Poemas inteligentes

Deteve-se numa adolescência magnífica, cada vez mais impermeável aos formalismos, mais indiferente à malícia e à desconfiança, feliz num mundo próprio de realidades simples. Não percebia por que razão as mulheres complicavam a vida com corpetes e saiotes, de modo que coseu um balandrau de canhamaço que enfiava simplesmente pela cabeça e resolvia sem mais delongas o problema de se vestir, sem lhe tirar a impressão de estar nua, que era na sua maneira de ver as coisas, a única forma decente de estar em casa. Aborreceram-na tanto para que cortasse o cabelo e para que fizesse carrapitos com travessas e tranças com laços coloridos, que muito simplesmente rapou a cabeça e fez perucas para santos. O que era espantoso no seu instinto simplificador era que quanto mais se desembaraçava da moda em busca da comodidade, quanto mais passava por cima dos convencionalismos obedecendo à espontaneidade, mais perturbadora se tornava a sua beleza incrível e mais provocador o seu comportamento com os homens.

Nós somos muita vez culpados nisto, está muito bem provado, que com a efígie da devoção e ação pia nós travestimos o diabo em pessoa.

William Shakespeare
Hamlet, Ato III, Cena 1

Nota: Pensamento citado por V no filme "V de Vingança".

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Bem, e daí? Daí, nada. Quanto a mim, autor de uma vida, me dou mal com a repetição: a rotina me afasta de minhas possíveis novidades.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

É difícil compreender e amar o que é espontâneo e franciscano. Entender o difícil não é vantagem, mas amar o que é fácil de se amar é uma grande subida na escala humana. Quantas mentiras sou obrigada a dar. Mas comigo mesma é que eu queria não ser obrigada a mentir. Senão, o que me resta?

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica “Brain storm”.

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Sou assombrada pelos meus fantasmas, pelo que é mítico e fantástico – a vida é sobrenatural. (...) Antes de me organizar tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

É uma barbaridade o que a gente tem de lutar com as palavras, para obrigar as palavras a dizerem o que a gente quer.

Mario Quintana
Nova Antologia Poética

Andava à deriva, sem afetos, sem ambições, como uma estrela errante no sistema planetário de Úrsula.

Gabriel García Márquez
Cem Anos de Solidão

Não jure pela Lua, que é inconstante e muda todos os meses em sua órbita circular, a menos que o seu amor seja igualmente instável.

O zero é a maior metáfora. O infinito a maior analogia. A existência o maior símbolo.

Sempre preferi deixar dezenas de mulheres esperançosas do que uma só desiludida.

As palavras fogem quando precisamos delas
e sobram quando não pretendemos usá-las.

Escrevo, triste, no meu quarto quieto. Como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei.

Dai palavras à dor. Quando a tristeza perde a fala, sibila ao coração, provocando de pronto uma explosão.

William Shakespeare
Macbeth, Ato 4, Cena 3

“As pessoas não se precisam, elas se completam… não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida. O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.”

Desde já calculo que aquilo que de mais duro minha vaidade terá de enfrentar será o julgamento de mim mesma: terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

"Você procura por alguém que cuide de você quando está doente, que não reclame em trocar aquele churrasco dos amigos pelo aniversário da sua avó, que jogue “imagem e ação” e se divirta como uma criança, que sorria de felicidade quando te olha, mesmo quando está de short, camiseta e chinelo."

Para quem tem memória é fácil lembrar, para quem tem coração é difícil esquecer.

Um amigo íntimo é um dos meus ideais, um dos meus sonhos quotidianos, embora esteja certo de que nunca chegarei a ter um verdadeiro amigo íntimo.

Fernando Pessoa
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa. Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

Quero viver num mundo em que os seres sejam simplesmente humanos, sem mais títulos além desse, sem trazerem na cabeça uma regra, uma palavra rígida. Quero que a grande maioria, a única maioria, todos, possam falar, ler, ouvir, florescer. Nunca compreendi a luta senão como um meio de acabar com ela. Quero um caminho, porque creio que esse caminho nos leva a todos, a essa amabilidade duradoura. Quero uma bondade ubíqua, extensa, inexaurível. Resta-me no entanto uma fé absoluta no destino humano, uma convicção cada vez mais consciente de que nos aproximamos de uma grande ternura. Neste sobressalto de agonia, sabemos que entrará a luz definitiva pelos olhos entreabertos. Entender-nos-emos todos. Progrediremos juntos. E esta esperança é irrevogável...