Poema Infantil de Vinicius de Moraes
Ô cólera
Por que razão te compraz sentir tanto ódio?
Tão facilmente mergulhas em águas ociosas
perambulando por cenários de descomedida cólera,
onde anseias por justificar,
em meio a razões inóspitas,
o seu ódio infundado.
Deixas, por fim, este caminho sinuoso,
assim como um rio que,
a todo momento,
já não é mais,
pois tudo passa, efêmero que é,
e deixa de ser.
Eu estou triste. Perdi meu grande amor, não por deixar de me amar, mas sim por não ter sido no momento certo desse amor existir. É difícil aceitar que você tem que se separar de algo que te traz felicidade, te faz crescer, te mostra que a vida é muito mais do que você pensava e ensina que você pode ser amado quando não tinha mais esperança de conseguir isso. Perder algo assim faz você se sentir impotente, frustrado, insuficiente, bagunçado, pois doí, mas também demonstra a força que ela possui, até porque você não é o único que está perdendo algo e não sabe como foi difícil para quem teve que tomar a decisão.
Amar não é simples, vão haver milhões de motivos de querer se separar, como também vão haver milhões de motivos de querer estar junto, nunca vai ser uma equação exata, existem muitas variáveis que podem mudar em um instante o que se sente, como se sente e porque sente. Mas, ao mesmo tempo, não viver essas variações faz você perder o sentido de estar vivo, como viver sem amar, sem sentir a dor de perder um amor, mesmo estando triste te faz sorrir ver aquela pessoa que se ama bem, você ainda se sente triste de não ser você ao lado, mas feliz de saber como seu amor está bem.
É muito estranho estar ao lado e sentir falta e muito gratificante por saber que continua ao lado. Que conflito. Amar é lindo e triste ao mesmo tempo, te olhar e continuar vendo esse brilho que fez eu me apaixonar.
Eludir-se
Das vinhas enraizadas
Corria o sangue,
fruto do pecado original,
Sangue corruptível e devasso.
Na gestação, concebeu discursos,
Justificando os vis atos
A seu modo apologético.
Das causas semeou,
Das consequências colheu
Perenes infortúnios.
Baldado o coletivo,
apelava à autocomiseração.
De si lograria, ao menos,
nem que ínfima simpatia.
O paraíso não está aqui.
Conflituosa escrita
Seguro em minhas mãos um cilindro afunilado vermelho. Com ele percorro as alvas páginas listradas de um diário anônimo, lançando mão de palavras alvejadas de valor. Seu comprimento se estende para além do alcance de minha mão, embora metade do corpo cilíndrico afigura-se circundado por esta, cuja pegada firme não é possível testemunhar, salvo os momentos de afetada intencionalidade: o montante que permanece da vontade subjugada pela mente, que flui sob luz de pensamentos descomedidos.
Flor de lótus
Envolto por uma redoma percebo estar.
Refratam-se os raios de luz que,
ao tocar a borda,
se voltam para os materialistas que aqui vivem,
e cuja visão meu espírito deixou-se apegar,
pois, contrário ao que era aparente,
não havia livre arbítrio, e eles sabiam,
pois assim o desejavam.
Tudo isso, que jaz dentro da redoma,
me acorrenta, iludindo-me,
mas algo me transcende, mesquinho tempo,
para fora dessas paredes cristalinas,
cingindo-me de sensações estranhas,
das quais não me é possível nomear
nem apreender pelos sentidos.
Tudo isso, que jaz dentro da redoma,
turva minha visão, desnorteia-me,
como uma flor de lótus,
mas em guarda me ponho,
ávido por mais uma vez
pôr os pés naquele mundo das ideias,
pois apenas lá meu espírito edifica-se
e permite-se enxergar
aquilo que de belo nunca pôde ver.
Da caverna quero sair,
em busca da verdade.
Sensações
Arrebata-me a visão
tonalidades infinitas de cores.
Destas, meus olhos
captam a mais pura essência de sua forma.
Não obstante, os sentidos se cruzam,
como se atrelados uns aos outros estivessem.
Assim, uma visão ou cheiro particular
são passíveis de evocar
memórias esquecidas no tempo,
e dessa forma, nos vemos possuídos
por sensações variadas,
cujo caos não nos permite distingui-las.
Imiscuem-se, por conseguinte,
todos os sentidos possíveis,
reavivando memórias, como se,
ao abrir a janela do quarto,
testemunhássemos o desenrolar
de eventos inteiramente alheios a nós,
revelando-nos memórias de um passado
longínquo e nostálgico.
Ter memória é bom e ruim.
Porque você sempre vai lembrar da pessoa que propositalmente te enganou e usou.
E mesmo tendo ciência do que te aconteceu, mesmo com o aprendizado, você vai ficar triste.
O que era real pra você, e foi, pro outro não passou de um jogo que você não tinha como ganhar nada.
Você mais uma vez se sente usado, enganado.
Você jura pra si mesmo que é a ultima vez... Nunca é.
Mas você segue sua vida. Se fecha à novas pessoas. Até se sentir preparado para novas aventura.
O engraçado é que é uma experiência gradativa.
Você vai se especializando no próprio ser, se entendendo melhor.
Um dia.. um dia.
Essa história de que amor acaba é pura insanidade.
Dizem isso por pena, ou simplesmente pura maldade.
Infelizmente algumas pessoas não conseguem viver com o saber de que vão carregar pro resto da vida um sentimento do qual não vai embora.
Então, talvez, seja melhor que acreditem que um sentimento tão verdadeiro e doente quanto amor pode acabar. Ter saúde e se manter são é mais importante no final das contas.
Agora dizer que acaba, ou que o tempo tudo apaga por puro prazer. Não é só de uma maldade desumana, é um desrespeito com o sentimento de quem uma dia sofreu por alguém.
Amor verdadeiro não acaba.
Ele pode até se transformar, pode virar carinho sem desejo, boas lembranças, uma boa amizade e esperança de que aquela pessoa tenha uma vida satisfatória mesmo estando longe.
Ou se transforma em raiva, amargura, nojo. E não tenha medo de sentir isso, faz parte da sua experiência de vida.
Mas nunca, NUNCA, se transformará em apatia ou indiferença.
Se for caso, essa pessoa nunca amou.
Respeite sua memória. Respeite sua história. Respeite seus sentimentos.
Pelo pouco que eu entendo da vida, não à melhor caminho para se curar de um amor.
equilíbrio;
quando imaginei o fim,
percebi que era apenas o começo,
e que a vida adiante não era muro,
mas estrada aberta a surpresas.
descobri que nada se perde sem custo,
em cada escolha, uma renúncia,
linhas invisíveis
cortadas à lâmina de dois gumes
do que decidimos ser
e para onde ir.
às vezes, o coração pede tanto
que a alma viaja pra buscar
te encontrar
e achar a nós.
a esperança é a última que morre,
mas quando morre,
arde como brasa nos pés.
amar é alimentar o fogo,
sem deixá-lo apagar,
sem permitir que nos consuma.
é o carvão que aquece,
mas queima se esquecido,
é chama que dança,
mas fere se solta ao vento.
e entre o frio da ausência
e o ardor do excesso,
só o equilíbrio mantém o amor
aceso sem destruir.
sangue e lápis;
aqui é onde me liberto
me encontro em mim
correntes e simbolismo
escrevem em mim
me perco e me refaço,
encontro-me nos versos
refúgio abstrato,
alma enfim segura
depois que te conheci,
ó poesia,
dei forma ao caos
que antes era torto
antes de te conhecer,
não me conhecia,
me observava
e não me entendia
quando te conheci,
meu eu-lírico,
me apaixonei por ti
e te incorporei em mim:
é meu sangue
meu respirar
minha voz silenciosa
dou forma à dor,
amplifico-a,
só para que ela
se enfrente ao lápis
transformar meu medo
em palavras,
angústia em ritmo,
e o silêncio, em mim,
vira canção
e me dissolver
na escrita,
morrer no papel
para renascer
em cada linha
no dia em que parar de escrever,
será o dia que morreremos juntos
meu verso e meu peito
insetos;
a criança brinca,
raspa os joelhos no asfalto.
entre formigas,
as vê carregando tijolos,
devorando ovos,
mordendo companheiras.
observa besouros sob folhas secas
e pisa — a vida
esmaga.
o jovem canta pneu em estradas falsas,
bebe promessas de bares sujos.
procura-se em soldados,
encontra:
refúgio
nas que rastejam;
mulheres baratas.
o adulto afoga o relógio no álcool,
engole dias
saudade seca.
o trabalho vira razão,
não pensa,
não sente,
abraça o conforto —
e cospe folgas
no cinzeiro do chefe.
crueldade precoce e,
caminhos engessados
cuspidos por máquinas.
sociedade autofágica:
faca em punho,
esfaqueia ponteiros
sangra calendários
e ri.
meritocracia insetóide:
asas podres,
pernas peludas,
seis olhos.
devora a prole
bota ovos
e ri.
e o velho encara retratos:
procura suas asas
rugas inundam o rosto
o tempo, o ladrão
que deixou
ossos em pele frouxa
e perguntas
sem resposta
e as formigas
comem olhos
no buraco
que ele mesmo
cavou.
lápide de açucar;
atravessando a rua, fui atravessado.
caminhão de sorvete me deixou gelado.
chocolate e sangue, doce e amargo,
rosa, azul e um branco pálido.
dançando juntos em cima do asfalto,
corpo fechado, pé numerado.
meu túmulo caramelizado,
que jeito melado de morrer.
e apesar da dor, virei sabor:
sorvete derretido, perdeu o valor.
agora sou história,
verso travado,
epitáfio doce
e congelado.
luxúria;
me vi em navalhas:
preto engoliu branco,
afeto sangrou agressão,
orgulho devorou o amor.
arranquei meus olhos —
agora as rosas brotam
onde restaram os buracos.
mordi frutas brilhantes
e mastiguei vermes
apenas para cuspir
seus caroços podres
e escolher estátuas douradas
com vísceras de barata:
beijei-lhes a boca
até engolir as asas.
e no rastro do desejo,
só restaram cinzas de abraços
e retratos sem face.
transformei camas em altares,
mas nenhum deus respondeu
às preces que sussurrei
entre pernas e gemidos.
nessa piada que me conto
enquanto me fodo —
só restam sílabas grudadas
e pegadas na poeira
da casa vazia
que já foi peito
antes de ser tumba.
orgulho;
no topo da prisão,
rei sem reino.
tranquei as celas —
encarcero e me aprisiono,
coroado pelo ego.
governo eu mesmo,
morro em mim,
mas não me curvo —
carcaça ereta,
mente cerrada.
voo acima de todos,
anjo de asas de couro.
no topo da colina cinza,
cuspo na miséria
que recuso a ver.
me ergui em chamas
e queimei a cidade.
governei o caos,
liderei a loucura.
egoísmo cego,
ouro falso.
e quem precisou,
virei a cara.
ego cheio,
coração oco.
queixo erguido sobre espinhos,
coroa em brasa.
e no fim, só restou o cheiro:
o santo churrasco,
primeiro que saboreio —
banquete de rei,
minha carne queimada.
sucumbo, enfim,
ao trono que ergui.
construção vazia.
ruína certa.
avazera;
farto, sem fome.
taças de cristal
transborda cianeto.
cobro juros
da água benta,
penhoro a hóstia,
pago até
meus 10%
para comprar casas no céu—
e os anjos trancarem as portas.
o amor? em leilão.
parcelo afeto,
cobro taxa
por abraços.
não devolvo,
mesmo emprestado —
são meus.
engulo moedas,
asfixio-me com níquel,
tossindo sangue
e centavos.
cheques sem fundo,
cheios de zeros—
cheios mág00000as.
peso ouro
na balança,
mas minha alma,
ainda segue:
com Rayban escuro
e carro importado,
minha falência
espiritual.
nos bolsos pesam
cédulas pretas,
alianças sem dedos,
e mendigos sem nome.
notas falsas
não compram vida,
mas Caronte aceita
cem dólares.
mesmo assim,
não entro no barco—
ele sabe:
não pagaria.
mas comprei terreno,
e construí mansão.
no meu gigantesco
umbral dourado.
IRA;
herdei do meu pai
um fogo engarrafado,
que ele herdou do avô
como herança de terra rachada —
pólvora seca na garganta,
ourobóricamente amarga.
grito contra o mundo.
as paredes explodem eco.
estourei os tímpanos;
os ouvidos sangram silêncio.
esmurro pontas de faca,
salivo ácido,
mastigo pregos.
me calo, mas fervo.
sublimo atos de cólera,
transpiro ódio em gotas
que corroem até o chão.
busco a paz
em meu próprio genocídio —
o capitão nascimento
atira no meu peito
e ri da bala perdida.
sou minha própria anátema,
injustiçado na fúria,
coração engatilhado,
marca-passo de pólvora.
rancor escarlate
com nome de filhos.
herança sangria:
vendaval de ruína,
semente de dinamite
germinando em útero.
testamento cinza:
até o fogo cansa
de queimar o mesmo inferno.
resto a gólgota
em meu esperor.
eterno retorno;
existo sem sentido,
parado no mesmo lugar,
enquanto o mundo gira
e eu giro dentro dele.
repito ciclos,
como um disco riscado
que sempre pula no mesmo verso,
na mesma frase que não termina.
não sou Sísifo,
sou a própria montanha,
o chão que desaba
a cada passo que tento dar.
não carrego pedras,
carrego perguntas,
e elas pesam mais
do que qualquer rocha.
pego o celular,
não finjo nada.
rolo a tela como quem revolve
cinzas de uma fogueira
que nunca aqueceu ninguém.
ouroboros sistêmico,
mordendo o próprio rabo,
enquanto o tempo escorre
pelos dedos que não seguram nada.
sou o ciclo que se repete,
a espiral que desce,
existo sem sentido,
parado no mesmo lugar,
enquanto o mundo gira…
e eu fico aqui.
encerramentos;
evito correr, decido encarar
essa verdade
que insiste
em queimar.
observo, impassível,
meus devaneios.
disfarço o pranto
no olhar.
um vulto disforme
ocupa o peito,
sufoca o ar,
apaga o suspiro.
transforma em angústia
o abraço—
laço eterno,
fogo que não finda.
ainda assim,
apego-me ao ciclo,
espiral que se alonga
no tempo.
há eras
deveria tê-lo rompido,
mas nego-me
a deixar o fim vir.
entre a dor e a cura,
escolhi sangrar.
a saudade virou
meu alimento.
recuso a despedida,
ela é agora
o último vestígio
do que fomos.
e se um dia
a saudade se extinguir,
será o vazio
o fim do caminho,
ou apenas o início
de outro ciclo
que, outra vez,
recuso o fim?
preguiça;
o dia se arrasta,
e eu rastejo junto.
o tempo passa,
e eu fico-
letárgico,
estático,
a cada balançar
desse torto pêndulo
que me esmurra na cara
e zomba de mim.
criei raízes
de carne e tédio
no meu sofá-
pele e couro
fundidos pela minha
falta de vontade.
espero mudanças,
mas não faço acontecer.
espero sentado
que o céu caia
e me esmague
como uma barata
sob o pé do homem.
sento em silêncio
e contemplo a tela-
Deus virtual
que boceja a alma
e me aliena
por completo.
inércia viscosa,
sem meta ou desejo.
ausência da vontade
de estar aqui,
de respirar.
respiro lento,
olhos pesam,
não de sono,
mas de um cansaço
que não dorme.
se nunca mais levantar
não importará.
o mundo segue,
e eu fico-
preso em mim,
morto na encosta,
esperando a mudança
que nunca vem.
vira-lata;
mesmo sem carne,
roo o osso.
rosno, babo.
é meu.
mostro os dentes—
ninguém encosta.
curvo, cavo,
te enterro.
quebra os dentes,
não enche estômago.
tutano egóico,
por ser só meu.
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