Poemas a um Poeta Olavo Bilac
Num país onde a desonestidade é culturalmente associada a inteligência, a corrupção sempre será um câncer protagonista!
''Se você não puder ser um pinheiro no alto da colina,
Seja um arbusto no vale, mas seja o mais belo arbusto à margem do regato.
Seja um ramo, se não puder ser uma árvore.
Se não puder ser um ramo, seja um pouco de relva e dê alegria aos que passam no caminho.
Se não puder ser almíscar, seja então apenas uma tília.
Mas a tília mais viva do lago!
Não podemos ser todos capitães, alguns temos de ser tripulação.
Há algum lugar para todos nós aqui. Há grandes obras e outras menores a realizar e sempre há uma tarefa que devemos empreender.
Se você não puder ser uma estrada, seja uma vereda.
Se não puder ser o sol, seja uma pequena lamparina...
Não é pelo tamanho que se ganha ou que se perde, mas seja o melhor possível, do que quer que você quer ser!
Soneto de um solitário
Permanece como réu, imoto
a respiração sem equação
em silêncio o ego e emoção
como em oração fiel devoto
O lamento que acolhido na mão
chora suor do quesito remoto
a lágrima se imerge num arroto
dos soluços surdos do coração
Como centro de tudo, a solidão
que desorienta e se faz ignoto
o olhar, largado na escuridão
Seja breve e renovado broto
que renasça após a oblação
o abraço que se fez semoto
(traga convívio pro ermitão)
Luciano Spagnol
Farnel
A existência é um caracol
De curvas e lombadas
Tem o breu da lua e o brilho do sol
Sobe e desce e algumas paradas
E nestes altos e baixos
Deparamos com nossas caminhadas
Altivos e cabisbaixos
Tentando superar as escadas
O que não se pode perder no cordel
Neste emaranhado fio da meada
É de ter genuíno amor no farnel
Luciano Spagnol
Mais um outono
Mais um outono aos amuos do vento
Desarraigando as folhas num valsar
De alento, saudade ou desalento
Que vão pelo umedecido e cinzento ar
Em pares, grupos ou solitárias
Vão se acomodando pelo chão
Em lentas e calmas romarias
Com doridas vozes em oração
Nos galhos os abraços dos ninhos
Acariciados pelos redemoinhos
Ali ficam poeirados e agarradinhos
As folhas são barcos nas corredeiras
Nos charcos descansam nas beiras
O outono costurando suas algibeiras
Luciano Spagnol
O tempo e eu
Tudo se tornou tão conciso
O tempo pequeno
O sonho que preciso
Um aceno...
Tudo tão distante, indeciso
Passando tão rapidamente
Meus velhos amigos, indiviso
Os cabelos brancos comumente
Eu ali diante do tempo, sem opção
Que passa velozmente, outrora recente
Aquele tempo cheio de porção
Que aos olhos era lentamente
E livre de pensamentos o coração
Abruptamente
Calcei a meninice de pés no chão
Que ficou no passado
Trancado pelo tempo o portão
Vai em frente
Diz com decisão
Friamente
Quando de repente lágrimas de emoção
Escrevem palavras de lembranças
Retratando a casa da vovó, paixão
O tempo agora, confiança
Já é tão sucinto
Mas com esperança
Acumulado no recinto
Da aliança
Do tempo e o aprender
A ter fé, nesta real dança
De que ser feliz é amar no viver.
Luciano Spagnol
Ponto
No caminho pedras e trilho
Guiando no carril de ferro
Os fados de um andarilho
Entre planícies e cerro
Num misto de estampilho
De silêncio e de berro
Desencontros e amores
Nascimento e enterro
Constrói-se os valores
As flores, acerto e erro
De aprendizes prescritores
De vírgula, reticência
Da vida, e no fim o ponto
Cerrando a diligência
Encerrando o conto
Luciano Spagnol
Balanço
Um dia se aprende a achar
No outro sabe como é perder
Um dia o silêncio põe a falar
No outro como é escolher
É o fado nos ensinando a caminhar
Nos fazendo dar e receber
E a entender que o que vale é amar...
No balanço do nosso viver!
Luciano Spagnol
COMU É BÃO TÊ UM AMÔ!
Sinhazinha ocê num sabi cumu foi bão
Lê ocê sonhandu cum iêu
Queru ti confessá intão
U tamanhu das minha emoção
Coitadu du seu Santu Antoinhu
Faiz tempu qui istava di cabeça pra baxo
Agora inté si mi agradiceu
Dissi que vai dá tudu certo
U casamentu di ocê mais iêu
Seus sonhu cum nossa união
Tambeim a iêu si mostrô
Que nossa união seja prena
Di muita paciença, paiz e amô
Ocê, sinha! Vai sê a muié mais filiz da roça
As otra vão ficá tudo cum inveja
Di sabê que ocê conqustô u coração
Du mais cobiçadu homi da região
Num si apreocurpe cuns infeiti
Di tamanha dicraração
Ocê simplesmenti
Já é dona du meu coração
Das fulô mais bunita
Que Deus pois nu jardim
Tirou di lá i colocô
Bem juntinhu di mim
É ocê, muié das mais cherosa
Só num possu dizê qui é gostosa
Só dispois di si casá
Vô tirá essa prova
Voismicê vai sê a rainha
Aqui du meu roçado
Inté as ladainha
Vai falá da sinhazinha
Prometu intão, meus incantu
Cuidá di ocê com muitu dengu
Fazê ocê a mais filiz
Di tudu quantu é cantu
Inté, intão minha doci paxão
Muié qui Deus mi presentiô
Quero ocê com toda emoção
Guardada sempri nu meu coração
Joca Caipirinha
Seu amô du sertão.
PêÉssi:
Mum possu dizê qui sô fazendêro ricu
Mais tenho terra que somi nas vista
Meus gadu, minha prantação
São tudu meu ganha pão
Tenhu uma viola qui faço chorá
Pra modi cantá pra ocê, sinhá
Uma sanfona pru fole puxá
I nossa vida alegrá
Tenhu u sangui doci
Mais tá tudo dentru dus contròli
Num si preocurpe cum issu
Galu bão, quando perdi as ispora
Si adefendi cuns bicu
CORDEL CEARENSE !
Quis montar um cordel
Pra mode ferecer o cearense
Se Home, muié, fio e donzela
Faz-se um cordel cearense
Cuscuz, tapioca na tijela
Buxada, carne seca, rapadura
Nóis, sertanejos com vida dura
Toicim, maxixe na panela
Enche o bucho de nossa gente
É pra mode nóis trabaiá
Nóis sumo do Ceará
“Eita povo valente”.
VISÃO
No cerrado vi um peão a toda brida
Pelos cascalhados da árida estrada
Do meu sonho não entendia nada
Se eu estava na morte ou na vida
Entre folhas ressequidas, adormecida
Uma caliandra, sendo colhida por fada
Em cachos, no beiral da lua prateada
Numa tal tenra pálida beleza já vencida
E nesta ilusão a ele fiz uma chamada
Vós estás de chegada ou de partida?
O tal peão, O Tempo, de sua cruzada
Respondeu: não tenho alguma parada
Levo comigo o podão de toda a vida
A caliandra colhida, é tua infância perdida.
DUETO (soneto)
A minha tristura é uma gargalhada
A saudade um suspiro. Ela chorava
Na solidão onde eu me encontrava
Me deixando além d'alma estacada
Os sonhos pouco ou nada resvalava
Pelo olhar. Não tinha a asa dourada
A saudade ria com a tristura chegada
Sob a cruel melancolia que matava
Do sorriso a saudade fez morada
Sequer de um pranto ela alegrava
Tinha tristura na sinfonia cantada
No dueto: saudade e tristura, aldrava
O coração no peito, da aflição criada.
Então, atrozes, alívio na poesia forjava...
Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano
AMADOR SEM COISA AMADA
Ando no cerrado sem coisa amada
No coração um eco de um amador
Que atroa pela emoção tão atada
A solidão, que se dissolve em dor
Se me quiser, não me traga cilada
Ou então me deixe imoto por favor
De tédio a alma já se acha calada
E o olhar, no chão, cheio de travor
Quando a ventura fica embaciada
A sorte se enche de um tal pavor
E a sensação fica toda prostrada
E no amador sem a coisa amada
Sou um apaixonado aonde eu for
Aprendiz, buscando está jornada
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro, 2017
Cerrado goiano
um poema à hora do almoço
um poema à hora do almoço
degustado na inspiração
rezo o Pai Nosso,
em gratidão
e neste esboço
um poema na refeição
mastigado entre folhas
arroz e feijão
rimas nas escolhas
agrião
alface
almeirão
servido com vinho de classe
é hora do almoço
o pensamento na sua direção...
alvoroço.
prato pela metade
mastigação
ansiedade
chega sobremesa na opção,
não
somente o café.
e a conta!
afinal de conta
o coração
pensa em você!
agitado pra te ver.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
08/08/2018, 12’00”
Cerrado goiano
CAFÉ DA MANHÃ
Quero um afago simples
Tal um pingado, pão e manteiga
Na ingenuidade, sem porquês
Com a doçura e palavra meiga
Dum bom dia! Sem a obrigação
Do perfeito, tal feito, duma cantiga
Degustada pelo coração.
Na sua fome de encontrar...
E então, neste dejejum
Pra quem acabou de levantar
Sirva o amor, não ímpar, mais um
No café da manhã, e sim, um par
Cheio de olhar, ao afeto comum
Antes da rotina começar.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, agosto
Cerrado goiano
Manú
Tão linda com o seu jeito
Elegante e charmosa
Um olhar muito atraente
E uma voz tão carinhosa
Ela é maravilhosa
Carismática de montão
Tem um jeito muito doce
E um grande coração
Menina bela e saciável
E um corpo sedutor
Um arraso de mulher
E um coração cheio de amor
Conheci várias mulheres
Mas nenhuma é que nem tu
Eu só preciso de um beijo
pra conquistar você, MANÚ.
SONETO DO MEU POETAR
Basta-me apenas um verso
Onde seu gesto fale de amor
E comigo venhas sem dor
E nele eu me torne imerso
Pra sempre, sem nenhum pudor
Sem palavras caídas do universo
Do dissabor, e que seja inverso
A trovas desbotadas e sem cor
É só ter um deslize no disperso
Pra que ele fale o que é perverso
Em linhas omissas e sem frescor
E nem por isto deixo de ser diverso
Num poetar que gosta de ter odor
Aos olhos do doce amoroso leitor
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO DE INVERNO
Frio, uma taça de vinho, face em rubor
No cerrado ivernado pouco se aquece
Um calor de momento, o vinho oferece
E a alma valesse neste desfrutar maior
Arrepio no corpo, do apego se apetece
Pra esquentar a noite, tornar-se ardor
Acalorando o alento do clima ofensor
Tal é perfeito, também, o afeto tece
E na estação de monocromática cor
De paixões, de misto sabor, aparece
Os mistérios, os desejos, os sentidos
Assim, embolados nas lareiras, o amor
Regado de vontades, no olhar floresce
Pra no solstício de novo serem acolhidos
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
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