Poesia Morena Flor de Morais
A beleza que eu vejo está escondida. De alguma forma eu a encontro. Talvez uma beleza que nem você sabia que tinha.
Não atendo mais pelo meu nome. Me reconheço só por uma palavra feminina. Se gritam-me na rua nem respondo. Tornei outra pessoa. Respirei ares de véu. Todos os homens respiram esse ar. Alguns tem medo de falar, gritar e, se escondem atrás de aparências agressivas e perturbadas. Muitos não sabem que quando amam uma mulher o nome dela vira o seu.
A única merecedora de minhas lágrimas. A única que poderia matar a própria sede com sal do meu corpo. As únicas que serão derramadas por ela, mais nenhuma. Por que a lágrima é interior, sentimento, saudade. E ela não vive mais em mim, mas vive. De alguma forma vive. Seja nas ruas. Nos livros lidos. Nos presentes dados. Nos cafés da tarde tomados. Nas salas de cinema beijadas. Nos pássaros cantores. Nas outras mulheres vistas e rejeitadas. Ela não é elas. Ela é única. Na noite deitada e lembrada. Porque o amor não faz no presente. Se faz no futuro, na distância que a pessoa está de mim e no vazio que ela deixou.
Nunca morremos do lado do nosso amor. O amor verdadeiro não está conosco. Se encontra no passado. Inventamos que amamos uma pessoa e que iremos amá-la só para suprir a ausência de um amor que nunca nos amou.
O amor é algo sozinho, solitário. Os outros não entendem a nossa dor, porque o amor deles não é igual o nosso. Cada um tem o seu.
Pra mim ela é a mais bonita do mundo, porque ela não é a mais bonita do mundo. Ela é mais bonita do meu mundo.
O pensar trás o ensinamento, eleva a capacidade de raciocinar, se torna mais sábio e formal. Ao pensar em você não fico sábio ou intelectual. Fico mais humano.
Toda vez que nos vemos, tenho a sensação de que nossos olhos se abraçam tão apertados que fica impossível respirar.
Eu encontrei o lugar onde reside a paz, e estou batendo na porta dessa morada. Não é na varanda do sol, o mar. Nem a cozinha da vida, as montanhas. A paz abriga-se em seus braços.
Tem vez que a primeira impressão faz escorrer uma lágrima até a boca e o gosto da salinidade trás consigo o rosto da tristeza, um rosto sem expressão e sem vida, confunde-se com a farsa que o tempo de momento esconde. Com o passar dos dias descobre-se que o sal era falso e cede espaço e sabor para o doce acompanhado da verdade.
Faça suas previsões. Crie estatísticas e esperanças. Mas no fim, perceberá que nós todos apenas atuamos nesse teatro da vida. Vivemos nos enganando, dizendo que somos livres, mas, somos ratos de laboratório.
Era para chegar, marcar e ir. Vivenciei o mais puro dos sentimentos. A brisa veio e levou, me arrancou da pior maneira possível, mas quando passou foi devagar, aos poucos, e ao partir olhei para trás e vi que aproximava-se uma tempestade que tentei correr. Foi mais forte, mais rápida e me alcançou. Até hoje recolho destroços do que foi um dos períodos mais turbulentos da minha vida. Mais turbulentos e mais gostosos do meu viver.
A sua mágoa aliou-se com o meu medo e me levaram. Foram covardes e juntos espancaram a minha felicidade, jogando-a depois no poço fundo e obscuro do meu vazio. Ao encontrar o seu fim desesperou-se com a água que começava a molhar sua cabeça e preenchia toda a solidão do poço. Agonizou-se ao ver que era a morte que chorava do lugar de onde vinha a luz.
Deusas não morrem, isso é a ordem natural do mundo. Evaporam-se em perfume no ar para que continuem a viver dentro das pessoas. Os ensinamentos e a marca de batom por elas deixados são inalados e transformados em vidas mais esperançosas, sábias, alegres e com algum sentido ainda em resto. - 8 de Março.
Igualdade está escrita nas entre linhas da palma da mão. O aperto entre elas não diferencia, aproxima.
Carrego as minhas companheiras que ao fim do dia, com a chuva de verão, lutam contra os pensamentos atormentados. Com os olhos opacos e sem esperança, sento no canto esquecido do quarto mofado e coloco-as na cabeça. Tentam rasgar o sentimento que está dentro do eco da toca, a saudade, que fura o coração e congela as veias. A falta de calor direciona para o inevitável, a solidão.
Vou deixar o meu silêncio ser levado pelo vento até ele bater na sua janela, entrar no seu quarto e nele ficar.
Saudade daqueles dias amanhecidos e abafados. De quando a envolvia em meus braços e ela presenteava-me com seu perfume sincero de meiguice. Ao abraça-lá um instinto despertava do simples. Era o mesmo que fazia-me caminhar a passos largos e ansiosos. Um instinto de proteção.
O difícil na vida não é entender as coisas complexas que ela nos impõe e sim as básicas. Pois se não conseguimos entender as coisas simples da vida como podemos entender as mais complexas?
Meu Deus é um deus sem limites de tamanho, e eu sou uma pequenina — e não apenas mais uma — nas mãos dele. E é pela fé que sinto isso.
