Poesia Carinho Machado de Assis
Fases e faces do poeta.
O poeta é tal como a lua
Tem fases e faces...
As vezes é " cheia" de inspiração
Iluminada totalmente pelo astro rei,
é beleza e introspecção.
Em outras míngua.
Perde a luminosidade,
o tédio logo o invade...
Silencia o verbo
mas não mata a utopia.
Adormece então, nele
a poesia.
E em sua transitoriedade
faz-se nova sua face...
Mas a luz ainda é arredia.
Apenas se insinua ao poeta, os versos.
Acalenta-os...
Acaricia-os...
Coabita com eles.
À esperar um novo dia.
Agora é crescente.
Emprenhou a palavra!
Eufórico, aguarda o seu rebento,
o poema, pelo qual tanto ansiava.
Ei-lo que vem...
Jovial e trazendo boas novas.
Eis que a vida se renova!
Então, mais uma vez,
eis o poeta em plena cheia
Crisálida e sereia!
Deuses no olimpo...
...Pássaros á revoar
...Mares transbordantes
...Amores e amantes
Eis a sua face mais bela
Lua cheia na janela
E a poesia à bailar!
Manhã de musicalidade
Uma manhã o bem-te-vi pousou no meu laranjal
Uma presença tão magistral
Silenciosa...
Mas a ternura que suscitou em minh'alma
pareceu uma sonata de Chopin...
Fez-se dança em mim.
Contemplei-o
Me aquietei os gestos
Quisera congelar o tempo
Afugentar o vento
Nestes dias isentos de alegria,
sua presença foi poesia
Fez-se verso em mim...!
Mas de repente
bateu asas.
Se fez ausente
Tristemente...
Calou-se o amor na flor de laranjeira
Felicidade passageira.
Virou poema.
Tornou-se saudades, enfim.
Memórias...
Cada vez que pego na caneta
invoco lembranças tuas...
Foi a tanto tempo, meu bem
... Mas o que é o tempo
contra o amor?
Nem mesmo sei por onde andas
Com quem escreves tua vida...
Se pensas em mim quando olhas o oceano
Quando as ondas beijam teus pés,
lembras dos beijos meus?
Tão seus...
Encontro poesia nestas memórias
Componho meu verso ao som do amor perdido
E nas madrugadas, quando ouço as ondas
açoitarem os rochedos; posso jurar
que ouço a tua voz me sussurrando ternura eterna.
...Doces ilusões as minhas.
Mas como são breves algumas eternidades...
Com os dias alguns esquecem
Desfalecem a paixão
Folhas caem ao chão
Novos outonos...
Novos verões,
... Novos.
Outros permanecem.
Eu permaneci.
Canso o papel, gasto a caneta
É a tua presença imortal, em cada linha
O que foi areia que escorreram por entre os teus dedos,
para mim, foi, e ainda é.
Meu amor.
Sempre, universo.
Saudades...
Ai, o que fazer destas horas de fastio?
Dos momentos de solitude imensa...
A ausência dos teus beijos me consomem
E nada que faço preenche tua ausência.
És a cor do bordado dos meus tempos...
O matizado dos meus céus à alvorada!
E o que ei de fazer se tu não vens?
Deixa-me oca. Triste... Desconsolada!
Volta querido, rápido aos braços meus!
Apressa-te à oferecer-me tuas ternuras
Vem pousar borboletas nos meus umbrais.
Pois que do corvo já me fartaram os versos
E o roseiral seca ante os meus silêncios
Sê novamente a brisa nos meus madrigais.
Elisa Salles
O QUE SOMOS?
O que somos nós, afinal?
Flutuamos pela vida à fora
Folhas secas, passarinhos
à vontade do vento...
Somos amores que se perdem,
Sonhos que acordam
Somos tudo. Somos nada!
Sentir e pensamentos...
Em nós tudo é muito fugidio
Tão inconstantes...
No entanto somos magníficos,
em nossas alegrias e tristezas dúbias.
Vivemos ilusões de um " talvez",
tendo diante de nós uma realidade
que a alma recria.
... Motivos para prevalecer.
Somos gritos na escuridão.
Somos vozes que ressoam
Palavras nunca ditas
Somos as águas no moinho do tempo
Dia de lacunas escancaradas;
outros, cubículos de solidão,
cárceres que nós mesmo erguemos
ao nosso retor...
Mas
somos o que somos
e o que, em que, tentamos
nos transformar.
Evolução
ou
Estagnação do ser.
No entanto somos o milagre
A mais bela obra da criação de Deus;
perdidos nos caminhos de si mesmos,
sem saber o que fazer com o livre arbítrio
que nos fora concedido
De que nos serve a liberdade,
se não sabemos por quais céus voar?
Somos belíssimas complexidades...
Minha ruazinha...
Minha rua é tão bonita
Tem uma magia ímpar
Um quê de lar
Um cheiro de bolo de fubá
Um frescor de margaridas
Minha rua tem risos
que somente tem por lá!
Suas casas antiquadas
de arquiteturas ultrapassadas
não chamam a atenção de ninguém
Por elas não se dá nada!
Mas ali há tanta vida
Tanto calor...
Violetas nas janelas
E avós cuidando delas...
Sagrado dulçor.
Hahh, minha rua,
Minha simples ruazinha
Rua da minha doce infância
Que me trás tanta lembrança
e que hoje , guarda em si,
de mim,
a poesia.
Você lembra...
Daquela noite escura...
Após as doses de rum...
Lembra da faísca...
Do quarto em chamas...
Da febre delirante...
Dos nossos corpos ardendo como magma...
Lembra da nossa dança...
Lembra do ápice...
Dos gritos...
Que acordaram o quarteirão...
Dos nossos corpos fracos...
Como se não tivéssemos ossos...
Você me fez acreditar no sobrenatural...
Pela primeira vez...
Naquela noite escura...
De odores almíscarados...
QUADRAGÉSIMO SEGUNDO HEXÁSTICO
Deves abortar a ignorância:
Assassina confesso d´alma.
Deves parir toda virtude:
Senhora das integridades.
Da ignorância resta mentiras!
Da virtude, conhecimento!
Revolução e Mulheres
Elas fizeram greves de braços caídos.
Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas gritaram à vizinha que era fascista.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas vieram para a rua de encarnado.
Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas gritaram muito.
Elas encheram as ruas de cravos.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua.
Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de verem o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas.
Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa.
Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos.
Elas disseram à mãe, segure-me aí os cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é.
Elas vieram dos arrebaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada.
Elas estenderam roupa a cantar, com as armas que temos na mão.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas iam e não sabiam para onde, mas que iam.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
Chamam-lhe amor
Há que dar às coisas nomes curtos e simples,
para que a palavra nos venha aos lábios
obedientemente canina,
mas o certo
é que lhe podíamos dar um outro nome
- qualquer um -
Boby, Tejo ou Lassie, fora o amor uma cadela
parida com as tetas maceradas a roçar o chão.
Qualquer nome lhe daríamos, ao amor
e o resultado seria sempre o mesmo:
Um ganido tímido
a morder-nos de cio o coração da noite.
Nunca saiu à rua, sem esticar os lençóis à cama
com a precisão de quem faz as manhãs todos os dias,
de quem dá um jeito à vida, antes de se pôr a trabalhar.
Uma cama bem feita vale bem um verso terminado,
sem o desperdício das palavras que não rimam.
Há que resgatar o gesto repetido, dia a dia,
como quem cumpre a métrica precisa do poema;
uma cama desfeita e ao desalinho é um sítio perigoso
para deixar o corpo a descansar, lugar de roturas, ligamentos
um passo em falso, tropeçado sem cuidado,
e podemos dar um mau jeito
ao coração.
O mundo não é feito de pessoas, nem de casas, nem de coisas.
O mundo é feito com palavras perfiladas
como pedras
sobre pedra e
em cima de outra pedra, ainda.
São de palavras de pedra, as paredes do mundo:
direitas e exactas como um fio de prumo.
Se nos tiram a língua,
as várias línguas que tem a nossa língua:
esta língua com que te falo,
a língua com que te beijo,
esta mesma língua com que digo esse nome que tu és,
roubam-nos mais mundo ao nosso mundo.
E um mundo rente, sem paredes, raso ao chão,
que não se tenha de pé e num pé direito
tão alto que lhe caibam todas as palavras empilhadas
é um mundo do reverso e do regresso
em que ao privilégio absurdo de viver se segue
o direito adquirido de sofrer.
PECADOS CAPITAIS
Os pecados capitais?
cometo alguns...
mas sou parcimonioso
cometo um de cada vez
não gosto de fazer muitas coisas
ao mesmo tempo...
isso me cansa.
(publicada no livro: Antologia V - CAPOCAM Casa do Poeta Camaquense - 2019)
TEU CHEIRO
Quero te abraçar de novo
e sentir teu cheiro
de canela e "flor de laranjeira"
quero beijar teu rosto
acarinhar teu corpo
e sentir teu gosto
quero levar teu cheiro
de canela e "flor de laranjeira".
(publicada no livro: Antologia V - CAPOCAM Casa do Poeta Camaquense - 2019)
FILOSOFIA DO AMOR
De João Batista do Lago
O amor esse desdouro
inquietante e avassalador
banha o corpo de torpor
e a alma sangra no matadouro
e o sangue escorre pelo ralo das veias
enrijecendo o corpo inteiro
e grudando-o na cruz do madeiro
O amor, meu amor, não é brincadeira
Ele está sempre à frente e também na traseira,
fica do lado direito, mas também no lado esquerdo
muitas vezes ele chora
outras tantas desespera
muitas vezes vai embora
outras tantas fica e implora
Esse maldito do amor
que ninguém sabe onde nasce nem quando
trucida os amantes incautos
enganando-os com a paixão
e dos imprudentes brinca e troça
faz quermesse na jugular das emoções
onde leiloa beijos e carícias vãs
Ah, esse sujeito vagabundo
que faz juras em desmedida profusão
prosta os amantes querelantes
debilita a palavra sussurro
derruba o abraço mais profundo
humilha o beijo com o escarro
e subjuga o gozo na raiva do presente
Enfim, ó tu louco e eterno amor
que vagueia sensações despudoradas
és o príncipe do desconhecido
a quem se busca em vidas desesperadas
alcançar a sinfonia do perfeito verbo
onde pretendemos abrigar os corações
escarlates de vidas de humanos carentes
"O Proibido"
A fala proibida;
O pensamento proibido;
O ato proibido;
A vida proibida;
A felicidade proibida;
O todo proibido;
Se libertam em forma de arte!
Movimento
Você poder ver oque tá
aconteçendo
ou
oque está
surgindo!
Algo
sempre
nos construindo
Reparo
Nunca existiu nada entre eles
Nada
Só um jeito de se olhar
Perplexo
Perdido
Perfeito
Dois prisioneiros.
DOCE DESCANSO
Numa estrada sem fim
atravessando o vento
paro para descanso
num pequeno estabelecimento
com um sorriso nos lábios
sou atendido de pronto
por uma menina morena
de tão linda, um encanto
como fosse passarela
entre mesas desfilou
seu corpo magro e bem feito
logo me conquistou
seus andares faceiros
meu café adoçou
seus olhares sorrateiros
minha alma alimentou
QUADRAGÉSIMO TERCEIRO HEXÁSTICO
Assenhora-te do espelho
Refletor de todos os caos
Ainda para ti irrevelados
Debulha-te duplo narcísico
Toda estética será falsa
Se nela faltar toda essência
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