Poemas sobre fome e pobreza que denunciam essa realidade

Equipe editorial do Pensador
Equipe editorial do Pensador
Criado e revisado pelos nossos editores

Era ainda menino
Mas seu rosto estava carregado de preocupação,
Um suor cheio de agonia,
Tristeza, decepção.

Apesar do suor em seu rosto
O menino estava gelado, pálido.
Sem forças para falar de seu sofrimento,
Menino cansado, abatido.

Falou apenas uma frase antes de ser abatido pela fraqueza,
Era a fraqueza da fome,
Pois sequer havia tomado café,
Refeição quase sagrada para o ser humano.

Mas a fome é “amiga” da pobreza,
Covarde, traiçoeira.
E o menino caído,
Vencido pela fome.

Adormecido,
Um sono de quem não teve o que comer.
Ele, apenas um menino
Longe do pai e da mãe.

Pois não há pai ou mãe
Dentro da mais absurda pobreza
Que não chore por seu filho faminto
Na tentativa de ser solidário.

E o menino “órfão” de pai e mãe
Estava ali, caído.
O sono era seu único alimento,
Sua única esperança.

As pessoas olhavam o menino
Imaginando sua grande dor.
Uma criança com fome,
Fraca, incapaz.

Um menino sem o brilho de sua criancice,
Até isso a fome nos rouba
Transformando-nos em trapos humanos,
Reféns de nossa própria miséria.

Seu rosto era a linguagem da aflição,
Corpo esticado como um cadáver,
Vítima de tamanha desigualdade social.
Menino com a infância roubada.

Mas o menino não se deu por vencido,
Saciou sua fome com mingau.
Apenas mingau lhe foi necessário,
Mesmo assim é uma cena doída.

Ele, apenas menino,
Caído,
Com fome,
Fome que mata,
Maltrata,
Desnutre,
Enfraquece.

Ele, mais um menino pobre entre tantos.
Vencedor,
Guerreiro,
Criança.

José de Alencar Godinho Guimarães

OLHOS FECHADOS!

O nordestino sofre tanto
com seca, fome e pobreza
um pote seco no canto
um prato vazio lá na mesa
e o preconceito no entanto
não sabe a dor desse pranto
e zomba na nossa tristeza.

Ainda não é a modernidade

A fome todo dia é aviso
nas periferias das nossas cidades
da pobreza de um povo esquecido,
que ainda não estamos na modernidade.

A criminalidade só aumenta
a segurança não se vale
o cidadão vive na sargenta
e o bandido pela cidade

levando o pânico as ruas
protegidos a todas as brechas
de estatutos covardes.
Ainda não estamos na modernidade.

As doenças se espalham
afaetando muita gente
que por pobreza não se salvam
a espera de um sistema de saúde doente

por causa das corrupções
que assolam nossa dura relidade
nosso dinheiro minstrado por barões,
ainda não estamos na modernidade.

Mas meu país tem futebol
belas praias e muita felicidade
em muitos dias de sol,
mas esta não é minha realidade

moro no sertão
e meu passatempo é estudo e trabalho
pra fugir da pobreza
dessa vida nunca saio.

A distãncia não importa
ainda moro numa pequena cidade,
para me ver abrir as portas
e tirar minha família dessa triste realidade.

⁠A FOME..

A fome dilacera

Pode ferir e matar!

- A fome estanca

e domina com atrocidade.

Ela atinge a sociedade

que se esquiva da responsabilidade.

- A fome é criada...

Em contraste com a vida.

- A fome pode ser evitada

com causas nobres...

Basta se sensibilizar, se doar...

E com o pouco que se doa

muito pode representar:

- vidas acudidas...

- vidas acolhidas...

- vidas supridas...

- vidas socorridas!

É UM BEM QUE NÃO SE PODE NEGAR...

- E É SÓ DESEJAR E COMEÇAR!

Empurrado pra's ruas

Disse que não me faltava quase nada
Mas quando me deu um cobertor
Não percebeu
Que o frio vem também da solidão
Da falta de um pão
Na barriga vazia de quem nada comeu

Disse que me arrumaria um bom emprego
Mas quando encontrou uma vaga
Esqueceu
Que pra tudo tem que ter formação
E pra quem não recebeu primeiro educação
Restou acostumar-se com a vida de plebeu

Disse que eu estaria limpo após um banho
Mas depois de todo um sabonete usado
Não percebeu
Que a sujeira vem das ruas deste mundo
E quem está sempre nelas continuará imundo
Porque não tem um lugar pra chamar de seu

Disse que resolveu minha vida
Mas quando falou que o fez
Esqueceu
De certificar-se que eu só sobrevivia
E que cidadania nenhuma eu teria
Enquanto a cidade crescer mais que eu

Soneto de indignação

A aparente ossada do animal morto intimida,
mosaicos na pele, nos pés, no chão, seco e rachado,
a aridez pastel contrasta com a beleza do céu azulado,
a inabalável fé vencendo um ambiente hostil a vida...

A pseudo falta de solução, ativo de útil contrapartida,
para heróis que logo somem após terem se elevado,
se apropriando da esperança de um povo subjugado,
Indecente placebo que ilude mas não cura a ferida...

Mas a maior virtude é persistir um tanto a mais,
quando tudo de fato já parece totalmente perdido,
onde o ato de sobreviver se torna um fato contumaz

Inerente a força de quem acostumou-se a ser esquecido,
vivendo um dia por vez à sombra da ganância voraz,
onde para o povo pobre o pior foi ter nascido.

⁠Dorme que passa!

Nada é pior doquefalta de condições.
Eis a mais asórdida face da crueldade.
Um fato comum de uma triste realidade,
ter os problemas mas não ter soluções.

O mundo não para, seguem as provações;
aprendemos que viver é vencer dificuldade,
esobrevivemos em meio a precariedade...
Dia a dia; o tempo anestesiando aflições.

Entregar a Deus, clamar em seu nome!
Uso da fé, para refutar qualquerameaça.
E assim...Do nada veio, do nada some.

O tempo passa a postergar a desgraça,
podeser qualquer mal estar ou fome,
Contra a dor, apenas dorme que passa!

⁠O MENDIGO

A calçada é meu lar.
Sou pessoa oprimida.
Cato lixo para achar
uma sobra de comida.
É tão grande a minha fome
que nem sei mais o meu nome
e nem mesmo o que é vida.

[miséria diz]

Aflora, dignidade,
pois quanta maldade eu vejo aflorar

a noite afora
no frio, no vácuo
morre na ponte
cai do telhado
queimado, sem teto

Aflora, dignidade,
pois toda a miséria é indigna

em casa, a forra
no seco, coberto
digno de gestos
cai da boca migalhas,
todo o pão

Alma Faminta

A fome me rodeia.
Não tenho ceia,
nem almoço, nem jantar.
Nem um lanche pra disfarçar
Uma migalha de pão e só.
Num frio de dar dó
Enrolado em trapos.
Divido a noite com ratos.
Dormia, e ainda dava pra sonhar
que eu estava em um lugar
onde tinha comida e roupa lavada.
Tinha trabalho e alguém que me amava.
Acordei do nada,
com um tapa.
Era mais um playboy pra infernizar.
Dava chutes e socos, até tentaram me queimar.
Sempre me pergunto: Que mal eu fiz?
Com tanta dificuldade ainda tento ser feliz.
Tem dias que ninguém me vê,
ou finge para não se meter.
Passa como se estivesse tudo normal
Já se acostumaram a ver pobre se dar mal.
Sem família, sem lugar para morar.
Fiz da rua o meu lar.
Comigo só um cachorro magro,
meus trapos e pontas de cigarro.
Fico feliz quando junto muita latinha.
Eu vendo e já garanto o meu dia.
Ou quando alguém faz doação,
sorrio e agradeço a atenção.
Já vendi bala até na porta de padaria,
mas logo pegaram minha mercadoria.
Me aproximo para pedir.
Só ouço: "Não tenho, saia daqui."
Mas eu prefiro pedir do que roubar.
Miserável sou, mas ainda tenho o que me orgulhar.
Não é acampamento, é o lugar onde eu tento repousar.
Destroem sempre, mas volto pro mesmo lugar.
O néon se mistura com o brilho da lua,
é a melhor paisagem pra quem vive na rua.
Bom é quando os restaurantes jogam fora a comida.
Tenho que correr, que dá até briga.
Eu não quero carro e muito menos riqueza.
Só quero um lar onde não habite a tristeza.
Quero dignidade e consciência,
pra suprir essa carência.
De amor e comida.
Que sare minha ferida.
Exterior e interior.
Que me chamem de senhor.
Será que não tenho direito de pedir?
O que será de mim?
Quando a noite cair
é cada um por si.
Ninguém me ouve, e ainda tomo esporro.
Por aqui o grito de gol vale mais do que socorro.
O que me resta é toda noite rezar.
Pra Deus nunca esquecer de me acordar.