Poesias Carne
Entre o verbo da promessa e a carne da ação, reside o abismo onde muitas vezes naufraga a fé cristã. A fidelidade não se veste de intenções futuras, mas se revela na presente e constante conformidade com a sabedoria perene das Sagradas Letras.
A carne é franca o suficiente para não posar de espírito e renunciar aos prazeres que lhe cabem. O espírito sim, este é fraco, ao ceder às tentações externas e debitar na conta da carne.
Muitos são os desvalidos da carne e sequiosos do espírito... A Pátria do amor carece se estabelecer nos pilares da experiência corpórea, onde muitas vezes naufragamos, e abandonamos à orfandade, espíritos que nos são caros, na razão do nosso próprio crescimento... Muitos dentre vós, já são capazes de sentir e interpretar com beleza, a arte constituída no perdão e na humildade, na aceitação e no zelo, de tudo o que nos transpõe os limites da rápida matéria, outros porém, ainda se golpeiam em suas frustradas paixões... Quantos de vós ainda não conseguem perceber as luzes fulgurantes que se espalham na suavidade de voluntários versos, na sincronia de humildes notas que falam ao coração, e na movimentação singela dos corpos que bailam, sob as aspirações do espaço cósmico? É como compararmos um céu sem estrelas, com outro fortemente estrelado... Apesar de ser o mesmo céu, aos olhos da beleza fática e traduzível, um apresenta-se como uma simples imagem no vago desconhecido, enquanto o outro, meus amados, brilha aos olhos de quem contempla os seus vastos limites, na condição de pode-los representar... Estejamos convencidos do amor que o Cristo deposita em nossas vidas, e aceitemos com gratidão e respeito, toda manifestação que dele se fizer emissária...
As vezes me pego a pensar que o Criador é demasiado cruel conosco. Envelhece nossa carne e não envelhece nosso espírito.
Devaneios Reveladores - Na verdade, se nos fosse dado penetrar com os olhos da carne na consciência dos outros, julgaríamos com mais segurança um homem pelo que devaneia do que pelo que pensa. O pensamento é dominado pela vontade, o devaneio não. O devaneio, que é absolutamente espontâneo, toma e conserva, mesmo no gigantesco e no ideal, a figura do nosso espírito. Não há coisa que mais direta e profundamente saia da nossa alma do que as nossas aspirações irrefletidas e desmesuradas para os esplendores do destino. Nestas aspirações é que se pode descobrir o verdadeiro carácter de cada homem, melhor do que nas ideias compostas, coordenadas e discutidas. As nossas quimeras são o que melhor nos parece. Cada qual devaneia o incógnito e o impossível, conforme a sua natureza.
Era cruel o que fazia consigo própria: aproveitar que estava em carne viva para se conhecer melhor, já que a ferida estava aberta.
Se o Espírito está pronto, a carne é fraca: E entenda-se como tentação da carne não apenas o apelo exagerado do sexo, mas tudo aquilo que depõe contra o Ser.
Eu só queria que você soubesse que no meu corpo, além de carne e osso, tem um coração querendo que me amasse.
