Poemas de Fernando Pessoa -Salazar

Cerca de 132203 frases e pensamentos: Poemas de Fernando Pessoa -Salazar

Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive,
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.

Quase às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio.
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio.

Girassol do falso agrado
Em torno do centro mudo
Fala, amarelo, pasmado
Do negro centro que é tudo.

Fernando Pessoa
Novas Poesias Inéditas. Lisboa: Ática, 1973.
Inserida por pensador

⁠Quando te vi, amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não o fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te.

Fernando Pessoa
Fausto – Tragédia Subjectiva. Lisboa: Presença, 1988.

Nota: Trecho do poema MARIA: Amo como o amor ama.

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Inserida por erika_beato

⁠Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por pensador

Fiquei doido, fiquei tonto...
Meus beijos foram sem conto,
Apertei-a contra mim,
Aconcheguei-a em meus braços,
Embriaguei-me de abraços...
Fiquei tonto e foi assim...

Sua boca sabe a flores,
Bonequinha, meus amores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me,
E tantos beijos p'ra dar-me
Quantos eu lhe dou também.

Ah que tontura e que fogo!
Se estou perto dela, é logo
Uma pressa em meu olhar,
Uma música em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a querer achar.

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que, enleado nos teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria vida,
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.

Não descanso, não projecto
Nada certo, sempre inquieto
Quando te não beijo, amor,
Por te beijar, e se beijo
Por não me encher o desejo
Nem o meu beijo melhor.

Fernando Pessoa
Pessoa por conhecer: textos para um novo mapa. Lisboa: Estampa, 1990.
Inserida por marcosarmuzel

⁠Mais do que outras artes, são a Literatura e a música propícias às subtilesas de um psicólogo. As figuras de romance são - como todos sabem - tão reais como qualquer de nós. Certos aspectos de som tem uma alma alada e rápida, mas suscetíveis de psicologia e Sociologia porque - bom é que os ignorantes o saibam - as sociedades existem dentro das cores, dos sons, das frases, e há regimes e revoluções, reinados, políticas e - há-os em absoluto e sem metafísica - no conjunto instrumental de sinfonias, no todo organizado das novelas, nos metros quadrados de um quadro complexo, onde gozam, sofrem e misturam as atitudes coloridas de guerreiros, de amorosos ou de simbólicos.
Quando se quebra uma chávena da minha coleção japonesa, eu sonho que mais do que um descuido das mãos de uma criada tenha sido a causa, ou tenham estado os anseios das figuras que habitam as curvas daquela de louça; a resolução tenebrosa de suicídio que as tomou não se causa espanto: serviram-se da criada, como um de nós de um revólver. Saber Isto é estar além da ciência moderna, e com que precisão eu sei disso.

Diário de Bernardo Soares - pag. 341

Fernando Pessoa - Livro do desassossego

Inserida por ana_nenduziak

⁠Ah, meu maior amigo, nunca mais
Na paisagem sepulta desta vida
Encontrarei uma alma tão querida
Às coisas que em meu ser são as reais. [...]

Não mais, não mais, e desde que saíste
Desta prisão fechada que é o mundo,
Meu coração é inerte e infecundo
E o que sou é um sonho que está triste.

Porque há em nós, por mais que consigamos
Ser nós mesmos a sós sem nostalgia,
Um desejo de termos companhia –
O amigo como esse que a falar amamos

Fernando Pessoa
Poesias inéditas (1930-1935). Lisboa: Ática, 1955.
Inserida por Maiaregina

⁠A vida é um hospital
Onde quase tudo falta.
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta.

Fernando Pessoa
Quadras ao gosto popular. Lisboa: Ática, 1965.
Inserida por viviane_1

⁠Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

Fernando Pessoa
Poemas Completos de Alberto Caeiro. Lisboa: Presença, 1994.

Nota: Trecho do poema Não tenho pressa. Pressa de quê?, de Alberto Caeiro, um dos pseudônimos do poeta português Fernando Pessoa.

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Inserida por dhiegobalves

⁠A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te ouço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por rodrigo_marzullo

Dizem?

Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Porquê
Esperar?
— Tudo é
Sonhar.

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por usuario655120

Passa uma nuvem pelo sol.
Passa uma pena por quem vê.
A alma é como um girassol:
Vira-se ao que não está ao pé.

Passou a nuvem; o sol volta.
A alegria girassolou.
Pendão latente de revolta,
Que hora maligna te enrolou?

Fernando Pessoa
O guardador de rebanhos e outros poemas (1988).

Nota: Poema escrito em 14 de agosto de 1933.

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Inserida por usuario655120

⁠Contudo, contudo,

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.

Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

Fernando Pessoa
CAMPOS, Álvaro de. Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.
Inserida por lubaffa

Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

Inserida por rapha777

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.
Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.
E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.
Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Inserida por rapha777

Hoje sou a saudade imperial
Do que já na distância de mim vi...
Eu próprio sou aquilo que perdi...

Inserida por melloncollie

Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.⁠

Não tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.

Sim: existo dentro do meu corpo.
Não trago o sol nem a lua na algibeira.
Não quero conquistar mundos porque dormi mal,
Nem almoçar o mundo por causa do estômago.
Indiferente?
Não: filho da terra, que se der um salto, está em falso,
Um momento no ar que não é para nós,
E só contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,
Traz! na realidade que não falta!

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não; não tenho pressa.
Se estendo o braço, chego exatamente aonde o meu braço chega —
Nem um centímetro mais longe.
Toco só aonde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E somos vadios do nosso corpo.
E estamos sempre fora dele porque estamos aqui.

Fernando Pessoa
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa. Lisboa: Estampa, 1990.
Inserida por JeaziPinheiro

⁠Entrelaços duplamente eternos

Sob a lua prateada, tão serena e tão casta,
No princípio se eleva a imagem que contrasta.
Por entre estrelas de um azul profundo e frio,
Deus traçava o infinito, seu divino desafio.

O mármore do tempo, tão polido e sem falha,
Ressoava na cidade, na vida que trabalha.
Em ouro e prata, brilham as máquinas de ferro,
Álvaro vê Bilac, no reflexo do espelho.

"Amarás!", dizem versos em rimas bem medidas,
Mas o grito da alma, nas ruas e avenidas,
Se perde na turba, na frenética canção
Da máquina e estrofe, pulsação e coração.

Porque Deus, em seu esplendor e perfeição,
Ofertou ao mundo um Filho, a salvação.
Mas na esquina de Lisboa, em um olhar de contraste,
Campos busca o seu ritmo, antes que sua alma se desgaste.

"Eis que estou!", exclama o poeta, em pulsação,
Na busca pelo eterno, pela exata expressão.
A beleza parnasiana, na técnica e na arte,
Se funde com o grito, rasga a alma, parte a parte.

Na metrópole do ser, onde o sonho e o real colidem,
Bilac e Campos dançam, e suas vozes decidem:
O eterno e o efêmero, juntos, se entrelaçam,
Em versos e máquinas, que o tempo não deslaçam.

Inserida por AugustoGalia

"Todos as Pessoas
Que foram o Fernando
Mexem comigo
Todos os seus Eus
Invadem o meu Eu contido
Gostaria de tê-lo conhecido
Não só o Fernando
Mas todas as Pessoas
Que nele viviam".

Inserida por alexandra_barcellos

QUANDO EU TÔ CONCÊ...
de: Mineirinha... caipira sim Uai.
para: Cantinho dos Caipiras
enviado: 10 de novembro de 2008 22:43
QUANDO EU TO CONCÊ
Quando eu to concê o tempo é curto igual coice de porco
MaiZ gostosu quinem bêjo di primo
Ficu tão filISS quI meus dente fica maiz pra fora
Duquê cutuvêlo dI caminhoneru
Ocê é um trem tão bao que faiz meu coração
Pulá quinem pipoca num é popica hein?
Ocê me fais paiaçada pra mim i ieu façu
Paiafrita i cozida procê.
E cuando iscutu piada çua ieu dô tanta
Risada qui minha boca fica maiz aberta
Qui burro cuando come urtiga di tanto quiocê mi faiz bem
Mais quando ocê vai çimbora
Eu fico perdidu quinem minhoca nu meio da galinhero
Meu sorriso fica murchim quinem arface na gordura quente
Qui farta um anjo paiaço faiz na vida da gente
Oia ocê é um trem danadu dibão
Que nem xuxu cum limão
Quinem queijo cum goiabada
Ocê é um tizoru que vô guardá drentro du meu coraçãozim
Vô ali um cadiquim fazê uma paiaçada, ocê prefere di cual?
Paiafrita, paiacuzida ou paiaçada mesmo?
Aqui vô maiz dexu humbração sabor queijim minerim com direitou
A docim viu?

Caminhada

É com luta
Que aprendemos A construir com amor!
A paz interior e
Caminharmos com
Alegria, vitoria

Nessa caminhada
Vamos aprender
A sobreviver pois,
Às vezes vamos ter que Chorar para vencer.

Vamos ter que lutar
Para brigar por nossas conquistas.
Na caminhada não é fácil.
Com Deus no coração
Não baixe a cabeça na hora da decepção.

Na Caminhada dessa vida
Nem sempre vai ter alegria.
O coração vai sofrer
não é hora de parar
mesmo com a dor.
É hora de continuar
A caminhar

Inserida por fabio_junior_3