Pequenos poemas de Machado de Assis
Quem não sabe que ao pé de cada bandeira grande, pública, ostensiva, há muitas vezes várias bandeiras modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não poucas vezes lhe sobrevivem?
Deus é dono de tudo; ele é, só por si, a terra e o céu, o passado, o presente e o futuro.
Tantas vezes apagada no céu, reaparecia enfim a estrela da felicidade, e para sempre?
Recorreu aos livros, mas não lhe aproveitou o recurso, porque se os olhos corriam no papel, o espírito estava ausente, no tempo e no espaço.
Só muito tarde te convencerás de que viver não é obedecer às paixões, mas aborrecê-las ou sufocá-las.
Não há ordenado pequeno ou grande, senão comparado com a soma de trabalho que impõe.
Dir-se-á que a terra volta a ser o que era, quando torna a estação melhor; a terra, sim, mas as plantas, não.
Uma eleição sem umas gotinhas do líquido vermelho equivale a um jantar sem as gotinhas de outro líquido vermelho.
Quando uma pessoa ou um grupo saem bem, ninguém quer saber do modelo, mas da obra, e a obra é que fica.
Nem tudo tinham os antigos, nem tudo têm os modernos; com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum.
Tudo se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também preencher as minhas.
Há dessas reminiscências que não descansam antes que a pena ou a língua as publique.
Um dia, quando todos os livros forem queimados por inúteis, há de haver alguém, pode ser que tenor, e talvez italiano, que ensine esta verdade aos homens. Tudo é música, meu amigo.
Às vezes, esqueço-me a escrever, e a pena vai comendo papel, com grave prejuízo meu, que sou autor.
Penso que o amor verdadeiro, ou ao menos o melhor, é o que não vê nada em volta de si, e caminha direito, resoluto e feliz aonde o leva o coração.
O casamento é justamente isso; acalma os afetos para os tornar mais duradouros.
O capitão fingia não crer na morte próxima, talvez por enganar-se a si mesmo.
Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Lutar. Podes escachá-los ou não; o essencial é que lutes. Vida é luta. Vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal.