Poemas Vinicius de Moraes Mulher Aries
Quando eu pensei que estava tudo acabado...
Percebi que só estava começando, e eu teria que enfrentar aquilo e levar a vida adiante.
O que eu deixei de perceber foi que a vida adiante é cheia de surpresas. E a única coisa que acabou, foi uma fase.
noite negra;
a lua me trazia amor, conexão.
marcado em minha pele, como você em minha mente.
depois me trouxe tristeza, melancolia.
marcado em minha pele, como você em minha dor.
hoje não me trouxe nada.
marcado em minha pele, como você em meu passado.
minha lua foi embora assim como você.
ensinamentos do céu;
algumas coisas na vida
nos machucam,
mas ensinam a viver.
se algo ou alguém
te feriu, observe o céu.
de dia, veja que o sol
brilha de novo
a cada amanhecer.
de noite, a lua,
apesar de suas fases,
sempre cresce.
(re)nascimento;
os erros que cometi,
as pessoas que machuquei
por que?
ser uma boa pessoa pra uns
quebra outros?
poderemos viver em paz?
aguentaremos o peso?
de sermos mal vistos?
incompreendidos?
seguir um novo caminho,
andar numa nova estrada.
significa deixar a estrada
que você conhece tão bem
pra trás.
matar o seu antigo eu,
e nascer de novo.
esse eu meu enterrado,
pisava em cacos de vidro,
caminhava em círculos,
afundava em velhas culpas.
enquanto meu novo eu
rasga seu fétido casulo
na esperança de ter asas
e que essas asas carreguem
o peso de quem já fui
enterrando o que fui,
vejo minha própria lápide,
os amigos que perdi,
jamais virão me visitar.
caminhos quebrados;
acho até que perdi
o meu caminho,
eu conheço essas árvores,
esse caminho de vidro,
que se estilhaça
sob meus pés cansados
pensei que caminharia
para frente,
mas me encontro
andando em círculos.
não quero voltar,
repito ciclos
sonho alto,
fico no chão.
onde estão as asas
que me prometeram
quando eu era
criança?
procurei em sonhos
mas encontrei em correntes
nas sombras de quem sou.
onde foi minha liberdade?
se estou preso
em mim.
metamorfoses;
com você, eu que nunca soube fazer poema,
tornei-me poesia.
eu que nunca fui de viajar,
virei a estrada.
eu que nunca fui de sorrir,
virei palhaço.
eu que nunca fui de me apegar,
virei amor.
mas...
eu que nunca fui de chorar,
virei um rio.
eu que nunca fui de sentir saudades,
virei lembrança.
eu que nunca…
me encontrei,
virei você.
e agora,
eu que nunca fui de me calar,
virei silêncio.
ninguém;
fui porto,
mas ninguém ancorou.
fui abrigo,
mas ninguém ficou.
fui caminho,
mas ninguém seguiu.
fui voz,
mas ninguém ouviu.
agora sou só silêncio,
esperando me tornar outra coisa.
o que me resta;
a indiferença que carrego,
silêncio gélido,
tem o hábito de
atrofiar qualquer traço
de compaixão.
a dor que carrego,
raiva em brasa,
tem o dom de
rasgar em fúria
meu bom senso.
o amor que carrego,
feito saudade,
tem o costume de
virar poesia
e fugir de mim.
e eu, que me carrego,
vazio e eco,
tenho a sina de
me perder em tudo
e não sobrar em nada.
crisálida;
fui silêncio,
mas as palavras me transbordaram.
fui abrigo,
mas ninguém ficou para a reconstrução.
me despedi de quem fui,
carregando cicatrizes como mapas,
navegando por mares de arrependimento,
com velas feitas de culpa.
enterrei meu velho eu
como quem planta uma dúvida.
e esperei.
esperei que asas brotassem
onde antes havia correntes.
mas a metamorfose é lenta,
e no casulo do tempo,
a dor é a primeira a nascer.
sou pó de memórias,
sou o eco de antigas promessas,
sou a espera do que ainda pode ser.
e se um dia eu voar,
que o vento me leve
sem medo de cair.
aritmética das ausências;
um dia descobrimos que beijar alguém
para esquecer outra é como tentar apagar o sol com as mãos:
não só a luz persiste,
mas é sua sombra que nos cega aos poucos.
percebemos que a caça ao prazer
seja delas ou seja minha
deixa cicatrizes que não sangram,
mas doem como feridas antigas.
um dia entendemos:
apaixonar-se não é escolha,
é cair de um penhasco
e descobrir que o chão
é mais macio do que o medo.
as provas de amor não estão nos gestos grandiosos,
mas no café frio que ninguém bebeu,
no silêncio compartilhado
quando as palavras já não bastam.
e o entendimento reside na quietude.
um dia saberemos:
quem nunca te liga
é quem carrega teu nome
como um segredo pesado no bolso.
e, sem saber,
somos o peso de uma ausência em alguém.
porque a pior saudade
não está no telefone que não toca,
mas nas fotos que ainda não tive coragem de apagar.
ao menos, em minha experiência.
sentimos a falta de um amigo
quando o telefone toca
e do outro lado só há vento.
um dia entendemos que a vida,
mesmo que longa,
é curta demais para beijar todas as bocas
que nos chamam,
para dizer tudo o que nos queima por dentro.
resta-me escolher:
aceitar o vazio
ou incendiar o relógio
e dançar nas cinzas do tempo.
quase real;
sou o homem nada.
não compactuo,
não pertenço,
não sou.
vejo tudo,
mas não enxergo…
sinto tudo,
mas não vivo.
me movo,
mas não caminho.
sou engrenagem de um relógio,
sem o tempo me carregar com ele.
o tempo passa por mim,
mas nunca me leva.
não sou lembrança,
apenas memória…
ainda assim,
eu sonho
em ser,
em ver,
em ter.
em me encontrar
sem me perder…
mas o nada me abraça,
e eu retorno,
já querendo partir,
já querendo sumir.
como se nunca tivesse estado aqui,
como se a inexistência fosse meu único vestígio.
mas no vazio que me cerca,
uma voz sussurra meu nome…
e por um instante,
quase me sinto real.
espelho quebrado;
como ouso amar,
se não sou amável?
como ouso julgar,
se sou imperfeito?
como ouso rir dos outros,
se a piada sou eu?
como me atrevo a sonhar,
se estou acorrentado no chão?
como ouso cobrar lealdade,
se eu traio?
como ouso gostar de alguém,
se me odeio?
como me atrevo à sensatez,
se eu sou a hipocrisia?
sou a mentira que condeno.
sou o erro que aponto.
sou o meu autoaprisionamento.
sou tudo o que enxergo em mim e condeno nos outros.
sou a sombra dos meus próprios julgamentos.
sou um espelho quebrado
meu reflexo distorcido
e, no entanto, ainda respiro,
ainda espero,
ainda sonho.
...
e, talvez um dia, em um kintsugi,
pinte meus trincos de ouro.
provocação II
(um rascunho de pele)
es
pa
ço
entre
nós:
meu
s
u
s
s
u
r
ro
(quero te machucar
de tão bonita que você é)
risca o ar —
— seco
(risco
risos
risco
risos
risco)
---
toque?
(mentira.
só o ar
que você
roubou
do meu
pulmão.)
(apaguei quatro metáforas aqui: todas mentiam)
---
sumiço?
(mentira.
só o eco
do meu
hálito
na sua
boca
fantasma.)
(a alça do seu sutiã escapou do ombro por descuido?)
---
vontade?
(verdade
e, contra minha
vontade,
te xingando
sem maldade
encerro a escrita
te deixando na...)
reticência.
provocação IV
(o que você sente quando ninguém está olhando?)
quem te ensinou
a fazer charme com o trauma?
usar tristeza como perfume,
esperar aplauso pelo olhar vazio?
te acho linda
com raiva,
e sinto pena
do texto ensaiado
de "não sei o que sinto".
(cresce um tédio
onde deveria haver mistério)
me provoca, vai.
fala do teu passado ruim
como quem canta
uma música pop.
(não resistem a uma mulher em ruínas,
não é isso que dizem?)
teu silêncio
chega sempre depois da tragédia,
mas nunca antes.
e eu finjo que não vejo
a performance da lágrima
no timing perfeito.
(esse seu cinismo
manteve a gente em pé.)
vem, me escreve um poema
como ferida de estimação.
me chama de babaca com sotaque de dor.
mas lembra:
quem se despe demais
vira vitrine de si mesmo.
teu corpo é um palco,
tua dor — roteiro.
eu, só plateia.
e o palhaço
que aplaude em pé:
gostosa.
provocação III
som:
esquisito radical
que sem
som
bra de —dúvidas
te as
sombram
pois se
existe (.?)
algo que
exista
mais que palavras
é som
e sombras
e perguntas
(sua inclinada som
brancelha)
no seu peito
se propagam
as mesmas perguntas
mas não ressoam
e os sons
que se misturam
ao nada
e não há
nada
que possamos fazer
(sobre o som
breado em você)
absolutamente nada
a respeito
do som
da tua sombra
das tuas perguntas
dos seus
por quês
"e se's?"
(e as razões
do seu existir?)
se perguntar:
qual a finalidade
de coexistir
com a realidade?
consegue aceitar
sua verdade?
(e todas essas perguntas?)
no vácuo,
adquirir a habilidade,
em meio à
complexidade
de simplesmente
sentir seu som.
(e na hora de cantar
desafinar no tom.)
floresta
tal qual um herbívoro
pastaria, lento,
nessa relva úmida —
beberia orvalho
(um doce noturno)
até que a floresta
toda se desmanchasse
em chuva.
(e eu, fitófago)
ao morder teu broto
e inundar-me dela,
jamais secarei:
porque após a chuva
fica entre as folhas
o brilho da falta —
água que não evapora.
mas não há fim
para quem bebeu
de tua fonte:
o gosto que
a boca guarda
(não se perde)
— é eterno
como sede.
e teu rio,
que em mim virava mar
brotava até o que não era semente,
na boca de outro herbívoro —
secou.
antes que ele pudesse beber.
(risos)
primeira queda
a criança na gangorra
com cordas roídas pelo carnal
quebraram na adolescência
(hormônios, pus na derme
e decepção)
bateu a cabeça no chão
e não chorou:
riu da própria testa sangrando
até que os beijos começaram a arder
tal qual sal em ferida fresca
e então ela aprendeu a odiar.
mas nunca a parar.
ou descer.
do brinquedo.
até hoje se balançando.
(e rachando o crânio)
retrato
passa-se o tempo,
de enterrar o que resta de você
na caixa de sapatos —
empurrada ao escuro do armário.
até que se apaguem
essas lembranças —
gastas, falhas, reincidentes.
mais pedras pra coleção:
fúnebre,
cemitério doméstico —
rostos pálidos, mortos,
gravados nas fotos,
vivos, velhos,
esperando apenas...
um olhar.
e lembrar.
e, assim,
transformar.
antes de retornar
pro lugar escuro.
momentos,
jogados ao vento.
relembrar os tempos —
doces lembranças —
na caixa velha,
suja,
podre,
no dia dezenove de março
que me trouxe,
de dois mil e vinte e cinco.
e logo depois,
quando eu terminar,
só restará
o breve instante —
perdido no tempo,
voltando ao nada,
ao não sofrimento,
(na caixa)
esquecimento,
sem ninguém pra olhar.
e foda-se.
vitoria
talvez seja só um reflexo
do que nunca alcancei.
se um dia te encontrar —
te reconhecerei?
havia algo insaciável.
a fome me corroía.
me entreguei a camas rasas,
onde o calor de corpos alheios
só deixava a barriga vazia.
(será que sua gengiva é mel?
ou puro piche?)
procurei no asfalto cinza,
nos vidros pretos
dos carros brancos.
achei vestígios dela
em lençóis úmidos,
bordados de amarelo.
e o nome permaneceu —
nas sombras do tempo,
na hipoderme gravou.
sangrou.
escorreu.
(meu estômago morreu
de fome)
Não espere ..Você não sabe o que vai acontecer amanhã.encare a oportunidade como única e última!Desafie, ouse e seja Feliz
Permita-se arriscar...O resultado da ousadia sempre é avanço, mesmo que seja com dores e dissabores!