Pequenos poemas de Machado de Assis
Quando um homem sente em si uma grande ambição, não pode deixar de realizá-la, porque justamente nesse caso é que se deve aplicar o querer é poder.
Jesus Cristo não distribui os governos deste mundo. O povo é que os entrega a quem merece.
Se achares três mil-réis, leva-os à polícia; se achares três contos, leva-os a um banco.
Os sapateiros não fariam mais sapatos, se acreditassem que todos iam nascer com pernas de pau.
É difícil estar entre políticos muito tempo sem adquirir a febre que os devora.
Quando uma criatura ama, (...) todos os meios de poupar-lhe as comoções são nulos.
As assembleias não se inventaram para conciliar os homens, mas para legalizar o desacordo deles.
Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.
Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem.
Por que é que uma mulher bonita olha muitas vezes para o espelho, senão porque se acha bonita, e porque isso lhe dá certa superioridade sobre uma multidão de outras mulheres menos bonitas ou absolutamente feias?
Eu creio que a senhora sonha talvez demais. Sonhará uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir.
A natureza tem suas leis imperiosas; e o homem, ser complexo, vive não só do que ama, mas também (força é dizê-lo) do que come.
A deliciosa paisagem ia ter enfim uma alma; o elemento humano vinha coroar a natureza.
Um leitor perspicaz, como eu suponho que há de ser o leitor deste livro, dispensa que eu lhe conte os muitos planos que ele teceu, diversos e contraditórios, como é de razão em análogas situações.
A natureza incumbira-se de completar a obra, – melhor diremos, começá-la. Ninguém adivinharia nas maneiras finamente elegantes daquela moça, a origem mediana que ela tivera; a borboleta fazia esquecer a crisálida.
A narrativa da pequena era como costumam ser as da idade infantil: desigual e truncada, mas cheia de um colorido seu.
Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: - decifra-me ou devoro-te.
Tantas vezes apagada no céu, reaparecia enfim a estrela da felicidade, e para sempre?
Recorreu aos livros, mas não lhe aproveitou o recurso, porque se os olhos corriam no papel, o espírito estava ausente, no tempo e no espaço.