Rubem Alves Jardim
A cada dia que passa, percebo que nada sei, que sou uma incógnita para mim mesma, que posso me surpreender e surpreender os outro, numa mesma proporção.
E isso é o que faz da vida uma intrigante aventura, um conjunto de “sims”, “nãos” e “talvez” que nunca terá fim. E na sua interseção, inúmeros pontos de interrogação e exclamação.
NÃO, isso não é uma aula de gramática disfarçada, muito menos de matemática!
SIM, posso parecer louca, mas...
TALVEZ, eu seja apenas mais uma mulher, que anseia pela felicidade, mesmo nas ocasiões em que ela esteja explicada numa língua praticamente incompreensível para mim.
Por isso, busco a todo o momento, formas de traduzi-la no idioma o qual eu criei, um idioma só meu.
17 de dezembro de 2009
Quem ama e não revela
Amordaça o coração
Que preso não sente alegria
Envolto em consternação
A alma se submete
Em constante expiação
O amor que não se revela
Exibe-se em aflição
Os olhos resistem aos lábios
No silencio a contrastar
Com tantas palavras ditas
Que não se pode validar
Sempre damos importância as coisas que achamos importantes, no entanto, esquecemos de dar importância a quem realmente nos acredita.
Se juntar muito dinheiro, o chamarei de rico
Se encontrar um grande amor, o chamarei de milionário
Se não conseguir nem uma coisa nem outra, o chamarei de solitário.
Quantas palavras para silenciar
O que vai por dentro
Quantos gestos para encobrir
O que o coração já não quer calar
Quando o amor chega
De que adianta dissimular
O que na alma está latente
Nos olhos vai se manifestar
O desejo contido
De tão oprimido
De tudo fará para se livrar
Quebrar as algemas que o embaraça
Tolhendo-lhe o prazer de voar
Quando o amor surge
A verdade abrolha
A luz insurge
O brilho dos olhos brota
Germina alegria
Desvendando o oculto
Que o coração tenta burlar.
Nosso amor sempre foi fruto de desejo, mas você parece ter medo de se entregar a explosão de sentimentos que ao te olhar posso causar, parece fugir de mim, como foge ao fogo, com medo do que sente, ou com medo do que não pode sentir
Dos Lugares
Quando estiveres em um lugar onde não conheces nada, e ainda pisotearem o teu pé, peça desculpas por ter colocado o teu debaixo do dele.
Nossos pulmões estão asfixiados
e nossas artérias poluídas.
Mesmo assim torcemos para que chova
e enriqueça nossa terra.
Mas o céu agora, só nos manda devolta
parte daquilo que soltamos.
No final de tudo, não desce nada que presta.
Não cai agua limpa,
parece até que Deus nos detesta.
Na verdade somos nó mesmos
que não amamos nossa própria Terra.
Fé no amor
Se agradecendo o amor
invoco a deusa
que um querer qualquer
tornou realização
com mais fé ainda
imploro ao coração
que do amor demais
faça o amor que baste
e que se baste na razão
para não ferir sentimentos
para não virar paixão
limitando o real e a ilusão
e o que eu pense ter
que seja meu
para que mais tarde
o que eu não tenha mais
porque é teu
não torne esse ser que se deu
um descrente de coração ateu.
Poema do sacrifício
Trabalhador como ainda sou
sem ter que fazer na solidão
só faço o que manda a precisão
e por isso e mais
colho o barro na ribeira
procuro madeira na mata
garimpo a pedra disforme
repuxo o couro esticado
recolho o vidro e o bronze
preparo a fornalha e o cinzel
encho a bacia de água
recorto e ponteio pedaços
bato e amasso o inteiro
moldo e faço acabamento
depois coloco na luz do sol
debaixo reflito na lua
depois lavo na água corrente
depois olho e me alegro
depois digo enfim
que tudo na vida é trabalhoso
e não vale mais que doistões.
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