Perda de uma Amiga

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Coisa de adolescente

Uma amiga minha, com dois filhos pra criar, me conta que está trocando e-mails com um cineasta charmoso, aquelas coisas que caem do céu de uma hora pra outra. Ela me diz com todas as letras: "estou me sentindo uma adolescente!"

Numa novela, outro dia, o mesmo texto: mulher recém-separada, mais de 50 anos, declarando-se apaixonada feito... feito o quê? Feito uma advogada, feito uma manicure, feito uma professora? Não, feito uma adolescente.

Nem eu escapo. Outro dia, recebi uma cantada de um guapo nada desprezível, e do alto dos meus 43 anos - 16 de casada -, me senti igualmente uma menina. Ora vejam, só por causa de uma cantada inocente que não levou a nada, só por causa da nostalgia que me provocou.

Qual é? Agimos como se apenas os adolescentes tivessem o direito de vibrar. Como se adrenalina correndo nas veias fosse um direito exclusivo deles. Como se homens e mulheres maduros não pudessem se divertir, não pudessem azarar sem compromisso, não pudessem se presentear com instantes de total curtição. Quem declarou que isso seria um desajuste? Nós mesmos, quem mais.

Entusiasmo não é coisa de adolescente: é coisa de gente grande. Vou além: é coisa de gente velha, inclusive. Coisa de adolescente é depender de ajuda financeira dos pais, passar a madrugada bebendo cerveja em posto de gasolina, andar sempre em turma. E até isto não é propriedade privada deles. Mas entusiasmo, vibração, paixonite? Que insistência burra esta nossa ao afirmar, cada vez que vivemos algo novo e excitante, que estamos em surto de adolescência. Isso sim é falta de maturidade. Os maduros de verdade sabem que estão sujeitos a vibrações em qualquer etapa da vida. Alguém está morto aí? Eu, não.

Sei que é difícil, mas vou tentar nunca mais dizer que um entusiasmo é "coisa de adolescente". É desrespeitoso com eles, que quase sempre amam com mais intensidade do que nós. E desrespeito conosco, porque nós, os que julgam que tudo viram e tudo sabem, ainda iremos nos surpreender muito nesta vida.

Amiga.s2

Minha amiga indecisa
lida com coisas semifusas
usando confusas
mesmo as exatas
medusas se transmudam
em musas.

A solução

Chamava-se Almira e engordara demais. Alice era a sua maior amiga. Pelo menos era o que dizia a todos com aflição, querendo compensar com a própria veemência a falta de amizade que a outra lhe dedicava.
Alice era pensativa e sorria sem ouvi-la, continuando a bater à máquina.
À medida que a amizade de Alice não existia, a amizade de Almira mais crescia. Alice era de rosto oval e aveludado. O nariz de Almira brilhava sempre. Havia no rosto de Almira uma avidez que nunca lhe ocorrera disfarçar: a mesma que tinha por comida, seu contato mais direto com o mundo.
Por que Alice tolerava Almira, ninguém entendia. Ambas eram datilógrafas e colegas, o que não explicava. Ambas lanchavam juntas, o que não explicava. Saíam do escritório à mesma hora e esperavam condução na mesma fila. Almira sempre pajeando Alice. Esta, distante e sonhadora, deixando-se adorar. Alice era pequena e delicada. Almira tinha o rosto muito largo, amarelado e brilhante: com ela o batom não durava nos lábios, ela era das que comem o batom sem querer.
Gostei tanto do programa da Rádio Ministério da Educação, dizia Almira procurando de algum modo agradar. Mas Alice recebia tudo como se lhe fosse devido, inclusive a ópera do Ministério da Educação.
Só a natureza de Almira era delicada. Com todo aquele corpanzil, podia perder uma noite de sono por ter dito uma palavra menos bem dita. E um pedaço de chocolate podia de repente ficar-lhe amargo na boca ao pensamento de que fora injusta. O que nunca lhe faltava era chocolate na bolsa, e sustos pelo que pudesse ter feito. Não por bondade. Eram talvez nervos frouxos num corpo frouxo.
Na manhã do dia em que aconteceu, Almira saiu para o trabalho correndo, ainda mastigando um pedaço de pão. Quando chegou ao escritório, olhou para a mesa de Alice e não a viu. Uma hora depois esta aparecia de olhos vermelhos. Não quis explicar nem respondeu às perguntas nervosas de Almira. Almira quase chorava sobre a máquina.
Afinal, na hora do almoço, implorou a Alice que aceitasse almoçarem juntas, ela pagaria.
Foi exatamente durante o almoço que se deu o fato.
Almira continuava a querer saber por que Alice viera atrasada e de olhos vermelhos. Abatida, Alice mal respondia. Almira comia com avidez e insistia com os olhos cheios de lágrimas.
– Sua gorda! disse Alice de repente, branca de raiva. Você não pode me deixarem paz?!
Almira engasgou-se com a comida, quis falar, começou a gaguejar. Dos lábios macios de Alice haviam saído palavras que não conseguiam descer com a comida pela garganta de Almira G. de Almeida.
– Você é uma chata e uma intrometida, rebentou de novo Alice. Quer saber o que houve, não é? Pois vou lhe contar, sua chata: é que Zequinha foi embora para Porto Alegre e não vai mais voltar! agora está contente, sua gorda?
Na verdade Almira parecia ter engordado mais nos últimos momentos, e com comida ainda parada na boca.
Foi então que Almira começou a despertar. E, como se fosse uma magra, pegou o garfo e enfiou-o no pescoço de Alice. O restaurante, ao que se disse no jornal, levantou-se como uma só pessoa. Mas a gorda, mesmo depois de feito o gesto, continuou sentada olhando para o chão, sem ao menos olhar o sangue da outra.
Alice foi ao Pronto-Socorro, de onde saiu com curativos e os olhos ainda arregalados de espanto. Almira foi presa em flagrante.
Algumas pessoas observadoras disseram que naquela amizade bem que havia dente de coelho. Outras, amigas da família, contaram que a avó de Almira, dona Altamiranda, fora mulher muito esquisita. Ninguém se lembrou de que os elefantes, de acordo com os estudiosos do assunto, são criaturas extremamente sensíveis, mesmo nas grossas patas.
Na prisão Almira comportou-se com docilidade e alegria, talvez melancólica, mas alegria mesmo. Fazia graças para as companheiras. Finalmente tinha companheiras. Ficou encarregada da roupa suja, e dava-se muito bem com as guardiãs, que vez por outra lhe arranjavam uma barra de chocolate. Exatamente como para um elefante no circo.

Clarice Lispector
Todos os contos. Rio de Janeiro: Rocco, 2016.

Quando você...

Quando você estiver triste, com o coração cheio
de mágoas, me procure. Se eu não puder ajudar,
prometo que tomarei um bom porre com você
e xingarei todos que te deixaram assim!
Quando você estiver feliz e quiser comemorar,
me procure. Se eu não puder ser aquela banda
que você deseja que toque, posso fazer muito
barulho, assobiando, gritando, cantando
e batendo as tampas da panela!
Quando você estiver pra baixo, me procure.
Posso não conseguir levantar seu astral,
mas prometo fazer de tudo para que
você não caia ainda mais!

Quando você estiver com medo de alguma coisa,
me procure. Prometo que vou tirar um sarro da
sua cara, vou me virar do avesso de tanto
rir e você vai criar coragem na hora!
Quando você quiser choramingar pelos cantos,
me procure. Prometo contar muitas histórias
horrorosas, uma pior que a outra e você
vai acabar com essas frescurinhas
no mesmo instante!
Quando você estiver com uma confusão muito
grande na sua cabeça, me procure. Prometo
explicar minuciosamente o quanto você
não entende nada vezes nada!
Quando você começar a se irritar, por achar que
tudo que faço, é só para te irritar, me procure.
Então, nessa hora, farei você entender que
eu estou simplesmente querendo roubar
um sorriso seu, apenas porque:
Adoro você!

Amigo,
Estamos distantes e, ao mesmo tempo, tão perto.
A amizade que nos une pode vencer todas as distâncias.
Ela, sim, é mais forte que o tempo. Ela, sim, poderia atravessar
a imensidão do espaço e transcender os limites da vida.
Sim. Como ela é forte, pois essa amizade nada nem ninguém destruirá.
Que perdure enquanto as nossas almas existirem.
Que nem a distância, nem o tempo e nem mesmo
os nossos erros terminem a nossa amizade.

Nada é mais valioso do que ela.

AMIGO

Amigo é aquela pessoa com quem conversamos sem reservas,
independentemente da hora ele sabe oferecer o aconchego do seu coração sem pedir nada em troca, e quando ele precisa sabe que pode fazer o mesmo sem objeção, não importa o tempo que estejam distante fisicamente, amizade é irmã do amor e não tem cara, tem reciprocidade, afetividade, respeito, carinho, confiança e alegria.

Amigo é aquela pessoa que nos diz o que acha ser correto, mesmo não sendo o que gostaríamos de escutar, mas sabe respeitar a decisão do outro sem censuras.

Amigo nos avisa do perigo quando não conseguimos enxergar, sem contrapor nas decisões tomadas.

Amigo sabe dar e receber o ombro amigo sem pré-requisitos, ele sabe ouvir, tanto quanto escutar...
Amigo naturalmente se comporta com aceitação mil e ameaça zero.

Não existe escola para formação de amigos,
eles por si já nascem aptos, por isto não impomos regras dentro de uma amizade,
elas se compatibilizam sem invasões,
unindo os verdadeiros amigos, sem maldades, sem segredos, sem interesses,
a felicidade de um, é a felicidade do outro.

Sem esforço sabemos distinguir nossos amigos hoje te procurei simplesmente para dizer:
Estou feliz porque te amo meu amigo.
És muito importante para mim.

Todo meu patrimônio são meus amigos.

Emily Dickinson
Letters of Emily Dickinson

Batalha só se ganha,quando você conhece o gosto da derrota...

Perder tempo em aprender coisas que não interessam priva-nos de descobrir coisas interessantes.

Quantas coisas perdemos por medo de perder.

Paulo Coelho
Brida. Rio de Janeiro: Editora Rocco. 1990.

Nota: Trecho adaptado do livro "Brida".

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Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.

Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

(...) Me recordei rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para elas, ou por ainda ter muita curiosidade de mundo e dificuldade em ser permanente...

Recordei de amigos e parentes distantes, aqueles que eu sempre deixo para depois porque moram muito longe ou acabaram se tornando pessoas muito diferentes de mim, sempre penso “mês que vem faço contato com eles”. E se não tiver mês que vem?

A angústia de ter perdido não supera a alegria de ter um dia possuído.

Perca com classe, vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve.

Augusto Branco

Nota: Apesar de muitas vezes atribuída de forma errônea a Charles Chaplin, a frase é uma adaptação de trecho do poema "Vida" de Augusto Branco

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Porque nada volta a ser como era antes. Depois que algo é quebrado sempre vão existir marcas que vão provar que algo esteve errado. Não existem segundas chances quando um coração é magoado. Não existem outras oportunidades para algo que se deixou passar.

A tortura é uma invenção maravilhosa e absolutamente segura para causar a perda de um inocente.

Quem se expõe ao perigo procura a sua perda.

Uma perda pode converter-se num benefício e um benefício, numa perda.

Conhecer aquilo que dele estava escondido é, para o homem, a embriaguez, a honra e a perda de si próprio.