Poesias de Augusto dos Anjos

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AMOR E RELIGIÃO

Conheci-o: era um padre, um desses santos
Sacerdotes da Fé de crença pura,
Da sua fala na eternal doçura
Falava o coração. Quantos, oh! Quantos

Ouviram dele frases de candura
Que d'infelizes enxugavam prantos!
E como alegres não ficaram tantos
Corações sem prazer e sem ventura!

No entanto dizem que este padre amara.
Morrera um dia desvairado, estulto,
Su'alma livre para o céu se alara.

E Deus lhe disse: "És duas vezes santo,
Pois se da Religião fizeste culto,
Foste do amor o mártir sacrossanto".

Inserida por PensamentosRS

Desde então para cá fiquei sombrio
Um penetrante e corrosivo frio
Anestesiou-me a sensibilidade
E a grandes golpes arrancou raízes
Que prendiam meus dias infelizes
A um sonho antigo de felicidade!”

“Meu coração, como um cristal, se quebre,
O termômetro negue minha febre,
Torne-se gelo o sangue que me abrasa,
E eu me converta na cegonha triste
Que das ruínas duma casa assiste
Ao desmoronamento de outra casa!”

“Bati nas pedras dum tormento rude
E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a alegria é uma doença
E a tristeza é minha única saúde.”

"Dizes que sou feliz. Não mentes. Dizes
Tudo que sentes. A infelicidade
Parece às vezes com a felicidade
E os infelizes mostram ser felizes!"

"(...)
Ah! Se me ouvisses falando!
(E eu sei que às dores resiste)
Dir-te-ia coisas tão tristes
Que acabarias chorando.

Que mal o amor tem me feito!
Duvidas?! Pois, se duvidas,
Vem cá, olha estas feridas
Que o amor abriu em meu peito.

Passo longos dias, a esmo...
Não me queixo mais da sorte
Nem tenho medo da Morte
Que eu tenho a Morte em mim mesmo!
(...)"

"Homem, carne sem luz, criatura cega,
Realidade geográfica infeliz
O Universo calado te renega
E a tua própria boca te maldiz!

O nôumeno e o fenômeno, o alfa e o ômega
Amarguram-te. Hebdômadas hostis
Passam... Teu coração te desagrega,
Sangram-te os olhos, e, entretanto, ris!

Fruto injustificável dentre os frutos,
Montão de estercorária argila,
Excrescência de terra singular.

Deixa a tua alegria aos seres brutos,
Porque, na superfície do planeta,
Tu só tens um direito: - o de chorar!"
(Eu e Outras Poesias)

Inserida por Filigranas

Prostituição ou outro qualquer nome,
Por tua causa, embora o homem te aceite,
É que as mulheres ruins ficam sem leite
E os meninos sem pai morrem de fome!

Por que há de haver aqui tantos enterros?
Lá no "Engenho" também, a morte é ingrata...
Há o malvado carbúnculo que mata
A sociedade infante dos bezerros!

Quantas moças que o túmulo reclama!
E após a podridão de tantas moças,
Os porcos esponjando-se nas poças
Da virgindade reduzida à lama!

Morte, ponto final da última cena,
Forma difusa da matéria imbele,
Minha filosofia te repele,
Meu raciocínio enorme te condena!

Diante de ti, nas catedrais mais ricas,
Rolam sem eficácia os amuletos,
Oh! Senhora dos nossos esqueletos
E das caveiras diárias que fabricas!

Augusto dos Anjos

Nota: Trecho de "As Cismas do Destino": Link

⁠Soneto aos meus pares

Pobre Augusto dos Anjos
Mesmo com o passar dos anos
Ainda confundem-te
Com teu eu-poético.

Pobre Augusto dos Anjos
Conheço os teus desenganos
Fostes tão jovem levado
Mas deixastes teu legado.

Pois, na podridão dos teus versos,
Esconde-se uma verde esperança
Da transformação humana, em cristãos belos.

A resposta nunca achada,
Só poderia ser dada
Quando na morte encontrastes, a substância primária.

Inserida por Anaiza3Durval

"Tua história se eterniza
A cada 20 de abril
Que a poesia se abriu
Para nos agraciar
Com o filho mais amado
O poeta secular
Em cada canto de Sapé
Augusto tua alma à de ficar."

Inserida por NicedesSilva