Poesia Completa e Prosa
MEU POEMA
Meu nome é Lucas
Estou de alma lavada
Lógico, porque não?
Sou cristão
Humilde de coração
Não sou perfeito
Busco aprender com erro
Hoje é meu aniversário
Fiz vinte e seis, com cara de dezesseis
Sempre me pego pensando em meus futuros planos
Não conto nem para o vizinho
Só para Deus, meu melhor amigo
Sonhador e intuitivo
Tenho machucados
Já estão cicatrizados
Por dentro sempre serão lembrados
Não posso ser vulnerável
No entanto
Sou homem
Choro e amo
Sou ser humano
Estilo diferente
Amante de leitura, filmes e cozinha
Bom de papo e bom de rima
Te garanto sua risada
Uma conversa prolongada
Astrologia, psicologia, biologia
Sei de tudo um pouquinho
Tenho até um filho
Nome Bernardo, ele é lindo
Estou disponível para sermos amigos
Como todo mundo
Tenho requisitos
Se o seu for dinheiro e beleza
Arrasta para cima
Segue sua vida
Paleta de Mentiras
Minta até o que você quer que seja verdade se torne verdade.
Minta até você não poder se lembrar do que é mentira e do que não é.
Minta até não estar mais mentindo.
Há beleza na mentira, como em um doce e amargo "adeus."
Valorize sua paleta de mentiras.
Foi um estratagema que você criou.
Quanto maior sua eficácia,
Melhor a forma como também passa a encantar o próprio artista.
Aroma
Tudo cheirava dúvida naquele instante, seu olfato se calou e
seu mundo não representava nada, pois cheirava a coisa nenhuma.
Tirou o vestido, que transpirava ninharia, tomou um banho
que não aliviava e a insignificância escorreu pelo ralo todo o seu
perfume.
Seus cabelos molhados, banhados, esfriavam suas costas e
não exibiam a espuma de seus sentimentos.
Passou maquiagem que não enfeitava nem migalha, o
instante da folia, do carnaval, no colorido de amar.
Espalhou, vitrificando seu corpo, um creme, e ele recolheu
seu perfume, não exalou seu bálsamo.
Os caminhos de suas curvas exibiam solidão.
No isolamento sobre a cama, um vestido novo com etiqueta
tentava dar vida e fragrância à nova estação de sua vida.
Vestindo tudo como novo, não havia cheiro de loja nem
recomeço.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
“Tudo passa, tudo voa, a vida é vento, é brisa, aroma, pétala
de rosa que cedo tem viço e perfume e, a noite, murcha, perde
a cor num momento à-toa.”
Augusta Faro
Sem licença para voar - A rosa e o anjo
Num jardim onde a cidade passava havia uma Rosa, beleza
única, perfeita, reativada, aveludada, em haste cheia de espinhos.
Entender e recolher uma Rosa e se arranhar num caule
espinhoso para viver somente uma primavera de dias, era mais
fácil deixá-la se exibir no seu jardim, apreciá-la ao longe, do que se
espetar em dúvidas e lamejos.
E assim ficou a Rosa no jardim, ora botão, ora Rosa,
despetalando sozinha, exalando seu perfume em vão, presa em um
chão hermético e imutável.
“Rosa, Rosa, um dia você se apaixona.”
Não andava, mas o mundo se transmutava em sua frente, e
ela, opressiva, presa, escolhe e colhe.
Todos passavam desavisados e a Rosa escolhia.
Rosa queria asas.
E o jardim dizia:
”Para sair do chão, voar e conhecer outras flores, o canteiro
que Rosa fundou raízes em nada vai perfumar e vai esfriar. Vamos
revirar retirar suas raízes para encher e ocupar sua paisagem com
outra muda onde Rosa floresceu.”
Próximo, um anjo passava todos os dias, de asas abertas em
código de quem voou e aterrisou em turbulência, mas obedeceu às
ordens dos céus.
Rosa viu e queria as asas do Anjo.
Tentou impressionar, também abriu suas asas em pétalas
querendo alçar vôo, mas as raízes do jardim a seguravam e diziam:
“Se voar vai virar folha e pétala seca, vai morrer.”.
Todos os dias, todas as horas em que o Anjo passava, pensava
em se fazer presença, abria também suas asas em pétalas e exalava
seu perfume.
O Anjo não via, era mensageiro, carteiro, tinha dever e não
percebia seu perfume no burburinho do jardim.
Amanheceu.
Anoiteceu.
E a Rosa aconteceu.
Saiu do caule em madrugada esfriada, sem luta, abriu seu
tecido, suas pétalas, e as pregou em espinhos, como couro, para que
curtissem no choro do amanhecer, junto dos sonhos da noite.
No dia seguinte, ao florescer do dia, costurou seu tecido com
pistilos em pontos pequenos, juntos, ligando tudo ao imperceptível.
Revestiu-se daquele sentimento e foi comprar do Anjo uma
asa para voar.
Subiu aos céus, onde morava, com poucas e velhas moedas
caídas no jardim, mas com muito perfume. Ascendeu em seu vestido
longo exalando perfume, deixando todos extáticos e tontos com seu
cheiro, tropeçando pelo jardim.
Chegou aos céus e pediu ao anjo:
– Quero asas brancas como a verdade, impermeáveis como
folhas, longas como uma viagem e douradas como os sentimentos.
Ele a olhou. Tinha voz aveludada como seu vestido e um
perfume machucando seu coração. Se fechou e disse:
– Vendo asas, somente asas.
– Posso escolher?
– Não há o que escolher, só vendo asas. Você tem licença
para voar?
– Não, não tenho, mas o meu perfume tem e a imaginação é
dona dos céus.
– Não gosto dessa conversa, quero ver sua licença.
Desenrolou seu pistilo, os enrolou no dedo e as pétalas se
desprenderam, perfumaram, e ele se apaixonou com a verve de seu
flanar.
Ela tinha muitas asas, leves ao sabor do vento, mas sem
direção.
– Posso me aproximar? – disse o Anjo – Te faço uma asa, mas
quero de ti um beijo.
E o silêncio tomou conta daquele instante. E tudo que voava
e cheirava parou.
Ela ofereceu sua boca carnuda e ele a abraçou com suas asas,
e tudo virou ventania que se perdeu num beijo, num vento que
levava pétalas de Rosas como tivesse asas e licença para voar.
As pétalas voaram tontas como verdades reservadas, como
sentimentos feitos de um flanar desavisado, seco e dourado como
aspiração
“Várias pessoas que tiveram a experiência choravam
desorientadamente, pois amavam o amor somente,
sem achar alguém para receber tamanho afeto, que
labaredava, chamuscando cada junta de corpo, veia
por veia, músculos, ossos e tutano e, assim, todas as
moléculas moles e duras do corpo e da alma.”
Augusta Faro.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
Manhã
Uma manhã qualquer
Um silênciodegustante
De quem devora a própria vida.
O amargor que desce é rompido
Pele estalar das cordas Grunhindo,
No clamor do pare.
Mais uma manhã,
Fria em seus tons de cinza
Onde o cobertor não mais aquece.
Pequenas gotas caem
Pela janela, pelos olhos
Na timidez de quem só se apresenta
Sem pretensão de ficar.
Nossa relação com o tempo é uma luta
e nossa luta pela sobrevivência,
é mais o medo do que irão pensar
se não acompanharmos
o sucesso material dos outros,
que achamos ter relação com o Atemporal,
na medida em que imaginamos um deus servo,
que cede às nossas chantagens,
acata nossas promessas e elogios,
compreende nossa ambição,
e se compadece com essas lágrimas de um "coitadinho".
Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor,
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um Senhor...
Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...
Ser mulher, e oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!
Lembranças
Teus retratos — figuras esmaecidas;
mostram pouco, muito pouco do que foste.
Tuas cartas — palavras em desgaste,
dizem menos, muito menos
do que outrora me diziam
teus silêncios afagantes...
Só o espelho da minha memória
conserva nítida, imutável
a projeção de tua formosura,
só nos folhos dos meus sentidos
pairam vívidas
em relevo
as frases que teu carinho
soube nelas imprimir.
Sou a urna funerária de tua beleza
que a saudade
embalsamou.
Quando chegar o meu instante derradeiro
só então, mais do que eu,
tu morrerás
em mim.
No meu quintal tem uma laranjeira
aquela mesma
onde brincamos na noite de Natal
no meu quintal tem um pessegueiro
com flores cor de rosa
onde chupei-te a boca
pensando que era fruta.
no galinheiro tem oito galinhas,
um pato, um ganso e um pinto.
no galinheiro fiz um arranha-céu
com latas de gasolina.
E fiz com paus de vassoura
estacas para os cravos.
meu quintal é uma cidade!…
De frangos, postes, luz e arranha-céu.
E para simbolizar o seu progresso,
desafiando triunfal,
tem a bandeira de uma calça rendada no varal.
Um dia estive na estrada esperando o futuro
E descobri que o amor se acaba aos poucos
como o derradeiro farelo da Terra na boca de um jacaré
E isso dói como dói uma cascata
direto nas costas castigadas de um povo
Mas é assim que caminha o mundo: numa corrida
Em uma hora alguém chega e há uma reviravolta de 360 graus
e sua pele 40, 50, mais que o Rio de Janeiro
E nunca se sabe de onde vem aquela pessoa com quem nunca você sonhou
mas estará ao seu lado daqui a 5, 10
ou mil anos num túmulo de pedra
Também não se sabe a porcentagem de tempo
em que caminharão juntos
Nem se você estará ao lado de um assassino, poeta ou vendedor de salgado
desses que ficam horas na cozinha e quando se deitam na rede
têm cheiro de empada de camarão e você cheira e que delícia
Mas o amor se acaba aos poucos
E é preciso sempre esquecer isso
para que haja amor,
para que haja começo
abra-te suposições,
fecha-me.
rodopio, mártir.
sambando em sobras...
de canções que se esvaem pelos cantos.
supra-me ou,
supero.
belo horizonte, belo.
solo brasileiro.
sexta “fera”, voraz.
ser e não ser,
sendo.
patético e fútil,
fluindo.
não me sinto, oras...
nem te sentes.
matéria prima terceirizada,
explorada,
usurpada...
reflorescerás.
fosse as contas, contratos, horários
fosse o abuso, a flacidez, as jornadas
contra a menina na janela
que conta os carros do pátio
tenta adivinhar seus donos, marcas, destinos
ela respira o nublado do apartamento no primeiro andar
seu pulmão neblina
ela sabe que o tempo
condensa trajetos
precipita
Quem me dera ter
Os velhos sorrisos de volta
Ter os velhos abraços para abraçar,
Na amarga e solitária noite
Só por mais um minuto
Antes do mundo acabar.
Quem me dera rir até
Que minha barriga se contraia
Que o juramento deste coração me traia
Nem que seja só por hoje
Antes do mundo acabar.
Quem me dera ver-me com orgulho
Na silhueta grotesca do espelho
Nem que seja por um perdão derradeiro
Antes do mundo acabar.
Quem me dera sentir menos
O peso que acarreto dos dias
Aliviar a dor da morte e a certeza da agonia
Antes do meu mundo acabar!
Ela é tão linda!
E eu nem menciono a face,
mas a forma como reage,
como ela acorda todo dia.
Tão doce, tão forte!
Merecia até melodia
pra traduzir o que só ela sabe ser.
É o sujeito perfeito
que se julga imperfeição.
Seus tons, seus dons, sua cores,
suas simetrias não negam,
as discrepâncias indeléveis.
Presença, amor e devaneio
Não duvides que lhe traga
As manhãs alongadas
E nem te deixes confusa
Nas noites mais desatadas.
Os versos que plantaste
Em minha boca
Ardem sossegados à espera de teus beijos.
Se houver vazio
Tentarei renovar as ausências
E volver oceanos
Para inundar tua ilha.
O amor tritura lentamente
As pedras do caminho,
E meus canteiros agitam opulentos
À afogar tua ânsia,
E as espumas de teu dia a dia.
Dialogo com tua aceitação,
E abraço teus carinhos enfardados
No ventre insinuante de tua pelve.
Livro: Travessia de Gente Grande
Ademir Hamú
Todos os Dias
Há meses, poucos, abri a porta, caminhei até você e até então o que havíamos falado por instantes virou realidade.
Você também abriu a porta, tropeçou, titubeou e segurou-me pela cintura. Dominou o que era seu ou "o que lhe foi meramente ofertado".
No escuro de tudo, você mirou sua conquista. Como todo território, eu era grande c você sussurrou vitorioso:
— Você é linda!
Avancei mais e cobri minha paz em seus lábios e por segundos você não perdeu tempo, apalpou as montanhas dos meus seios como céus intransponíveis.
Te resguardei, sua valentia, minha insensatez – procurei te agradar, te arrastei em meus campos: mas não havia paz entre árabes e judeus.
Havia escutas nas divisas e não mais nos avistamos.
Só restou a miragem dos seus passos no escuro, meio ao bombardeio e nosso desejo que não é pecado, somente desejos.
Hoje nos avistamos através de telas de vime: cada um em seu lado.
E na imaginação de toda composição, eu durmo com você
Todas as noites
E o meu desejo por você
Ainda me acorda
Todos os dias.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
Meu Segredo: Seu Rastro
Minha bolsa esconde um jardim de aromas cítricos e adocicados que ventilam lembranças que caem como tempestades.
Entre aspirinas esfareladas, resto de uma história perdida que insiste em viver.
Busquei em você refúgio e caí num abismo de infinitos desejos.
Ela, a bolsa, a única testemunha de nossos beijos guarda silenciosa nosso segredo. Dentro dela um lenço com um grama de seu perfume.
Não te vejo mais.
Passa distante, desconhecido. Mas quando a saudade vem soberba em querer você.
Sou humilde, abro a bolsa, desdobro as lembranças respingadas, inspiro seu perfume e me deito com os segredos.
Dentro da minha bolsa um jardim de história e segredos perfumados.
Livro: Não Cortem Meus Cabelos
Autora: Rosana Fleury
RITMO
Quero-te com trombetas de anjos,
Com mãos de pianista,
Com tambores rufantes,
Com sinfonia de pássaros,
Com bateria ritmada.
Quero-te com carrossel de flores,
Com grinalda em cores,
Com borboletas em voo,
Com coral de anjos,
Em comunhão amante.
Quero-te no baile dos amores,
Bolero apaixonante,
Olhar nos seus olhos,
Desmaiar em seus braços,
Dançarino meu...
Olhar de bolero!
As cidades, as verdades e os muros.
Era manhã de abril e o céu não se cobriu de nada, e nas
cercanias da cidade descortinaram a estampa de seu amor fraseado,
pregado em todos os muros da cidade.
Diziam que era amor, mas tanto amor era resguardado, não
era arregalado e na boca de todos cingiam frases recortadas de
verdades que moram no absoluto julgamento de todos.
O que era velado, surdo, intransponível, efervesceu e tingiu
os muros de toda a cidade.
Agora não tinha mais vestes, arrancaram seus sentimentos
e dependuraram seus trapos pelos muros da cidade como
interpretavam.
Ela virou só lamento, andava quase seminua e todos
desviavam de sua presença. Diziam que nos muros cuspiam as
estações gravadas, onde sua boca pousou, o que dela suspirou e
com quem dançou.
Como se atrevera a tanto?
Não havia nela talento para o mal, arrombaram e viram a
folia de seu coração.
A chave se perdeu e o preconceito nasceu das reentrâncias
dos muros que circundam as cercanias das cidades.
Nos trapos as verdades despiram-se, como se fossem
realidades nunca realizadas, onde o leviano é sentinela de quem
não sabe nada de verdades e sentimentos.
Livro Pó de Anjo
Autora: Rosana Fleury
bula
todo dia
sempre que puder
de doze em doze horas
o médico recomendou caminhar
de oito em oito horas
tá doze por oito eu acho
de seis em seis horas
a rezadeira disse que era olhado
de homem e de mulher
de três em três anos
colocar dois dedos no pulso
para lembrar que ainda se está vivo.
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