Poesia Felicidade Drummond
VIVA
Uma pessoa, um ser
Uma alma que habita em você,
Se não souberes viver
A melhor opção é aprender,
Pois se morreres
Os teus amados, ficaram para traz.
Sem nada,
Sem amor,
Por isto, eu o digo,
Aprenda a viver,
Pois se morrer,
Serás mais um sem vida,
Mais um sem valor...
( Meu primeiro poema ) 02-08-2010
SEXTA FEIRA SEIS
Á essa altura, O sol nasce
Já é hora de ir..
Não há seguranças ?
Desce elevador !
oito menos cinco
Se despedir
Sem infrações
Lembrarei desse nome
Sentir á essência
E sorrir pela memória
Suspiro á minha omissão
Do ser ingênuo
Quem crê nessa trama?
Da mais linda do hotel
A garota das tulipas douradas
pacote
... cada ruga, um poetar do tempo. Envelhecer é o embrulho do viver. Use papel da gratidão, assim, terás mais o que ser... do que só se ver.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
20/10/2019
Cerrado goiano
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
poeminha para as flores
flor são flores
são primavera
de todas as cores
haste da quimera
poetam os amores
amores à venera
as flores tão belas!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Maio, 2016
Cerrado goiano
CHOROSO SONETO
Daqui deste rincão do cerrado
Quisera de a saudade apartar
Mas os ventos só põem a chiar
Quimeras percas no passado
Não sou um poeta de chorar
Mas choro um choro calado
Amiúde e assim comportado
Paliando soluços no poetar
Tão menos viver pontificado
No sofrer, brado, quero voar
Lanço meu olhar ao ilimitado
E pelo ar vai o desejo represado
Liberando as fontes do amar
Livres e do suspiro desgarrado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
Ao mestre com carinho
Este Ser do livro, do saber, do ensinar
Que as nossas primeiras letras vêm formatar
É sábio que divide o que possui
Ao aprendizado contribui
Com amor, dedicação, coração
Sacerdote da verdade, abnegação
Ao pupilo a passagem da experiência
Os degraus da filosofia
As palavras, a escrita, a poesia
Do tempo, dos valores, da graduação
Obstinação incontida
Existência dividida
Com todos repartida
Que em nossa vida traz luz
Em nossa alma... “De truz”
Aqui todo o nosso louvor
Ao amigo, companheiro, professor!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
15/10/2010, 6’00”
Rio de Janeiro, RJ
Manjedoura
Recém-nascido na palha
Coberto de simples velo
De pedra e areia soalha
A chegada do Divino elo
É o Menino Deus encarnado
No fundo da pobre realidade
Mártir, Majestade, Filho amado
No estábulo fez-se verdade
Nem ouro reluz tanta conformidade
Nem a pobreza anuncia infelicidade
É o Salvador cicatrizando a obscuridade
Tem em si o caminho, toda resposta
Na manjedoura aposto, é fé disposta
Homem, Deus, na humanidade aposta
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
15/10/2010, 09’54”
Rio de Janeiro, RJ
AMO-TE (soneto)
Amo-te no meu maior, largo e profundo
sentimento da alma, é amor, mais nada
Te uivo no peito em graça entressonhada
onde paz, calma, faz-se em cada segundo
Amo-te no ringir da noite por ti poetada
que verseja a paixão de que me inundo
deste afeto que é o maior do meu mundo
num regozijo duma felicidade estacada
E é tão puro e é tão feliz e é tão fecundo
que as lágrimas são preces transfigurada
de fé ingênua e fausta, neste amor rotundo
Amo-te na pequenez de minha morada
tão simples, mas cheia de zelo jucundo
Pois tu és rogo da vontade tão desejada
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
ALGUNS VERSOS (soneto)
Alguns versos vazios, diáfano, me espiam
Atrás da luz natural do cerrado afogueado
Inquietos no quase nada do olhar fustigado
Em pé ao fundo da vastidão que os afaziam
Vejo o sol avermelhado, ali tão angustiado
Entre as quaresmeiras que no clarão, cerziam
Criando ilusões que nas saudades doeriam
Em silêncio, que um dia no peito foi tatuado
São letras ocas de um entardecer perverso
Que tenta brotar de um devaneio imerso
À tona em trova de lágrima da recordação
De fora do presente, tão vário é o universo
E eu pareço apenas durar no meu reverso
De cujo alguns versos escorrem da solidão
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, abril. 05'40"
Cerrado goiano
O que eu vou levar pra minha casa
Depois de passado meu tempo, quando na lista infindável dos dias impressos no calendário já não houver junhos para mim, de volta pra casa vou levar sem arrependimentos:
Muitos sorrisos que dei. Algumas risadas esparramadas nas conversas com minha mãe; detalhes do olhar que meu pai tinha sobre tudo; os laços que tenho atados aos meus irmãos; muitas músicas; a surpresa diante de qualquer pássaro. Diante de qualquer beleza que voa; o silêncio diante das belezas – que sempre foram minhas mais indescritíveis preces.
Vou levar alguns sábados à tarde, e algumas sextas-feiras inesquecíveis. E a lua.
Vou levar muitos textos que amei; as cores das flores e do céu. Vou levar pedaços bem grandes dos outonos e suas luzes mágicas. Vou levar meus amigos, tios e tias, primos e primas e minhas histórias de infância. Vou levar meu amor incondicional pelas árvores e pelo que há de mais pequeno e verde. Vou levar as pequeninas flores do campo e sua singeleza coberta de manhãs.
Vou levar minhas meninas margaridas, porque sem elas nenhum lugar será completo. Vou levar o que tenho sido e o que não consegui ser. Vou levar meus meninos – a filha e o filho que criei. Vou levar o barulho das águas que habitam o mundo das mais variadas formas até chegarem ao lugar em que, juntas, se chamam mar.
E do mar vou levar o cheiro. E vou levar as palavras, porque sem elas não há salvação.
Vou entregá-las a Deus e deixar que Ele escreva em mim o último, o derradeiro, o mais perfeito poema.
E que, assim, eu possa ver a verdade – que a morte é simplesmente o jeito que Deus tem de nos fazer poesia.
Bolero de inverno no cerrado
No cerrado, seco, o sol da manhã
Nos tortos galhos, o ipê, a cortesã
De um inverno, em uma festa pagã
Desperta o capricho do deus tupã
Degustando a aurora tal um leviatã
E numa angústia, o orvalho, num afã
Do céu azul, num infinito, de malsã
Craquela o dia no seu tão árido divã
Do duro fado, tão pouco gentleman
E tão árido, tal uma agridoce romã
E vem o alvor, com o frígido de hortelã
Bafejando poeira cheia de balangandã
Tintando a flora em um rubro poncã
Zunindo o vento tal um som de tantã
Num bolero ávido por um outro amanhã...
São gemidos, uivos, sofreguidão
Correndo pelo sulco do cascalhado chão
Emergindo desse pântano, ressequida solidão.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, 27 julho 2018
Brasília, DF
matiz
arco íris no cerrado
está sorrindo o céu encantado
que há pouco chorou, aperreado...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2016
Cerrado goiano
Decepção à Regra
Sentar-me e
ver os outros passar é o
meu exercício favorito. Entretém.
Não esgota.
É gratuito. Neste meu jogo-do-não
são os outros que passam
(é aos outros que reservo a tarefa
de passar). Lavo daí os pés.
Escrevo de dentro da vida.
Pode até parecer que assim não
chego a lugar algum mas também quem
é que quer ir
ao sítio dos outros?
sinto muito calça jeans
parece que seguiremos
tropeçando juntas em nossas
costuras mal-ajambradas
enquanto ainda coubermos uma na outra
e o tempo
condoído
ainda couber em nós.
COMO CORTAR RELAÇÕES
Às vezes tesoura cega basta
noutros casos é preciso usar os dentes
o fio de uma peixeira a minúcia
de um canivete suíço
às vezes a substância é tão frágil que
com a ideia de um corte se desmancha
noutros casos há que cortar os mares
Milhares de passageiros
Milhares de passageiros
Com suas vidinhas insignificantes
Com um amor insignificante
Com amigos insignificantes
Chorando por suas vidinhas,agora
Levados um a um a guilhotina
Para um rei adora-te
Seu intrometimento infantil
Um rei cruel e mau
Alguns temem sua volta
Se voltar
Um rei mimado e mal
carnívora
a saudade não nos engana
sua chegada
faminta e soberana
só traz dores gigantes
no vinho carraspana
amantes mais que antes
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
A vida é feita por nós;
Nós que amamos;
Nós que choramos;
Nós que rimos;
Nós que criamos;
Nós que destruímos;
Nós que nos atam;
Nós que desatamos;
Nós que nos unem;
Nós, que vivemos
a procura de nós...
você é meu maior confessionário
ontem, hoje e pra sempre
que o mundo se acabe,
menos a gente
- confissão
Preparem minha filha para a vida
Se eu morrer de avião
E ficar despegada do meu corpo
E for átomo livre lá no céu
Que se lembre de mim
A minha filha
E mais tarde que diga à sua filha
Que eu voei lá no céu
E fui contentamento deslumbrado
Ao ver na sua casa as contas de somar erradas
E as batatas no saco esquecidas
E íntegras.
