Poesia do Carlos Drumond - Queijo com Goiabada
BORBOLETA (soneto)
À flor de lobeira do cerrado, azulada
Voa a borboleta erradia lentamente
De asas tal multicor do sol poente
Num dueto de um balé na estrada
É tão imponente e é tão refulgente
No horizonte rubro, em uma toada
Que hipnotiza o ver e mais nada
Doidejando o encanto da gente
Só a flor, o que importa, a ela atada
Somente! E ao seu redor indiferente
Onde ali, a vida se faz multiplicada
Neste valsar vaporoso e inocente
Do diverso do cerrado camarada
Borboleta em voo, é o belo ingente!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
FRIO (soneto)
Arrefece o cerrado dentro do frio
E cada bafejo é o frio no caixilho
Da ventana, escorrendo no ladrilho
Mais frio, n'alma causando arrepio
Me encolho neste frio chorrilho
Que ascende o inverno em feitio
Ouvindo em anexo um assobio
Do vento, eriçando até o fundilho
E lá fora é frio que atulha o vazio
Cá dentro o gelado em trocadilho
Em coro com o friasco tão bravio
Sinto chiar na vidraça num gatilho
De frio, sombrio este tal tão vadio
Aquentado com o chá e sequilho
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
EXORTAÇÃO (soneto)
Devaneia, poeta! Sonhar sossega a mente
entorpece o sentimento perverso do ser
a poesia mais que ideal do sublime viver
trazendo o profundo da alma vorazmente
Sonha, poeta! Assim terás mais que ter
no infinito, sendo tudo indefinidamente
exortando a vida, num amor semente
onde o prazer é mais que querer valer
Olvida tudo, fugaz é o tempo da gente
tão rápido quanto outrora foi o nascer
que agora o passado se faz presente
Se o fado pouco ou nada pode trazer
leva tu, e não seja na ilusão indigente
pois existir no sonho sonhado é vencer
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
RODEIO DO TEMPO
Sinto o vento áspero que repousa em mim
Na noite do cerrado, entre o céu e o chão
Bafejado do horizonte, imbuído na emoção
Desfolhando a poesia enroladas em cetim
Sinto o solfejo do inverno de julho, então
Me cubro com a brisa de sonho carmim
Corrompendo o fado, e erguendo jardim
Criando quimeras no alquebrado coração
Meu corpo é alado tal ficção de folhetim
Dessangrando nas saudades de paixão
Suspirando os reveses deixados no fim
Fecho os olhos e me vejo na imensidão
Da captura, breve, tal ledices de festim
Deste rodeio do tempo, cheios de ilusão
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
O MEU POETAR (soneto)
Eu poeto porque sou prosa
Brindado no redigir o brado
Trilhando os trilhos do fado
De poesia e alma amorosa
Poeto como quem é atado
Aos versos. Sede preciosa
Se suspiros, arte dolorosa
Que imergem do eu calado
Poeto com a voz corajosa
Do amor à vida, indomado
Sem amarras, força curiosa
Canto os devaneios, alado
Tal o perfume de uma rosa
O poeta mineiro do cerrado!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
BIOGRAFIA DOS MEUS VERSOS (soneto)
Estes meus versos simplistas versados
Que aprenderam a poetar pelo cerrado
Choram, riem, entre o trovar suspirado
Suspiram e pelas rimas são moldados
Os meus versos que um dia tão calado
Voam sujeitos feitos apalavrares alados
Desenhando talhos, pouco rebuscados
Mas que do coração quer ser consolado
São versos adolescentes, e apavorados
Que tentam o encanto pra ser encantado
Tão contentes e, leves pra serem levados
Estes meus versos, no vário devaneado
Tantas outras vezes no peito silenciados
Agora vão, encenados no palco do fado!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
MATUTINA (soneto)
Na manhã matutina do planalto
Vagueia o horizonte tão rubente
Numa dança de cor em contralto
Cintilando o azul do céu nascente
Ultrapassa os jardins do asfalto
Sem esquinas, nuvem ausente
No espetáculo como ponto alto
Riscando o cerrado num repente
E o vento chia, é julho, tão frio
Brasília de curvas retas, feitio
Sereno, num panorama pleno
Rompi o dia em arauto gentil
Ipês floridos, de sertão bravio
E amanhecer nunca pequeno
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Planalto central - Brasília
TOCAIA (soneto)
Dói-me esta constante tal espera
do que já não mais tem donde vir
que o desejo insiste em querer ir
aguardando na ravina da quimera
Doí-me uma dor insana, há existir
a cada alvorecer duma primavera
da ausência, da saudade, sem era
e do que não se tem, e quer pedir
Dói! O tempo a passar, eu quisera
poder nele estar e ali então devir
chorar, alegrar... ah! se eu pudera!
Como eu não sei como conseguir
a tocaia no peito se torna megera
e a alma romântica se põe a fingir
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, 15 de julho
Cerrado goiano
FOLHAS SECAS (soneto)
As saudades das lembranças não feitas
Acorrentadas no passado e não dadas
Perdidas, sonhadas e até tão desejadas
Assim, para a indagação, são estreitas
E no como seria, são apenas fachadas
Tal como viscosas felicidades suspeitas
De possível outro rumo, e boas receitas
Na ilusão do tempo, por suas chegadas
O ser humano e suas incríveis emoções
No ter e querer um prumo de intenções
Quando o amor é espera em movimento
Encanta-me a ação da vida, as razões
As utópicas e inúteis e frágeis aflições
Todas, folhas secas, levadas ao vento...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
ALADOS (soneto)
O largo cerrado é um efeito alado
De asa tingida e horizonte intenso
Duma flora varia e chão rebelado
Encarnado em um céu tão imenso
O teu cheiro num diverso intenso
Acoplam o raro em sinal denodado
Feiticeiro, espantoso e tão denso
Em um plural do árido cascalhado
Onde vemos empoar os passos
Entrelaçados entre tortos traços
E prados de dourados alumiados
Aos poucos sucumbimos por ele
Num pouso instável, caindo nele
Suavemente, de encantos alados
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
Caminho no cerrado entre o perfume das flores e os sonhos...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano
Julho, 2017
AFORA DA JANELA
Plumas de nuvens no céu profundo
De Brasília, alvos lençóis esvoaçantes
Se desfazem num piscar do segundo
Ao sopro dos áridos ventos uivantes
Ali, acolá, riscando devaneio facundo
Na imaginação, e sempre inconstantes
Vão e vem tal desocupado vagabundo
Ilustrando o azul do céu por instantes
Em bailados leves e soltos, voejando
Na imensidão do horizonte em bando
Vão em poesia na sua versátil romaria
E num ato divino, faz-se o encanto
Tal como flâmulas por todo o canto
Tremulando no cerrado com euforia
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Brasília
CERTOS VERSOS (soneto)
Letras ranzinzas de certos versos
Olham no vazio do papel em branco
Nodoando o imaginar nele dispersos
Do alquebrado fado em um tranco
O amarelado do tempo ali imersos
Adentra a saudade no peito manco
Rindo e chorando em tons diversos
Em um alvoroço dum soluço franco
Onde estariam tais agrados reversos
E assim o versar sair deste barranco
E então deixar de serem perversos
Ah! Rumo sem margem, sem arranco
Que cria na alma nublados universos
Deixando o sonho nu e sem tamanco
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
SAUDADES DO RIO
Rio, de longe, uma saudade
Amizade, eterna recordação
Das cidades sua majestade
Tu pulsa no meu coração...
Tuas ruas, varia a felicidade
Vivo bem longe, de ti solidão
No bem querer, divindade...
Se algum dia voltar, será enfim,
Pra nunca te deixar,
E bem junto há ti. Ficar assim!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
CANÇÃO MÍNIMA
No cerrado do planalto
brotam quimeras de cetim
E, no teu traçado, asfalto
canteiros, em um jardim
E, no jardim, o horizonte
ao longo, ilusão sem fim
Assim, Brasília, sem monte
desabrocha na cor carmim...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro, 2017
Cerrado goiano
SOMOS TODOS IGUAIS
Iguais somos todos
Na alegria, no choro
Medos e nos denodos
Pela vida, com ou sem decoro
Nos inícios e nos finais
Na mudez e no coro
Somos todos iguais...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
07 de outubro, 2017
Cerrado goiano
Grito (do cerrado)
Corações cerrados
devaneados
no chão vivido
torto, ressequido
árido
e empoeirado.
Que crasta
arrasta
queima
sem dilema...
Pari alarido
sofrido
num socorro
caldorro
de miseração,
num grito a destruição...
Chora o cerrado
devastado.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro, 2017
Cerrado goiano
UM DE JULHO (soneto)
Se sois, inverno, no cerrado se sente
De tempos frios com tal bravio vento
Que tomais a secura como elemento
E neste movimento, és inteiramente
Nuvioso,horas breves, chão sedento
Da mesma natureza, e tão diferente
Dias vão que passa no fugaz poente
Rubente o céu num encaixotamento
E desta vida em tudo ó mês valente
Sê da metade do ano, planejamento
Férias breves do docente e discente
Como do calendário és afolhamento
E teu entardecer não mais reluzente
Tudo em vós, julho, traz sentimento
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
SILÊNCIO DO CERRADO
Difícil empalhar o silêncio do cerrado
Desafinado, singular num trans feitio
Ruidoso e calmo, tácito entrelaçado
Arranhando o árido com fino assobio
Chorando no torto galho ressequido
Da inação do sertão de hábito gentio
E nesta tão apatia, rebusna o perfume
No olhar: calado, rumoroso, cheiroso
Que no mormaço é em alto volume
Na imaginação um tempo moroso
No horizonte um suntuoso cerume
E na surpresa, mesclado e glorioso...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Dezembro de 2017
Cerrado goiano
SONETO DA PERDA
Nuca eu quisera desejado tal saber
Dizer com a dor um adeus querido
Erigindo com o dano choro balido
Fugindo com a harmonia do viver
Dó é arrancada do pesar instituído
Saudade deplorada de não mais ter
Que somente lembranças há de ver
E lágrimas no suspiro do vil contido
Some, e põe o amor tão triste... Ser
Sorriso suspenso, prazer em gemido
E a noite tão distante do amanhecer
Nunca ninguém pela perda ter podido
Dói tanto, tão dolorido, a permanecer
Que no sentido, o desalento é definido
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
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