Pequenos poemas de Machado de Assis
Muitas vezes quis dizer-lhe o que sentia, mas as palavras tinham medo e ficavam no coração.
Seria certo que nenhum coração simpatizava com seus secretos infortúnios ou suas venturas solitárias?
A fidelidade aos amigos era antes resultado do costume que da consistência dos afetos.
Engana-se, senhor, trago essa máscara risonha, mas sou triste. Sou um arquiteto de ruínas.
A boca desabrochava facilmente em riso, — um riso que ainda não toldavam as dissimulações da vida, nem ensurdeciam as ironias de outra idade.
Quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma coisa, prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia.
Era uma paixão da última hora, um ocaso ardente e abrasado entre o dia que lá ia, e a noite que não tardava a sombrear tudo.
O destino, que conhece o desfecho de cada drama, sorri dos nossos cálculos, e choraria, se pudesse chorar; das previsões humanas.
Se eu lembrasse de deixar a vida por aborrecimento ou capricho, seria você acusado de me haver propinado o veneno?
Há pessoas que não sabem, ou não se lembram, de raspar a casca do riso para ver o que há dentro.
Coração e charuto são símbolos um do outro; ambos se queimam e se desfazem em cinzas.
E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me...
A bebedice parece desenvolver-se entre nós, já em tal escala que a taberna é o pórtico da sepultura.
Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer.
A vida é tão bela que a mesma ideia da morte precisa de vir primeiro a ela, antes de se ver cumprida.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
Descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.
A felicidade estava nas minhas mãos, presa, vibrando no ar as grandes asas de condor, ao passo que o caiporismo, semelhante a uma coruja, batia as suas na direção da noite e do silêncio...