Os Velhos Carlos Drummond de Andrade
CAUSA DE MIM
Eu sou a coisa nula de um todo vácuo...
Não existo por ter, mas por ser.
Não tenho a coisa, sou a coisa.
Não desvendo mistérios, sou um mistério.
Não sou demente, nem sou esperta:
sou satisfatória para quem é satisfeito comigo.
Lanço flechas na vida.
Miro somente o imaterial.
E só acerto o alvo, quando ele é grande,
que é para a ponta da flecha entrar bem no fundo do cerne.
Não espero salvar o mundo, para dominá-lo depois.
Nem quero que o mundo me salve,
para depois me tirar o sonho de ser eterna.
E mesmo sem muitas explicações,
quero apenas que a causa, me cause infinitamente.
DESCOBERTA
Junto à banca no cariri
no meu ninho, recanto de cá.
Em um supetão fez cócegas acolá.
Ah... Foi lá!
Foi que fiquei trepidante
com a caneca do ceará de olho em mim.
Noto que me lembrei, que lá na Fortaleza, nossa!
Um tanto bem longe está.
Na sombra ligada da boca da noite,
uma mulher descorada, escassa de pêlos nos braços,
após improvisar uma casca tênue com o borrão do tempo,
imagina precariamente, se acomoda e já está roncando.
Ah que saudades do ceará!
EU POÉTICO
Minha poesia é tudo,
quando ela é nada.
Meu coração vai fundo,
quando o meu ego se perde no mundo.
O tirano prefere compelir, a escravidão silenciosa tirá proveito de algo não solicitado, solicitando-se, atribuindo-se bondade, com intuito de encarcerar.
A sua presença é o suficiente pra mim. Não preciso de mais nada. Encostar em seu ombro, e acabar pegando no sono, é maravilhoso, melhor ainda quando escuto a sua voz suave dizendo: “amor, vamos pra cama”. O tempo podia parar quando eu estou com você, ou pelo menos passar um pouco mais devagar. Tudo que estou vivento não tem preço, não há nada que se compare. Não existe nada nessa vida melhor que esta ao seu lado
"Fluxo"
Ela me ama
Ela me ama tanto
Ela me ama com fervor
Pudera eu, ser o alvo de sua eloqüência
Mas sou o sonho a desvairar
O moço que ela chama toda noite ao se deitar
Eu a ouço sussurrar
Eu sei da sua vida
Eu sei do gosta
Estou tão perto
Mas ela não pode me ver
Estamos tão juntos
Mas não consigo lhe tocar
Minhas mãos a transpassam
Ela não pode me sentir
Mas eu sinto seu amor
Ela não pode me ver
Mas me chama com clamor
Ela não me entende
Não me ouve
Não percebe que deve me deixar
Não pode ser minha nem que queira
Estou vivo de um jeito
Que ela não consegue saber
Ela deve se conformar
É fato nossa separação
Mas permanecemos unidos
Pelo nosso coração
É preciso que ela me deixe
E pare um pouco de chorar
Porque fiz uma passagem
A minha hora já chegou
E preciso a luz encontrar
" Traços"
Ao ser abandonado, não sofra
pode não ser pra valer
Talvez quem se afasta precise
de um outro ponto de vista
para te reconhecer
Para se fazer merecer
não faça com aquele que deixou
um motivo de tua indiferença
Pois poderás ser traído pelo teu olhar
e revelar o porquê das desavenças
O que passa de fato no teu coração
poderá se mostrar
A verdade pode por tudo atravessar
A energia não se perde
É sempre transformada
Cabe a ti saber em quê
Para teu bem ou mal alheio
Mas tudo que vai volta
Teu reflexo não bate só no espelho
Um passado não se é
nunca nunca abandonado
Apenas esquecido
talvez deixado de lado
Ninguém perde o que lhe faz parte
Que tenha sido bom ou ruim
Cada minuto passado é como um tijolo
Que te constrói como um todo
do jeito que és
Um passado é o caminho
que te trouxe até aqui
Feito por felicidades e mágoas
Que carregas dentro de ti
Não se pode voltar
apenas olhar para trás
O caminho só segue para frente
Andar para trás é só um jeito de falar
Para trás nunca se anda
Como um passado não se pode abandonar
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