremita
Como sofrente, em lôbrega jornada
O soneto, em uma poética prostrada
Sussurrando solidão insistentemente
Acossa, estorva, se vê desnorteado
Jorrando cada suspiro encarcerado
Avocando pelo momento pendente.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10 agosto 2024, 07’57” – cerrado goiano
Dor secreta (soneto)
Se a saudade que escuma, alternasse
com o pesar que perfura, e caísse fora
e nalma tirasse o dragão que devora
as lembranças seriam uma catarse
O coração é um ser que também chora
que põe o suspiro a escorrer pela face
prensa o sufoco no peito num repasse
e quando encontra a solidão, tudo piora
Há, ilusão, uma piedade que causasse
uma esperança que pudesse ter agora
um alento que no ombro cochichasse
Se se eu pudesse ter uma outra outrora
mesmo na dor que chora, e estampasse
um parecer venturoso, eu iria embora...
Luciano Spagnol
12/06/2016, 16'10"
Cerrado goiano
Quando a saudade aparece
O tempo no tempo regressa
A dor no peito feri em prece
Misericórdia, vira promessa
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
SONETO EM SUSPIROS
Quando a saudade aparece
O tempo no tempo regressa
A dor no peito feri em prece
Misericórdia, roga promessa
Toda lágrima chorada, refece
A motivação é o que interessa
Se tristura ou júbilo, houvesse
É nela que a razão se expressa
E sempre se sabe, não esquece
Torna eternidade, na alma fenece
Pois, o vazio dói reto na saudade
E a solidão, pra ausência confessa
Suspiros, uivos, numa tal remessa
Que põe jogada ao léu a serenidade
Luciano Spagnol
Julho de 2016
Cerrado goiano
Cheiro das palavras
Garatujam saudade
Rabiscam felicidade
Desenham amor
Borram a dor
Traçam sorte
Riscam a morte
As palavras... Imortais palavras... Cheiro
Dando vida e aroma ao coração forasteiro.
Luciano Spagnol
07'50", agosto, 2012
Há uma saudade em cada despedida
A dor no peito vozeia por está partida
Lágrimas mudas viram cinza e nada
A lembrança passa a ser uma porrada...
Se é pra danar, perde-se para encontrar,
pois encontra-se para novamente amar...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Soneto da Dor Doída
Nas asas da saudade partiste
Fostes como brisa ao vento
Minha alma ao relento triste
Poeta uma porção de lamento
Na solidão um quarto vazio
Que ainda caminha teu cheiro
Nas lembranças apenas frio
De um chamado ainda inteiro
Contigo levaste parte de mim
Em mim um todo de vós ficaste
Levarei impregnado até o fim
E neste teu momento de partida
Suspiros, foste ao coração engaste
Agora choro eu, por esta dor doída.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
19 de Julho 2015
Cerrado goiano
ao meu pai.
DOR VELADA
Se a saudade que suspira, a dor de outrora
E nas lembranças mora: é ilusão nascente
Pois, tudo que ao coração, assim, devora
Traz solidão ao pensamento paralelamente.
Se a lágrima que do olhar na face chora
Embora, se deva rolar. E tão vorazmente
Rasga o peito a fora, se cala ou implora
Há nós piedade, que seja piedosamente.
Se inveja agora, a ventura doutra gente
Ter silêncio lhe deva ser permanente
Como o fincar dos cravos duma espora.
Pois, a vida só nos é dada parcialmente
Pra que possamos ser dela totalmente
No viver... Velozmente vamos embora!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano
EXÍLIO
A saudade que suspira, separada
Do teu cheiro, nos olhos a chorar
Me vejo, com a dor ali estocada
De um coração sufocado a gritar
Não basta saber que pude amar
Nem só a paixão ter sido alada
As amarguras tomaram o lugar
Dos gestos, a alma está talhada
Na ausência, de teus beijos, dor
As desventuras que fazem sofrer
Me consomem neste torto poetar
É um exílio cheio de amargo clamor
Em ter a emoção distante pra valer
Neste silêncio de não poder te tocar.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
18 de maio, de 2018
05’30”, Cerrado goiano.
SONETO COM CHARME
Moço, se no tempo, velho eu não fosse
Onde a dor da saudade a apoderar-me
As recordações a virarem um tal carme
E a lentidão em mim se tornarem posse
Ah! Aquelas vontades já me são adarme
O que outrora me era tão suave e doce
Num gosto acre o meu olhar tornou-se
O espelho, um revérbero, a desolar-me
O meu espírito a tudo acha tão precoce
Já o corpo, cansado, soa em um alarme
Na indagação a juventude que o endosse
Da utopia ao caos dum tão triste arme
Envelhecer, como se não fosse atroce
Então, vetusto, tenhas arrojo e charme!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2016, 18 de novembro
Cerrado goiano
ACHANAR (soneto)
Deixe que a dor da saudade enfim passe
Soltando d'alma o que é teu maior enfado
Deixe-a nas entranhas secas do cerrado
Para que nos maçantes reclamos se cale
Em um grande pesar não se é prolongado
Basta! Se todo afeto que sentes se sovasse?
Desafie os medos, e os ponha face a face
Com coragem, e os tenha como teu agrado
Sabe: eu já cansado! Ando tão com receio
Na ventura, que o meu amor se consome
E o encantamento no revés submerso...
Sinto em tudo está ilusão... Tudo custeio!
E, derreado de embatucar este cognome
Achanando este infortúnio do meu verso.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
30 de julho de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Saudade, palavra agridoce da dor
Oh Saudade! Eu tentei tanto
Esconder de ti na melancolia
E ainda te revelas no meu pranto
E na angústia de minha poesia
É de um alguém, um lugar
Se afirmar, estarei a mentir
Se minto é pra me preservar
Se tu vens, rendo-te no sentir
Se povoada está a minha nostalgia
Nas palavras gosto de amarga aflição
Frouxo estão os ponteiros da fantasia
Que ritmam os temperos do coração
É vazio cheio sem que se possa ver
Solidão da alma no pleno amor
Grito na escuridão sem comover
Saudade, palavra agridoce da dor...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
04/05/2011, 01’33” – Rio de Janeiro, RJ
Eu por mim, serei todas. Defenderei a louca e a sábia sensibilidade. Unirei a dor ao amor da saudade. Gritarei no eco do silenciar. O ar e o fogo que queima e espalha sua força. Serei eu, quando eu mesma quiser ser amada. Eu me amo!
POÇO (soneto)
Dizem que a saudade é a dor profunda
Que no peito nem o suspirar a estanca
Todos querem tirar, mas pouco arranca
E se mais a cava, tanto mais se afunda
Contudo, padece sempre, ó prava tunda!
Que nessa sofrência mina e desbarranca
E vai dando aflição, tão velhaca retranca
Que desalenta e de insatisfação inunda
Quanto vazio, e noite que não encerra
Dando ao olhar um gemido que berra
Té que o silêncio a prostração convida
E então, nesta lavra tão árida e tão nua
Que na lembrança só se tem a falta tua
Sufoca, estrangula e empobrece a vida!
© Luciano Spagnol -poeta do cerrado
20/07/2020, 09’46” - Triângulo Mineiro