Poemas a um Poeta Olavo Bilac
"[O império da retórica] começa naquele dia em que o primeiro retórico apostou na eficácia persuasiva do primeiro símile: 'Sereis como deuses…'. Não há como deixar de reconhecer um eco distante dessa proposta no momento em que o homem de marketing vem nos oferecer o livre mercado das idéias como uma proteção contra a 'tirania da verdade'. Pois toda idéia que não se submeta de bom grado a essa 'tirania' não vale nada: é pura retórica."
Não li muita coisa do Zygmunt Bauman, mas num ponto ele acertou em cheio, ao dizer que o Holocausto não foi nenhuma regressão a tempos bárbaros, e sim um legítimo filho da modernidade. Ninguém gostou.
Quem gosta de ver as horríveis conseqüências impremeditadas das suas escolhas?
"Em épocas muito mais ricas, espiritualmente, do que a nossa, erguiam-se, ao menor sinal de decréscimo da qualidade literária, debates intensos sobre 'a crise da literatura nacional'. Hoje as discussões sumiram, pela simples razão de que aquilo que cessou de existir não pode mais decrescer. E aquilo que nem existe nem decresce não pode ser problema de maneira alguma."
"'As idéias têm conseqüências': é a lição imortal de Richard Weaver. Toda deterioração social e política começa na esfera intelectual."
O único texto no qual você pode procurar a verdade absoluta é o Evangelho. E essa verdade tem tantos sentidos diferentes que, depois de conhecê-la, você ainda está em dúvida sobre praticamente tudo o mais.
Minha maior mágoa na vida é não ter conseguido dar forma escrita a todas as idéias que fui expondo em aulas e conferências. Publiquei uns vinte volumes, mas ali tenho material para mais uns sessenta, no mínimo. [...] Tenho alunos trabalhando nisso, mas acho que a coisa ainda vai demorar, tão vasto é o material.
O Primeiro Mandamento institui o senso das proporções como obrigação universal incontornável. Deus considerou perfeitos muitos homens que, no julgamento de hoje, seriam condenados como pecadores contumazes.
O pior dos hipócritas é aquele que só denuncia a hipocrisia para poder jogar as virtudes no lixo junto com os vícios. Não tenho a menor dúvida de que o príncipe deles é Friedrich Nietzsche.
Quando o máximo de incapacidade vem junto com o cume da presunção, o mundo da realidade já foi abolido.
Já recomendei centenas de autores a cujas idéias tenho toda sorte de reservas. Só o pensamento ideológico exige concordância total ou rejeição categórica. O mundo real é feito de imperfeições e incompletudes.
Desde criança conheço a diferença entre as definições nominais do amor e do desejo. Mas, para perceber a diferença entre as realidades respectivas, levei uma vida inteira.
O que se chama de filósofo, nesses meios [isto é, nos meios acadêmicos de filosofia], não é o homem que luta com os enigmas nucleares da existência: é o 'especialista' nas obras de fulano ou beltrano, conhecidas até os últimos detalhes de análise textual. O 'texto' é tudo; os problemas e a realidade, nada. O culto da futilidade chega, aí, às proporções de um pecado contra o espírito. E ainda se esconde por trás do pretexto nobilitante de uma austeridade disciplinar, que se abstém de tratar dos problemas filosóficos diretamente por zelo de escrupulosidade filológica.
Enquanto estiver absorvendo uma ideia antagônica, você estará em conflito consigo mesmo. A vida intelectual é feita desse conflito mesmo: não é possível tê-la com todos os problemas resolvidos de antemão, sem dúvidas, sem angústias e sem sofrimentos.
O grande Georg Jellinek ensina que a primeira precaução em História e ciências sociais é aprender a distinguir entre as ações racionais deliberadas e o acúmulo de causas impessoais e anônimas. Em geral o que os cientistas sociais fazem é ocultar sob estas causas as suas próprias ações racionais deliberadas.
Ficar indignado é abdicar da dignidade antes que os ofensores acabem de liquidá-la. Por isso até o protesto mais justo precisa de prudência e bom-humor. Guarde sua cólera para os casos em que o ofendido seja o próprio Deus.
Se o Caetano Veloso é intelectual, a Márcia Tiburi é filósofa, o Marcelo Rubens Paiva é escritor e o Tomole é jornalista, TUDO É PERMITIDO.
Pode-se opor o discurso 'ideológico' ao 'científico', mas ambos são igualmente racionais. Em princípio, qualquer opinião política é ideológica. Quem não sabe disso não deveria ser consultado nem sobre jogo de futebol-de-botão.
Os professores universitários de filosofia, neste país, são incapazes de avaliar por si mesmos a importância de uma obra filosófica. Sem a aprovação das autoridades estrangeiras, ficam perdidinhos e desamparados numa rede de dúvidas sem fim.
A ciência política começa no instante em que Platão e Aristóteles estabelecem a diferença entre o discurso do agente político e o do observador científico. Quem quer que discurse em nome de um partido, de um grupo ou de uma instituição é, por definição, um agente político.
Nunca fui burro o suficiente para confundir uma análise filosófica ou científica com uma tomada de posição ideológica, embora entenda que esta, muitas vezes, se apóia em elementos filosóficos e científicos.
Toda lei -- constitucional, civil ou penal -- é, necessariamente, e quase que por definição, a cristalização institucional de um sistema ideológico preexistente, que por meio dela se consolida em autoridade reguladora de toda a vida social.
