Poemas a um Poeta Olavo Bilac
Só há um meio de aprender filosofia: É VER um filósofo, dia após dia, compor e recompor a ordem da sua consciência por meio da interrogação filosófica.
Tive essa experiência por muito breve tempo, com o meu saudoso professor Pe. Stanislavs Ladusãns, e a complementei muitas vezes lendo os diários filosóficos de Gabriel Marcel, Henri-Fréderic Amiel e Blaise Pascal.
Quando o Paulo Francis deu a um de seus livros o título de 'Opinião Pessoal', foi por pressentir que se tratava de objeto em extinção no Brasil. Hoje em dia só há opiniões de grupos e partidos, e eu me tornei o representante incompreensível de uma espécie desaparecida.
Os jornalistas e acadêmicos, no Brasil, usam de um método arqueológico: pegam um fragmento irrisório qualquer e com base nele constroem o desenho inteiro de uma inteligência, de uma alma, de um personagem do qual não sabem e continuarão não sabendo nada.
"Um evolucionismo conseqüente teria de explicar-se a si mesmo como etapa da evolução, mas para isso seria forçado a abdicar da pretensão de veracidade literal e consentir em ser apenas mais um símbolo provisório depois de tantos, sujeito, como todos eles, a converter-se no seu contrário mais dia menos dia."
O conhecimento da verdade, no seu sentido pleno, material e formal ao mesmo tempo, é um privilégio da consciência individual humana. Pode ser repassada de um indivíduo a outros, mas cada um tem de fazer por si mesmo o esforço de apreendê-la. Não existe verdade comunitária.
Um aluno isolado pode compreender a explicação que escapa totalmente ao resto da classe, mas é impossível que a classe como um todo apreenda algo que nenhum dos seus membros entendeu individualmente.
A envergadura de um livro não se mede jamais pelo gigantismo do seu tema, mas, ao contrário, pela destreza com que seu autor chega a verdades essenciais pelo exame de detalhes concretos...
Só um amor ilimitado ao bem nos dá a força de olhar o mal com a frieza necessária para combatê-lo eficazmente. Se você ainda fica chocado com o mal, é porque resta no seu coração uma esperançazinha de que ele se torne bom.
Se não há nada de novo a dizer sobre um filosofo de antigamente, escrever sobre ele é só uma frescura acadêmica, uma exibição de cultura para fazer currículo. Nunca escrevi sobre Platão porque Paul Friedländer, Eric Voegelin e Giovanni Reale descobriram mais coisas sobre ele do que o meu pobre cérebro conseguiu processar até agora. Mas creio ter descoberto umas coisinhas sobre Aristóteles, Descartes, Maquiavel e Karl Marx.
O que genuinamente desejamos da vida, o nosso sonho mais profundo e verdadeiro, é um segredo que Deus só nos revela aos poucos. Enquanto não o vislumbramos, vamos confundindo-o com toda sorte de desejos copiados – os desejos miméticos como os chamava René Girard, coisas, sensações e situações que mal conhecemos, das quais em geral não sabemos é nada, e que só nos parecem desejáveis porque vimos que outras pessoas as desejavam e, desprezando-nos a nós mesmos no fundo obscuro do nosso coração, imaginamos que nos sentiríamos um pouco menos miseráveis se nos tornássemos iguais a essas pessoas. Não há nada mais triste do que uma vida consagrada inteiramente à busca dessas miragens, que, quanto mais as adoramos, mais nos decepcionam.
A razão é, eminentemente, senso das proporções. Quando ele falta, a incerteza resultante busca um alívio postiço imitando símbolos convencionais de equilíbrio, moderação, justiça e até bondade. Aí o fosso entre o sentimento subjetivo e a realidade objetiva pode aprofundar-se até dimensões abissais, tornando-se tanto mais intransponível quanto mais a alma se sente segura de poder atravessá-lo com a ajuda das muletas simbólicas que lhe dão a impressão enganosa de estar de acordo com o senso comum da humanidade.
Um intelectual público é, por definição, o sujeito capaz de apreender e articular num relance a multiplicidade de perspectivas de qualquer fenômeno social em vez de impor a ele as limitações da sua própria formação profissional e ainda se achar, por isso, o mais qualificado dos opinadores.
Nunca fui tímido por natureza, mas entre os vinte e os vinte e poucos anos tive um período de timidez porque estava com todos os dentes estragados, não tinha dinheiro para consertá-los, parecia um mendigo e julgava que a coisa mais sensata a fazer com a minha cara era escondê-la. Por isso compreendo perfeitamente o fenômeno da timidez Ela tira você da corrente da vida e o espreme num canto escuro onde tudo só acontece em pensamento e nada se realiza. Ela esmigalha oportunidades como se fossem minhocas em que você pisa no caminho. Ela afasta você do que você quer e povoa a sua vida de tudo o que você não quer. Da timidez à depressão e da depressão ao ressentimento o caminho é bem curto. Os tímidos estão entre os alimentos preferidos do diabo. Ele os mastiga como chicletes e joga fora a borrachinha insossa que sobra no fim. Se você tem a tentação da timidez, largue disso imediatamente. Comece a fazer tudo o que você teme que vai cobri-lo de ridículo. É melhor pagar mico do que ser um mico.
"'Ciência' é um ideal de conhecimento. Cada praticante de uma das ciências tem de provar que aquilo que ele faz está à altura desse ideal, em vez de utilizar o prestígio do ideal como manto embelezador daquilo que ele faz."
Um diploma de filosofia significa que seus professores lhe deram (ou dizem ter dado) os conhecimentos mínimos indispensáveis para que você venha talvez a se tornar um filósofo -- não que você já seja um desde o instante em que recebe o diploma.
Vocês já repararam que NEM UM ÚNICO filósofo ou escritor de renome escreveu algo contra o meu trabalho, só zés-manés fracassados e invejosos?
O sujeito achar que um diploma de filosofia pela USP faz dele um filósofo é uma idéia tão idiota quanto imaginar que um diploma de História da Pintura faz dele um pintor. Nem um único filósofo foi jamais formado pela USP ou por qualquer outra universidade brasileira e, pelo andar da carruagem, jamais o será.
"Minha esperança é que os meus alunos, com o tempo, consolidem um genuíno estilo brasileiro de alta cultura: inseparavelmente popular e erudito, engraçado até ao ponto de matar de rir, com clarões de lucidez escandalosa que parecem loucura à primeira vista. Sem folclorismos veados. Profundamente cristão sob uma aparência enganosamente obscena. Aristóteles no programa do Alborghetti. Cogito ergo Mussum. Isso há de acontecer, se Deus quiser."
