Poesia Agua de Mario Quintana
a garça
estrangeira parque d’água
equilibra-se
na madeira arcada
de mangas
tece
de curva e pescoço
o ninho estranho
atrás da casa toda
água é lama
e a deusa
branca
torna-se galho
pelos calcanhares
o pássaro olha
a criança que rasga coxas
caule acima
atrás de rasgar a pele da fruta
depois de seis meses de espera
os bichos se encaram
o pássaro firma, cúmplice
sabem
que é papel dos velhos
cochilar durante os furtos
As lágrimas misturam com a água do chuveiro.
Ela tenta parar, ordena para que cesse, porém mesmo assim o choro insiste em atravessar sua garganta e emitir o som da dor.
O coração está partido e ela vê os pedacinhos espalhados em sua alma, mesmo sangrando com a mágoa da traição tenta juntá-los com suas mãos.
Não sabendo ela que essa dor é passageira, talvez demore um dia, meses ou anos para superar e finalmente ser curada, mas passará.
Moça, se ao menos pudesse contemplar o futuro, perceberia que a dor presente é apenas um aprendizado para torná-la inabalável.
Que os estilhaços do seu coração não foram perdidos, só está aguardando a pessoa certa aparecer para juntar todos os sentimentos bons novamente, você rirá tanto nesse dia pois estará conectada de maneira tão intensa com essa pessoa que nem lembrará mais da dor.
Quando esse dia chegar, jamais se conformará com migalhas, amor pela metade, ficar em segundo plano, porque agora finalmente achou uma mão que encaixou perfeitamente com a sua.
Por isso lembre-se: vai passar e tudo voltará ao normal.
Mulher de cristal
Nela a beleza é decretada
Quando se olha é água da fonte
Brilhante como o crepúsculo celestial
Fascinante como o sobrenatural
O reflexo cega os olhos
Confunde os sentidos
Tanta beleza num só mirífico
Sereia desnuda
Ornamentada pelas águas
Com vestido de cascata
Cabelos de itororós
Coroa de gálio
Desfilando na angra de cristal.
O Lavar
Escrevo ainda com gotas de água na pele, resultado da breve chuva que me atingiu no caminho da padaria/verdurão até em casa.
As sensações que me invadiram nesse momento a minha adolescência tem uma memória mais vívida, porém a repentina plenitude pareceu ser a leveza necessária para ausentar o luto, a ansiedade dos últimos dias, que é o assunto desse pequeno texto.
A raridade das coisas nos coloca sem saber como processar. Dediquei minhas palavras sobre o período da quarentena e sobre perder há alguns dias atrás para um projeto literário coletivo e me faltou processar como nossa sociedade ocidental, com raras excessões culturais, não sabe lidar com perda, com morte. Prova são as inúmeras obras artísticas das diversas manifestações que se dedicam em mostrar o quanto é péssimo.
Deixar ir significa que vamos ficar e a ideia em si parece solitária demais. Não temos como hábito guardar as emoções e memórias das pessoas quando ainda estamos com elas e revisitar de tempos em tempos. De repente não é possível mais construir e vem o desespero de procurar o que ficou nos baús da mente.
Agora irei secar essa água que veio de cima, talvez não a mais limpa, mas permitiu em meio ao caos o egoísmo de dizer que me senti bem, viva para as possibilidades que buscarei construir. Obrigada pela força renovada pois a luta continua não só por mim, mas por todos nós.
GEADAS DA VIDA
Verde, preto em manhãs desfolhada
sacode gelo sobre a terra
bacia com água fica coalhada,
é assim que amanhece o dia
em manhãs de geadas.
A dona Quitéria, mulher fera
se levanta sedo, bem cedinho!
E segue em passos frios,
para tirar leite da vacada.
O curral esta cheio de berros
as vacas com vestes em malhas
mugem em suas danças sobre a janta
e os bezerro em desespero...
Almejam em suas sedes de esperanças.
É... O viver tem lá o seu preço
nem sempre a vida sana
os sonhos de sua gana.
Antonio Montes
ASSEAR
Pela rua a água
lava catacumba
e afoga as magoas.
Mareja a saudade
d'aquele sentimento
e da frágil felicidade.
Enxuga as lagrimas
fincada no tempo
rascunho do desalento.
Pela rua a água
vai lavando as calçadas
as favas e as lavras.
Antonio Montes
A FAIXA
O verde da faixa dos pedestres,
em um piscar, esta lá, todo verde...
Movida a água, secando de sede.
No alto do poste, piscando não cansa
ali, abre alas em seu enfoque...
O tempo todo, demarcando a esperança.
Esperança de um sonho alado, sonhado
que esta do outro lado ao imaginar...
Tudo aquilo, que se pode encontrar.
Ali, sobre o solo, tintas no asfalto...
Em duas cores como se fosse zebra
demarcando os rumos dos seus passos.
Se passa em falso... Em cores erradas
zás! Decisão, inconsequente imatura,
e a conseqüência nem sempre, terá cura.
Antonio Montes
O TOPO
Estrondo no topo
olhares para o morro
é chuva apagando poeira
é agua despencando na ribanceira
Os bêbados...
Estão todos encharcados
Os relâmpagos...
Com seus pontos e encantos,
correm costurando as nuvens
tudo sempre foi como esta.
Maria pra que falar mal...
Corra, corra! Corra...
Vá recolher as roupas do varal.
Antonio Montes
SEM JASMIM
Lá vai Maria
de todos os dias
com moringa d’água
e sua alegria.
Ainda menina
com sua ródia
fazendo sua rima
vai à cacimba.
Maria sob o vento
atirou a esperança
hoje sem sentimento
não é mais criança.
Vejam seu jardim
flores pra ti
adulta, assim
não será jasmim.
Antonio Montes
ESTABELECER
Eu quero esta com você...
Assim como a sua sombra
a sua corrente da alma
sua água corrente, sua onda
a musica em sua banda.
Eu quero esta com você...
Ser as pétalas da sua rosa
as folhas de todo verde
os espinhos de suas hastes
o copo da sua sede.
As marcas de todos os rastos
as margens do seu caminho
o pulsar da sua vida
o medo em seus cantinho.
As areias da sua praia
poeira do seu deserto
a distancia da sua esperança
a felicidade do seu perto.
Antonio Montes
REBOTO
Cobra d'água
cobra sega...
Cobra braba
cobra pega,
tem cobra dando seu bote
em meio a sua macega.
Cobra a divida
cobra a vinda...
a ida e volta esta ferida
seu moço cobra a conta
d'essa sua triste vida.
Porque cobra aquele no
que nunca pagou ninguém
se um dia foi inteiro
hoje não vale um xerem.
Antonio Montes
Chuva
Chuva que cai
Encantadora melodia
Água la fora
mente tranquila
Chuva que cai
Bênção divina
pingos ao chão
Lembranças longínquas
Chuva que cai
Inesperado milagre
Correntezas escorrem
Caminhos se abrem
Chuva que cai
Promessa de vida
Ventos molhados
Quatro da matina
Chuva que cai
Amores passados
Trazem de volta
Eternas águas de março !
ÁGUA MORTA EM TERRA BOA
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Água morta, em terra boa,
não é lago, nem lagoa,
mas é vida na barragem...
Quando o vento sopra à toa,
tudo passa e tudo voa,
mas a terra é mais que aragem!
Água morta, nevoeiro...
Berço eterno e derradeiro,
nas entranhas do meu chão...
Vai-se o tempo, tão ligeiro,
como as águas dum ribeiro,
mas a minha terra não!
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16/09/2014
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in "MAR REVERSO (Ecos da Terra, do Mar e da Vida)", 2015
📜© Pedro Abreu Simões - Poetautor ✍
facebook.com/pedro.abreu.simoes
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ESSA ÁGUA
Cuidado João...
Vê se não se afoga com essa água
que um dia, pessoas com ela molhada
teve n'ela, a sua alma batizada
e consagrou-se, no banho do amor.
Hoje, em meio a tanto respaldas...
Essa água, permeando por tanto má
arrastando, poluição, horror e terra
banha rumores, podridão e guerra
soterra, rios e nascentes da vida...
e vai desaguar, no meio do mar...
Cuidado João...
Com essa água, que um dia foi tanta!
Batizou n'ela, cristo e todas as santas
mas hoje, essa água raza, tem que filtrar!
porque assim, desse jeito natural...
Essa água, não afaga, e nem dá para tomar.
Antonio Montes
Passei algum tempo na chuva
interceptando o fluxo da água
que escapa da sarjeta danificada
A rodada temperada
gotas suspensas no jardim
Aquelas que se ligam num momento solto
no final dos ramos
ao longo da planta
olhos que capturam e transformam
imagens sob campanulas azuis
SAGACIDADE
A casa onde nasci...
Não tinha calçada
água encanada
não tinha escada...
Nem apito de nada.
Não tinha pinta, nem tinta
mas tinha um trilho
que levava a cacimba
e logo abaixo a bica fresca...
Tinha nascentes de água.
A casa onde nasci...
Tinha um terreiro, só p'ra mim
... Ali eu rodava pião!
Pulava corda e amarelinho
n'aquele tempo tão bom...
encanto sem televisão.
Um cantinho na saudade
da toalha colorida
Aquele cheiro de café!
aquela essência de vida...
O lugar onde nasci
é um canto na verdade...
lembranças, com encanto!
Verdade, com sagacidade.
Antonio Montes
SAGACIDADE
A casa onde nasci...
Não tinha calçada
água encanada
não tinha escada...
Nem apito de nada.
Não tinha pinta, nem tinta
mas tinha um trilho
que levava a cacimba
e logo abaixo a bica fresca...
Tinha nascentes de água.
A casa onde nasci...
Tinha um terreiro, só p'ra mim
... Ali eu rodava pião!
Pulava corda e amarelinho
n'aquele tempo tão bom...
encanto sem televisão.
Um cantinho na saudade
da toalha colorida
Aquele cheiro de café!
aquela essência de vida...
O lugar onde nasci
é um canto na verdade...
lembranças, com encanto!
Verdade, com sagacidade.
Antonio Montes
Fogueira inexpressiva
De repente o amor esfriou, a rejeição esquentou
Como água, molhou, e por fim?
Terminou
Como o final de uma fogueira que é jogado um balde de água
Você subiu triste como as brasas, que se espalham lentamente pelo ar
Igual a sua mente, que com você, quer acabar
Mas relaxa, você agiu puramente e isso passa
Infelizmente alguns não conseguem ver o que temos a oferecer
Mas é porque ainda não é a pessoa certa, que vai te amar, se doar e ser correta
Não tenha pressa, pois isso se busca com calma
Então trabalhe o amor próprio, e enriqueça sua alma
Portanto, não penses mal dos que contigo são mau, eles estão equivocados e ainda vão aprender
Não se acabe por um amor, quando há muito mais em você.
amar-te é como se luz
(luzindo fráguas
qual água até que fura)
morando nos teus olhos.
é dançar abraço dando
no piar de um ninho em cama
(que nos faz dançando
o chão fugindo)
pisar um céu de luz e chama
e o universo dançará à volta
(enquanto a luz for brilho
envolta no piar do ninho)
no balançar de um riso à solta
A inveja é uma esponja
que apesar da imensidão
do mar
quer pra si
a porção de água
que já está
em outro
entranhada.
