Poema Desejos de Elias Jose

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⁠NO CÔNCAVO DA MÃO MORTA
.
.
No côncavo da mão morta
havia uma chave...
não sei para que castelos.
.
Para qual porta, oh Deus Entranhas,
tal chave – tão triste chave –
em certo dia foi forjada?
.
Havia aquela chave
não como uma pedra
no meio do bom caminho,
mas no côncavo da mão morta.
.
E essa mão,
tão inerte e já bem morta,
cujo corpo era seu mero apêndice,
ao mesmo tempo oferecia
e segurava a chave.
.
O gesto, embora pálido,
tinha a cor dos desesperos!
Parecia dizer, nos entrededos:
.
Pega esta chave,
se tu és digno dela,
e cuida do seu metal
como se fosse cristal
precioso, de tão frágil.
.
Antes de tudo o mais,
colhe-a como uma fruta
já por mais do que madura.
A ela recebe – tão suculenta –
entre teus próprios cinco dedos.
.
A chave, no côncavo da mão morta,
parecia a mim implorar-assim:
“Leva-me... a meu destino,
que para isso nasci”.
.
E a mão côncava
acrescentava:
“Leva-a, que somente por isso
insisto em me entreabrir”
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Ipotesi, 2021]

Inserida por joseassun

⁠O INVENTOR
DE IDIOMAS
,
,
Ainda adolescente,
inventou duas ou três palavras
que não se achavam em quaisquer idiomas.
Não faziam sentido em inglês, bielorrusso, javanês!
A bem dizer de todos os dizeres, não faziam sequer sentido
mesmo neste código mais do que secreto: o português.
.
Depois percebeu que as duas ou três palavras,
que àquela altura já eram quatro ou cinco,
não eram irmãs, nem distantes primas.
Estranhavam-se, umas às outras,
como se não fossem feitas
da mesma alma-carne.
.
Por causa disso
– da solidão de suas palavras –
demoradamente dedicou a sua vida
a inventar os idiomas que pudessem acolhê-las.
Fundou ainda uma escola de tradutores,
para traí-las umas nas outras.
.
Mais cedo do que mais tarde,
alguns ociosos fundaram cátedras
especializadas em ensiná-las e estudá-las
muito solenemente, com leveza ou gravidade.
Assim, ele ganhou o seu primeiro – e único – Nobel,
em uma nova categoria que não era a Literatura,
recém-inventada, especialmente para ele.
.
Quando por fim morresse
– do que dois ou três seguidores duvidavam –
alguém haveria de escrever na lápide, à maneira de epitáfio:
“gênio da humanidade”, “inventor de palavras”.
Mas um outro, ao perceber a injustiça,
certamente iria logo corrigir,
depois de um risco
no falso dito:
“Inventor
de
Idiomas”.
.
E o mundo
ficaria em paz...
– tal qual sagrado cálice –
como nunca esteve depois do Verbo.
.
.
[BARROS, José D'Assunção. Publicado na revista Decifrar, 2022]

Inserida por joseassun

⁠MEDO DE TIGRE-ARANHA
.
.
Tinha um medo crônico de tigres.
Podia ser até mesmo dos que estão nos filmes
enjaulados dentro de uma intransponível tela de Cinema
e incapazes de saltar para a nossa dimensão.
.
Se vislumbrava um cartaz de propaganda
estampado com uma só destas feras,
ali mesmo deixava litros de medo
escorrerem por entre as pernas.
.
O medo de tigres fora o companheiro
de toda a sua vida.
Desde a mais tenra infância
chorava ao ver desenhos de tigrinhos
nos pijamas e invólucros de refrigerantes.
.
Isso tudo, apesar
de não haver tigres em seu continente,
e de sua pequena cidade jamais ter sido visitada
nem mesmo por um velho tigre desdentado,
protegido pela jaula de um circo.
.
Tigres...
Esse pânico o acompanhou sempre
a cada dia, a cada instante de sua vida.
Foi a psicólogos caros, mas sem resultados.
Lá estavam, no fundo, sempre os mesmos tigres...
Espreitando, ferozes e listrados, no covil do inconsciente.
.
.
[BARROS, José D’Assunção. Publicado na revista Simbiótica, 2023]

Inserida por joseassun

POSTAL
.
.
⁠Carrego comigo um postal...
Lembrança da minha terra:
minha paisagem natal!
.
Debruçado sobre a Baía,
ou de braços estendidos
(não sei bem assim ao certo),
um Cristo de Pedra abençoa
o resto do mundo em pessoa.
.
Anoiteceu no retrato...
Casas e ruas cintilam:
só há luz, não há maltrato.
.
As misérias se apagaram;
pobrezas não há mais
(sutilezas fotográficas).
.
O morro tem um colar
de barracos que são pérolas,
a avenida tem formigas
coloridas que são gente,
e a sombra deita em praias
assoalhos diferentes.
.
Carrego comigo um postal...
Anoiteceu na gravura
que a perícia de um fotógrafo
fez de um momento imortal.
.
No retrato em que nasci,
não há seres infelizes;
só há luzes de mim sorrindo,
e ondas no mar suspensas.
.
Toda coisa ruim sumiu:
a câmara filtrou tudo
na beleza de um postal!
.
Aonde vou
carrego comigo o postal...
.
Mal se forma uma conversa
sobre pátrias e valores,
exibo aos estrangeiros
a beleza de um postal.
.
– um pouco envergonhado –
... não faz mal.
.
.
[José D'Assunção Barros.
Publicado na revista Nós, vol.10, nº2, 2025]

Inserida por jose_dassuncao_barros

⁠Vende-se um Poeta
Na feira das quincalharias
Entre perdidas velharias
Poeta agrilhoado
Homem amordaçado
Outrora gladiador
Apaixonado e sonhador
Ali sem corpo
Ali já louco
Sem estrelas no olhar
Magro na palavra
Mago sem magia
Esquelético no semblante
Viajante do inferno de Dante
Ali em leilão
Ali sem paixão
Torso nu sem alma
Já não clama
Já não ama
Já não é poema
Vende-se
A quem o reclama.

Inserida por JPRSANTOS

⁠SENTIR SAUDADE

Saudar um passado marcado p'la positiva
Secundando, com boas lembranças, o presente
Simplesmente co a vonta'de reviver algo patente
Soado em nossa mente de forma tempestiva
Suavemente que vale a pena sempre sentir!

Inserida por Cabinda

⁠Nossa pátria é amada
Idolatrada
Mãe gentil
Nossa pátria está livre
O nosso país é Brasil
Território com terras vastas
E o céu cor de anil, mas
No que tange as injustiças
De todos os confins da terra,
O solo mais fértil
É no Brasil. 210307

Inserida por J6NEMG

⁠UM MINUTO
Dai- me apenas mais um minuto
Para ver se eu escuto
O que o outro já dizia,
Estamos aqui só de passagem
Não preocupe com imagem
Pois nem tudo é magia.
Viva os dias por inteiro
E vide
Como é boa a vida.
220823

Inserida por J6NEMG

⁠BESTEIRA
Espie só que moral
O tamanho desta besteira
Nas poemas que escrevo
Ouço a voz de Manuel Bandeira.
Ele chega de mansinho
Na lassidão de uma vida esquisita
No fervor deste caminho:
O pavor de receber, e o prazer de ser visita.
Em verso efêmero e triste
Apaixonadamente lhe revela
Não ter medo da morte
Ter medo do fogo da vela.
A solidão é seu amor
A morte o seu segredo
Na morte sentir dor
Na hora sentir medo.
Dos costumes que bem sei
A homogeneidade d'almas existe
Nos manifestos colossais
Cousas letais é comum
A única fila que presta
É aquela composta por um.

041009
Tributo a Manuel Bandeira

Inserida por J6NEMG

⁠O bom educador é para as crianças, como um bom jardineiro é para a flor.
Sem a correção necessária,
Os nutrientes serão escassos,
E a roseira não dará flor.
Assim é o jardineiro
Assim é o professor!
Cultivando afeto e paz,
Disseminando esperança
E proliferando o amor!

031023II

Inserida por J6NEMG

⁠VIDA
A vida bem vivida
É a vida vivida em vida
A vida ruminada
É oposta a vida
Essa sim... deve
ser desmerecida!

18 12 2023

Inserida por J6NEMG

⁠O PROBLEMA DO MUNDO SOU EU?

Reflita irmão!
O problema do mundo não está na corrupção?
O problema do mundo sou eu.
O problema não está no preconceito, na política na intolerância ou na religião?
O problema do mundo sou eu.
O problema não é o narcisismo ou a submissão?
O problema do mundo sou eu.
O problema não é o El ninho, o aquecimento global a extrema pobreza ou a destruição?
O problema do mundo sou eu.
O problema não são as guerras a escassez das águas, ou o anticristão?
O problema do mundo sou eu.
O problema do mundo não está no tráfico, não está no rapto nem na educação?
O problema do mundo sou eu.

Inserida por J6NEMG

⁠O tempo e a rotina
Que o dia não corrói
O homem e a raça
A parede e a traça
O vinho e a taça
O bairro e o mundo
O universo e o infinito
Tudo parece mais bonito
Quando as coisas dão certo .
Por certo; tens de crer
Ores querido!
Para que, ao ouvir o bramido
Não seja o teu gemido de infelicidade.
O bairro venceu.
Lástima! lástima, lástima.
Mágoas a lamentar
A plateia não era...
não era definitivamente
minha!!!

050424

Inserida por J6NEMG

⁠VIDA

A vida que deveras é vivida,
É a vida vivida em vida .
A morte em vida,
Deve ser desmerecida.
A vida sem entusiasmo!
É a morte propriamente dita.

050822II

Inserida por J6NEMG

⁠CHAMAS DE AMOR

Amor em chamas
Fagulhas da paixão
Fogo que incendeia
E esfacela o coração
Chamas serenas
Fogo opressor
Caliente e intermitentes
São os Sussurros e deleitos ou dor
São as idas e voltas da vida
Blasfêmias...poemas de amor.

O70822

Inserida por J6NEMG

⁠Romântico amanhecer

Reprima a opressão
Deixa fruir está paixão
Que faz jus o seu viver
Luz irradiante
Estrela cintilante
A sua alvorada
Eterna estrela D 'alva
Romântico amanhecer!

070822II

Inserida por J6NEMG

⁠⁠Amor em transe

O amor envolve e encanta
O amor espanta e comove
O amor e a vida
O amor em transe
O amor na rotina
O amor e a sina
O amor platônico
E o amor galático!
Mas o amor avassalador
É o amor vassalo.

Inserida por J6NEMG

⁠Espanto

Enquanto o poeta brinca com as palavras, o cantor às cantam e o filósofo se espanta. O juiz utilizam-as para o veredito final, o médico às usam para dar diagnóstico. O leigo desconhecem- as,
mas o que na verdade me exaspera, é o que o arrogante faz...

200822II

Inserida por J6NEMG

⁠SE EU PUDESSE SER

Se eu pudesse ser
Eu seria:
O seu último ensejo
No final do dia.
Se eu pudesse ver
Eu veria:
O seu adormecer
Toda noite, todo dia.
Se pudesse hipnotizar
Hipnotizaria:
Apossava do teu ser
E feliz o faria.
Se tudo eu pudesse
Tudo eu faria,
Apossava-me dos teus sonhos...


300822

Inserida por J6NEMG

⁠SEU OLHAR TU ALMA

Ao olhar-te profundamente penso ao pensar no que tu pensas e percebo assim a pureza de tu alma
Então inebriar-se com está imagem, reviver o passado e suplicar a Deus um toque acalentador no coração dos maturados para que enxerguem novamente o mundo com um olhar de uma criança que na vida de tudo que é puro,
É o que de mais singelo há.

221022III

Inserida por J6NEMG