Poemas de José Saramago

Cerca de 230 poemas de José Saramago

Penso saber que o amor não tem nada que ver com a idade, como acontece com qualquer outro sentimento. Quando se fala de uma época a que se chamaria de descoberta do amor, eu penso que essa é uma maneira redutora de ver as relações entre as pessoas vivas. O que acontece é que há toda uma história nem sempre feliz do amor que faz que seja entendido que o amor numa certa idade seja natural, e que noutra idade extrema poderia ser ridículo. Isso é uma ideia que ofende a disponibilidade de entrega de uma pessoa a outra, que é em que consiste o amor.

(p/Revista Máxima)

Aprendi que o sentimento do amor não é mais nem menos forte conforme as idades, o amor é uma possibilidade de uma vida inteira, e se acontece, há que recebê-lo.

Normalmente, quem tem ideias que não vão neste sentido, e que tendem a menosprezar o amor como fator de realização total e pessoal, são aqueles que não tiveram o privilégio de vivê-lo, aqueles a quem não aconteceu esse mistério.

⁠Que dirá a vizinhança quando der por que já não estão aqui aqueles que, sem morrer, à morte estavam.

(As intermitências da Morte)

Inserida por JPVercosa

Pensar, pensar
Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma.

... mas quando quando a aflição aperta, quando o corpo se nos demanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos.

A palavra deixou de ter conteúdo e de ter qualquer coisa dentro, é pronunciada com uma leviandade total.

Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem idéias, não vamos a parte nenhuma.

... e serenamente desejou estar cega também, atravessar a pele visível das coisas e passar para o lado de dentro delas, para a sua fulgurante e irremediável cegueira.

José Saramago
Ensaio sobre a cegueira

... perdoem-me a preleção moralística, é que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos, não sou rainha, não, sou simplesmente a que nasceu para ver o horror, vocês setem-no, eu sinto-o e vejo-o, e agora ponto final na dissertação, vamos comer.

José Saramago
Ensaio sobre a cegueira

Jangada de Pedra

"Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira..."

"Os olhos olham, e por verem tão pouco, procuram o que deve estar faltando e não encontram."

"...era tempo de deixar o passado entregue à sua inquieta paz."

"...esse é um dos efeitos do tempo, apagar."

"...de que adiantaria falar de motivos, às vezes basta um só, outras vezes nem juntando todos, se as vidas de cada um de vocês não vos ensinaram isto, coitados, e digo vidas, não vida, porque temos várias, felizmente vão-se matando umas às outras, senão não poderíamos viver."

"...os vi como pessoas separadas da lógica aparente do mundo, e assim precisamente me sinto eu."

"...talvez lhe chegue o dia, se estiver com atenção à oportunidade."

"...é bem certo que as palavras nunca estão à altura da grandeza dos momentos."

"...seria muito interessante, além de educativo, sermos uma vez por outra espectadores de nós próprios, provavelmente não gostaríamos."

"...aqui o que se ouve é o silêncio, ninguém deveria morrer antes de conhecê-lo, o silêncio, ouviste-o, podes ir, já sabes como é."

"As energias voltam sempre quando a esperança volta."

"...é para isso que o silêncio verdadeiramente serve, para que possamos ouvir o que se diz não ter importância."

"...limitara-se a perguntar, quem julgue que isso é o mais fácil está muito enganado, não tem conta o número de respostas que só está à espera das perguntas."

"O mundo está cheio de coincidências, e se uma certa coisa não coincide com outra que lhe esteja próxima, não neguemos por isso as coincidências, só quer dizer que a coisa coincidente não está à vista."

⁠A EDUCAÇÃO É "IMBIRA". ("Se queres ser cego, sê-lo-ás." — José Saramago)
Pensando no Velho Normal, quando a prova servia, sim, para avaliação de quem a elaborara. Aliás, só servia para isso. Se eu desse uma nota baixa a um aluno qualquer, teria de lhe dar um trabalho cobrindo essa nota, eu me castigando como se fosse minha a reprovação deles. Agora sei que cada um age inusualmente ante ao mesmo fato, porque interpreta os estímulos de forma particular, conforme o caráter já estabelecido. Não me acostumei ainda com essa prática que transcende para o Novo Normal. Por isso, estou triste, amarrado de corda, minha alma está procurando uma saída, cura e subsídio. Ou melhor, estou numa crise profissional, doença do espírito e preciso dos medicamentos corretos. Estes medicamentos podem ser um conselho, um amigo, uma mão estendida, enfim, podem ir além de coisas materiais e palpáveis. Mas, o Mário Quintana já falava por mim: "Não tenho vergonha de dizer que estou triste, Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas: Estou triste por que vocês são burros e feios e não morrem nunca..." Não queria ofendê-los, são palavras dele que me servem agora. Pois que meu senso de individualismo está bastante elevado! Mas, não vou ainda me descuidar dos interesses coletivos e quero me mostrar colaborativo. Vem você me ajudar a desatar alguns nós cegos desse sistema educacional. CiFA

Inserida por Kllawdessy

Quanto a José Saramago. Já morreu! Mas não merecia o "prémio Nobel". De modo algum. Para mim não passou de um comunista; aliás mal educado e arrogante. O único premio que lê dava, era o da arrogância. A propósito li dois livros dele: O evangelho segundo Jesus Cristo e o ensaio da cegueira. Metem nojo, os livros.

Inserida por Helder-DUARTE

...o que sucede é que tudo me cansa e aborrece, esta maldita rotina, esta repetição, este marcar passo. Distraia-se, homem, distrair-se sempre foi o melhor remédio. Dê-me licença que lhe diga que distrair-se é o remédio de quem não precisa dele... (O homem duplicado)

O Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um é somente a ausência do outro.
(O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

Nada começa que não tenha que acabar, tudo o que começa nasce do que acabou.
(O Evangelho Segundo Jesus Cristo)

❝ Digo às vezes que não concebo nada tão magnífico e tão exemplar como irmos pela vida levando pela mão a criança que fomos, imaginar que cada um de nós teria de ser sempre dois, que fôssemos dois pela rua, dois tomando decisões, dois diante das diversas circunstâncias que nos rodeiam e provocamos. Todos iríamos pela mão de um ser de sete ou oito anos, nós mesmos, que nos observaria o tempo todo e a quem não poderíamos defraudar. Por isso é que eu digo […]: Deixa-te levar pela criança que foste. Creio que indo pela vida dessa maneira talvez não cometêssemos certas deslealdades ou traições, porque a criança que nós fomos nos puxaria pela manga e diria: ‘Não faças isso.❞

A Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exato e rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo.

Porque ainda está para nascer o primeiro homem desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, muito mais dura que a primeira, que a tudo sangra.

Cala-te, […] calemo-nos todos, há ocasiões em que as palavras não servem de nada, quem me dera a mim poder também chorar, dizer tudo com lágrimas, não ter de falar para ser entendida.

(...) de que adiantaria falar de motivos, às vezes basta um só, outras vezes nem juntando todos, se as vidas de cada um de vocês não vos ensinaram isto, coitados, e digo vidas, não vida, porque temos várias, felizmente vão-se matando umas às outras, senão não poderíamos viver.

José Saramago
SARAMAGO, J. A Jangada de Pedra. Lisboa: Editorial Caminho. 1986