Os Velhos Carlos Drummond de Andrade

Cerca de 137124 frases e pensamentos: Os Velhos Carlos Drummond de Andrade

⁠Antes quero perder um mau amigo, do que ganhar um bom inimigo.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

FRUSTRAÇÃO

Já não sei escrever...
Deixei de saber pensar.
A poesia deixou de me amar
E fugiu de mim sem eu ver
Nem poder mais versos ditar.

Que tábua agora para me agarrar
Nas ondas alterosas deste mar,
Se ela foi para não mais voltar
À inspiração dorida do meu penar?

Poesia vagabunda, iracunda, reles
A minha, que só contemplas aqueles
De sacrossanto nome já firmado
Nos anais dos teus egrégios brasões
E afundas sem mais remissões,
Os que querem só escrever um fado.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 16-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Àqueles que têm inveja do meu penar, só lhes aconselho uma coisa:
Penem, como eu peno.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠OLHOS DE CRIANÇA

Eram olhos grandes…

Pareciam dois faróis na tempestade
A iluminar na mais pura claridade,
O escuro dum mundo ainda a descobrir.

Eram olhos na ânsia de muita esperança
Daquela que ao longe ainda está por vir...
Eram olhos mágicos a anunciar bonança.

Eram dois pesos fiéis de uma balança
Que um dia pesarão as coisas em fundo,
Na conta do peso e da medida
Da sua inocente e tão verde vida.

Deus te guie e salve, lindo infante
De teus pais vaidosos do semblante,
Desses cabelos aos caracóis, triunfante,
Esperança e bonança para o mundo.

Mesmo quando a vida pula e avança
Deus meu, por favor ilumina e conserva
Estes olhos de criança!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 19-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠IMAGINAÇÃO

Um poeta, dizia:
Um dia, vou chorar de alegria!
E o poeta acreditou.

E eis que o dia chegou:
Mas o poeta nem riu nem chorou.
Porque esse não era o dia
Que ele pedia
Ou imaginou.

(Carlos De Castro, in Há Um livro Por Escrever, em 20-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠A ANDORINHA

Poisou uma andorinha
Tão mansinha
No parapeito,
Mesmo a jeito,
Da minha janela.

Era um sinal de vida
E eu pela minha sofrida,
Meti conversa com ela
Por gestos de simpatia
Em plena sinfonia,
Pintando com alegria,
A mesma paisagem da tela.

A amizade pura,
Cura
E supera
A mais dolorosa ferida,
Quando ela me disse ao
ouvido
Num silêncio estabelecido,
Sempre que haja primavera:
É sinal que renasce a vida!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 21-03-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠RETRATO DE MIM

Olho-te e fico arrepiado...
Quando eu ainda julgava
E acreditava
Ser o fiel retratado,
Eis que surge a tal visão
Com cruel precisão,
Sempre a mesma
De iguais feições
E compleições
De um cão,
Feito aventesma.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 23-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠CHORAM OS MONTES

Tristes, os montes e outeiros
Já choram por mim.

Consigo ouvir o lamento dos pinheiros
Carvalhos, azevinhos e sobreiros
E de árvores amigas que tais,
Num sussurro
Quase em urro,
De tão reais.

Comungo das lágrimas dos pardais.
Sentem a saudade da vida dos dias,
Das nossas irmãs fantasias
Na imaginação de um mundo
Mais fecundo,
Sem dores fatais.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 23-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Só comecei a compreender quem realmente sou, após ter parado para contabilizar as turbulências de que fui acometido e cometi na minha vida.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠MULHER PÃO

Tudo o que é mulher me fascina.
Pobre amante que fui na rota ida,
Assaltam-me agora ilusões à partida
Como se fosse o pão da vida,
Tornado alimento único desta sina.

Porque professo tão incerta doutrina?
Quero apenas e tão breve confessar
Que se não houvesse mulheres de amar
Na verdadeira entrega de par em par,
Eu teria já morrido à fome na rotina.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 25-01-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Dizem que a dor é tratável, mas o sofrimento não…
Se a dor é já sofrimento, trate-se os dois ao mesmo tempo, digo eu.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Uns gostam de mim com sal, outros com açúcar, a maioria prefere simples, ao natural, tal como sou, sem corantes, conservantes e outros colantes.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠LEVANTAI-VOS

Erguei-vos, ó almas massacradas idas,
Levantai-vos agora de mastro erguido
Como o pau das caravelas das investidas
Que vos roubaram a liberdade sem sentido.

Que heróis seriam agora os matadores,
Homens sem estrada,
Sem rumo,
De uma bravura louca, exacerbada?

Apenas peças de xadrez seis,
Dos reis e gentes de outras greis,
Em aventuras mesquinhas
Na mesa jogadas ao acaso
Decidido o abate no xeque-mate,
Dos negros, índios e raças de outros sóis
Idas brancas, tostadas e mongóis.

E assim , pergunta um poeta ao mundo:
Será que o descobrir é mais profundo
Que achar por sorte das encruzilhadas
Terras havidas, nascidas e já achadas?

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠MAR LONGE DE TÃO PERTO

Um dia destes vou morrer, ó mar...
Sem te poder sequer avisar
Ou mandar um recado pelo ar
Pela terra e não por mar,
Que mar já és tu tão distante
Deste meu penado cante,
Poema ao longe sem te abraçar.

O que me fizeram, ó mar!?...
Agora que não tenho força de andar
Para sentir-te num solfejo
E amar a areia que amas num beijo.

Manda uma concha da tua água até mim,
Que mate a sede dos meus pés
E abrande a minha mágoa sem fim.

Que a tua água salgada
Seja cura abençoada
Das chagas deste meu ser
Um pouco antes de eu morrer
Na cama deste poema,
Dilema sempre de mim.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 05-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠“⁠CAMAS FLAMAS E GELO
Dormem e derretem de tão quentes,
Nas camas de colchão
Altos, fofos e gostosos,
Bem cheirosos
A traques de amor por ereção.
Por entre gritos esganiçados
Da aceitação dos sémenes conspurcados,
Lá vão…
Na lascívia da podridão.
E a cenografia deste ato
Primeiro, de apresentação,
Após o intervalo,
Vai ter o segundo,
Na forma de um falo
E dará, de facto
E com novo fato,
Lugar a outra versão.
Ei-la, então:
Na cama, dois bonecos,
A jogar matrecos,
Como dois recos
Marrecos,
Possuídos,
Parecidos
Com australopithecus
De há milhões de anos idos,
Na forma rudimentar
De ficar aos urros, após copular.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro por Escrever, em 08-02-2023)”

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠COPIANÇOS

Tantos a querer copiar
Episódios,
De uma vida
De história sofrida,
Para atingir certos pódios
Mais altos, mas de maior caída.

Pobres tontos, ai se soubessem
O princípio dum meio sem fim,
Talvez alguém estarrecesse
E se afastasse de mim.

Ainda se fossem copistas
Daquilo que não escrevi
Por respeito ao que não senti,
Vá lá, ó malabaristas.

Cada vida, é uma história
E se não me falha a memória,
Será sempre intransmissível.

Querer ser,
Sem ser,
É impossível.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 11-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

CARTA A UM AMOR IMPOSSÍVEL

Escrevi-lhe uma carta, numa tarde de verão,
E meti-a no correio pela minha própria mão.
Esperei,
Desesperei
E quase endoideci
Por não obter resposta.

Em mim, fez-se depressão.
Comecei a ter vida de inferno,
Quando me entregaram na mão
Numa manhã fria de inverno,
A carta que eu tinha
Tão perfeitinha,
Escrito numa tarde de verão...

Vinha, ainda por abrir,
Suja, enrugada,
Já de cor amarelada
Como filha pródiga a vir.

No verso, no lado contrário,
Li, em letras garrafais,
Que foram para mim fatais:
"Desconhecida no destinatário”.

(Carlos De Castro, In Há Um Livro Por Escrever, em 11-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

INSÓNIAS

⁠Toda a prava madrugada
Libertina e devassada
Sem assentar olho no sono
Que não me quer como amante,
Talvez por eu ser tão distante
Das carícias de tal mono.

Sono, meu repouso sem esperança
Em vez de me trazeres bonança
Vais-te vingando de mim,
E assim:
Fazes-me sonhar acordado
Com tristes e murchas flores,
Ossos em desalinho,
Velas sem chama, a arder.

Fica descansado, podes crer:
Os ossos, sou eu a crescer
Até morrer
Velhinho,
As flores,
São os meus amores,
Vou regá-los com carinho,
As velas, são a luz do meu caminho.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 12-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Durante anos, a minha boca e o meu coração foram amantes inseparáveis.
Hoje, sinto que os dois estão numa fase adiantada de divórcio.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠POESIA FRIA

Que fria,
A minha poesia…
Até parece que no meu inverno
Interno,
Ela deveria
Hibernar
E ficar
Sempre naquele letargo,
Sem me dar o amargo
De continuar
A enregelar
Corações
Quentes,
Amantes
Diferentes,
De outras poesias
Menos frias
De emoções,
Porque a minha,
Coitadinha,
Tão mesquinha,
Vive só de ilusões.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-02-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

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