Poesias de Gregório do Matos

⁠Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR, GREGÓRIO DE MATOS

Juízes de Igaraçu

Se tratam a Deus por tu,
e chamam a El-Rei de vós,
como chamaremos nós
ao Juiz de Igaraçu?
Tu, e vós, e vós e tu.

Que me há de suceder nestas montanhas
Com um Ministro de leis tão pouco visto,
Como previsto em trampas, e maranhas?

⁠"se souberas falar também falaras
também satirizaras, se souberas,
e se fora poeta, poetaras."