Poesia de Desabafo de Vinicius de Morais
O quadro vivo
Eu gosto de olhar pela janela do quarto.
A janela alta do meu prédio
e olhar.
Ofusco-me nas luzes horizontescas
pitorescas da noite sublime,
distantes e borradas de rímel.
A agonia começa no cômodo
de cunho pensante.
As luzes lá da frente não se apagam
aqui as paredes se esfriam
cada vez mais
cada vez mais necrosadas.
O olhar alcança a floresta tempesteira por raios,
logo atrás dos borrões nos postes,
da torre da igreja crucificada,
dos borrões amarelos ambulantes,
os da ida e vinda
os da volta e partida.
Alguns piscam, outros param,
muitos voltam
(Esqueceram as chaves de casa, a camisinha, o próprio aniversário)
Os pneus queimam o asfalto,
sinto cheiro amargo,
deve ser a torradeira avisando que o sol apareceu
e que eu esqueci de dormir,
deve ser de manhã, o sino vai tocar
e eu permaneço olhando pela minha janela
com meus olhos pintados por lápis preto,
ambos em volta preenchidos pela cor viva
o negro.
Durmo sem saber que horas são,
não sei, porque ainda não dormi.
Borracha Concreta
Amor com
sapato ralo,
nós no ato
juntos de cadarço molhado,
minguado lá atrás do solado
de aço. Intenso amor barato
no aro que eu fico cruzado e
excitado pelos pés com o tato
Os pensamentos que eu Refleti
Todos os livros que eu li,
todos os versos que eu não escrevi,
todas as poesias que eu esqueci,
todo o mundo que eu me perdi
e todos os amores que eu parti,
estão ainda aqui.
Todas as garrafas que eu bebi,
e cigarros que acendi,
todos os casamentos que eu pedi,
toda minha vida que eu vivi,
e todos os corações desenhados pra ti,
juntos com aquelas flores que eu colhi,
estão por ali.
E as mortes que eu ainda não morri,
andam a me seguir
no passeio que eu corri
lá na casa que eu construí,
da mulher que eu vim,
nos dias que eu amanheci,
nas noites que mal dormi,
e em todas às horas que eu sofri.
Mesa Formada
Me deem uma garrafa de vinho
batata palha
requeijão
creme de leite
frango desfiado
e um amor para poder dormir no frio.
Bula
Aviso para os seguintes sintomas.
Se você estiver com:
Tremores no corpo,
suor exacerbado nas mãos
frio na barriga,
complexo por medo de rejeição,
falta de ânimo,
alucinação.
Batimentos cardíacos acelerados,
cegueira incontrolável,
tato arrepiado,
impaciência,
aumento do ritmo da respiração,
tontura e sonolência,
escassez de ar,
isolamento
e preocupação.
Ataques de risos inexplicáveis,
juntos com ansiedade,
combinada com impulsividade.
Atenção!
Corres um grande risco de se perder.
Por quê? Cuidado.
Estás completamente apaixonado,
de coração.
Todos precisamos mergulhar dentro de nós mesmos
e encontrar o nosso próprio caminho
as vezes reorganiza-lo
outras vezes refaze-lo
Descansar para se reciclar é imprescindível.
Tenho Meus Motivos para Dormir Tarde
Sentir a paz das pessoas,
não ouvir nenhuma voz, só pesadelo,
em cima do prédio bem grande
e subir no terraço descalço, guiado pelo vento,
refletir em sintonia com o escuro derradeiro
desenhar debaixo da cama monstros
com papos enormes, esmiuçados
pelos pijamas de ursinho da criança
curiosa que o puxa pra dançar,
com os cabelos tocados ao chão,
só por desejo e tentação
da proibição de dormir tarde dos pais
"Ele te pega filhão"
tomar antidepressivos com vodka
muita vodka, o máximo de embriaguez
possível com doses de procura,
vontade
de dormir depois que o sol nascer,
lembrar do zelo geado nas árvores
sobre a pessoa que me deu bom-dia
enquanto eu comia pão-francês
na padaria da esquina, ao lado do boteco
de cerveja barata.
Acordar alguém de propósito,
receber ofensas junto com os
uivos dos lobos ou cães de estimação,
medo de bala perdida, há muito ladrão,
assassino de inocente.
Sou um vigia do ócio, não por peregrinação
sem contrato ou negócio,
movido por castigo da solidão.
Estou livre, tenho nove anos
e nenhum pai ou mãe pra xingar,
faço traquinagem olhando
a janela da vizinha com insônia.
Escuto apitos da polícia contra
os baderneiros bêbados
encerrando assim a sinfonia da madrugada
com meu bocejar cansado
do dia penado,
Depois de revirar e me achar,
procurar companhia na fantasia,
sentir-me completo, ouvir o primeiro
sino da igreja a chamar o morador
que gosta de café quentinho,
condiz com sua tradição
de interior.
Escutar o galo, mesmo na cidade,
cacarejar bem forte
pra bola de fogo raiar.
A maior raridade da terra e,
o mais precioso cantar.
Nada é concreto,
Tudo dá pra poetizar.
De Cara na Porta
Toda vez que tento ir à sua casa
sinto que seria como escrever,
foge da minha compreensão.
Um sentimento abstrato,
uma ousadia no vácuo,
grande insistência no inato,
tentativa de reconciliação.
A borrifada de ar no meu rosto marejado
despertado no vazio
entender que não consegui o perdão.
O jeito sempre é voltar pra cama
e dormir sozinho,
no frio e solitário colchão.
O Presente não Dado
Ao pé do fim do morro,
com o mais fino embrulho,
carregava embaixo do braço
um presente não dado
que eu há anos afundo.
Fazia tempo que pairava
que até a cor perdera.
Na minha estante repousava
junto com o medo de ir entregá-lo
para a pessoa que o merecera.
Agora, encontro-me debaixo de chuva,
no início do morro íngreme,
tentando encontrar palavras
e dizer para a menina matuta
o tanto que ela me inspire.
O embrulho é prateado
bem, era.
A água revolta tratou de deturpá-lo,
junto com o tempo adiado
com isso, das minhas lembranças levado
na correnteza foi para o ralo
que de cor ficou apagado.
Menina, me perdoe por antes não ter falado
que eu tinha um presente guardado
lá na estante empoeirada
feita de madeira, no meu quarto.
Sinto que consegui ser amaldiçoado
pelo fracasso de amar.
Se agora choro, fustigo meu coração.
Amasso-o como um padeiro trabalha o pão.
Sou aspirante a poeta, menina bonita, peço perdão,
pela falta de fala expressa pessoalmente,
e o grande número de escritas correntes
no papel escondido na gaveta da minha prisão.
Voltei todos os dias pra casa,
hoje também voltei.
Com a mão firme, cheia e suada
carregando o presente que nunca dei.
Recoloco-o na estante mais uma vez.
e deito ao relento da noite
me odiando por todas às vezes que fraquejei.
Amor Bobo
Me nutro por amor bobo.
Engraçado e recheado
todo colorido palhaço
e tolo.
O que é motivo de chacota
o famoso casal que sente a beleza no olho.
Amor que faz pessoas sorrirem
por ser inacreditável
impossível de ser amado.
É, aquele bobo,
pro outro invejado.
Amor gostoso
igual café com bolo morno.
Gosto de amor bobinho
simples e ousado
a bobice que debaixo das cobertas
esquenta o frio exato.
Juntinhos, sem maldade,
amor que é completo, de graça
e que não se paga.
A falta de preferência
pela medíocre aparência
para ambos baterem asas.
Ah, como é bom amar,
ainda mais se o amor for bobo
por nada.
Ave ufana de Pátrias
Araponga sem-vergonha,
fica nas restantes árvores escondida
gritando aos setes ventos
uma rima forte e partida.
Araponga brincalhona
na janela do ferreiro.
Cata verme e compete,
canta por doçura e brinquedo.
Se o martelo bate no ferro
sua mãe é esverdeada
o pai branco como geada
tu só poderia ter nascido,
no litoral das terras salgadas.
Se agora eu apanho
na Mata Atlântica,
ou no interior do continente
o fruto no chão,
todo sangrado e ferido,
entendo um bocado,
a falta de comida
e sua perseguição.
Araponga voe livre
para longe inclusive
de toda à prisão.
Sua liberdade imponha,
é seu direito em ser viva
e tocar às pessoas
com seu murmurejar marcante.
Araponga inesquecível,
sem-vergonha.
Por que sentes dor?
Não sei! Se eu fosse detentor deste conhecimento, ia lá no fundo,
lá no motivo inicial, o ponto de partida
e entenderia sem pestanejar o porquê de tudo isso.
Entenderia, não com a intenção de findá-la ou
retirá-la com as mãos da terra que é meu corpo
arrancando com raiz, caule, verme e pétalas
mas sim para afrontar os meus medos e desejos
e descobrir o motivo no qual escrevo
e entro em seguida no desespero.
Porém, este entendimento, tenho pavor em conhecê-lo.
Posso deixar de poetizar pelo simples fato
de ter elucidado a causa mais íntima,
que briga submersamente para que permaneça no anonimato,
e só saia em forma de poesia.
É por isso que tenho essa dor crônica
pelo fato de que eu nunca me esforcei para encará-la de frente.
Não tenho a pretensão
de ser sabedor do motivo pelo qual dói
e em seguida olhar o medo que tanto me encoraja
e saciar o desejo que tanto me impulsiona.
Desde modo, nunca conseguirei responder essa pergunta.
Minha dor é dos papéis e das declamações
minha dor é relógio na madrugada que fofoca às almas
os nuances sobre o dia dos vivos
é linguajar popular acessível a todos.
Minha dor é um código indecifrável de palavras
que não perco tempo em decifrá-lo
apenas em escrever o que é necessário
para que essa dor continue a pulsar forte
e me inspire até o dia em que eu for embalsamado.
Brincadeira de Hora em Segundos
Lá, lá atrás do tempo
criou-se um descontento
Isso? Há muito me lembro
pungir o vento,
nas costas das horas
que estavam distraídas lendo.
Não sei se gostavam
porém achavam-se atentas
pararam até os ponteiros
que todos os dias andam pela sala,
passam pela cozinha
pelo quarto, voltam pra sala, e sentam.
Os números que formam o dia e a noite
o nascer e o crepúsculo
pairavam no ar escasso e cortante
e usavam grandes óculos escuros
em cima do muro,
comiam um maduro fruto
olhando o poço fundo
do mundo.
com os olhos vendados
filtravam o brilho deste tempo
o tempo rodante,
no espaço barulhento
o tempo passado, o tempo pequeno
desesperado e frêmito
por atrás deste paciente poema lento.
O Visto Eterno
Te amo infinito
no coração afinco
dentro do corpo nutrido
e pela alma, excluído.
Tudo excluído
foi tudo perdido
o passado era aquilo
um dia partido
na surdez do ouvido.
Quando te vi
foi lindo,
inventou o calor
que eu não elimino
até agora zelado
por anos, mantido.
Neste tempo promíscuo
sonhei em beijar-te a boca
com o lábio mordido
por dente de mimo.
Sua roupa em alinho
o sangue na veia
permeia o seu rio
corre líquido mítico
me dê vida
em sede de bico.
Agora, pode chegar
o dia de ir, não vivo
nem uma hora a mais
nem menos que isso
por motivos próprios
por dentro, há sinto.
Medo de Cores
Há noites no qual sinto vontade
de me trancar em um quarto de hotel
e suicidar com o meu próprio medo.
Por causa do tempo isolado,
longe de tudo e pelo desajeito
ao deparar com algo branco, afastado
feito para inventar uma passagem do inócuo dia.
Uma forma concreta, um quadro
e nele pintar um sentido reto de linha
para criar de passo em passo
uma obra de arte, a vida.
Lavra as Almas
No início da fria madrugada
ao telefone com a minha amada
e ela com sono já despedindo
a disse que algo bom estava vindo.
Acalme-se coração apressado
há tanto tempo no relógio a rodar.
O dia no céu permanece guardado
em vem a chuva pra gente se amar.
O barulho por nós admirado
no momento em que tudo era são
criou-se um aconchego desejado
a orquestra do amor havia tocado,
enquanto as árvores balançavam
e batiam os galhos ao invés de mãos.
A lua mais linda desenhei
As estrelas mais belas para ti guardei
E agora neste céu as coloquei
Para que o meu amor sempre esteja com você
Não somente em meu coração
Mas em tudo que se possa ver
Eu te amo
Te amo você...
É esta lua que me fascina
As estrelas que me encantam
É o seu beijo de saudade
Onde a alegria se faz rir
É a felicidade que sobrevém
Na inocente vontade de ser feliz
E ao entender
para que o meu beijo possa ter
Eu terei que te amar
Te amar você.
É com esta saudade ao escrever
relembrando o teu beijo
que quero novamente ter
nos perguntamos o porquê
se nos amamos e juntos não podemos viver
no meu coração o seu lugar ainda existe
e nunca que irei preencher
esse lugar que ainda guardo para você...
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