Promessa
Quando o mundo parece ruína, lanço sementes de promessa nas fendas do concreto. Não me contento com o “menos-mal” trabalho para que o bem floresça realmente.
Minhas palavras são pontes, não muros, para que o outro encontre abrigo e seja visto. A cada gesto, reivindico a grandeza que habita no simples, um olhar, um toque, uma ponte. No silêncio que resiste, descubro a força de quem escolhe erguer, em vez de apenas sobreviver.
Chão rachado guarda sementes, o que parecia fim, tornou-se promessa de fecundidade. Hoje eu sou esse chão.
O amor amadurece quando a presença vence a promessa, ser todos os dias vale mais que palavra vazia, o compromisso diário constrói confiança, presença é prova que o amor permanece.
O vale repete o nome daquilo que se perdeu. Mas o eco não é lamento, é promessa que cresceu. Toda distância é caminho pra quem ama e não esqueceu.
A vida presente é o prelúdio de um encontro glorioso e definitivo. Que a promessa da volta e do lar eterno me infunda a esperança necessária para caminhar com propósito e leveza. Viver o hoje com o coração vigilante e a alma preparada, é a única forma de honrar a certeza inabalável do amanhã.
A maior aspiração e o foco supremo não são as conquistas efêmeras, mas a promessa de contemplar a Tua Santa Face em um lar sem fim. É essa visão gloriosa que deve alimentar a minha alegria presente, transformando o cansaço em júbilo e motivando a perseverança. Que cada passo aqui seja dado na direção desse sublime e eterno encontro.
Eu não dou marcha à ré. Minha determinação é forjada pela promessa eterna do Seu cuidado, que carrego como um manto de força.
Deus não tem a promessa de anular o obstáculo, mas de fortalecer a articulação que se dobra em busca de socorro.
"Se não sabes o peso de uma promessa, não a faças. Prometer é selar a esperança de alguém com a tua palavra e quebrá-la é destruir mais do que apenas confiança."
NÃO QUERO SER FÓSSIL VIVO
Eu me sento à beira do mar quando o sol ainda é promessa de luz. As ondas
vêm e vão sem perguntar se hoje me sinto disposto ou cansado, sem
perguntar se meu cabelo já é quase todo branco. Elas apenas chegam com a
mesma certeza de quem sabe seu lugar no mundo. Eu respiro fundo, e esse
ar gasto em todas as estações da vida me lembra de que, aos 80 anos, ainda
posso, sim, surfar a próxima onda.
E, nessas reflexões, me lembro também do dia em que comecei a pensar em
hormônios não como uma força do passado, mas como aliados do presente.
Certa manhã, enquanto fazia alongamentos, reparei que meu corpo reagia
diferente: as articulações falavam, a pele parecia pedir mais cuidado e, de
repente, descobri que o cortisol não precisava ser meu inimigo. Foi como
descobrir um velho amigo guardado em caixas de memórias, esperando para
me ajudar a encarar cada amanhecer com vigor. A cada dose de testosterona
que tomo, sinto não só o vigor físico, mas um frescor quase infantil de quem
redescobre o sabor de correr no parque, de sentir o vento bater no rosto. E
por que não correr? Meus ossos podem chiar, minhas costas podem
reclamar, mas meu coração ainda quer bater forte quando vejo o horizonte
se acender de laranja. Quero ver o sol despontar atrás das nuvens e também
contemplar a escuridão sem hora para acabar, porque a noite me lembra de
que há beleza nos mistérios, na imensidão da lua refletida na água escura.
Se alguém me chama de “velho”, não me ofendo: sou antigo como o oceano,
mas não sou “fóssil vivo”.
Aliás, já desenterrei esse termo do meu vocabulário — prefiro
“testemunha ativa”. Porque testemunhar, para mim, é participar: é pedalar,
é jogar basquetebol que amo e sempre amarei, é nadar, é jogar bola com os
netos que me vencem em agilidade, mas não me vencem em vontade de
viver.
Há dias em que a dor sussurra mais alto. A cada passada no asfalto ou a cada
curva do caminho, meu corpo lembra que o tempo deixou suas marcas. Mas
a dor, se bem entendida, não é sentença; é lembrete de que ainda estou
aqui, pulsando. Mesmo sentindo cada vértebra reclamar, descubro que
posso transformar essa dor em impulso para seguir adiante. É como se ela
fosse o vento que empurra minhas velas: incômoda, sim, mas necessária
para manter o barco em movimento.
Meus amigos dizem: “Quando a gente chegar à terceira idade, vêm a poeira
e a apatia”. Eu só sorrio e respondo com os olhos brilhando: “Terceira idade?
Estou criando turbinas” porque, no fundo, estarei sempre aqui.
Quem atravessa a noite com os olhos abertos aprende que a aurora não é escolha, é promessa escrita nas frestas da madrugada.
