Poema de Amigo de Augusto dos Anjos
QUE COISA PASSEI NO AMOR
Nosso amor era lindo.
Era tipo o soneto do Camões.
E que nenhum compositor compôs!
Nossa romance fazia inveja ao povo,
Você era apaixonada por mim,
E eu até hoje sou por tu...
Não sei o que deu em você:
Que me fez de Bentinho,
E você se tornou a Capitu.
Você dizia pra mim que se
No céu houvesse casamento,
Você casaria comigo novamente.
E eu acreditei nisso.
Só que amar, cada um ama diferente.
O seu amor por mim era uma caricatura de um poeta pintor,
Que com o passar dos anos a tinta desbotou.
E agora veio outra caricatura e lhe pincelou...
A árvore da ignorância
Precisa do Machado
Pra ser cortada.
Para que haja luz
Do conhecimento...
Eu sou uma mistura de
Machado de Assis e Carolina de Jesus.
DRUMMOND
Sentou-se numa pedra que havia
No meio do caminho.
E passou o José todo triste;
sem saber pra onde ia.
Logo depois passou um anjo,
E disse: "Vai, Carlos! ser gauche na vida".
E disse Drummond: "Eu não serei poeta de um mundo caduco..."!
E Drummond, saiu recitando: " Eu também já fui brasileiro..."!
Eu não crio poesia.
Ela já existe.
Eu apenas ajeito os versos.
A poesia está no sentimento quente,
Na arte,
E no amor ardente.
"AUTOBIOGRAFIA TALVEZ".
Ah, se eu pudesse nascer de novo; eu queria ser eu mesmo: Antonio Jose Machado de Jesus (sem nenhum acento mesmo). Apelidado de Toín, Goi, Totoin, Toton, Machado, Nêgo, Preto e Poeta.
Filho de Maria Das Dores Gonçalves Machado e de José de Jesus Machado. Neto de Antônio Almeida Machado, Maria Da Hora Gonçalves de Jesus, João Gonçalves e de Maria de Lourdes Saturnino Machado. (os sobrenomes são iguais, todavia, não são parentes). Eu queria nascer 10 de Dezembro, na fazenda Muribeca, em Santo Amaro da Purificação, mesmo.
Eu queria ser esse camarada tranqüilo, que não sorri muito com os dentes, e sim, com a alma. Que sonha em ser professor de Língua Portuguesa. Ah! Se eu pudesse nascer novamente, eu queria os mesmos amigos. Os mesmos professores. Os mesmos irmãos. Morar nas mesmas cidades. Estudar nos mesmos colégios. Que privilégio, eu seria "Um taco de um verso de Machado de Assis, e o outro taco, de Carolina de Jesus". Eu nasceria artista de novo! Se eu pudesse, eu reencarnaria nesse corpo negro, magro, e dourado pelo só do sertão. E com esse cabelo crespo. E a malandragem de um bom reconqueiro. Eu séria capoeirista, e sobretudo, discípulo de Jesus Cristo.
Pena que a vida é só uma... Entretanto, eu busco ser eterno. Eterno na literatura, falado nos lábios dos homens, até maus... Recitado e vestido pelo meu povo negro. Pra mim isso tá bom...
LIVRO POÉTICO
Seu corpo é um livro de poesia.
Portanto, não deixe qualquer um pegar, foliar e vê.
Mantenha-se fechado (a).
Até você conhecer alguém que sábia ler.
SE MACHADO DE ASSIS FOSSE BAIANO
Seria barril velho, tá ligado não?!
Capitu seria uma piveta barril dobrado.
E viveria numa quebrada.
Ela também seria pagodeira... Dissimulada.
Sua cara seria de ressaca de serveja.
Bentinho seria um vacilão,
Por achar que foi traído.
E Capitu que não come reggae de ninguém, mandaria ele vazar.
Machado não falaria "Decerto que sim"!
Ele diria: "É isso mermo!" "Tô ligado, véi!" "Tá valendo..."
...Poesia seria uma Swingueira...
Machado de Assis é tudo, e, em todos dialetos!
Deixe-me ir até a páprica dos teus lábios e confessar meus desejos lascivos por ti...
Texto extraído do meu livro: Dom Amaro.
Ode ao 2 de Julho.
O sol não nasceu em 7 de setembro na Bahia.
Pega a visão!
Conta-se a história
Que o verdadeiro povo heróico
Surgiu no solo do recôncavo baiano
com grito de poesia:
"independência independência ou morte", que até hoje soa em nossa memória.
O povo que botou o português pra se picar com uma boa rasteira.
O sulista conta essa história de outro modo. Ó paí ó!
"A canoa virou marinheiro, no fundo do mar tem dinheiro."
Só que Maria Felipa, Caboclo, Cabocla e João das Botas foram barril dobrados,
E botaram os portugueses para descerem a ladeira...
O sol para noíz despontou em 2 de Julho mermo vú?!
Nunca mais, nunca mais a escravidão.
Regerá, regerá nossas ações
Com baianos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações
Com o "zoto" não combinam
Brasileiros, brasileiros corações
MEU FALAR: PRETOGUÊS
Não me submeto à gramática normativa.
(O papagaio de Mainha não aprendeu também.)
Mas, respeito quem a criou.
Ei!
Minha fala é potente,
Meu linguajar é fluente: meu pretoguês.
A negona Lélia Gonzalez gritou,
E a metade do mundo não ouviu.
Se meu R soa ruim pra tu,
E eu com isso!?
Meu irmão é Cráudio, e ele ama meu jeito de chamá.
Pois, meu pretoguês é assim!
Guarda pra tu teu preconceito linguístico.
Que eu não sou menino.
Porque com dialetos, eu me comunico.
Sou herdeiro das diversas línguas lindas, ricas do meu povo africano...
Sou poeta marginal, sou do cordel, sou do verso livre: Sou arte moderna!
Minha língua é culta: tu, véi, noíz, vú mermo, etc. Não me deixam à míngua.
A outra língua é elitizada.
Eu sou antigramático:
As minhas palavra não são, e não voltam vazias.
Deu errado para o português:
Tentou vestir o indígena,
Que pena, guri!
Tentou confundir
O Africano na senzala com diversas línguas,
Mas o aquilombamento resistiu, moleque.
Portanto, não existe a linguagem errada, manos!
Minha língua africana/ indígena: abrasileirada também é cheque!
Sou poliglota na minha língua, camarada.
Meu verso faz o cântico dos loucos e dos românticos.
PEDRO PAULO DESENCOBRIU O BRASIL
E aê, Mano Brown!
O maior poeta contemporâneo, e vivo. Um alvinegro... Com sua poesia marginal; fez o cântico dos loucos e dos românticos. Poeta por dentro e por fora. Santista de alma! Um negro drama de pele clara.
Um homem em reconstrução/ desconstrução na estrada.
Me inspirou, e me inspira até hoje a ser um sujeito homem! Pedro Paulo foi quem desencobriu o Brasil criado por D. Pedro, com suas crônicas cantadas.
Na moral, Caminha nunca iria lhe alcançar com seus rolês.
A rua lhe atraiu mais do que a escola.
Daí, Pedro Paulo virou educador: contra-hegemônico!
...Tem formado uma pá de gente.
Sem nunca ter “lido” Freire.
Se “Ivo viu a uva”,
O “Negro drama”,
Tenta ver e não vê nada
A não ser uma estrela
Longe, meio ofuscada!
Ele sintetizou à educação quando declamou: Da ponte pra cá antes de tudo tem uma escola.
Pedro Paulo, pedra negra, um homem no fim do mundo, que dá de beber as plantas,
Canta até o fim,
Recita os versos da periferia: és um poeta goat, diante dos cânones, de touca
Firme e forte, guerreiro de fé
Vagabundo nato!
Vida Loka!
AO NOSSO JORGE
Eu sou o sol da Jamaica,
Sou a cor da Bahia.
Eu sou você, sou você (sou você),
E você não sabia.
(Jorge Portugal & Lazzo Matumbi)
Jorge Portugal é o nosso Jorge Brasileiro, Santamarense. Nasceu em Santo Amaro da Purificação-Ba. Meu conterrâneo. Quem nasce nessa cidade é Caeta-niesse. Jorge foi o primeiro professor que me despertou para à língua portuguesa e à docência. (Pretendo estudá-lo no meu TCC) Jorge com sua voz grave, e que dava ênfase na última letra que falava; era um grande poeta: a música ‘A Massa’, ’14 de Maio’, são pura poesia. Escreveu livros, dentre eles; ‘Por que o Subaé não molha o mapa’, ‘Redação assim é fácil!’.
Um grande professor, um agitador cultural, letrista e compositor. Assistia-o quando era apresentador do programa ‘Aprovado’. Hei de sê-lo seu admirador até a consumação dos séculos. Na pandemia da Covid 19, o Brasil e mundo estavam de luto. Mas, num dado momento, Santo Amaro chorou rios de lágrimas com a partida de Jorge. Nosso cavaleiro. Que matou o dragão da alfabetização, da ignorância...
Jorge que não era São, nem Seu, nem da capadócia; mas Nosso. Escreveu à Santo Amaro de Jorge Portugal. O primeiro amor passou, o segundo também passou, mas Nosso Jorge Portugal é eterno. Existe uma Bahia, uma santamaro pós Jorge.
Jorge Portugal partiu no dia 03 de agosto de 2020.
E se vivo estivesse, no dia 05 de agosto, faria 67 anos.
Entre queda e Fôlego
Caí, mas levantei inteiro.
Não por orgulho, mas por instinto.
A dor me ensinou que o fundo
É só o início de um novo capítulo.
Sangrei sonhos, chorei vontades,
Mas nunca me rendi ao fim.
Pois quem carrega esperança no peito
Transforma cicatriz em jardim.
Coragem de Quem Cala
Calado, mas não parado.
Silêncio que grita esforço.
Longe dos olhos do mundo,
Lapido meus próprios ossos.
Não preciso dizer que sou forte,
A vida já mostra o que fiz.
Na calma do passo lento,
Vou desenhando o meu país.
Universo de Dentro
Carrego um céu que ninguém vê,
feito de estrelas que brilham por fé.
Não sou espaço, sou explosão,
um infinito em combustão.
Entre o Vento e a Pedra
Sou vento que insiste,
sou pedra que resiste.
No meio, o tempo ensina
que tudo fere, mas tudo afina.
O Grito Invisível
Grito em silêncio para não ferir,
mas cada ausência é um porvir.
Quem não escuta, não sabe a dor
de quem sorri sem ter amor.
Cicatriz Azul
Minha dor tem cor de céu,
brilha calma, sem troféu.
É cicatriz que não sangra mais,
mas ensina o que a pressa desfaz.
Raiz que Voou
Criei asas onde era raiz,
abandonei o chão por ser feliz.
Nem todo voo precisa altura,
às vezes basta a alma mais pura.
Não nasci corretor. Me tornei.
Aprendi que o mundo não entrega tudo pronto — ele testa, molda, aperta... mas ensina.
Enquanto alguns viam tijolos, comecei a enxergar possibilidades.
Onde muitos viam apenas lotes vazios, eu via o começo de um novo capítulo na vida de alguém.
Não foi fácil. Houve dias em que a porta se fechava antes mesmo de eu bater. Mas eu insisti.
Com o tempo, entendi que não vendo casas — entrego recomeços.
Hoje, cada chave que coloco nas mãos de um cliente carrega também a minha história: de luta, fé, e propósito.
Porque ser corretor, pra mim, nunca foi sobre imóveis. Sempre foi sobre pessoas.
