Poeta Viver Sozinho Solidao
DEIXA... (soneto)
Deixa que a poesia a dor devasse
A dor de amor que não é segredo
Pois, a todos tem o mesmo enredo
Mais cedo, ou tarde, se mostrasse
De todo o afeto, não tenhas medo
Tenhas no esperar que tudo passe
Aos desenganos encare a tua face
Nas perdas nem tudo é só degredo
Basta de pranto! enxugue a emoção
Deste amor que o poetar consome
Melhor o sofrer sobejo que ter ilusão
Ouça o poetar do coração, imerso
Que vocifera pelo certo sem nome
No tempo, se revela, o exato verso
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Para se chegar ao amor, a distância é curta. É o caminho da humildade onde o sol brilha luz da sabedoria.
SURGIR O DIA (soneto)
Tinge-me o horizonte do cerrado... Agora
Rubro, no céu azul, num fascínio profundo
De fogo, tinge as nuvens em um segundo
Nesta encenação, exibe, o raiar da aurora
A madrugada, crespa, num ato facundo
Poetando o sertão, e, pelo sertão afora
Solta o véu do dia, numa lindeza sonora
Revelando as curvas do cerrado ao fundo
Mas antes busca a magia com que pinta
Com o colorido diverso de tal grandeza
Usando a quimera como abrasadora tinta
Eclode, deixando a melancolia e a mágoa
Aos pés da noite, cobrindo de luz e beleza
E pondo pasmo os meus olhos rasos d’água
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
campo santo
lá tudo é saudade, as lembranças se cobrem de linho
o eu, fica pequenininho, e a tristeza de olhos d’água
lá tudo é manso, o silêncio se faz de flores e espinho
num coração em pranto e em mágoa...
os sinos os serafins bimbalham, tal prece que galgam
os céus!
lá tudo é suspiro, tão alvos... lá as almas resfolgam!
e de lá somos réus...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03 de fevereiro de 2020 - Cerrado goiano
paráfrase Vinícios de Moraes
O amor fez chover em minha vida, e alegrou o jardim do meu coração. Pois ele ficou livre da falta de vida que é o deserto da saudade e da solidão.
A vida é uma eterna busca, é luta...
Mas a alegria é maior que a desistência.
E eu não desisto,
Eu insisto
Porque sou a luz do lindo amor.
Meu carinho não é tímido, não nasce na indecisão.
Meu carinho é meu sorriso sincero a tocar seu coração,
Sorriso doce do amor verdadeiro
De minha entrega
Minha atitude em não aceitar desunião.
POR AMAR (soneto)
Por tantos caminhos, aflito e perdido
Imaginei nas venturas ter firmamento
Que inda agora mesmo, neste sentido
O soneto, insiste tê-lo no pensamento
Tudo aquilo que trovo, na rima cabido:
Pranto, sorriso, quando acaso: - bento!
Se aqui ou infinito, até mesmo divertido
São falas do senso advindas do momento
Piedosa inspiração, que minha dor sente
Poetada ao léu, e tantas vezes ao relento
Se lastima, contigo vou também lastimar
E sobre este poetar, se triste ou contente
Rompendo as variedades de um talento
Se com lágrimas, suspiros: é só por amar!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06/01/2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
A chuva de amor chegou para florir a terra seca do orgulho que não gerava nenhum alimento para a alegria da alma.
LUZIR D’ALVA (soneto)
Ao luzir d’Alva, no cerrado, a saudação
Ipês, buritis, lobos guarás, doce melodia
Ó que feitiços traduzidos em tal sinfonia
Enchendo o olhar de espantosa sedução
Ah! que rico sertão! ai! que rico sertão
Viste meu pranto e também a alegria
Ó árido chão, de horizonte em ousadia
Cheios d’água, meus olhos, pura emoção
Vendo-me em prantaria, ao vir a aurora
Rubra... A voz da natureza já acordando
Abarrota de contos a algibeira da poesia
Ah! que linda hora! ... ai! que linda hora
E o alvorecer, na fugacidade vai passando
Bordando encanto, no raiar de mais um dia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/01/2020, 05’25” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CALABOUÇO (soneto)
Ah! quem há de amar, amor inconstante e criado
O que o coração sofre, e a poesia cria impotente
Sangra, chora, pena e arde o sentimento da gente
Nas lágrimas poetadas num recanto aprisionado
O pensamento escreve, e o desagrado fica ao lado
Catucando a alma com seu olhar tão descontente
Quando nos versos teria que ser o trovar diferente
E, insistente, se faz a melancolia hospedada no fado
Ó palavra pesada, rude, fria e espessa, que penaliza
Abafa a ideia leve, e do sonho põe-se num paralelo
Onde refugia a solidão, numa escuridão governanta
Quem pode achar a expressão tenra, tal afável brisa?
Que sopre rimas que nunca foram ditas, de teor belo
E venha ao amor confessar agrado preso na garganta!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/01/2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Só realmente vive quem tem o dom de saber falar na hora certa, porque espalha o perfume da vida com as palavras sábias ditas no momento certo.
INTENSO (soneto)
Tens, no abraço, o calor que não é engano
Do amor: tão aceso no desejo, tal a pureza
Que a minha razão permanece na certeza
Do feitiço, da quimera e do anseio humano
E, nos encantos da sensação, a total viveza
Tristeza?... não. Pois, o querer é soberano
E na alma é permanente, e de chama acesa
Tão brando no verso: em cadência e beleza!
És afago e carinho, sob os olhos: um abrigo!
Amigo!... Intenso!... em acordes na emoção
Tão dos sonhos, que parece um amor antigo
E, te digo: - igual não há no trôpego coração!
Se distante e na saudade, um severo castigo
Flor amorosa, que perfuma e aderna a paixão.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
08/01/2020, 05’09” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
VERSOS GENUINOS (soneto)
Não me devaneei na quimera... Perdi-me
Na indecisão, entre os amores. E descobri-o
Junto de ti, vivo, bem vivo... E tão gentio!
E na escolha do querer, ao coração sublime
E há mais do que galgar, sem ser íngreme:
Há o que no desejo, ao tocar, tem arrepio
E no olhar, o tal brilho, aquele que é luzidio
Que faz histórias, e aos sonhos não oprime
Ah! Como é bom contigo estar, ó prenda!
Tão ansiada. Onde a paixão não é fugitiva
E entenda: - és tu a mais feliz das alegrias
Se é uma terna ilusão, ou talvez uma lenda
Assim possa, então, à inspiração ser cativa
E ao amor, os versos genuínos, das poesias
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
09/01/2020, 06’35” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Sua alma transmite amor. E por isso eu me apego mais a ela que ao seu corpo.
Ilusões fogem
Verdades me conquistam
É o que no livro da eternidade está escrito.
Infiro os transeuntes e suas relações insociáveis...
Aquele que nos livros procurava esquecer o profundo ermo e o distúrbio inato e incurável.
Os ventos murmuram o padecimento da tramontana, pensamentos batelados vagam ermos de si mesmos sobre está choupana velha, em deslumbre
dessa antropofobia que em momento algum já olvinado
atrás de devaneios e euforia.
POETANDO O VENTO (soneto)
Melancólico, gemem os ventos, em secas lufadas
No cerrado do Goiás. É um sussurrar de ladainha
Em tal prece, murmurando em suas madrugadas
Do planalto, quando a noite, da alvorada avizinha
Sussurros, sobre os galhos e as folhas ressecadas
Sobre os buritis, as embaúbas, e a aroeira rainha
Que, em torpes redemoinhos, vão pelas estradas
Em uma romaria, lambendo a sequidão daninha
Bafejam, num holocausto de cataclísmica rudeza
Varrendo os telhados, o chão, por onde caminha
Em um cântico de misto de tristura e de euforia
E invade, o poema, empoeirado, com sua reza
Tal um servo, em súplica, pelo trovar se aninha
O vento, poetando e quebrando a monotonia...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/01/2020, 05’35” - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CREPÚSCULO DO TEMPO (soneto)
Vê-se no espelho, e vê, pelo tempo fugaz
Uma desconhecida face que ali se ilumina
Decaída, expira a mocidade, e aí! termina
A juventude mais pasmada, que agora jaz
Outra ruína mais funda se revela... sagaz
As marcas do andamento... uma heroína?
Não... Furtou-me a idade, pérfida chacina
Mais que ter beleza, foi-se o ânimo audaz
Os fios brancos, e o amarrotado desgosto
Abarrotado de opaco, o intrépido se ver
Pondo no olhar, o luzidio de um sol posto
Chora, o dispor, que não faz então esquecer
Trêmulo no viver, de lágrima triste no rosto
Põe a confidenciar... que estou a envelhecer.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10 de janeiro de 2020 - Cerrado goiano
Olavobilaquiando
