Poemas de Guimarães Rosa

Cerca de 162 poemas de Guimarães Rosa

Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. (…) A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. (…) Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe; e se sabe, me entende.

Até hoje, para não se entender a vida, o que de melhor se achou foram os relógios. É contra eles, também, que temos que lutar...

Guimarães Rosa

Nota: Guimarães Rosa, in Tutaméia

Quantas mangas perfaz uma mangueira, enquanto vive? - isto, apenas. Mais, qualquer manga em si traz, em caroço, o maquinismo de outra, mangueira igualzinha, do obrigado tamanho e formato. Milhões, bis, tris, lá sei, haja números para o Infinito. E cada mangueira dessas, e por diante, para diante, as corações-de-boi, sempre total ovo e cálculo, semente, polpas, sua carne de prosseguir, terebintinas.

Guimarães Rosa

Nota: Guimarães Rosa, in Tutaméia

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Guimarães Rosa

Nota: A Terceira Margem do Rio, Primeiras Estórias, Guimarães Rosa

Se sua fama, é por meio de "Likes"
E seus elogios é por meio de "Comentarios"

Sua vida é um eterno paradoxo.

Uma breve argumentação

Vai desistir da vida ?
Deixa eu lhe falar:
Seu coração não desistiu de bater.
Seus rins não desistiram de filtrar.

Seus olhos não desistiram de enchergar.
Seus ouvidos não desistiram de escutar.

Suas pernas não desistiram de andar.
Deus não desistiu de te amar.

Estamos em óbito

A diferença é que estamos vegetando
E o que nós interra é a materia.

Inserida por pedro_guimaraes_rosa

Sertão é uma terra de quem é forte, com as astucia, Deus mesmo quando vinhe que venha armado.

Ser ruim, sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de experiência.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Para o prazer e para ser feliz, é que é preciso a gente saber tudo, formar alma, na consciência; para penar, não se carece.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Os fatos passados obedecem à gente; os em vir, também. Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual – e é o que é.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

Jamais, aqui, hão de me ensinar o nunca. E eu queria voltar a um terno recanto perdido, universo: amorável. Se sorri, era o mundo todo coincidindo com a minha atualidade.

Guimarães Rosa
Estas histórias. In: João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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Nada em rigor tem começo e coisa alguma tem fim, já que tudo se passa em ponto numa bola; e o espaço é o avesso de um silêncio onde o mundo dá suas voltas.

Guimarães Rosa
Estas estórias. João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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A vida também é para ser lida. Não literalmente, mas em seu supra-senso. E a gente, por enquanto, só a lê por tortas linhas.

Guimarães Rosa
Tutameia. In: João Guimarães Rosa: ficção completa, volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
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Iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. “Afinam e desafinam”.

Inserida por Geovanio

Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração.

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador

Quem-sabe, a gente criatura ainda é tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá?

Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
Inserida por pensador