Palavras Nordestinas
Vida simples.
Vamos viver sem receio
ser feliz não se compara
quando o momento tá feio
a tristeza o tempo sara
ter amizade no meio
se manter de bucho cheio
e ter um sorriso na cara
No sertão!
A lua cheia quando sai
só se põe no outro dia
assim que a noite cai
no sertão o tempo esfria
bença mãe e bença pai
que amanhã é um novo dia.
Gula.
quem quiser fazer regime
eu desejo boa sorte
mas eu jogo noutro time
onde só tem cabra forte
se comer muito for crime
vou pegar pena de morte.
Bem viver.
Eu só tenho a poesia
e gente boa ao meu redor
mas não tenho a garantia
do valor do meu suor
mas espero ter um dia
tudo aquilo que eu queria
para um mundo bem melhor.
Saudade deles!
Que saudade do roçado
das andanças pela feira
do cavalo na cocheira
painho chegando cansado
mas trazia o apurado
que garantia o cuscuz
hoje mainha é a luz
que ao lado de painho
ilumina o meu caminho
com as bençãos de Jesus.
No sertão.
Isso é vida de sertão
aqui a seca é massacrante
onde a dor de cada irmão
mina os traços no semblante
quando hoje tem um pão
amanhã ninguém garante.
Seca medonha!
Essa dor que a seca gera
faz nosso povo sofrer
cada dia mais severa
não permite o grão crescer
ai meu Deus... quem dera
que na próxima primavera
não falte água pra beber.
Crie um caso de amor com você, seja o melhor que pode ser, e, no mais, plante suas melhores sementes para colher suas melhores laranjas.
(trecho da crônica "Crie um caso de amor com você mesmo", do livro "Matuto Poeta - Histórias Rimadas no Sertão", de Matheus Boa Sorte)
Sustentação.
A seca traz sofrimento
acaba com nosso chão
a poeira sobe no vento
não nasce o trigo do pão
o sertanejo sem alimento
sai em busca do sustento
bem distante do sertão.
A ida.
A seca está possuída
já não me deixa plantar
abre no peito uma ferida
que nem o tempo vai curar.
e a dor que é mais doída
é ter que trocar de vida
pra viver em outro lugar.
"Oxe!
Menino mas o que é "Oxe?
alguém pode me responder?
"Oxe é Oxe e vice versa
cuidado pra não esquecer
"Oxe é a parte do "Oxente...
que na linguagem da gente
a gente gosta de dizer!
A volta.
Na seca ninguém investe
sem planta e sem animais
parti de rumo ao sudeste
onde eu trabalhei demais
hoje voltei pro nordeste
e não tem seca da peste
que me tire dos meus pais.
Infância.
Infância boa era da gente
não tinha tanta frescura
hoje nada se atura
qualquer coisa é indecente
antes era diferente
não tinha distinção de cor
era normal um sim senhor
em casa pai e mãe ensina
e na escola a disciplina
e o respeito ao professor.
Saudade dela.
A saudade ainda acelera
o meu cansado coração
que chorou na primavera
quando deixou o sertão
vou fazer uma intera
pra rever minha tapera
que eu chamava de mansão.
Meu antigo lar.
A casinha hoje abatida
onde eu via o sol se pôr
hoje já meia esquecida
só resta saudade e dor
foi minha terra prometida
que passei parte da vida
nos braços do meu amor.
Vida tranquila.
Feliz daquele que mora
cercado dessa beleza
no meio da verde flora
e com fartura na mesa
o aperreio se evapora
com café feito na hora
apreciando a natureza.
Espera!
Todo ano a mesma fera
que faz a terra padecer
no lugar que a seca impera
não tem nada pra nascer
já chegou a primavera
e o nordestino ainda espera
o mês da chuva acontecer.