Pálida
A pálida luz da manhã de Inverno,
A pálida luz da manhã de Inverno,
O cais e a razão
Não dão mais esperança, nem uma esperança sequer,
Ao meu coração.
O que tem que ser
Será, quer eu queira que seja ou que não.
No rumor do cais, no bulício do rio
Na rua a acordar
Não há mais sossego, nem um vazio sequer,
Para o meu esperar.
O que tem que não ser
Algures será, se o pensei; tudo mais é sonhar.
Cansei da frase polida / por anjos da cara pálida (...) / agora eu quero a pedrada / chuva de pedras palavras / distribuindo pauladas.
À diferença do Sol, que é brilhante e quente, a Lua que é pálida, inconstante e fria. No entanto, pela sua iluminação podemos ver sombras até então desconhecidas.
Ao passo que à luz do Sol, tudo se destaca, sob o brilho pálido da Lua, tudo se dissolve, oferecendo-nos uma nova experiência de nós mesmos e do nosso mundo.
A SERENATA
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
— só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
Delírio de amor!!!
Quando n'alta noite na amplidão flutua pálida a lua com seu fatal esplendor. Não sabes, querido, que por ti suspiro e que deliro a suspirar...
AMOR!!!
III
Ao fim do dia, a tarde já esmorecia e acendia
o lampejo de pálidas estrelas dispersas no ar
ele olhou-se e às feridas no corpo combalido
mas não se quedou, em reação galgou com fé
o alto do monte onde fazia-se outrora sacrifícios
ajoelhou-se diante da claridade e elevou a alma
assim obtendo cura, mas não por haver pedido
e sim porque humilde proclamou a si: nada sou!
Letras em pálidas folhas de papel, códigos decorados por mulheres e homens da lei, que, em seu íntimo acreditam, e em seu público performam uma manutenção de privilégios que reforça mesmo “sem querer” as desigualdades.
A mosca e a mortalha
Em puro mármore deitou-se suavemente
colocando suas mãos pálidas por entre a mortalha
se fez um radioso brilho exuberante em volta da rosa
luminosa e delicada, que escondida, brilhava mais
que a luz debaixo das rendas bordadas
o silêncio veio ao encontro da mosca
que o tempo todo a rodeava e naquela intensa e clara luz
flutuava, porem lentamente se apagava
ao apagar-se inteiramente, o radioso brilho ali presente
despediu-se, e a mosca com a visão ofuscada, adentrou
por debaixo das rendas bordadas, pousando na rosa desabrochada
desesperada, tentava encontrar aquela luz, que subitamente se dispersara
convencida de assim tê-la perdido, se pôs a chorar
deixando cair uma lágrima quadriculada
e na sinfonia póstuma que ali se anunciava, a pequena mosca então sorriu, ao ver as chamas das velas enfileiradas
e assim, deitada ao perfume da bela rosa
ambas adormeceram iluminadas.
tudo e nada
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mansa flor, de atitudes pálidas, sombras altivas, medrosas pétalas…
mansa flor, de caule magro, folhas grossas, perfume de maça…
mansa flor, de cálice longo, cores mortas, nenhum pólen.
mansa flor, escondida, dentro da sua mão.
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Nas casas pintadas
de tintas pálidas agoniadas
Pessoas agoniadas
pálidas de alma
padecem
Padecem por um povo sem vontade
por um programa de televisão
de fácil digestão
pouca cultura
pouca vida
muita sobrevivência
Me contentei com meu sorriso
na sacada
o fumo na mão
e a noção de que estou conseguindo
largar tudo
das camisas passadas
à calças de veludo
Sou pouco
sou simples
febril
hostil
mas valente pelo que quis
Grosseiro com o que não quero
Quero minha vida, vida
Quero ser grande, pai
Quero ser meu, mãe
Quero ser nós, felicidade.
Flores murchas
Desmaiadas na vida
Pálidas desabrochadas
As cores de partida
As pétalas cansadas
Ainda com viço
Afadigadas
De perfume postiço
E as forças exiladas
Feitiço
Da existência traçadas
Do fado mortiço
De inevitáveis jornadas
Perfazendo o curso
Revoadas
Incurso
Flores murchas, encantadas!
Reencarnação.
O tempo não parou
Mas consigo ver ainda
Pálidas pegadas
Que deixei pela vida
Não marquei caminho
Para não voltar
Vivi, envelheci
Chorei, amei
Sem arrepender
Não sei se faria igual
Tudo de novo
Mais viver?
Sim!
Viveria novamente.
BCP 22/01/2017
LÂMINAS DO SILÊNCIO
Indiscerníveis conceitos,
Vagas, pálidas palavras
E inválidas ideias,
Tudo, tudo se dissolve
Na ressonância do nada...
Diante da irreverência,
O uivo do não consenso
E a exiguidade de senso,
Sanciono a indiferença
E exibo o desprezo
Nas lâminas do silêncio!
Prefiro pensar que recomeços não se fazem possíveis sem as ferrugens pálidas de uma difícil escolha. Que este hoje, não me imponha o abrigo passivo de uma dúvida. Que me diga o tempo no mais breve ou distante amanhã da lúcida e refulgida coragem que tive.
SALMO
Cantar a mudez
Das horas inválidas,
Colorindo a tez
Das noites tão pálidas.
Cantar o vazio
Das coisas perdidas,
Do ser doentio
Curando as feridas.
E cantar o agora,
O amanhã também -
Cantar revigora
E à alma faz bem.
Quem canta afugenta
Agruras e dor
E faz da tormenta
Um salmo de amor.
PÁLIDAS PAREDES BRANCAS
Quando olhei, pálidas paredes brancas
Tão gélidas que congelavam-me o pudor
Cercavam um pequeno espaço irregular
De um lado o peso do tempo
Intacto e sólido
Do outro, o peso do corpo
Disperso e flácido
E no centro de tudo
O olhar do retirante
Ríspido e desconexo
Acuado pelas pálidas paredes
E pelo esboço de uma era
Que sucumbiu ao veneno das meias verdades
E do riso frouxo e estéril
Ventinho
Eu vejo
O tímido vento que segreda sua admiração
Pelas pálidas flores de laranjeira
Que se soltam e flutuam até o chão
Trocando carícias com o vento
Eu imagino
Leves flocos de neve que marcam a estação
Viajando pelos caminhos secretos do vento
Pelas curvas tempestivas de seu turbilhão
Até pousarem como um tapete de marfim
Eu lembro
Do vento desenhando ondas no mar de verão
Descabelando palhas dos pendulantes coqueiros
Esculpindo em nuvens as tempestades que virão
Vento nômade que cativou os que ficaram
Me seduz
O uivo do vento que parece uma canção
Seus cheiros que contam histórias escondidas
Serei sereno ao receber a concessão
Irei morar no vento com suas magias
