Poesia Toada do Amor de Carlos Drumond
Estou precisando fazer falta, sabe? Sumir, me afastar de tudo e todos. Porque lutar sempre sozinho machuca. Ainda mais quando falta reciprocidade na amizade e no amor.
Não apascente o espírito senão em Deus.
Despreze as advertências das coisas
e traga no coração a paz
e o recolhimento.
Na verdade, anuncio-me pela poesia. Por vezes, sou menos que o simples verso em que me invento, outras, muito mais que o maior dos poemas por onde me dissipo
Gostaria por um dia saber expressar a minha nostalgia em forma de poesia com rimas ricas sem usar o clichê do amor pra rimar com ardor na constante forma interminável do substantivo com substantivo, adjetivo com adjetivo e do verbo com verbo que me torna um servo do meu restrito vocabulário sem saber se uso as palavras de uma forma racional ou se é um sentimento voluntário na mais pura forma animal que age pelo instinto e ao mesmo tempo vestindo me com o manto da razão que devora insistentemente a minha devoção pelo culto do sentir e não pelo pensar onde apenas sinto o vazio das palavras lançadas ao vento frio que congela a semente da esperança e a impede de germinar no solo seco por onde a tempestade de sentimentos nunca mais regou com suas gotas deixadas apenas em forma de saudade e essa atrocidade perdura, açoita e nos torna impiedosos na forma mais obscura de enxergarmos a sinceridade que há dentro de nós e que nos faz divagar por entre as palavras ditas sem um real sentido em busca de algum objetivo para proporcionar a verdadeira forma de expressão em nossas vidas.
O poeta vive da poesia, as vezes sem esperar que no era uma vez tudo termine em felizes para sempre.
Enquanto aprendo a viver, escrevo para sobreviver. Sim, sobre viver. Pois sem a poesia, a vida perde o sentido humano.
CANTO DA ESPERANÇA
De João Batista do Lago
A sinfonia da insensatez em toda pressa
Reverbera o prenúncio de toda guerra
Imanência de estados totalitários
Sujeitando a honra de povos na terra
A nota colonizadora é a dó maior
Gerando mortandade com seus fuzis
Prostrando sobre a pátria todos os civis
Famélicos soldados do vão ouro negro
Até quando os senhores donos do mundo
Plantarão toda infinda desgraçada sorte
Subjugando toda uma nação até a morte?
Há de chegar o dia da nova esperança
Há por certo de se compor sinfonia nova
O mundo será jardim de almas crianças
VIGÉSIMO QUINTO HEXÁSTICO
porque igual assim me pretendes
não quero deste mundo fugir
esta dor é um bem que me dói
puro desejo de potência é
nego por fim teu prazer fátuo
melhor viver a dor ousada
QUADRAGÉSIMO PRIMEIRO HEXÁSTICO
Dou à tua nova carne sentido
Velhos e novos rios transportam
Verbos sacrílegos… parábolas…
ao poeta cabe encarná-los
dando-lhes luz às novas almas
sequiosas de novos saberes
A Eliot
O poeta ressurge das cinzas das horas
do niilismo absurdo, da sombra do mundo,
no fim da aurora.
Canoa virada, naufrágio profundo
do centro do abismo,
sem forma ou lirismo, anuncia o futuro.
Se pensa desiste, monólogo tão triste
enfado e desânimo.
Descansa do verso,
é um santo professo na prosa frugal
recita Homero, arrisca um refrão
desprezo fatal.
Não bebe mais vinho, não é abstêmio
sempre foi boêmio na noite discreta
amou sua musa, na lua minguante
não foi bom amante,
mas foi bom poeta.
Por trás da porta
Por trás da porta
A rua segue seu curso
Como um rio,
Pessoas descem
A água é o vento
Que as move
Passos distintos,
Caminhos iguais
São moléculas
Sem destinos
Poeiras outonais.
E eu atrás da porta
Sem coragem
De ir à rua
Penso no futuro
Mas o passado me espreita
Quem dera fosse largar
A rua que me espera
Mas a porta é estreita.
PRIMEIRO HEXÁSTICO
De João Batista do Lago
na república dos canalhas
Homero não se faria ser
não sentiria qualquer prazer
mudo graçaria pela hélade
feito poema sem virtude
carente da felicidade
SEGUNDO HEXÁSTICO
onde está o pão da vida?
— no sacrário do si mesmo
tu somente és único verbo
hóstia que se dá de si
e sendo da cruz do madeiro
o único cristo a resistir
TERCEIRO HEXÁSTICO
vida de infinda busca eterna
venturosa… enigmática… é
fio de navalha… é mágica
nada quer do morto passado
nada espera do futuro
dela sabe-se só o presente
QUARTO HEXÁSTICO
esquece a glória prometida
vaidade é tesouro pobre
resiste só ao instante fátuo
sucesso luta nobre é
revela assim sabedoria
sagrando a alma da poesia
QUINTO EXÁSTICO
não revela à toa o teu segredo
guarda-o no baú da tua razão
melhor não saberem dos medos
assim não te imporão degredos
falsos demônios anjos são
todos parados nos umbrais
SEXTO HEXÁSTICO
eis-me aqui sujeito póstumo
zumbi de deambulações
aedo de poemas tortos
catando esmos corações
ditirâmbico sem o báquico
hino para minhas orgias
SÉTIMO HEXÁSTICO
líquidos eruditos vãos
velhos discursos si produzem
ágoras de sós volatizam
logos e verbos pós-modernos
etéreos assim conduzem
infernos campos niilistas
OITAVO HEXÁSTICO
poetas líquidos não enformam
voláteis são vãs plantações
semeadas em campos estéreis
espigas de milhos sem grãos
debulhadas não dar para o pão
não mata a fome de inférteis
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp