Poemas inteligentes
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver.
A primavera me dá coisas. Dá do que viver. E sinto que um dia na primavera é que vou morrer. De amor pungente e coração enfraquecido.
Se eu ficar sozinha demais procurarei o nosso Consulado. Para rever brasileiros e poder de novo usar a nossa difícil língua. Difícil mas fascinante. Sobretudo para se escrever. Asseguro-vos que não é fácil escrever em português: é uma língua pouco trabalhada pelo pensamento e o resultado é pouca maleabilidade para exprimir os delicados estados do ser humano.
Na maioria das vezes, quando se descrevem as características físicas, morais e mentais de um brasileiro, não se nota que na verdade se estão descrevendo os sintomas físicos, morais e mentais da fome.
E que eu não esqueça, nessa minha fina luta travada, que o mais difícil de se entender é a alegria. Que eu não esqueça que a subida mais escarpada, e mais à mercê dos ventos, é sorrir de alegria. E que por isso e aquilo é que menos tem cabido em mim: a delicadeza infinita da alegria. Pois quando me demoro demais nela e procuro me apoderar de sua levíssima vastidão, lágrimas de cansaço me vêm aos olhos: sou fraca diante da beleza do que existe e do que vai existir. E não consigo, nesse adestramento contínuo, me apoderar do primeiro regozijo da vida.
À medida que os filhos crescem, a mãe deve diminuir de tamanho. Mas a tendência da gente é continuar a ser enorme.
Milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade.
Delícia de fechar os olhos, por um instante e assim ficar, sozinho, fabricando escuro... sabendo que existe a luz!
Todo esse apego do homem ao cachorro é porque o cachorro considera o seu dono o primeiro homem do mundo...
Se a tua vida não puder ser uma tragédia grega – por amor de Deus! – não a faças um tango argentino...
A única coisa que nos diferencia de peixes num aquário é que temos consciência dos limites de nosso mundo…
Haverá coisa escrita que não seja póstuma? Tudo que sai impresso é epitáfio...
Os chinelos são um par de gêmeos obedientes, sempre juntinhos ao pé da cama, pacientemente à espera do papai, que às vezes custa tanto a chegar.
Preocupar-se com a salvação da própria alma é indigno de um verdadeiro gentleman.
Fazia tanto calor que as sombras se ocultavam debaixo da barriga dos cavalos e da copa das árvores.
O bom das filas é nos convencerem de que afinal esta pobre vida não é tão curta como dizem.
Meu Deus, por que será que nos sentimos tão culposos diante desse olhar interrogativo que nos lançam, às vezes, os cães? Mas culposos de quê?
Talvez a poesia não passe de um gênero de crônica, apenas: uma espécie de crônica da eternidade.
As lagartas não podem acreditar na lenda das borboletas – tão antiga entre o seu rastejante e esforçado povo... mas sua felicidade consiste em relembrar, às vezes, o absurdo e maravilha desse velho sonho: o de se transformarem, um dia, em borboletas.
O crítico é um camarada que contorna uma tapeçaria e vai olhá-la pelo lado avesso.
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