Poesia Completa e Prosa

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acho que é isso.
vivi fugindo de mim,
mas sempre foi assim,
e sempre foi tudo bem.
procurei me entender
sendo confuso.
na multiplicidade
na abstratatez.
rechacei certezas
pra mim todas obsoletas,
só precisava de disposição pra contrariá-las.
hoje, não muito disposto
só me resta força para me perguntar
mas será se é isso mesmo?

Inserida por rubobrobsky

era mais um dia comum e silencioso
cuja paisagem sonora se deslumbrava
com os roídos dos insetos que gritam.
os insetos mudos ainda pertenciam ali,
rotineiramente aprontados para mais um dia de labuta.
esta é a pequena história de uma cigarra,
da ordem dos insetos que gritam.
uma cigarra específica,
embora quase não se diferenciava das outras.
a história não é próspera, pois
não se fazem mais histórias prósperas sobre dias comuns e silenciosos.
sobretudo, a cigarra sim.
esta gritava mais que as outras.
gritava pela sua condição de esquecida.

Inserida por rubobrobsky

tem dias que o clarão da aurora não brilha.
dias que a chuva não molha,
que o sol não ilumina,
tampouco a lua.
tem dias que o milho não estoura,
que a padaria não abre,
que o porteiro não sorri.
dias que o ponteiro do relógio não sobe,
nem mesmo desce.
que os carros não engatam,
ou não param.
que os galos não cantam
e a as galinhas não dormem.
dias que as portas não abrem,
dias que o coração não bate.
tem dias que nem são só dia
ou,
são só dias que nem dia tem.

Inserida por rubobrobsky

o que seria de mim se eu não soubesse de mim?
o que seria?
perguntaria aos porcos
e eles me dariam sua lama
perguntaria aos burros
e eles me cuspiriam todo seu capim.
inepto,
ainda não sei muito desta matéria
e receio não saber tão cedo...
mas de lama e capim
fico com a aventura de viver na incógnita.
o que seria de mim se eu não soubesse de mim?
parafraseio,
me traduzo livremente.

Inserida por rubobrobsky

oh meu bem
não espere nada de mim
previsibilidade aguda
afiada me perfura
lateja na minha alma
como um dente que aperta
e sangra.
vistes a última notícia
que não de uma vida alheia?
a vida clama
grita
suplica compaixão e empatia
mas dos eruditos nada se pode esperar.
deles não,
que nem sei quem são.

Inserida por rubobrobsky

me arrisco
logo estou
correndo todos os riscos da existência
sinto o sangue percorrer em minhas veias
de maneira fervecente,
quase fogo de lareira velha
ou fumaça de cachimbo pagão.
ah de mim não saber de mim,
uma sina talvez,
um poema sem fim
ou continuado,
ou amassado,
ou descartado,
ou apenas nunca escrito,
ah deu não saber deu,
uma sina talvez,
não uma interpretação gramatical.

Inserida por rubobrobsky

quando vejo seres livres,
junto quero ser livre também
nem que o junto
signifique separado

os homens não criariam gaiolas,
nem celas
se a liberdade fosse compreendida
de uma maneira tão...
livre.
assim como ela por si só é.

não sou lobo,
sou pássaro em pele de cordeiro,
com sede de compreensão.

Inserida por rubobrobsky

era domingo
quando um cara chorou na minha frente.
dizia se arrepender de algo que fez.
não vinha ao caso o que era.
me dizia que sua mãe jogara praga na sua história
quando com 15 anos resolveu fugir de casa.
dizia a mim que gostava de elis regina.
estava tocando em algum lugar no momento dessa conversa.
me comunicava com ele pelo meu olhar.
não me faltavam palavras,
mas era tão somente o olhar
que ele buscava.
não esperava de mim uma saída pra sua situação,
o homem na minha frente só queria o meu olhar.
estremecido por dentro eu estava.
voltei pra casa sabendo que aquele homem se arrependera
do que havia feito.
era tarde demais, ou não.
mas aquele homem, magro, de cabelos pretos, olhos baixos
que chorou na minha frente
havia se arrependido.
continuei o meu caminho pensando nisso,
atravessado por uma estranha sensação de que poderia ser eu.

Inserida por rubobrobsky

menino franzino da mente malhada
olhos atentos e a língua afiada
ouvido macio, alma brilhante
coração colorido, peito cintilante

ohh menino
nas ruas do mundo a quiçá
ohh menino
crê que não se aprisionará

menino no rio nadando com esperteza
vê gente igual vai contra a correnteza
seus olhos atentos faz vê a esperança
buscais lindas flores meio a tanta lambança

ohh menino
não te desanimes com a humanidade
egos são maleáveis
independe de idades
não te cale que não falhas
acreditar na mudança é enfrentar as batalhas.

Inserida por rubobrobsky

dos dias que não se quer ser

era mais uma madrugada
dessas tempestuosas.
noite estranha era aquela.
não sentia o cheiro da chuva.
diferente de outras,
não existia relação ali,
entre mim, a água que ruíra na minha janela e a madrugada.
noite atípica.
o frio se acomodava latentemente aos arrepios da estranheza.
quando dei-me por conta,
estava lá, fitando uma poesia,
que temerosamente me desaparecia.
quando nossos olhares se cruzaram,
lembro-me de querer vorazmente devorá-la.
era estranho,
a madrugada que não escolhi,
a poesia que parecia ser eu.
nem me lembro mais quando esqueci de lembrar que era uma madrugada atípica,
dessas que só se dorme.
num átimo, estava completamente seduzido pela poesia.
imerso,
já nem sabia o que era noite, o que era poesia,
o que era eu.
minha respiração ofegava,
lembro-me de apavorar por isso,
mas era certo,
quanto mais apavorava mais escrevia.
e foi assim que eu danei-me a escrever.
escrevi, escrevi, escrevi
escrevi, escrevi, escrevi,
escrevi, escrevi, escrevi
escrevi, escrevi.
lembro-me de escrever tanto, mas tanto, que a poesia já não tinha mais nada,
nem uma palavra sequer.
em exaustão me apaguei
sem ver a cor das três madrugadas seguidas.
depois dessa, vieram muitas outras madrugadas,
outras poesias.
mas nada como aquelas.

Inserida por rubobrobsky

o choro

era domingo.
passava pela rua Janice
com sua filha de mãos atreladas.
olhos bem abertos e verdes.

era domingo de ventos
num desses
um cisco
num outro Janice
a moça de olhos bem abertos e verdes

cisco que pousa em olhos bem abertos e verdes.
dessa vez era o de Janice.
lágrimas desciam

a polícia passava
e Janice a moça de olhos verdes e grandes não parava de lacrimejar

Janice era branca, mulher fina
e muda.
sabe-se lá porque que na tentativa de acalmar as lágrimas dos olhos
seu dedo flechava Muriel

Muriel. quinze anos.
fazia compra para sua mãe Katia na feira.
provava das uvas das senhoras que lhe oferecia uvas.

uvas, sorriso não.

sabe-se lá o que fizera na vida Muriel.
se nascer não bastasse.

volta-se ao fato não previsto por Janice,
nem mesmo pelas senhoras da uva.

Muriel terminaria estirado numa das tabas com as uvas,
uvas acopladas de sangue.

num desses domingos de vento
Muriel sentia pela última vez o cheiro de uvas
e na calçada do morro
punha-se a chorar Katia

o choro.
o choro da viúva, mãe de dois filhos
empregada doméstica
e moradora da periferia.

invisível que era
só se via lágrimas a descer.
lá do alto.

Inserida por rubobrobsky

CHOVE

Acordei
E vi que chove
Observei
Que não era só lá fora
Revestido de breu
Minha alma
Também chora
Dengosa
Amorosa
Reclama do olhar
Da sua beleza singular
Sua essência
Desta sua silenciosa ausência
Não importa os desencontros
A sua irreverência
Não diminui o meu amor
Nem a dor
De sua indolência
Onde está?
Os sonhos sonhados
Os beijos por nós calados
Curvo-me diante desta ferida
Aberta
Sofrida
Tocada sem nenhum pudor
Nenhuma compaixão
Nenhum valor
Acho que foi só ilusão!
Agora solidão...

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Rio de Janeiro, 30/08/207
05'30"

Inserida por LucianoSpagnol

Eu te quero
Eu desejaria todo anoitecer olhar as estrelas com você.
E ao amanhecer acordar em seus braços.
com o brilho do sol,
Seus olhos castanhos acordariam como paixão.
Os traços de teu rosto seriam a melodia de meus lábios.
O movimento de carícia de teu corpo , ao perigo da incerteza.

Inserida por izadora_ortega

Às vezes sofremos tanto por umores não correspondidos, que chega uma hora que nos trancamos em uma pequena caixa, com medo de se apaixonar de novo e acabar se magoando outra vez, o nosso coração vira pedra, e o amor dentro de nós morre, dizemos para nós mesmos "nunca mais irei me apaixonar", mas o amor é como a fênix ela morre, mas também sempre renascerá.
E então você encontra uma pessoa especial pela qual vale a pena se arriscar, e ela te mostra o amor o novamente, e mesmo que corra o risco de você se magoar outra vez, você se arrisca, porque vale a pena, vale a pena lutar pelo amor, o amor nos transforma, nos cura, nos faz ser uma pessoa melhor, e oque mais precisamos em nossas vidas e amor, e saber demonstrar esse amor. Mas se no final você acabar se magoando tudo bem, porque a vida é assim, se você não se arriscar e tentar, você nunca saberá se teria dado certo.
Então sai desta caixa onde você se trancou e demonstre todo seu amor, não tenha medo, pois há alguém por aí esperando para receber esse amor, mas você nunca saberá se não se arriscar.

Inserida por rafael_amaro_lopes

EXTREMOS

O barulho, o som
Sussurros de loucos
O silêncio absoluto
Para ouvidos moucos

A opressão do clarão
Pela lente externa
Supressão da visão
A escuridão eterna

Para o manjar insosso
O paladar exigente
Para o gosto sem rosto
Sabor sempre ausente

Nos pequenos frascos
O aroma importado
O cheiro amordaçado
Jamais inalado

Um aperto de mão
O abraço negado
O afagar consciente
Nunca experimentado

Sentidos no extremo
Opção e carência
De um lado exigência
Do outro a ausência

Inserida por wilson_magalhaes

tudo é caminho
não há ponto de chegada
não há ponto de partida

Varjota
cheguei
um sem fim de vezes
fui embora outro monte
na sua maioria foi
o meio do caminho
que já foi Fortaleza
Recife
Diadema
e Viena que
ainda será

minha mãe foi também
caminho
meu pai também
que já vieram de meus avós
de outros avós
e outros outros e outros
e
tudo é caminho
sem começo nem fim
sem velho nem novo
o poema é mais
um

sempre vai
e vai e vai

a vida é uma reta torta
nó-cego de motivos
que é caminho
e não volta

Inserida por pensador

E se algum dia o brilho acabasse?
E se as as estrelas não brilhassem?
E se algum dia o frio nos tomasse?

Você teria amado?

E se algum dia você parasse?
E se algum dia você se cansar se?
E se simplesmente você não acordasse?

Você teria aproveitado?

Se algum dia a vida perder-se a cor
Perder-se o amor
Perder-se o calor

Você teria a sentido?

Se algum dia tudo acabar, os teus olhos você fechar e repousar.

Você teria vivido?

Você se sentiria perdido?
Estaria muito frio?

Se algum dia você se magoou
você se enganou?

Mesmo de mente atordoada dizendo estar zen
Você fingiu estar bem?

Se a sua vida você não viveu
Você a felicidade perdeu?

E você acha que poderia voltar atrás?
Se algum dia você esquecer-se de amar?
Acha que conseguiria voltar?

A vida é um sopro, a vida é um carrossel, a vida é rápida, a vida é curta.

E sua vida acabasse? Você a viveu?

Inserida por paulo_chuery

Nunca entendi tão bem a apreciação por uma cidade e o porquê de tanta exaltação,
só colocando meus pés nos lugares sagrados que entendi e exaltei,
óh cidade do nosso agrado,
óh cidade tão bela,
óh maravilhas secretas,
óh lugar de esplendor e inspiração,
agora eu entendo qualquer devoção,
e que cidade maravilhosa, um tesouro nacional,
quero voltar pra ti e nunca mais sair,
dos encantos,
beleza e tua cultura tão realista,
o que me resta?
saudades,
deste magnífico lugar e de suas beldades.

Inserida por Kamilaaalves

Primitivo No. 1

Nossos desejos nos devoram.
E lentamente devoram o cérebro,
o coração e os olhos.
Pronto! Agora somos irracionais.
Primitivo e lutando irracionalmente
pelos frutos de nosso desejo.

Talvez isso seja só um transe
e logo vai acabar.
Será? Um desejo hipnótico que nos devora
e permanece. Nós somos primitivos.

Nos devoramos uns aos outros
com o propósito de alimentar nossa imaginação.
Frio, primitivo e agressivo.
Sendo devorado pelo desejo.

SOUSA, Rodrigo. 2019

Inserida por RodrigoSousa2

Onde estão os amores de antigamente?

Aqueles que duravam séculos
Que enfeitavam os jardins da vida
Que entoavam cânticos e declamavam poesias
Juras eternas, espaços de tempo em que o tempo não passava e nem a vontade de estar na presença desse amor
Verdadeiros presentes
Inspirações à alma

Amores que resistiam ao tempo, às brigas e aos apelos emocionais por que tudo era uma prova em si desse amor
As mulheres conheciam o sabor da espera e por elas eles permaneciam sofredores e guerreiros de suas tormentas
Gentis com o tempo e donas de suas verdades elas não colecionavam amores

Onde estão os amores de antigamente?
Que passeavam pelas calçadas nas tardes de domingo
Espreitavam uma única que fosse a razão de encontrar esse amor
E por esse amor sofriam calados
Esperavam uma vida inteira
Até que esse amor se revirasse em um

Ah, esse antigo amor que desconhece as razões de novas ilusões
Desprendido desse árido deserto de sentimentos em que profanam as paixões contraditórias e abandonadas à própria sorte
Contrário ao ciclo vicioso de poucas descobertas e de muitas aventuras exaustivas e obscuras
Esse amor - quem sabe - refeito pela dureza e a beleza de sua época há de florescer novamente um dia.

Inserida por aline_d_alves